SíndromewwwgloboesporteStendhal: a estranha reação que abala turistaswwwgloboesporteFlorença:wwwgloboesporte
A síndrome foi clinicamente descrita como um distúrbio psiquiátricowwwgloboesporte1989 por Graziella Magherini, psiquiatra no Hospital Santa Maria Nuova,wwwgloboesporteFlorença.
Magherini observou 106 pacientes, todos eles turistas, que sofreram vertigens, palpitações, alucinações e transtornowwwgloboesportedespersonalização (um distúrbiowwwgloboesporteque o paciente se sente desconectadowwwgloboesporteseu corpo ewwwgloboesporteseus pensamentos) quando observavam obraswwwgloboesportearte como as esculturaswwwgloboesporteMichelangelo e as pinturaswwwgloboesporteBotticelli. Eles sofreram "ataqueswwwgloboesportepânico, causados pelo impacto psicológico das obraswwwgloboesportearte e da viagem", afirmou Magheriniwwwgloboesporteum simpósiowwwgloboesporte2019.

Crédito, Norma Crecca/Getty Images
E os casos da síndrome continuam a ser verificados até hoje. "Ela ocorre normalmente 10 a 20 vezes por anowwwgloboesportecertas pessoas que são muito sensíveis [e] talvez tenham esperado a vida inteira para vir à Toscana", afirma Simonetta Brandolini d'Adda, presidente da fundação AmigoswwwgloboesporteFlorença.
"Essas obraswwwgloboesportearte emblemáticas — as obraswwwgloboesporteBotticelli, o DaviwwwgloboesporteMichelangelo — são realmente extraordinárias. Algumas pessoas ficam desorientadas; pode ser estonteante. Vi muitas vezes pessoas começarem a chorar", relata ela.
O NascimentowwwgloboesporteVênus,wwwgloboesporteBotticelli, parece ser um estímulo específico para a síndromewwwgloboesporteStendhal.
"Já tivemos pelo menos um ataque epiléticowwwgloboesportefrente à pintura", afirma Eike Schmidt, diretor da Galeria Uffizi. "Um senhor também sofreu um ataque cardíaco."
Esse senhor era Carlo Olmastroni, então com 68 anoswwwgloboesporteidade, da cidadewwwgloboesporteBagno a Ripoli, na Toscana (Itália), que desmaiou na Galeria Uffiziwwwgloboesportedezembrowwwgloboesporte2018.
Ele contou o episódio: "Eu me aproximei do NascimentowwwgloboesporteVênus,wwwgloboesporteBotticelli, e, enquanto admirava aquela maravilha, minhas lembranças desapareceram."
Sua história foi rapidamente reproduzida pela imprensa italiana e estrangeira e indicada como o mais recente caso gravewwwgloboesportesíndromewwwgloboesporteStendhal.
Mas ela pode ser mais adequada para ilustrar outro ponto: a precipitação da imprensa ao propagar a ideia romântica da síndromewwwgloboesporteStendhal, mesmo sendo uma condição dificilmente identificada. Certamente, no casowwwgloboesporteOlmastroni, alguma coisa mais estavawwwgloboesportejogo.

Crédito, Peter Unger/Getty Images
"O diagnóstico não foiwwwgloboesportesíndromewwwgloboesporteStendhal, como alguns pensavamwwwgloboesporteforma mais romântica, mas a obstruçãowwwgloboesporteduas artérias coronárias. Talvez, ao admirar o NascimentowwwgloboesporteVênus, elas tenham decidido que não haveria nada mais belo para observar e se contraíram permanentemente!", segundo Olmastroni.
Felizmente, Olmastroni recuperou-se totalmente —wwwgloboesporteparte, graças a um desfibrilador que havia sido instalado no dia anterior àwwwgloboesportevisita e também devido à presençawwwgloboesportequatro médicoswwwgloboesportelocal próximo, incluindo dois cardiologistas italianos da região da Sicília que casualmente estavam visitando a Galeria Uffizi naquele dia.
Ele os chamawwwgloboesporteseus "anjos da guarda". Se ele tivesse sofrido o ataque cardíacowwwgloboesportecasa, a história poderia ter sido diferente; talvez o tesouro artísticowwwgloboesporteFlorença, longewwwgloboesportedeixá-lo doente, tenha salvadowwwgloboesportevida.
O problema enfrentado por muitos profissionais para descrever a síndromewwwgloboesporteStendhal como distúrbio psiquiátrico é a dificuldadewwwgloboesporteanalisar seus sintomas com relação a indisposições mais genéricas que frequentemente atingem os turistas.
"Às vezes, na Galeria Uffizi, alguns visitantes têm ataques cardíacos ou se sentem mal", afirma Cristina di Loreto, psicoterapeuta que vive e trabalhawwwgloboesporteFlorença. "Mas pode ser apenas a permanênciawwwgloboesporteum espaço fechado com centenaswwwgloboesporteoutras pessoas. Pode ser agorafobia, não Botticelli."
A reação emocional à arte, para di Loreto, não constitui um distúrbio psiquiátrico, mesmo se gerar ou contribuir para o surgimentowwwgloboesportesintomas perigosos ou preocupantes.
"Quando você está observando uma obrawwwgloboesportearte, existem áreas específicas do cérebro que são ativadas — é como se você estivesse vendo um belo homem ou uma bela mulher — mas isso não é suficiente para dizer que é uma síndrome. Ela ainda não foi homologada e não está incluída no DSM-5, nosso manualwwwgloboesportedistúrbios mentais", segundo ela.
Di Loreto acredita que outros fatores podem estarwwwgloboesportejogo: as expectativas dos turistas sobre Florença são muito altas, alimentadas pela onipresença das suas obraswwwgloboesporteartewwwgloboesportediversos meioswwwgloboesportecomunicação. Tudo isso se torna excessivo quando eles finalmente visitam a cidade.
"Pode ser uma profecia autorrealizada, que faz com que alguns turistas sintam alguma coisa no arwwwgloboesporteFlorença", segundo ela.
Neste particular, a síndromewwwgloboesporteStendhal pode estar relacionada à síndromewwwgloboesporteJerusalém, que causa delírios religiosos ou messiânicos psicóticos entre os que visitam a cidade sagrada, e à síndromewwwgloboesporteParis, que faz com que os turistas desenvolvam sintomas psiquiátricos agudos ao descobrirem que a capital francesa não atende às suas altas expectativas, fora da realidade.
As próprias palavraswwwgloboesporteStendhal — "uma espéciewwwgloboesporteêxtase com a ideiawwwgloboesporteestarwwwgloboesporteFlorença" — parecem dar alguma credibilidade a essa teoria.
Talvez uma profecia autorrealizadora também esteja presente na cobertura pela imprensawwwgloboesportesupostos casos da síndromewwwgloboesporteStendhal, como owwwgloboesporteOlmastroni — jornalistas, encantados pela ideia românticawwwgloboesporte"doença pela arte", diagnosticam pessoas à distância conforme seus desejos.
"AquiwwwgloboesporteFlorença, comowwwgloboesporteVeneza, você respira arte", declarou o psicoterapeuta Paolo Molino entre sanduícheswwwgloboesportelampredotto (tripas) no MercadowwwgloboesporteSant'Ambrogio,wwwgloboesporteFlorença. "Em qualquer canto do centro da cidade, você se depara com algo bonito. É como levar um tapa no rosto."
Mas Molino concorda com Di Loreto que é difícil descrever a síndromewwwgloboesporteStendhal como uma condição própria ou distinguir seus sintomas, que podem também caracterizar viajantes fatigados, desidratados ou esgotadoswwwgloboesporteoutras maneiras. Sua preocupação não é com a possibilidadewwwgloboesporteFlorença matar os turistas, mas simwwwgloboesporteturistas matarem Florença.
"Florença é como a Disneylândia da arte", afirma ele. "Eu não gosto disso. Gostowwwgloboesportelugares onde as pessoas possam morar — gostowwwgloboesportevir falar com o rapaz do lampredotto,wwwgloboesportepoder andar sem precisar enfrentar multidões."

Crédito, Sylvain Sonnet/Getty Images
Molino morawwwgloboesporteFlorença desde que era criança e agora faz parte da maioria dos florentinos que não conseguem viver perto do centro histórico. "Eu nunca vou para o centro da cidade se puder evitar", conta ele. "É movimentado demais."
Fiquei surpreso com a avaliaçãowwwgloboesporteMolinowwwgloboesporteque a abundânciawwwgloboesporteartewwwgloboesporteFlorença — que valorizamos exatamente pelo que ela nos conta sobre a vida e as condições humanas — fez com que a cidade deixassewwwgloboesporteser um "lugar onde se pode morar".
A comparação do berço da arte e do humanismo da Renascença com a Disneylândia — o principal símbolowwwgloboesporteartifício corporativo e do mercantilismo nivelado por baixo — também foi um choque. Mas é importante lembrarwwwgloboesporteonde veio grande parte da arte florentina.
Michelangelo e Botticelli não esculpiram e pintaramwwwgloboesporteum sótão escuro. Eles foram patrocinados pelas pessoas mais ricas e poderosaswwwgloboesporteFlorença, que usavam suas obraswwwgloboesportearte para demonstrar seu poderio político e financeiro.
E a família mais poderosawwwgloboesporteFlorença foi a dos Médici, que encomendavam obraswwwgloboesportearte como o NascimentowwwgloboesporteVênus. Botticelli chegou a incluir os Médici nas suas pinturas, no papel dos Três Reis Magos; e o próprio edifício que hoje abriga a Galeria Uffizi foi construído por aquela família.
Essas pessoas usavam a arte para propagar a mitologiawwwgloboesportetorno delas, consolidando seu poder e criando — como disse o filósofo francês Jean Baudrillard sobre a Disneylândia norte-americana — uma espéciewwwgloboesportehiper-realidade.
Os Médici já se foram há muito tempo, mas as obras-primas que eles ofereceram a Florença ainda dão à cidade um ar irreal e excepcional. Mas Eike Schmidt, o diretor da Uffizi, acredita que não seja algo exclusivo da cidade.
"Esse tipowwwgloboesportecoisa, sempre que acontecewwwgloboesporteFlorença, chega aos jornais", segundo ele. "Mas, mesmo que seja considerado um fenômeno florentino, o mesmo pode acontecerwwwgloboesportecidades como Veneza ou Verona".
De qualquer forma, como indicou Schmidt, a arte geralmente não é um risco para a saúde, mas sim um tônico para o corpo e para a alma. "Geralmente, a arte é boa para você — para o seu coração e para a mente", conclui ele.
wwwgloboesporte Leia a íntegra desta reportagem wwwgloboesporte (em inglês) no site BBC Travel wwwgloboesporte .

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