Paracetamol: o remédio que virou principal causabet e sportsfalência do fígado:bet e sports

Mão segurando cartelabet e sportsparacetamol

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O paracetamol está entre os medicamentos isentosbet e sportsprescrição mais vendidosbet e sportsvários países — inclusive no Brasil

Uma coisa que está bem clara para os especialistas, porém, é o riscobet e sportsoverdose: esse medicamento é a principal causabet e sportsfalência do fígadobet e sportspaíses como EUA e Reino Unido (veja dados abaixo), o que gerou alertasbet e sportsvárias entidadesbet e sportssaúde nos últimos anos.

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Por trás desse cenário, está a alta disponibilidade dos comprimidos e a faltabet e sportsorientações sobre os limitesbet e sportsconsumo, como você vai entender ao longo desta reportagem.

Após a publicação da reportagem, a Kenvue (empresa desmembrada a partir da Johnson & Johnson que é responsável pelo Tylenol) enviou um posicionamento à BBC News Brasil dizendo que "a saúde e a segurança das pessoas são as principais prioridades".

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Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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"Tylenol, cujo princípio ativo é o paracetamol, tem maisbet e sports60 anosbet e sportshistória clínica que apoiambet e sportssegurança e eficácia. A bula do medicamento contém instruções importantesbet e sportsuso, incluindo limitesbet e sportsdosagem, precauções e advertências para situações específicas. Como acontece com qualquer medicamento, as pessoas devem ler e seguir cuidadosamente a bulabet e sportsTylenol e consultar seu médico se tiverem dúvidas", diz o texto. 

 "O Tylenol é um dos medicamentos mais utilizados e estudados no mundo ebet e sportssegurança e eficácia são comprovadas por centenasbet e sportsestudos clínicos publicadosbet e sportsrevistas científicasbet e sportsdiversos países. No Brasil, o paracetamol faz parte da lista nacionalbet e sportsmedicamentos essenciais, pois seu princípio ativo é uma das opções mais indicadas para o alívio seguro e eficaz da dor", conclui a empresa. 

A Associação Brasileira da Indústriabet e sportsProdutos para o Autocuidadobet e sportsSaúde (Acessa) enviou nota após a publicação afirmando que defende "o usobet e sportsMIPs [medicamentos isentosbet e sportsprescrição] e produtos para saúdebet e sportsforma responsável e o letramentobet e sportssaúde, que é a buscabet e sportsfontes confiáveisbet e sportsinformação para que uma pessoa possa tomar melhores decisões sobre abet e sportssaúde".

"Paro o uso segurobet e sportsum medicamento isentobet e sportsprescrição, é necessário sempre consultar antes as informações da bula e do rótulo do produto. Alémbet e sportsestarem disponíveis na própria embalagem dos MIPs, essas informações também estão disponíveis no site da fabricante do medicamento e no bulário eletrônico da Anvisa. E vale sempre reforçar que,bet e sportscasobet e sportsdúvidas, o médico e o farmacêutico devem ser consultados, sendo importantes aliados na promoção do uso racional dos MIPs", acrescentou a assessoriabet e sportsimprensa da associação.

Já a Associação Brasileirabet e sportsRedesbet e sportsFarmácias e Drogarias (Abrafarma) e a Associação da Indústria Farmacêuticabet e sportsPesquisa (Interfarma) disseram que, por diretrizes internas, não fazem comentários sobre questões envolvendo moléculas/medicamentos específicos.

Do ostracismo ao sucessobet e sportsvendas

O paracetamol foi sintetizado no final do século 19. Os estudos pioneiros com essa molécula foram publicados pelo químico alemão Joseph von Meringbet e sports1893.

Mas a substância ficou restrita às pesquisas pelas seis décadas seguintes. Ela só estreou nas farmáciasbet e sportsEstados Unidos e Austrália a partir dos anos 1950, já com o nome comercial que a tornaria mundialmente famosa: Tylenol.

Nos EUA, aliás, esse princípio ativo é conhecido por outro nome: acetaminofeno.

No Brasil, ele está disponível desde os anos 1970.

E, mesmo passadas maisbet e sportsseis décadas do lançamento, até hoje não se conhece o mecanismobet e sportsação desse remédio —bet e sportsoutras palavras, como ele age no corpo para reduzir a dor ou baixar a febre.

“O mecanismobet e sportsação do paracetamol ainda não foi completamente esclarecido”, diz o médico Philip Conaghan, professorbet e sportsMedicina Musculoesquelética da Universidadebet e sportsLeeds, no Reino Unido.

“É provável que ele tenha algum efeito na forma como nosso corpo ‘entende’ a dor no sistema nervoso central e no cérebro, alémbet e sportsprovavelmente agirbet e sportsregiões periféricas onde há inflamação”, detalha ele.

Acredita-se que o paracetamol interfirabet e sportsaçõesbet e sportsenzimas conhecidas como ciclooxigenase, ou COX na siglabet e sportsinglês, relacionadas à sensação dolorosa e ao aumento da temperatura corporal. Alguns estudos também observaram uma ação da drogabet e sportsneurotransmissores e vias cerebrais, o que traria um efeito analgésico.

Mas, até o momento, não existe um consenso entre os especialistas sobre qual ou quais os efeitos exatos desse remédio pelo corpo para que se obtenha os resultadosbet e sportsmelhora da dor ou redução da temperatura corporal.

Como citado no início da reportagem, o paracetamol está disponível livremente nas drogarias e pode ser comprado diretamente pelo consumidor, sem necessidadebet e sportsreceita médica.

Ele aparece tanto com nomes comerciais — Tylenol, por exemplo — quantobet e sportsgenéricos, alémbet e sportsser adicionado à composiçãobet e sportsdiversos medicamentos juntobet e sportsoutros princípios ativos.

A Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos, calcula que o paracetamol esteja na fórmulabet e sportsmaisbet e sports600 produtos farmacêuticos diferentes.

No Brasil, o paracetamol sempre aparece no topo da listabet e sportsremédios isentosbet e sportsprescrição mais vendidos — seja como molécula única ou conjugada com outros fármacos.

Uma lista publicada periodicamente pela Agência Nacionalbet e sportsVigilância Sanitária (Anvisa) com os 263 medicamentos isentosbet e sportsprescrição mais comercializados do país revela que o paracetamol aparecebet e sports23 das opções farmacológicas com alta popularidade.

Caixabet e sportstylenol

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O Tylenol está disponível na farmáciabet e sportsalguns países desde a décadabet e sports1950

O que dizem as evidências

Mas, afinal, com tamanho sucesso comercial, o paracetamol realmente cumpre aquilo que promete — diminuir febre e dor?

O FDA apontabet e sportsseu site oficial que o paracetamol é uma opção para o tratamento desses dois incômodos com intensidades leve a moderada.

Mas evidências disponíveis até o momento variam bastante, principalmente quando são avaliados diferentes incômodos que afligem o corpo.

O Instituto Cochrane, que se dedica a revisar as evidências disponíveis sobre diversos tratamentos, publicou vários trabalhos a respeito da eficácia do paracetamol.

A análise dos especialistas, que levabet e sportsconta os estudos publicados até aquele momento, revelou que esse medicamento não é superior ao placebo (substância sem efeito terapêutico) para tratar dores na região lombar.

Os resultados também não foram positivos para os casosbet e sportsincômodos físicos relacionados ao tratamento do câncer.

Já para lidar com artrite no joelho ou no quadril, o efeito positivo foi considerado “pequeno” pelos autores dos artigos.

O paracetamol também mostrou algum benefício, mesmo que mínimo, no alívio da enxaqueca aguda e das dores pós-parto e pós-cirúrgicas.

Conaghan, que publicou alguns estudos sobre o uso desse fármaco no tratamento da osteoartrite, classifica as evidências como “pequenas” e “não muito boas”. Mas ele diz entender porque o paracetamol continua popular até os diasbet e sportshoje.

“Primeiro, há um históricobet e sportsuso, o que faz as pessoas se sentirem confortáveisbet e sportstomar esses comprimidos. Segundo, a indicaçãobet e sportstratamentos com o paracetamol é abrangente, e vai desde dores musculoesqueléticas até cólicas menstruais”, lista o médico.

“Terceiro, falamosbet e sportsuma opção barata e amplamente disponível ao consumidor. E,bet e sportsquarto lugar, não existem muitas outras opções para lidar com esses sintomas”, complementa ele.

Com resultados tão variados, a principal orientação é sempre buscar a avaliaçãobet e sportsum profissional da saúde — principalmente se a dor não vai embora ou piora depoisbet e sportsdois ou três dias.

A partir da avaliação e do diagnóstico, é essencial seguir à risca o tratamento prescrito para se livrar dos incômodos.

Homem com dor nas costas

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O paracetamol não funciona para dores lombares, segundo estudos

Riscobet e sportseventos adversos

Mas e a segurança? Será que o paracetamol pode provocar efeitos colaterais mais graves?

O problema aqui está na dosagem: as agênciasbet e sportssaúde estipulam um limitebet e sports4 gramas (ou 4 mil miligramas) por dia para os adultos. Em criançasbet e sports2 a 11 anos, a dosebet e sportsparacetamol depende do peso corporal (sãobet e sports55 a 75 mg por quilobet e sportsum dia). Já abaixo dos 2 anos, é sempre necessário consultar o médico antesbet e sportsdar o remédio.

Como os comprimidos comumente trazem 500 miligramas ou 1 grama desse princípio ativo, isso significa que um adulto não pode ultrapassar as quatro ou oito unidades (a depender da dosagem) a cada 24 horas.

Mas a história é mais complicada que parece, pois muitos remédios trazem o paracetamol na composição juntobet e sportsoutras substâncias — com isso, uma pessoa que está gripada ou resfriada, por exemplo, acaba ingerindo diversos fármacos para lidar com os sintomas (dor, febre, nariz entupido…) e pode ultrapassar sem querer esse limite.

O principal problema aqui acontece no fígado, responsável por metabolizar o fármaco. Cercabet e sports5% do remédio se transformabet e sportsquinoneimina, uma substância tóxica para o corpo.

Em pequenas quantidades (abaixo desse limitebet e sports4 gramasbet e sportsparacetamol), o fígado consegue neutralizar o perigo. Porém, quando há muita quinoneimina, o órgão entrabet e sportsparafuso e deixabet e sportsfuncionar como o esperado.

Isso, porbet e sportsvez, gera um quadrobet e sportsfalência hepática aguda, que não raro demanda internação e transplante, alémbet e sportsestar relacionado ao risco aumentadobet e sportsmorte.

Segundo a FDA, as overdosesbet e sportsparacetamol foram a principal causabet e sportsfalência hepática aguda nos Estados Unidos entre 1998 e 2003. Em 48% dos casos, a overdose foi acidental, pois as vítimas sequer sabiam que tinham ultrapassado o limite diário.

Um estudobet e sports2007 do Centrobet e sportsControle e Prevençãobet e sportsDoenças americano estima que a overdose por esse medicamento leva a 56 mil visitas ao pronto-socorro, 26 mil hospitalizações e 458 mortes por ano.

Outros levantamentos apontam que o paracetamol é a causabet e sportsfalência hepáticabet e sportsaté 45% dos casos registrados nos EUA e 60% dos episódios do tipo que ocorrem no Reino Unido. Não há levantamento semelhante para o Brasil.

Todos esses números exigiram mudanças nas regulamentações sobre o paracetamol. Desde 2011, a FDA limitou a dosagem do remédio a 325 mg por comprimido — o que reduziu as hospitalizações nos anos seguintes, segundo um estudo da Universidade do Alabama, nos EUA, publicadobet e sports2023.

No Brasil, a Anvisa já publicou diversos alertas sobre o consumo indiscriminado do paracetamol e os efeitos disso na saúde.

“O uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas na bula, para cada faixa etária”, orienta a agência em comunicadobet e sports2021.

Ilustração anatômica do abdômen com destaque para o fígado

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Falência hepática é uma das principais repercussões do abusobet e sportsparacetamol

Efeitos na sociedade

Também é curioso notar que o paracetamol, com maisbet e sportsum séculobet e sportshistória e alguns mistérios persistentes, ainda é capazbet e sportssurpreender os cientistas.

Exemplo disso é o trabalho feito pelo psicólogo Dominik Mischkowski, da Universidadebet e sportsOhio, nos Estados Unidos.

Num estudobet e sports2019, ele dividiu voluntáriosbet e sportsdois grupos. O primeiro tomou paracetamol, e o segundo engoliu comprimidos sem nenhum efeito terapêutico. Depois, todos leram uma história inspiradora e tinham que reagir a ela.

Os participantes que tomaram paracetamol tinham uma habilidade reduzidabet e sportssentir empatia, oubet e sportsse colocar no lugar do personagem da história. E isso eventualmente teria implicações na forma como as pessoas interagembet e sportsdiferentes contextos sociais, aponta o cientista.

“Se interfirobet e sportsdeterminados circuitos neurais com uma droga como o paracetamol, por exemplo, posso acabar afetando outros aspectos que chamamosbet e sportsemoções sociais, ou comportamentos sociais, sobre os quais inicialmente nem pensávamos. E isso, quem sabe, pode ser uma espéciebet e sportsefeito colateral social dessas drogas", diz Mischkowski.

O próprio psicólogo pondera que os resultados, apesarbet e sportsinteressantes, são experimentais e não refletem a realidade, que é muito mais intrincada e cheiabet e sportsvariáveis do que um experimento controladobet e sportslaboratório.

“Quando as pessoas tomam remédios para dor, há muitos processos complexos envolvidos sobre os quais não entendemos. Então quero ser muito cuidadoso sobre o nosso achado, pois não sabemos ainda os detalhes sobre os efeitos do consumo [do paracetamol] na sociedade”, explica ele.

“Então, se você está com dor e precisabet e sportstratamento, deve sempre continuar a tomar os remédios como paracetamol, porque isso é importante. A dor é uma das condições mais impactantes da atualidade", complementa Mischkowski.

Já para Conaghan, o uso massivobet e sportsremédios para a dor, como o paracetamol, ajuda a entender como nossa sociedade se modificou nas últimas décadas.

"Suspeito que muitobet e sportsnossa crença nos remédios começou após a Segunda Guerra Mundial, quando os antibióticos se mostraram tão bem sucedidos. Até então, acredito que meus avós não tinham tanta confiança assim nos comprimidos”, opina o médico.

"E as intervenções para tratar a dor podem levar um certo tempo e esforço para surtir resultado. A dor no joelho, por exemplo: nós sabemos que alongamentos musculares são muito efetivos, mas vai demorar pelo menos duas ou três semanasbet e sportsexercícios diários antesbet e sportsvocê notar qualquer benefício.”

“Então, acredito que esse imediatismo dos remédios é outra coisa que nos faz procurá-los tanto. Talvez essa crença cultural nos medicamentos e a necessidadebet e sportsalívio imediato para a dor sejam algumas das razões para tamanha popularidade do paracetamol", conclui ele.