Páscoa: as razões políticas por trás da condenaçãoimg betJesus à cruz:img bet
"Jesus nunca foi julgado, nunca", diz o pesquisador.
Mesmo que não tenha havido um julgamentoimg betfato, são sabidas as causas mundanas que levaram à morte do ser humano Jesus. E as razões foram políticas. Sim, Jesus foi um preso político, sentenciado à morte por, na visão das autoridades, atentar contra a ordem estabelecida pelo Império Romano.
Um incômodo político
"Uma figura como Jesus era um barrilimg betpólvoraimg betuma região dominada pelos romanos", diz Chevitarese. "A revolta estava para acontecer. E antes disso, as autoridades romanas,img betconluio com alguns setores da elite judaica, alinhados com os romanos, identificavam essas lideranças populares e as retiravam do convívio, colocando-as à morte."
"Basicamente, ele foi acusadoimg betser um impostor. Essa acusação veio dos líderes religiosos dos judeus que viviam ali nessa época que o apresentavam como um inimigoimg betCésar, como alguém que se apresentava como 'rei'", argumenta o vaticanista Filipe Domingues, vice-diretor do instituto católico Lay Centreimg betRoma. "Assim, fizeram uma acusação política, para que ele fosse condenado pelo império romano, que ali governava fazendo parcerias com líderes locais."
Para entender o que ocorreu, é preciso retroceder no tempo e contextualizar o que era essa região do Oriente Médio naquela época — e mesmo antes. "Aquele entorno era convulsionado há muito tempo, com crises políticas e opressão dos dominadores", diz o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leiteimg betMoraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Ele pontua que, quando Roma "resolve estabelecer seu domínioimg betmaneira imperial", isso ocorria com dominaçãoimg betterritórios e imposiçãoimg bet"pesadas obrigações aos povos dominados". "Logicamente que isso pesa muito sobre as populações mais pobres, porque há um povo dominado e as elites fazendo acordos com os dominadores, inclusive acordos políticos, por vezes acordos econômicos bastante satisfatórios", acrescenta ele. "Mas a população pobre vinha sofrendo desgastes."
Ao mesmo tempo, pelo menos 500 anos antesimg betCristo, ali se desenvolvia uma mentalidade messiânica: a crençaimg betque um salvador nasceria para redimir aquele povo do sofrimento. "A ideiaimg betque virá alguém para libertar, um enviadoimg betDeus", explica o professor.
Jesus nasceu com esse contexto já efervescente. Cresceu, viveu, pregou e cumpriuimg betmissão nesse ambiente. "Quando Jesus apareceu, seu movimento existia no tempo", sentencia Moraes. "Teologicamente era alimentada a ideia, por uma visão apocalíptica,img betqueimg betalgum momento esse enviado seria trazido aos homens e Israel seria restaurada enquanto reino, enquanto nação, enquanto povo escolhido. A dignidade seria restaurada. Isso criou o imaginárioimg betum messias político, poderoso, que poderia mobilizar as forças dos céus e da terra para expulsar a dominação estrangeira que oprimia o povoimg betIsrael naquele momento."
Para muitos, pouco adiantava Jesus enfatizar, conforme passagens bíblicas, que seu reino não era deste mundo, mas sim o da vida eterna. E que era certo dar a César o que éimg betCésar, reservando a Deus o que éimg betDeus. Para muitos, Jesus encarnava essa figuraimg betlíder político,img betativista,img betagitador.
"Ele era o único assim? Não. A Palestina nos diasimg betJesus é uma Palestina cheiaimg betmovimentos populares, movimentosimg betrebelião", ressalta Moraes. "Então havia, alémimg betfariseus e saduceus que eram os partidos políticos religiosos mais conhecidos, outros grupos mais radicais. Havia os zelotes, que representavam os insatisfeitos, revolucionários. Havia grupos que agiamimg betmaneira violenta como os sicários que usavam um punhal e cometiam assassinatos, atos terroristas, causando medo na população e nas autoridades. Havia uma espécieimg betbanditismo social."
O julgamento segundo a Bíblia
Segundo a Bíblia, depoisimg betpreso Jesus foi apresentado às autoridades. Pôncio Pilatos, que era o governador da província romana da Judeia, teria então apresentado Jesus para uma assembleia popular — e a condenação teria sido assim, por aclamação. Pilatos, então, teria lavado as mãos indicando não ter qualquer responsabilidade pela execução.
No capítulo 23 do evangelhoimg betLucas, o texto diz que "começaram a acusá-lo, dizendo: havemos achado este pervertendo a nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei". Segundo a Bíblia, portanto, são duas as acusações contra Jesus, e ambasimg betcunho político.
"O que interessava para Roma era o teor político. Ou seja: se alguém se negava a pagar impostos, esse alguém estimularia outras pessoas a também não pagarem impostos e a se rebelarem contra o pagamentoimg bettributos. Isso poderia acabar sendo um problema para Roma", analisa o historiador.
"Se ele se declarava rei dos judeus, ele poderiaimg betrepente levar esse povo a se levantar,img betum atoimg betresistência, contra o império romano", prossegue Moraes.
"Ou seja: o império romano olhou para Jesus como um líder revolucionário, o líderimg betum bando que pode trazer problemas. A acusação era política", afirma.
O texto religioso apresenta então o episódioimg betBarrabás. Segundo a narrativa, por conta do período da Páscoa, a tradição mandava absolver um dos condenados. E quem decidia era o povo, por aclamação. Jesus teria sido apresentado junto a Barrabás — e este último teria escapado da pena capital.
"Barrabás é um bandido social. Um salteador. A forma como Jesus foi colocado entre bandidos, mostra a acusação que pesava sobre ele: aimg betum líder revolucionário, um agitador social, o líderimg betum bando que estava,img betalguma forma, incomodando o império romano porque,img betúltima instância, ele estaria liderando uma revolta política contra a dominação dos romanos", analisa Moraes.
Paz obtida com violência
Nesse contexto, é preciso lembrar que Roma vivia o período conhecido como Pax Romana. Esse períodoimg betdominaçãoimg betoutros territórios, com garantiasimg betsegurança e cobrançaimg betaltos impostos, mostravaimg betepisódios assimimg betmais sangrenta face. "Qualquer tentativaimg betrebelião era combatida com uma mostra clara do poderimg betRoma, intimidando futuros rebeldes. A violência era a marca dessa paz romana, uma pazimg betcemitério, conseguida por meioimg betviolência,img betimposição da dominação. Assim Roma apagava os focosimg betresidência", diz Moraes.
"Jesus parecia um problema político muito sério para o poder instituído. Roma sabia que a Palestina era focoimg betresistência e era preciso debelar isso", resume ele.
Se existiu ou não algo parecido, com esse tribunal popular, fato é que não foi realizado,img betforma alguma, um julgamento conforme a lógica contemporânea, ou seja, com registros escritos do ocorrido e direitoimg betdefesa. Chevitarese argumenta que, caso a prática fosse assim, alguma coisa das milharesimg betcrucificações havidas teria sobrevivido ao crivo do tempo.
"Vamos esquecer por um minuto o caso Jesusimg betNazaré e pensar nas grandes revoltasimg betescravos que sacudiram o final da república romana. Talvez a mais famosa seja a Revoltaimg betEspártaco [que teria mobilizado cercaimg bet70 mil escravos por volta do ano 71 a.C.]", exemplifica. "A documentação literária diz que, depoisimg betderrotado aquele exércitoimg betescravos, todos eles foram crucificados. E onde estão as atasimg betjulgamento deles? Não estãoimg betlugar nenhum porque nunca foram feitos julgamentos", sustenta Chevitarese.
"Para esses indivíduos, não existia julgamento. As pessoas eram presas e imediatamente levadas para morrer", acrescenta ele.
"[O 'crime'img betJesus] era ser ele alguém que atentava contra o Estado romano", pontua o pesquisador. "Como ele atentava? O império romano era um reinoimg betDeus, os imperadores eram lidos como divinos, isso era uma antiga tradição. Jesus, ao instaurar o reinoimg betDeus, se colocouimg betoposição ao reinoimg betCésar, que era uma divindade. No caso, o César da época era Tibério", contextualiza.
Nesse sentido, ele não poderia anunciar o reinoimg betDeus, já que o reinoimg betDeus já existia — se o imperador romano era deus, aquele era o reinoimg betum deus, portanto.
Incongruências históricas
Chevitarese demonstra ceticismo ao analisar as passagens dos evangelhos que relatam os episódios relacionados à morteimg betJesus. "Os evangelistas vão explicar a informação que eles já têm, ou seja, que Jesus foi crucificado. Mas, quando escrevem, também têm uma segunda informação, que é o pontoimg betvista da fé deles: Jesus teria ressuscitado", reflete. "Mas nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular."
Para ele, toda a narrativaimg betum suposto julgamento por aclamação popular conduzido por Pilatos é um relato teológico, e não histórico.
E ele começa desconstruindo a ideiaimg betque houve um bandido, Barrabás, que foi libertado por tradição pascoal. Ele chama atenção para o fatoimg betque primeiro foram dois os apresentados para essa escolha popular: Jesus e Barrabás. Em seguida, Jesus foi crucificado ao ladoimg betoutros dois condenados. "Por que esses outros dois também não foram perfilados com Jesus e Barrabás para que o povo pudesse escolher entre os quatro. Tem algo que não bate nessa conta", afirma.
"Nunca existiu uma lei qualquer que fosse produzida pelo império romanoimg betliberar um prisioneiro durante um períodoimg betfesta qualquer que fosse onde quer que fosse", sintetiza Chevitarese.
"Eu entendo que a Páscoa [cristã] baseia-se na centralidade da prisão, julgamento, morte, sepultamento e ressurreiçãoimg betJesus. Mas isso é um relato teológico, que precisa ser lido e assumido como relato teológico.
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