Por que Ucrânia abriu mãoll01 bet 365arsenal nuclear nos anos 1990:ll01 bet 365

Acordoll01 bet 365Budapeste

Nos anos 1990, a Ucrânia decidiu abrir mão das armas nucleares deixadasll01 bet 365seu territórioll01 bet 365trocall01 bet 365segurança e reconhecimento como país independente. Tudo foi acordado por meio do Memorandoll01 bet 365Budapeste, um acordo assinado entre o governo ucraniano, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos após o fim da URSS.

No entendimento firmadoll01 bet 3651994 na capital da Hungria, a Ucrânia se comprometia a aderir ao Tratadoll01 bet 365Não Proliferaçãoll01 bet 365Armas Nucleares (TNP) e a devolver para Moscou as ogivas deixadasll01 bet 365seu território.

"Com o fim da URSS, parte do estoquell01 bet 365armas nucleares soviético foi deixada para trásll01 bet 365diversos países do Leste Europeu, e havia uma preocupação do Ocidentell01 bet 365que elas poderiam ser extraviadas ou mal utilizadas, trazendo risco para a Europa", conta Vicente Ferraro Jr., cientista político e pesquisador do Laboratórioll01 bet 365Estudos da Ásia da Universidadell01 bet 365São Paulo (USP).

Em troca da desnuclearizaçãoll01 bet 365Kiev, os governos da Rússia, dos EUA e do Reino Unido se comprometeram a "respeitar a independência, a soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia" e a "abster-se da ameaça ou do uso da força" contra o país.

As prerrogativas eram muito importantes para o governo ucraniano naquele momento, já que o país só conquistoull01 bet 365independência definitivall01 bet 3651991 e ainda lutava por reconhecimento internacional após a era soviética.

Em 1996, Kiev já havia devolvido todas as armas soviéticas deixadasll01 bet 365seu território. O memorando também foi assinado por Belarus e Cazaquistão, com as mesmas condições conferidas ao governoll01 bet 365Kiev.

'Sem armas e sem segurança'

A Ucrânia alega que a Rússia descumpriu o Memorando pela primeira vezll01 bet 3652014, quando invadiu e anexou a Crimeia, região no leste do país onde fica a base naval russall01 bet 365Sebastopol e a frota do mar Negro.

O governo ucraniano afirma ainda que as condições do entendimento também foram desrespeitadas quando o Kremlin passou a apoiar os grupos separatistas que comandam rebeliões nas provínciasll01 bet 365Donetsk e Luhansk, na fronteira com a Rússia. O conflito na região já deixou maisll01 bet 36514 mil mortos.

Desde que a ameaçall01 bet 365uma invasão russa ao território ucraniano se concretizoull01 bet 3652022, o governo do presidente Volodymyr Zelensky decidiu invocar o Memorandoll01 bet 365Budapeste mais uma vez.

"A Ucrânia recebeu garantiasll01 bet 365segurança após abandonar o terceiro maior arsenal nuclear do mundo. Não temos mais essas armas, mas também não temos segurança", disse Zelenskyll01 bet 365um discursoll01 bet 36519/02. "Desde 2014, a Ucrânia tentou por três vezes convocar consultas com os Estados signatários do Memorandoll01 bet 365Budapeste, mas sem sucesso. Hoje, a Ucrânia fará isso pela quarta vez. Por uma última vez."

Não houve tempo para qualquer consulta, e a invasão foi concretizadall01 bet 36524/02, com ataques à infraestrutura militar ucranianall01 bet 365todo o país e envioll01 bet 365comboios russos chegandoll01 bet 365todas as direções.

Após o discurso do líder ucraniano sobre o Memorando, o presidente russo Vladimir Putin ainda passou a usar as palavrasll01 bet 365Zelensky para justificar suas ações.

Putin afirmoull01 bet 365um discursoll01 bet 365Moscou na segunda-feira (21/02) que a Ucrânia estava abandoando o pacto com intençõesll01 bet 365desenvolver um arsenal nuclear com o auxílio dos EUA. Segundo ele, o país planejava ações agressivas e, dessa forma, representava um risco muito maior à população russa.

"As declaraçõesll01 bet 365Putin são totalmente falsas. Não há interesse da parte dos EUAll01 bet 365armar ou ver a Ucrânia armada com armas nucleares", diz Alexander Lanoszka, professorll01 bet 365Relações Internacionais da Universidadell01 bet 365Waterloo (Canadá) e especialistall01 bet 365segurança nuclear.

Decisão 'romântica e prematura'

Antes mesmo da assinatura do Memorandoll01 bet 365Budapeste, membros da elite política ucraniana e especialistasll01 bet 365política internacional já previam a possibilidadell01 bet 365desrespeito ao acordo por partell01 bet 365algum dos signatários.

Volodymyr Tolubko, um ex-comandante militar eleito para o Parlamento ucraniano, argumentoull01 bet 365uma sessão do Legislativoll01 bet 3651992 que a ideia da Ucrânia se desnuclearizar totalmentell01 bet 365troca da promessall01 bet 365segurança era "romântica e prematura".

Segundo ele, o país deveria manter pelo menos algumas das ogivas soviéticas, que serviriam para "dissuadir qualquer agressor".

Com a mais recente invasão russa, o debate voltou à tona, com membros do governo e analistas políticos argumentando que a Ucrânia poderia ter evitado a incursão caso tivesse armas nucleares àll01 bet 365disposição.

Ferraro Jr., da USP, explica que,ll01 bet 365fato, há uma crença entre algumas naçõesll01 bet 365que um arsenal nuclear pode ser útil para dissuadir ataques estrangeiros.

"Há um conceito defendido por alguns na áreall01 bet 365Relações Internacionais chamado dissuasão nuclear ou paz nuclear. Segundo ele, países com um arsenal nuclear correm menos riscos, não porque podem realmente utilizar suas armas, mas porque as utilizam como garantia ou ameaça contra qualquer tentativall01 bet 365ataque", diz. "Os adeptos dessas ideias costumam usar o exemplo da Guerra Fria para basear seus argumentos, pois naquele momento EUA e Rússia nunca tiveram um conflito direto e pararam nas ameaças."

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil advertem, no entanto, que a presençall01 bet 365armas nucleares está longell01 bet 365representar uma garantia ou sensaçãoll01 bet 365paz.

"Conflitos que envolvem potências nucleares sempre são mais perigosos e tensos, como é o caso do embate entre Paquistão e Índia que se arrasta por anos", diz Ferraro Jr.

'Custos políticos e financeiros'

Para Lanoszka, da Universidadell01 bet 365Waterloo, os argumentos usados por parte da elite ucraniana não fazem sentido porque Kiev nunca teve controle das armas instaladasll01 bet 365seu território após a Segunda Guerra Mundial.

"A Ucrânia tinha apenas o controle físico dessas armas, mas não operacional. Eles não tinham os códigosll01 bet 365acesso e os detalhes críticos para operá-las, algo que, na verdade, poderia tornar o seu uso ainda mais perigoso", diz o pesquisador.

Andrew Futter, professorll01 bet 365política internacional da Universidadell01 bet 365Leicester (Reino Unido), também ressalta que a manutenção do arsenalll01 bet 365Kiev poderia significar riscos futuros.

"Embora a Ucrânia tenha hoje uma indústriall01 bet 365energia nuclear, transformá-lall01 bet 365um programall01 bet 365armas nucleares incorreriall01 bet 365custos políticos e financeiros significativos", afirma.

Há riscoll01 bet 365um confronto nuclear?

Ainda que Kiev tenha se desnuclearizado totalmente, a invasão das forças russas na Ucrânia reativou o temorll01 bet 365um confronto nuclear na Europa.

Putin já deixou explícitoll01 bet 365seus discursos que responderá com agressividade caso algum dos membros da Otan, aliança militar encabeçada pelos Estados Unidos e pelas maiores potências da Europa, decida interferir no confronto à favor da Ucrânia. Além disso, ele colocou a força nuclear estratégia da Rússiall01 bet 365"alerta especial".

Em conversa com oficiais militares, o presidente russo afirmou que potências globais tomaram "ações hostis"ll01 bet 365relação à Rússia e impuseram "sanções ilegítimas". A mudança para o statusll01 bet 365alerta provavelmente agiliza o lançamentoll01 bet 365armas mais rapidamente, mas isso não significa que haja uma intenção realll01 bet 365usá-las.

Segundo especialistasll01 bet 365segurança e política nuclear, não há motivos para pânico no momento. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, já afirmou que não tem tropas na Ucrânia nem planosll01 bet 365enviá-las ao país. Para ele, o anúncioll01 bet 365Putin sobre o "alerta especial" é "perigoso" e "irresponsável". Uma posição semelhante foi manifestada pelo governo americano e pela União Europeia.

Ao que parece até o momento, a aliança militar só consideraria uma intervenção militar no casoll01 bet 365uma ameaça russa contra algumll01 bet 365seus Estados-membros. De acordo com o artigo 5º da Otan, a organização é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado.

Mas vários países do chamado Pactoll01 bet 365Varsóvia - a extinta aliançall01 bet 365países comunistas criada pela União Soviética para fazer um contrapeso militar à Otan -, como Hungria, Romênia, República Tcheca e Polônia, o são.

"Putin disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça nuclear", diz Lanoszka. "Mas há um interesse comumll01 bet 365todas as partesll01 bet 365restringir esse conflito à Ucrânia. Então, eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste momento".

Segundo Ferraro Jr., mesmo no casoll01 bet 365um ataque russo contra outras ex-repúblicas soviéticas que hoje fazem parte da Otan, como a Estônia, Letônia e Lituânia, é possível que as duas partes prefiram minimizar os riscos. "Assim como o Ocidente e a Otan evitam conflito direto na Ucrânia, Rússia também evitaria um confronto no restante do Leste Europeu", afirma.

Para Futter, também não há qualquer indicaçãoll01 bet 365que Moscou pretenda usar suas armas nucleares contra a Ucrânia. "Não vejo nenhuma razão pela qual Moscou usaria armas nucleares contra a Ucrânia. Não apenas porque qualquer material radioativo tão pertoll01 bet 365sua fronteira pode ser perigoso, mas também porque eles provavelmente não querem destruir o país e a população ucraniana, já que seu plano parece ser incorporar o território à Rússia."

Por fim, Larlecianne Piccolli, pesquisadora especializadall01 bet 365armas estratégicas e políticall01 bet 365segurança e defesa da Rússia e diretora do Instituto Sul-Americanoll01 bet 365Política e Estratégia (Isape), escreveull01 bet 365seu perfil no Twitter que a elevação do alerta feita por Putin visa principalmente intimidar a Ucrânia e forçá-la à mesall01 bet 365negociações, algo que já estáll01 bet 365andamento. Mas os termosll01 bet 365negociação ainda não foram divulgados oficialmente.

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