Por que o Brasil não segue outros países que desaconselham gravidez por risco0 5 golmicrocefalia:0 5 gol
Autor0 5 golContesting Epidemics: How Brazil outpaced the USA in its Policy Response ("Contestando epidemias: como o Brasil ultrapassou os EUA0 5 golsuas políticas públicas",0 5 goltradução livre), Eduardo Gomez afirma que há diversos motivos para a decisão.
Professor do King's College,0 5 golLondres, ele diz que o país se abstém0 5 golemitir a recomendação,0 5 golprimeiro lugar, porque historicamente os valores da sociedade brasileira são incompatíveis com esse tipo0 5 golsolução.
"Desde 1988 há liberdade à saúde e respeito aos direitos humanos. Isso está escrito na Constituição. Qualquer coisa que vá contra isso é visto como antidemocrático e pode causar sérios problemas políticos ou sociais a qualquer um que recomendar (adiar a gravidez)", avalia.
Em novembro, o diretor do Departamento0 5 golVigilância0 5 golDoenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, chegou a aconselhar às mulheres não engravidar, mas o ministério emitiu nota desmentindo que essa fosse a recomendação oficial.
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Gomez ressalta que a recomendação demandaria políticas0 5 golapoio, como a disponibilização0 5 golcongelamento0 5 golóvulos, o que acarretaria0 5 golmais custos. "Isso seria muito difícil0 5 golmeio à recessão econômica."
Nesse contexto, continua, "a epidemia0 5 golzika seria um catalisador para problemas já existentes, como a falta0 5 golverbas para o Sistema Único0 5 golSaúde (SUS)".
O especialista pondera ainda que a recomendação geraria uma resposta hostil por parte da sociedade e traria consequências políticas para o governo.
"Aumentaria ainda mais a hostilidade social ao governo (…) Dilma não quer mais isso, especialmente nesse momento0 5 golameaça0 5 golimpeachment."
Lacuna0 5 golesclarecimentos
O porta-voz da Organização Mundial0 5 golSaúde (OMS)0 5 golGenebra, Christian Lindmeier, afirma que a organização e o Brasil não podem se comprometer com uma recomendação desse tipo porque a relação entre a zika e a microcefalia ainda não está completamente esclarecida.
"Pela evidência que temos0 5 golmãos, existe a sugestão0 5 goluma associação entre zika e microcefalia, mas há muitas coisas que ainda não foram estabelecidas e que precisamos saber. A microcefalia pode ser causada por impactos ambientais, metais pesados, herbicidas, pesticidas, síndromes genéticas, infecções, álcool, drogas, vacinas. E esses podem ser cofatores na má-formação, pois tivemos surtos0 5 golzika anteriormente, mas não tivemos microcefalia."
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Procurado pela BBC Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que "a gravidez é uma decisão pessoal" e reiterou que não está promovendo políticas0 5 golcontrole0 5 golnatalidade devido aos casos0 5 golmicrocefalia.
"Não existe, nesse momento, recomendação para aumento0 5 goldistribuição0 5 golcamisinhas – ou contraceptivos – relacionados ao vírus zika", informou0 5 golcomunicado.
Para Gomez, que escreveu diversos estudos sobre o HIV (vírus causador da Aids) no Brasil, a distribuição0 5 golcamisinhas é importante para garantir mais proteção a mulheres que queiram adiar a gravidez.
Incerteza
O médico e biomatemático Antoine Flahault, diretor do Instituto0 5 golSaúde Global da Universidade0 5 golGenebra, diz acreditar que a ausência0 5 golevidências contundentes servem0 5 golrazão para que a OMS não faça a recomendação.
Segundo Flahault, a incerteza é um argumento que funciona "para os dois lados": enquanto alimenta a cautela dos países latino-americanos, serve0 5 goldesculpa para a indefinição no caso do Brasil e da OMS.
"Os vínculos entre a microcefalia e a zika ainda não são considerados suficientes por alguns especialistas da organização. (Mas) eu entendo completamente se alguns países preferem tomar medidas fortes e pedir às mulheres que posterguem a gravidez."
Previsões da Organização Pan-Americana0 5 golSaúde (Opas) divulgadas nesta semana apontam que o zika vírus deve se espalhar por todo o continente, ficando fora apenas0 5 golChile e Canadá, onde o Aedes aegypti não está presente.