Nova vacina contra dengue aprovada no Brasil representa o fimapostar vencedor da copaepidemia histórica?:apostar vencedor da copa
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a vacina representaapostar vencedor da copafato uma nova fase no combate à dengue, mas o controle do vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti continuará a dependerapostar vencedor da copauma sérieapostar vencedor da copaestratégias combinadas na saúde pública.
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Que vacina é essa?
Antesapostar vencedor da copaentrarmos nos detalhes do novo produto, é preciso fazer uma breve explicação: o vírus da dengue possui quatro sorotipos diferentes, conhecidos pelas siglas Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.
Na prática, isso significa que uma pessoa pode ser infectada com esse patógeno até quatro vezes na vida.
A nova vacina, testada e produzida pela farmacêutica japonesa Takeda, é tetravalente — ou seja, resguarda contra esses quatro sorotipos.
Ela é feita a partir da tecnologia quimérica,apostar vencedor da copaque os cientistas usam a estrutura do Denv-2 como uma espécie "esqueleto", sobre o qual são inseridas as informações genéticas das quatro versões do vírus da dengue.
As doses trazem esse vírus vivo atenuado, que é reconhecido pelas célulasapostar vencedor da copadefesa e gera uma resposta imune capazapostar vencedor da copaproteger contra o patógenoapostar vencedor da copaverdade.
O esquema vacinal contempla duas doses, que são aplicadas com um intervaloapostar vencedor da copatrês meses entre elas.
"A nossa vacina foi aprovada pela Anvisa no dia 2apostar vencedor da copamarço para indivíduosapostar vencedor da copa4 a 60 anosapostar vencedor da copaidade, e pode ser usadaapostar vencedor da copatodos, independentemente se eles tiveram algum contato prévio com o vírus da dengue ou não", resume a médica Vivian Lee, diretora executivaapostar vencedor da copaMedical Affairs da Takeda no Brasil.
E essa questão da exposição prévia ao vírus citado pela especialista é bem relevante. Isso porque,apostar vencedor da copa2015, várias agências regulatórias do mundo (incluindo a Anvisa) aprovaram a Dengvaxia, um imunizante contra a dengue desenvolvido pela farmacêutica Sanofi.
Acontece que, após algum tempoapostar vencedor da copauso, descobriu-se que esse imunizante poderia aumentar o riscoapostar vencedor da copadengue graveapostar vencedor da copaindivíduos que não haviam sido afetados por esse patógeno antes da vacinação.
Com isso, essas doses passaram a ser indicadas apenas para aquelas pessoas com históricoapostar vencedor da copadengue — assim, elas estariam mais protegidas caso fossem picadas pelo Aedes aegypti uma segunda, terceira ou quarta vez.
Mas, na prática, todas essas barreiras dificultaram o uso da Dengvaxia na saúde pública. Afinal, antesapostar vencedor da copaaplicar o produto, é necessário fazer um exameapostar vencedor da copasangue para comprovar se o sujeito tem anticorpos contra algum sorotipo da dengue.
"Essa vacina aprovada anteriormente tem muitas limitações. Além da necessidadeapostar vencedor da copaum teste prévio, ela precisaapostar vencedor da copatrês doses, com um intervaloapostar vencedor da copaseis meses, para oferecer proteção. Dianteapostar vencedor da copatudo isso, nunca houve uma perspectivaapostar vencedor da copauso dela na saúde pública", avalia o médico Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileiraapostar vencedor da copaImunizações (SBIm).
O que dizem estudos recentes
Mas essa experiência prévia serviuapostar vencedor da copaaprendizado. Desde o episódio da Dengvaxia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a sugerir que os estudosapostar vencedor da copanovas vacinas contra a dengue tivessem uma duração ampliada,apostar vencedor da copatrês ou quatro anos, justamente para flagrar possíveis efeitos colaterais que não aparecemapostar vencedor da copatestes mais curtos, que duram alguns meses.
E foi exatamente isso o que aconteceu com a Qdenga, a vacina da Takeda: antesapostar vencedor da copareceber o sinal verde das agências regulatórias, ela foi avaliadaapostar vencedor da copa19 testes clínicos, que envolveram maisapostar vencedor da copa28 mil voluntários espalhados por várias partes do mundo (incluindo o Brasil).
Um dos estudos mais importantes dessa leva foi apelidadoapostar vencedor da copaTides. Neste trabalho específico, os responsáveis pelo imunizante acompanharam maisapostar vencedor da copa20 mil vacinados durante quatro anos e meio.
Os resultados do Tides apontam que a Qdenga preveniu 80,2% dos casosapostar vencedor da copadengue sintomática após 12 meses da vacinação e evitou 90,4% das hospitalizações 18 meses após a aplicação das duas doses.
Na análise final, quando se completaram os quatro anos e meioapostar vencedor da copaacompanhamento, o efeito das doses caiu um pouco: a eficácia contra casos sintomáticos baixou para 61% e contra hospitalizações ficouapostar vencedor da copa84%.
"Essa redução era esperada e, mesmo assim, a proteção se manteve num bom nível, mesmo com o passar dos anos", aponta Lee.
Durante esse períodoapostar vencedor da copaanálise, também não foram observados riscos maioresapostar vencedor da copacomplicações por dengue entre os voluntários, mesmo naqueles que nunca tiveram a doença.
Vale destacar, porém, que a eficácia variouapostar vencedor da copaacordo com o sorotipo do vírus. Ela foi maior para o Denv-1 (69,8%) e o Denv-2 (95,1%) e menor para o Denv-3 (48,9%) — não foram observados casos suficientesapostar vencedor da copaDenv-4 para estabelecer um resultadoapostar vencedor da copaeficácia significativo.
Segundo Lee, esse fato é relevante para o Brasil, uma vez que os sorotipos um e dois são os mais frequentes no país.
"O sorotipo três provocou um surto no Brasil há maisapostar vencedor da copa15 anos. Já o Denv-4 nunca foi observadoapostar vencedor da copalarga escala no país ou na América Latina", pontua a médica.
Como vai ser na prática?
Após o "ok" da Anvisa, a vacina contra a dengue da Takeda passou por avaliação da Câmaraapostar vencedor da copaRegulação do Mercadoapostar vencedor da copaMedicamentos (CMED), órgão do governo responsável por determinar qual preço será cobrado por cada dose.
Com mais essa etapa concluída, ela começou a ser disponibilizadaapostar vencedor da copaclínicas privadasapostar vencedor da copaimunização e algumas farmácias nas últimas semanas.
Mas e na rede pública? Para ser usada no Programa Nacionalapostar vencedor da copaImunizações (PNI), a Qdenga precisará cumprir um terceiro rito: ter uma análise favorável na Comissão Nacionalapostar vencedor da copaIncorporaçãoapostar vencedor da copaTecnologias no Sistema Únicoapostar vencedor da copaSaúde, a Conitec.
Questionado pela BBC News Brasil sobre o assunto, o Ministério da Saúde afirmouapostar vencedor da copanota que a incorporação da Qdenga no PNI é "uma prioridade".
Porém, mesmo que todas as etapasapostar vencedor da copaórgãos como Anvisa, CMED e Conitec sejam superadas, há ainda uma grande discussão sobre quais públicos-alvo serão convocados para uma futura campanhaapostar vencedor da copavacinação contra a dengue.
"A princípio, a recomendação seria aapostar vencedor da copavacinar toda a população para as quais as doses estão aprovadas, o que engloba indivíduosapostar vencedor da copa4 a 60 anos", diz o médico Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileiraapostar vencedor da copaInfectologia.
"Caso não tenhamos doses suficientes e precisemos priorizar alguns grupos, será necessário montar uma estratégia."
"A princípio, vacinar os indivíduos com maior riscoapostar vencedor da copacomplicação, como os mais velhos, pode ser uma boa ideia. Por outro lado, se você inicia pela população infantil, tem um ganho no longo prazo, pois aos poucos cresce a porcentagem da população que estará protegida", complementa o especialista.
Kfouri concorda. "Precisaremosapostar vencedor da copamodelos matemáticos para entender onde obteremos os maiores benefícios", aponta.
"Será que daremos a vacina a toda uma faixa etária? Ou priorizaremos as regiões do país que são tradicionalmente mais atingidas pela dengue?", questiona.
Métodos antigos
A dengue é um problema histórico do Brasil. Desde o final do século 19, são registrados surtos da doença no país, sendo que a situação se agravou a partir dos anos 1980, com a expansão desenfreada das cidades — e, por consequência, dos reservatóriosapostar vencedor da copaágua parada que servemapostar vencedor da copacriadouro para o Aedes aegypti.
Segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 1,4 milhãoapostar vencedor da copacasos e mil mortes pela doença somenteapostar vencedor da copa2022. Esse foi o pior ano da epidemia desde o início da série histórica,apostar vencedor da copa2010.
"A dengue tem um impacto altoapostar vencedor da copanosso sistemaapostar vencedor da copasaúde, muitas vezes com a necessidadeapostar vencedor da copamontar estruturas temporárias para atender a grande demandaapostar vencedor da copacasos e internações que aparecem a cada temporada", explica Chebabo.
"Para piorar, a doença vem crescendo pelo país. Os Estados do Sul, que não tinham infecções do tipo, passaram a registrar surtos mais recentemente graças à expansão da área onde o mosquito habita", complementa.
Por ora, as únicas estratégias disponíveis eram as campanhasapostar vencedor da copaconscientização, que orientavam as pessoas a acabar com qualquer reservatório desprotegidoapostar vencedor da copaágua parada nas casas.
Ações públicasapostar vencedor da copasaneamento básico, manejoapostar vencedor da copalixões e vaporizaçãoapostar vencedor da copainseticidas (o popular fumacê) também faziam parte da rotina.
"O problema é que todas essas medidas são custosas e difíceisapostar vencedor da coparealizar, principalmente num país como o Brasil, com cidades desestruturadas", avalia Chebabo.
"E vale dizer que essas políticas funcionam mas, toda vez que você fica um tempo sem atuar, os casos e as mortes voltam a subir. É o que estamos vendo agora,apostar vencedor da copaque as estratégias contra a dengue ficaram paralisadas durante a pandemiaapostar vencedor da copacovid-19", completa o infectologista.
Será o fim da epidemia?
Mas a prevenção da dengue parece estar entrando numa nova faseapostar vencedor da copaanos mais recentes.
Primeiro, por meio dos métodos que tentam controlar a quantidadeapostar vencedor da copavírus que os mosquitos carregam.
Uma das iniciativas mais promissoras nesse campo é coordenada pelo World Mosquito Program, que faz açõesapostar vencedor da copa12 nações, incluindo o Brasil.
Em nosso país, o programa ocorreapostar vencedor da copaalgumas cidades, como Rioapostar vencedor da copaJaneiro e Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Petrolina (PE).
Em resumo, o projeto libera no ambiente centenas ou milharesapostar vencedor da copaAedes aegypti cultivadosapostar vencedor da copalaboratório que carregam a bactéria Wolbachia.
Os cientistas descobriram que a presença desse micro-organismo impede (ou ao menos dificulta) a transmissão do vírus da dengue pelos mosquitos para seres humanos.
"No acompanhamento que fizemosapostar vencedor da copaNiterói desde 2007, vimos uma reduçãoapostar vencedor da copaaté 77% nos casosapostar vencedor da copadengueapostar vencedor da copaáreas que receberam o método Wolbachia", calcula Luciano Moreira, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e líder do World Mosquito Program no Brasil.
"Esses resultados são corroborados por um estudo randomizado feito na Indonésia, que constatou uma reduçãoapostar vencedor da copa77% nos casos eapostar vencedor da copa86% nas hospitalizações por dengue após a liberação dos mosquitos com a Wolbachia", acrescenta o especialista.
Dentro desse contextoapostar vencedor da copanovas tecnologias, não dá pra se esquecer, claro, da vacina contra a dengue recém-aprovada no Brasil.
Para Lee, da Takeda, o imunizante representa a "inauguraçãoapostar vencedor da copaum novo pilar" na formaapostar vencedor da copalidar com essa doença.
"Isso porque todas as demais estratégias têm o controle do Aedes aegypti como foco. A partirapostar vencedor da copaagora, com a vacina, temos também uma opção voltada às pessoas, para protegê-las diretamente da doença", diferencia a médica.
Além do produto da Takeda, há uma terceira vacina contra a dengue no horizonte, que estáapostar vencedor da copatestes no Instituto Butantan,apostar vencedor da copaSão Paulo.
Essa candidata está na última etapaapostar vencedor da copapesquisa, que reúne 16 mil voluntários do Brasil inteiro. Segundo informações preliminares, ela alcançou uma eficáciaapostar vencedor da copa79,6% — os dados completos devem ser publicadosapostar vencedor da copa2024.
Mas será que a vacinação ou o método Wolbachia sozinhos serão capazesapostar vencedor da copacolocar um ponto final na histórica epidemiaapostar vencedor da copadengue?
Segundo os especialistas, a saída para melhorar o controle dessa doença estáapostar vencedor da copacombinar todas as estratégias disponíveis.
"A vacinação é uma medida adicional que, para ter um impacto na mortalidade, precisa contemplar uma grande parcela da população", acredita Kfouri.
"As novas tecnologias, como os imunizantes e o método Wolbacchia, vêm para agregar ao rolapostar vencedor da copaações que fazem parte da nossa rotina contra a dengue. As pessoas ainda precisam ser conscientizadas e saber da importânciaapostar vencedor da copacuidar do quintal para evitar os reservatóriosapostar vencedor da copaágua parada", diz Moreira.
"Todas essas medidas não serão capazesapostar vencedor da copaerradicarapostar vencedor da copavez a dengue, mas com certeza podem contribuir e muito para a redução significativa dos casos e das mortes", conclui o pesquisador.