Caminhonbet91 comPeabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico:nbet91 com

  • Catherine Balston
  • BBC Travel
Miniportal do caminhonbet91 compeabiru no meio da mata

Crédito, Paraná Projetos

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Caminhonbet91 comPeabiru cortava o sul e o sudeste do Brasil e hoje atrai a atenção dos turistas

nbet91 com Goiabas e carambolas maduras no chão ficam presas às solas das minhas botas, formando uma massa docenbet91 comfermentação enquanto passeio pela pacata cidadenbet91 comPeabiru, com seus 13 mil habitantes, a 500 kmnbet91 comCuritiba.

Eu havia viajado até o Estado do Paraná, não muito longe da fronteira com o Paraguai,nbet91 combusca dos restos do Caminhonbet91 comPeabiru — uma redenbet91 comtrilhas com 4 mil quilômetrosnbet91 comextensão, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico, construída ao longonbet91 commilênios pelos povos indígenas sul-americanos.

O Caminhonbet91 comPeabiru era uma rota espiritual para o povo guaraninbet91 combuscanbet91 comum paraíso mitológico. E também se tornou o caminhonbet91 comdireção aos tesouros do continente quando chegaram os colonizadores europeusnbet91 combuscanbet91 comacessos ao interior da América do Sul.

Mas a maior parte do caminho original desapareceu, consumido pela natureza ou transformadonbet91 comrodovias ao longo dos séculos. Somente nos últimos anos, essa fascinante rota começou a revelar seus mistérios para o público, graças ao desenvolvimentonbet91 comnovos passeios turísticos.

É fácil compreender por que essa trilha transcontinental cativa a imaginação das pessoas com tanta facilidade — uma fascinação que vem desde o primeiro europeu conhecido por caminhar por toda anbet91 comextensão: o navegador português Aleixo Garcia.

Garcia naufragou no litoralnbet91 comSanta Catarina no anonbet91 com1516, depois do fracassonbet91 comuma missão espanhola que pretendia navegar pelo Rio da Prata. Ele e meia dúzianbet91 comoutros navegadores foram acolhidos pelos receptivos indígenas guaranis.

Oito anos mais tarde, depoisnbet91 comouvir as histórias sobre um caminho que levava até um império nas montanhas, riconbet91 comouro e prata, Garcia viajou com 2 mil guerreiros guaranis até os Andes, a cercanbet91 com3 mil quilômetrosnbet91 comdistância.

A pesquisadora brasileira Rosana Bond, no livro A Saganbet91 comAleixo Garcia: o Descobridor do Império Inca, afirma que Garcia foi o primeiro europeu conhecido a visitar o império incanbet91 com1524 — cercanbet91 comuma década antes da chegada do conquistador espanhol Francisco Pizarro, amplamente conhecido como "descobridor" do povo originário dos Andes peruanos.

As trilhas que vinham do Brasil conectavam-se à redenbet91 comestradas incas e pré-incas através dos Andes, que hoje recebem muitos visitantes, mas o Caminhonbet91 comPeabiru propriamente dito deixou poucos vestígios.

Essa faltanbet91 comevidências físicas não só levou a teorias divergentes nos círculos acadêmicos sobre quem o criou e quando, mas também gerou amplas especulações sobrenbet91 compossível criação pelos vikings ou pelos sumérios — ou mesmo pelo apóstolo Tomé, supostamente vindonbet91 comuma missão evangelizadora na Índia.

Igrejanbet91 comPeabiru, no interior do Paraná

Crédito, Flávio Benedito Conceição/Getty Images

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O nome do caminho enbet91 comlenda vivem na pequena cidadenbet91 comPeabiru, no interior do Paraná

Algumas teorias afirmam que a trilha datanbet91 comcercanbet91 com400 ou 500 d.C., enquanto outras sugerem que ela remonta até 10 mil anos atrás, aos caçadores-coletores paleoindígenas.

"O Caminhonbet91 comPeabiru foi a estrada transcontinental mais importante da América pré-colombiana, que ligava os povos, os territórios e os oceanos", afirma a arqueóloga Cláudia Inês Parellada, que publicou diversos estudos sobre o assunto e coordena o Departamentonbet91 comArqueologia do Museu Paranaense,nbet91 comCuritiba, onde estão abrigados muitos dos achados das escavações arqueológicas da trilha.

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As teorias divergem não apenas sobre a época danbet91 comcriação, mas também o local exato por onde a rota passava. "Sempre teremos várias hipóteses", explica Parellada. "É difícil ter certeza sobre o caminho completo porque ele mudou ao longo do tempo."

Mas o nome e a lenda, pelo menos, seguem vivos na cidadenbet91 comPeabiru, construída na décadanbet91 com1940, onde o governo local e gruposnbet91 comvoluntários criaram e demarcaram recentemente trilhasnbet91 comcaminhada inspiradas pelo Caminhonbet91 comPeabiru.

Elas são partenbet91 comum plano turístico ambicioso do Paraná lançadonbet91 com2022,nbet91 commapear um provável trecho do Caminho com até 1.550 quilômetros para ciclismo e caminhada, atravessando o Estado desde o litoral e passando por 86 municípios, até a fronteira com o Paraguai.

Eu viajei até Peabiru para conhecer pelo menos um desses caminhos: uma trilha entre a floresta que inclui sete cachoeiras ao longo do cursonbet91 comum dos rios da região. As margens do rio quase certamente fizeram parte do Caminho, segundo informou meu guia Arléto Rocha enquanto caminhávamos, passando sobre e abaixonbet91 comárvores caídas e depois com as águas frias do rio até os joelhos, tirando as frutas estragadas da sola das minhas botas.

Não contentenbet91 comter molhado apenas as botas, Rocha mergulhou com roupasnbet91 comuma das cachoeiras. Depois, ele indicou locais onde havia encontrado pontasnbet91 comflechas, argamassa, gravaçõesnbet91 compedras e outras joias arqueológicas na última década, que agora estãonbet91 comexibição no recém-inaugurado Museu Municipal "Caminhosnbet91 comPeabiru".

Visitantes caminham pela trilha

Crédito, Gessiane Pereira/Caminhosnbet91 comPeabiru

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Trilhas entre as florestas levam para rios e cachoeiras por onde se acredita ter passado a trilha transcontinental dos povos nativos sul-americanos

A maior parte da caminhada na floresta, como o restante do caminho ao longo do Paraná, é simbólica — a melhor estimativa possívelnbet91 comonde poderá ter ficado a trilha original, apesar da certezanbet91 comalguns trechos, especialmente onde existem mapas históricos e sítios arqueológicos.

Esta região do sul do Brasil é um localnbet91 comescavações arqueológicas desde os anos 1970,nbet91 combuscanbet91 comrestos do Caminhonbet91 comPeabiru. Da mesma forma, ali também havia densa população indígena (estima-se um piconbet91 comcercanbet91 com2 milhõesnbet91 compessoas, principalmente guaranis, no século 16).

Como muitos outros com quem falei, Rocha é fascinado pelo mistério da trilha e chegou a elaborarnbet91 comdissertaçãonbet91 commestrado sobre o assunto. Historiadores, astrônomos e arqueólogos também vêm se ocupando desse quebra-cabeça há décadas, reunindo mapas antigos, registros coloniais e histórias orais para tentar entender as origens e o propósito do caminho.

O consenso é que o caminho principal da rede conectava o litoral leste e oeste da América do Sul. Dos seus pontosnbet91 compartida no litoral brasileiro (onde hoje ficam os Estadosnbet91 comSão Paulo, Paraná e Santa Catarina), as trilhas se reuniam no Paraná, prosseguindo através do território que hoje forma o Paraguai até a regiãonbet91 comPotosí, na Bolívia, que era ricanbet91 comprata.

Ao chegar ao lago Titicaca (hoje, fronteira entre a Bolívia e o Peru), o caminho seguia até Cusco — a capital do império inca — e,nbet91 comlá, descia até o litoral peruano e o norte do Chile.

montanha no caminhonbet91 compeabiru

Crédito, Denis Ferreira Netto/Sec. Des. Sustentável e Turis

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Do litoralnbet91 comSão Paulo, Paraná e Santa Catarina, o Caminhonbet91 comPeabiru subia a Serra do Marnbet91 comseu trajeto até Cusco, no Peru

"Grosso modo, pode-se dizer que o roteiro 'comprido' do Peabiru era aquele que acompanhava o movimento aparente do Sol, nascente-poente", segundo Bond, na série literária História do Caminhonbet91 comPeabiru, publicadanbet91 com2021.

Nessa série, a autora analisa diversas hipóteses plausíveis sobre as origens da trilha e conclui que a redenbet91 comcaminhos provavelmente foi criada e usada por diversos grupos indígenas ao longo dos séculos, masnbet91 comcaracterística principal era o desejonbet91 comconectar o Atlântico ao Pacífico.

"Ou seja, não importa quantos e quais povos construíram os trechos, pois o relevante seria que a estrada, num certo momento, passou a ser vista como um caminho homogêneo e específico, que representava na terra o 'andar' do Sol no céu", segundo ela.

Entre os povos a que Bond se refere, encontram-se os guaranis, uma das maiores populações nativas remanescentes na América do Sul. Eles vivemnbet91 comparte do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia.

O Caminhonbet91 comPeabiru é uma rota física e espiritual na cultura guarani, que leva a um paraíso mitológico chamado por elesnbet91 comYvy MarãEy, que fica além da água (o Oceano Atlântico), onde nasce o Sol.

Esse paraíso ("a terra sem mal",nbet91 comtradução livre) é mencionado na tradição oral dos guaranis, nos seus rituais, música, dança, simbologia enbet91 comnomesnbet91 comlugares. As lendas guaranis chegam a dizer que a redenbet91 comcaminhos é um reflexo da Via Láctea na Terra.

Também se acredita que o nome da trilha venha da palavra guarani peabeyú, que significa "caminhonbet91 comgrama pisada", entre outras traduções.

Mas, para os colonizadores europeus (como o navegador português Aleixo Garcia), o caminho espiritual dos guaranis para o paraíso tornou-se uma via rápida até as riquezas dos incas nas expedições pelo Novo Mundo, que acabaram por causar a mortenbet91 commassa das populações indígenas da América do Sul pela guerra, pela fome e, principalmente, pelas doenças.

As lendas sobre o Eldorado e a Serra da Prata trouxeram frotasnbet91 comnavios espanhóis e portugueses através do Atlântico e alguns grupos indígenas os ajudaram a penetrar no interior do continente, através do Caminhonbet91 comPeabiru, segundo Parellada.

"Conhecer as rotas e trilhas principais através das populações nativas tornou-se uma vantagem estratégica, que amplificou o saque, a destruição e a cobiçanbet91 comnovos territórios e riquezas minerais", explica ela.

Ao longo dos séculos seguintes, sucessivas ondasnbet91 comexploradores, catequizadores jesuítas, bandeirantes, comerciantes e colonizadores também fizeram uso do Caminhonbet91 comPeabiru para ter acesso ao interior do continente — pavimentando, ampliando e, às vezes, alterando o curso do caminho.

"Os primeiros registros escritos sobre a trilha datam dos séculos 16 e 17", segundo Parellada. "Eles incluem o relatonbet91 comRuy Díaznbet91 comGuzmánnbet91 com1612, sobre a mortenbet91 comGarcia nas mãos do grupo étnico Payaguás durante seu retorno do Peru para o litoral [brasileiro]."

trilha do caminhonbet91 compeabiru

Crédito, Gessiane Pereira/Caminhosnbet91 comPeabiru

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Pesquisadores usam vestígios, sítios arqueológicos e mapas antigos para tentar definir ao máximo possível o local por onde passava o antigo Caminhonbet91 comPeabiru

Para continuar minha pesquisa sobre os vestígios da trilha, viajei para o litoralnbet91 comSanta Catarina, até a Enseada do Brito, no municípionbet91 comPalhoça - uma baía tranquila onde os historiadores acreditam que Garcia teria morado e dali partido emnbet91 commissão até o império inca. Este é o pontonbet91 compartidanbet91 comoutra caminhada inspirada pelo Caminhonbet91 comPeabiru — um trajetonbet91 com25 quilômetros que passa por praias, dunasnbet91 comareia no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e uma visita a duas aldeias guaranis.

Durante o aquecimento para a caminhada, tento imaginar Garcia e seu gruponbet91 comnáufragos barbudos, a milharesnbet91 comquilômetrosnbet91 comcasa, e suas novas acomodações com os guaranis depoisnbet91 comperderem seu navio.

Como na caminhada anterior, a trilha é apenas uma estimativa do local onde poderá ter passado o Caminhonbet91 comPeabiru. Ele foi definido com a pesquisa do empresário local Flávio Santos, que desenvolveu esse projetonbet91 comturismo depoisnbet91 comestudar a história da trilha e os sítios arqueológicos locais.

Como muitos outros, ele vê o potencialnbet91 comatrair turistas o ano inteiro, beneficiando a comunidade local, incluindo as aldeias guaranis próximas, se tudo for feito corretamente.

"Temos esta trilha antiga, então, por que não conectar a história e os povos indígenas locais?", questiona Santos. "É importante que os moradores locais conheçam essa história e saibam como os povos indígenas viviam e como foram dizimados."

Parellada concorda: "Um passeio pelo Caminhonbet91 comPeabiru, aliado a atividades educativas, poderá ser uma ponte para a compreensão total do passado colonial da América do Sul,nbet91 combiodiversidade e o conhecimento dos povos indígenas".

nbet91 com Leia a versão original desta reportagem nbet91 com (em inglês) no site BBC Travel nbet91 com .

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- Texto publicado originalmentenbet91 comhttp://bbc.co.ukhttp://www.mi-rob.com/vert-tra-61808692

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