Mona Lisa: a cadeira escondida que transforma o significado da obra-primaquebra cabeça grátisDa Vinci:quebra cabeça grátis

Ainda que seja a única coisa que a modeloquebra cabeça grátisLeonardo toca com a mão (o braço esquerdoquebra cabeça grátisMona Lisa está apoiado sobre o braço da cadeira, com a mão segurando no braço e a outra mão sobre ela apontando para a cadeira), a cadeira parece ser o aspecto mais esquecido da pintura.

Escondida, mas à vistaquebra cabeça grátistodos, ela também pode ser a seta que aponta o caminho para os significados mais profundos da obra.

Além do sorriso

Durante séculos, nossa atenção se concentrouquebra cabeça grátisoutra parte do pequeno painelquebra cabeça grátisóleo sobre choupo (77 x 53 centímetros) que Da Vinci nunca terminou por completo e sobre o qual, acredita-se, ele continuou a trabalhar obsessivamente atéquebra cabeça grátismortequebra cabeça grátis1519.

A preocupação com o sorriso inescrutávelquebra cabeça grátisMona Lisa é quase tão antiga quanto a pintura, remontando pelo menos à reação do lendário escritor e historiador renascentista Giorgio Vasari, que nasceu alguns anos depoisquebra cabeça grátisDa Vinci começar a trabalhar no quadro.

"A boca, com aquebra cabeça grátisabertura e as suas pontas unidas pelo vermelho dos lábios às tonalidades da carne do rosto", observou Vasari naquebra cabeça grátiscélebre obra Vidas dos mais destacados pintores, escultores e arquitetos.

"Pareciam, na verdade, não serem cores, mas a própria pele (...) do fundo da garganta, se você olhasse com atenção, dava para ver a batida do pulso", escreveu.

E concluiu: "Nesta obraquebra cabeça grátisLeonardo havia um sorriso tão agradável que era algo mais divino do que humanoquebra cabeça grátisse contemplar, e foi considerado algo maravilhoso, no sentidoquebra cabeça grátisque era algo vivo".

O fascinante mistério do sorrisoquebra cabeça grátisMona Lisa e como Leonardo magicamente o aproveitou para criar "algo mais divino do que humano" e ainda "nada mais e nada menos do que vivo" acabaria sendo muito intenso para muitos.

Alfred Dumesnil, críticoquebra cabeça grátisarte francês do século 19, confessou achar o paradoxo da pintura completamente paralisante.

Em 1854, ele afirmou que o "sorriso é cheioquebra cabeça grátisatrativos, mas é a atração traiçoeiraquebra cabeça grátisuma alma doente que retrata a loucura".

"Este olhar, tão suave mas ganancioso como o mar, devora."

Se for para acreditar na lenda, a "atração traiçoeira" do sorriso insolúvel da Mona Lisa também consumiu a almaquebra cabeça grátisum aspirante a artista francês chamado Luc Maspero.

De acordo com o mito popular, Maspero, que supostamente terminou seus dias se jogando da janelaquebra cabeça grátisseu quartoquebra cabeça grátishotelquebra cabeça grátisParis, foi levado a uma distração destrutiva pelos sussurros mudos dos lábios extasiadosquebra cabeça grátisMona Lisa.

"Durante anos lutei desesperadamente com seu sorriso", ele teria escrito no bilhete que deixou para trás. "Prefiro morrer."

Mãos e pálpebras

No entanto, nem todo mundo se contentouquebra cabeça grátislocalizar o centro da mística magnetizante da Mona Lisaquebra cabeça grátisseu sorriso enigmático.

O escritor vitoriano Walter Pater acredita que é a "delicadeza" com que suas mãos e pálpebras foram pintadas que nos paralisa e nos hipnotiza para que acreditemos no poder sobrenatural da obra.

"Todos nós conhecemos o rosto e as mãos da figura", observou elequebra cabeça grátisum artigo sobre Da Vinciquebra cabeça grátis1869, "naquele círculoquebra cabeça grátispedras fantásticas, comoquebra cabeça grátisuma luz fraca sob o mar."

Pater passa a meditar sobre a Mona Lisaquebra cabeça grátismaneira singularmente intensa. Em 1936, o poeta irlandês William Butler Yeats usouquebra cabeça grátisum poema uma frase da descriçãoquebra cabeça grátisPater, dividindo-aquebra cabeça grátisversos livres.

A passagem que Yeats não pode deixarquebra cabeça grátisresponder começa assim: "É mais antigo do que as rochasquebra cabeça grátisque se senta; como o vampiro, morreu muitas vezes e aprendeu os segredos da tumba; mergulhouquebra cabeça grátismares profundos e guarda seus últimos dias ao seu redor; ela traficou atravésquebra cabeça grátisredes estranhas com mercadores orientais e, como Leda, ela era a mãequebra cabeça grátisHelenaquebra cabeça grátisTróia, e, como Santa Ana, a mãequebra cabeça grátisMaria; e tudo isso era para ela como um sonarquebra cabeça grátisliras e flautas."

O retrato "vive", conclui Pater, "na delicadeza com que moldou os traços mutáveis ​​e tingiu as pálpebras e as mãos".

A descriçãoquebra cabeça grátisPater ainda surpreende. Ao contrárioquebra cabeça grátisDumesnil e do infeliz Maspero antes dele, Pater vê além da armadilha sedutora do sorriso do retrato.

A pintura está fixadaquebra cabeça grátisuma vitalidade maior que se infiltra nas profundezas da superfície.

Ao argumentar que a pintura representa uma figura suspensaquebra cabeça grátisum vaivém incessante entre o aqui e agora e algum reinoquebra cabeça grátisoutro mundo, Pater aponta para a essência mística do apelo perene da pintura: seu senso surrealquebra cabeça grátisfluxo eterno.

Como Vasari, Pater testemunha uma presença pulsante e transpirante — "características mutáveis" — que transcende a materialidade inerte do retrato.

A água

A chave para a força da linguagemquebra cabeça grátisPater é a insistênciaquebra cabeça grátisimagens aquáticas que reforçam a fluidez do ser elusivo da modelo ("luz fraca no fundo do mar", "submersoquebra cabeça grátismares profundos" e "traficado... com mercadores orientais"), como se a Mona Lisa fosse uma fonte viva e inesgotávelquebra cabeça grátiságua, uma ondulação sem fim nos redemoinhos intermináveis ​​do tempo.

Talvez seja. Há razões para pensar que tal leitura, que vê a modelo como fontequebra cabeça grátiseterno ressurgimento que mudaquebra cabeça grátisforma, é exatamente o que Leonardo pretendia.

Flanqueadoquebra cabeça grátisambos os lados por corpos d'água fluentes e que o artista habilmente posicionaquebra cabeça grátisforma a sugerir que são aspectos da personalidade da modelo, o temaquebra cabeça grátisDa Vinci tem uma qualidade estranhamente subaquática que é acentuada pelo vestido verde-alga.

A Mona Lisa usa uma segunda pelequebra cabeça grátisanfíbio que se torna mais e mais escura com o tempo.

A cadeira

Virando ligeiramente o olhar para a esquerda, é possível ver que Mona Lisa não está sentadaquebra cabeça grátisum banquinho qualquer, mas no que é popularmente conhecido como cadeira pozzetto.

Significando "pequeno poço", o pozzetto introduz um simbolismo sutil na narrativa que é tão revelador quanto inesperado.

De repente, as águas que vemos serpenteandoquebra cabeça grátisum movimento labiríntico atrás da Mona Lisa (sejam elasquebra cabeça grátisuma paisagem real, como o vale do rio italiano Arno, como alguns historiadores acreditam, ou inteiramente imaginárias, como outros argumentam) não são mais estão distantes e desconectados da modelo, mas um recurso essencial que sustentaquebra cabeça grátisexistência. Eles literalmente fluem para ela.

Ao colocar a Mona Lisa dentroquebra cabeça grátisum "pequeno poço", Da Vinci a transformaquebra cabeça grátisuma dimensão sempre flutuante do universo físico que ela ocupa.

Martin Kemp, historiador da arte e importante especialistaquebra cabeça grátisDa Vinci, também detectou uma conexão fundamental entre a representação da Mona Lisa e a geologia do mundoquebra cabeça grátisque ela habita.

"O artista não estava literalmente retratando o Arno pré-histórico ou o futuro", afirma Kempquebra cabeça grátisum estudo sobre o artista, "mas estava moldando a paisagem da Mona Lisa com base no que havia aprendido sobre a mudança no 'corpo da Terra' para acompanhar as transformações implícitas no corpo da mulher como mundo menor ou microcosmo".

A Mona Lisa não está sentada diantequebra cabeça grátisuma paisagem. Ela é a paisagem.

O significado do poço

Como acontece com todos os símbolos visuais usados ​​por Leonardo, a cadeira pozzetto é multivalente e serve mais do que simplesmente uma ligação entre Mona Lisa e o conhecido fascínio do artista pelas forças hidrológicas que moldam a Terra.

A sugestão sutilquebra cabeça grátisum "pequeno buraco" na pintura como o canal através do qual a Mona Lisa emerge à consciência reposiciona completamente a pintura no discurso cultural.

Este não é mais apenas um retrato secular, mas algo espiritualmente mais complexo.

As representaçõesquebra cabeça grátismulheres "junto ao poço" são um marco na história da arte ocidental.

As histórias do Antigo Testamentoquebra cabeça grátisEliezer encontrando Rebeccaquebra cabeça grátisum poço e Jacob com Rachel no poço se tornaram especialmente populares nos séculos 17, 18 e 19.

Além disso, as representações apócrifas da Anunciação no Novo Testamento (o momentoquebra cabeça grátisque o arcanjo Gabriel informa à Virgem Maria que ela dará à luz a Cristo) ao ladoquebra cabeça grátisuma fonte eram comuns entre os ilustradoresquebra cabeça grátismanuscritos medievais e podem até ter inspirado o retrato mais antigoquebra cabeça grátisMaria.

Como um emblema infinitamente elástico, como sugere Walter Pater, a Mona Lisa é certamente capazquebra cabeça grátisabsorver e refletir todas essas ressonâncias e muito mais. Não há ninguém além dela.

'Água Viva'

Mas talvez o paralelo mais pertinente entre a Mona Lisaquebra cabeça grátisDa Vinci e os precursores pictóricos seja aquele que pode ser traçado com as muitas representaçõesquebra cabeça grátisum episódio bíblicoquebra cabeça grátisque Jesus se encontraquebra cabeça grátisum poço, tendo uma conversa enigmática com uma mulher samaritana.

No Evangelhoquebra cabeça grátisSão João, Jesus faz uma distinção entre a água que pode ser tirada da nascente natural e a "água viva" que ele pode fornecer.

Enquanto a águaquebra cabeça grátisum poço só pode sustentar um corpo perecível, a "água viva" é capazquebra cabeça grátissaciar o espírito eterno.

As representações notáveis ​​da cena pelo pintor italiano medieval Duccio di Buoninsegna e pelo mestre renascentista alemão Lucas Cranach, o Velho, tendem a colocar Jesus diretamente na parede do poço, sugerindo seu domínio sobre os elementos fugazes deste mundo.

No entanto, ao colocar seu modelo metaforicamente no poço, Da Vinci confunde a tradição e sugere,quebra cabeça grátisvez disso, uma fusão dos reinos material e espiritual, um borrão do aqui e do além,quebra cabeça grátisum plano compartilhadoquebra cabeça grátiscriação eterna.

Na emocionante narrativaquebra cabeça grátisDa Vinci, a própria Mona Lisa é uma onda milagrosaquebra cabeça grátis"água viva", serenamente contente por estar cientequebra cabeça grátisseu próprio infinito intenso.

Leia o texto original no site da BBC Culture.

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