Truculência e barbárie não são soluções para a segurança, diz sociólogo:bonus poker

Policiais do batalhãobonus pokerchoque durante confronto com sem-tetobonus pokerSão Paulo

Crédito, AFP

Legenda da foto, Para Cano, Brasil precisa seguir países que conseguiram conter violência e hoje têm polícia respeitada
  • Author, Jefferson Puff
  • Role, Da BBC Brasil no Riobonus pokerJaneiro

bonus poker No Brasil há maisbonus poker15 anos, o sociólogo espanhol Ignacio Cano, professor do Laboratóriobonus pokerAnálise da Violência (LAV) da Uerj (Universidade do Estado do Riobonus pokerJaneiro), é um dos principais nomes do paísbonus pokerquestões relativas à segurança pública.

Ao ladobonus pokeroutros 12 especialistasbonus pokerdiferentes partes do Brasil, ele assinou um documento entregue aos candidatos à Presidência da República pedindo uma agenda mínimabonus pokermedidas importantes com a metabonus pokerreduzir o númerobonus pokerhomicídios no país, como a reforma do modelo policial, a revisão da política criminal e penitenciária e a reformulação da políticabonus pokerdrogas.

Em entrevista à BBC Brasil, Cano comentou alguns dos principais assuntosbonus pokerdebate na segurança pública atualmente, como a desmilitarização da polícia, a violência policial e as mortesbonus pokeragentes da lei, e a crise nas UPPs do Riobonus pokerJaneiro, cidade que, segundo ele, vive um "ciclo negativo" na segurança há no mínimo dois anos.

Durante a conversa, o sociólogo comentou a alta cifrabonus pokerhomicídios no Brasil. Em 2012, no número mais recente divulgado pelo SUS, foram registrados 56.337 homicídios, sendo 40.077, ou seja, 71% do total, com armasbonus pokerfogo. O número é o mais alto da história do país.

Confira os principais trechos da entrevista:

bonus poker BBC Brasil – Que medidas um novo governo poderia tomar para tentar impactarbonus pokerforma positiva a segurança no Brasil a curto prazo?

bonus poker Ignacio Cano – Acho que dois pontos são essenciais. O primeiro, um plano nacionalbonus pokerreduçãobonus pokerhomicídios, ou seja, determinar que a meta central da segurança pública no país seja a redução do númerobonus pokerhomicídios, e o segundo, uma melhora das investigações para que a gente consiga reduzir as taxasbonus pokerimpunidade. Esses dois pontos teriam que ser abordados a curto prazo. A médio e longo prazo nós temos que melhorar a inserção dos jovens nas periferias e controlar a difusãobonus pokerarmamentos.

bonus poker BBC Brasil – Uma pesquisa da FGV e do Fórum Brasileirobonus pokerSegurança Públicabonus pokerjulho deste ano mostrou quebonus poker21.101 policiais ouvidos, 73,7% são a favor da desmilitarização da polícia. O tema divide opiniões no país e há setores que apoiam e outros que rejeitam a proposta que foi uma das demandas recorrentes nos protestosbonus pokerjunho do ano passado. O senhor é a favor? Nabonus pokeropinião, trata-sebonus pokeralgo realista?

bonus poker Ignacio Cano - Até o ano passado não era muito realista, mas com as manifestaçõesbonus pokerjunho, se abriubonus pokernovo o debate, e apareceu como uma medida possível. Tudo depende da mobilização popular. Pela inércia institucional não acontecerá. A desmilitarização seria uma medida positiva, e mais um meio do que um fim. Ajudaria a recolocarbonus pokerpauta a busca pelo melhor modelo policial para o Brasil e a construir também um modelo que sejabonus pokerproteção e nãobonus pokerguerra ao inimigo.

A desmilitarização aceleraria o processo, mas não garantiria que no dia seguinte que as polícias agissembonus pokerforma diferente. Precisaria mudar o treinamento, a cultura. É preciso também educar a sociedadebonus pokerque a truculência não é a solução. É um processo lento, e a desmilitarização seria um elemento importante, mas não uma panaceia para resolver todos os problemasbonus pokersegurança do Brasil.

Ignacio Cano

Crédito, Agencia Brasil

Legenda da foto, Para Ignacio Cano, protestos popularesbonus poker2013 reabriram debate sobre desmilitarização da polícia

bonus poker bonus poker BBC Brasil – Quando se discute violência policial, a maioria dos argumentos sãobonus pokercondenação a abusos e excessos. Masbonus poker2008, uma pesquisa da Secretaria Nacionalbonus pokerDireitos Humanos apurou que 43% dos brasileiros concordam com a frase "bandido bom é bandido morto". Até que ponto a sociedade apóia a violência policial?

bonus poker Ignacio Cano – No debate sobre violência policial, muita gente só fica indignada se essa violência for dirigida a pessoas supostamente inocentes. Mas quando ela atinge pessoas vistas como culpadas, criminosas, um setor da população apóia, e trata-sebonus pokerum setor importante. Veja essa pesquisa. Quarenta e três por cento das pessoas concordam com essa frase.

A gente tem que entender que o problema da violência policial não é um problema apenas das polícias e das instituições, é um problema da sociedade como um todo. Isso não significa, claro, que a polícia possa fazer isso só porque um setor apóia. A polícia não pode fazer porque é contra a lei. Nós precisamos cobrar a polícia, por um lado, para que ela cumpra a lei e modifique seu treinamento e doutrina, mas também precisamos educar a sociedade, para que perceba que a barbárie nunca vai resolver nosso problemabonus pokersegurança.

bonus poker BBC Brasil – Há paísesbonus pokerque a polícia tende a ser mais respeitada do que no Brasil, onde muitos temem os agentes da lei. É possível vislumbrar um cenáriobonus pokermaior harmonia e respeito entre a polícia e a sociedade no Brasil?

bonus poker Ignacio Cano – É preciso lembrar que alguns países da Europa que hoje são modelobonus pokerdesenvolvimento social ebonus pokersegurança também foram muito violentos um século atrás. Não há uma condenação natural a uma situaçãobonus pokerinsegurança no Brasil. Mas vivemos na América Latina, que é a região mais violenta do mundo, e somos um continente muito desigual, então há vários fatores que nos limitam, mas nada que a gente não possa mudar.

Temos que traçar os mesmos objetivos desses países que eram muito violentos e que hoje têm uma polícia apoiada pela população e baixos níveisbonus pokerviolência. Se o Brasil quer ser um país desenvolvido, não basta aumentar o PIB. É preciso que as pessoas não sejam mortas por intervenções policiais, é preciso que nós não tenhamos o nívelbonus pokerimpunidade que temos hoje.

Agência Brasil

Crédito, Agencia Brasil

Legenda da foto, Para Cano, armas deveriam estar somente nas mãos dos profissionaisbonus pokersegurança pública

bonus poker BBC Brasil – Um maior controlebonus pokerarmas e munições poderia reduzir o alto númerobonus pokerhomicídios no país? Controlar o usobonus pokerarmamentos e munições dos policiais também poderia ajudar?

bonus poker Ignacio Cano – Houve um esforço na década passada, apesar da derrota no referendo do desarmamento. As armas deveriam estar exclusivamente nas mãos dos profissionaisbonus pokersegurança pública. Os particulares não deveriam ter acesso a armasbonus pokerfogo, salvo alguma exceção muito bem justificada. Na medidabonus pokerque a gente caminhar neste sentido, seremos uma sociedade mais segura.

Quanto aos policiais, hojebonus pokerdia há somente um controle administrativo. O policial muitas vezes preenche um relatório para receber mais munição, mas não para explicar como ele usou essa munição. Isso tem que mudar, a gente tem que justificar cada bala. Isso ajudará a restringir o uso do armamento e da força letal. É imperativo que o governo federal faça um esforço para que haja um controle maior sobre as armasbonus pokerfogo, incluindo o desviobonus pokerarmas para os criminosos.

bonus poker BBC Brasil – Desde que as UPPs começaram a ser instaladas no Riobonus pokerJaneiro,bonus poker2008, os númerosbonus pokerpessoas mortas pela polícia, assim como osbonus pokerpoliciais assassinados, caíram consideravelmente. No primeiro semestrebonus poker2014, no entanto, foram maiores do que no mesmo períodobonus poker2013. O que isso indica?

bonus poker Ignacio Cano – Nós estamos hojebonus pokerdia num ciclo negativo da segurança. Depoisbonus pokervários anosbonus pokerdiminuição dos homicídios e dos roubos, nós estamos há dois anos pelo menos num ciclo negativo. Nesse cenário era esperado que aumentassem os mortos pela polícia e também os policiais mortos. Sem dúvida nenhuma preocupa, porque isso é um presságiobonus pokerum aumento na violênciabonus pokerforma geral.

Se disparam as mortes pela polícia e mortesbonus pokerpoliciais, provavelmente todos os índices vão continuar numa tendência negativa, porque essas mortes estão simbolizando esse velho modelobonus pokerguerra ao crime, que tem sido tão deletério para o Riobonus pokerJaneiro e o Brasilbonus pokergeral. Mais mortes pela polícia significam mais policiais que vão ser mortos forabonus pokerserviço, e por consequência seus colegas vão matar mais. É um ciclo vicioso que só prejudica a sociedade.