'Como escapei da morteafiliado green betAuschwitz': o relato da irmã 'póstuma'afiliado green betAnne Frank:afiliado green bet

Crédito, Chris Jackson/PA Wire
afiliado green bet Eva Schloss e Anne Frank foram amigasafiliado green betinfância, vizinhas na Amsterdã ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Eva lembra que o apelidoafiliado green betAnne era 'Miss Quack Quack' — segundo ela, a autora do diário que viria a ser tornar um dos ícones do Holocausto ganhou a alcunha porque adorava papear.
E assim como os Frank, a família judiaafiliado green betEva foi forçada a se esconder, mas acabaria sendo descoberta e enviada para o campoafiliado green betextermínioafiliado green betAuschwitz-Birkenau, na Polônia.
Após a guerra, Eva se tornou irmã postiça póstumaafiliado green betAnne, quandoafiliado green betmãe se casou com o pai dela, Otto Frank.
Aos 93 anos, ela é hoje uma das últimas sobreviventes do Holocausto.
Em entrevista à jornalista Emily Webb, do programaafiliado green betrádio Outlook, da BBC, ela conta como foi capturada e escapou da morte no campoafiliado green betextermínio nazista.

Eva Geiringer Schloss vivia uma infância feliz ao lado dos pais, Erich e Elfriede, e do irmão mais velho, Heinz,afiliado green betViena — adorava esquiar nas montanhas no inverno e nadar no lago nos mesesafiliado green betverão.
Mas as tropas nazistas invadiram a Áustria,afiliado green bet12afiliado green betmarçoafiliado green bet1938, para anexar o país à Alemanha.
Da noite para o dia, amigos e vizinhos se voltaram contra a famíliaafiliado green betEva simplesmente porque a família era judaica. Eva tinha 9 anos na época.

Crédito, Eva Schloss
"Minha melhor amiga era uma garota católica. Quando fui à casa dela, a mãe dela me viu chegando, me olhou com tanto ódio e disse: 'Não queremos mais te ver aqui'. E bateu a porta na minha cara", relembra Evaafiliado green betentrevista ao programa Outlook, da BBC.
"Fiqueiafiliado green betchoque. Fui para casa chorando. E minha mãe disse: 'Infelizmente é isso que vai acontecer, as pessoas parecem não gostar maisafiliado green betnós'."
Seu irmão, Heinz, então com 12 anos, chegou a ser atacado fisicamente pelos próprios amigos.
"Ele chegouafiliado green betcasa num estado lamentável. Seu rosto estava todo cobertoafiliado green betsangue, suas roupas estavam rasgadas. E quando meus pais perguntaram (o que havia acontecido), ele disse: 'Meus melhores amigos fizeram isso, e os professores ficaram apenas assistindo'."
Para escapar da perseguição na Áustria, os Geiringer se refugiaram então primeiro na Bélgica, e depois na Holanda.

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
E foiafiliado green betAmsterdã que Eva conheceu Anne Frank — a autora do diário mais famoso do mundo morava no prédio para onde se mudaram.
"Todas as crianças iam brincar depois da escola na área aberta (do prédio). E um dia uma garotinha veio até mim e se apresentou, o nome dela era Anne Frank."
"Ela perguntouafiliado green betonde eu vinha, eu disse que da Áustria, e assim por diante. 'Então você fala alemão?', ela disse, 'Ah, meus pais também falam alemão'."
"Ela me levou depois até seu apartamento para conhecerafiliado green betfamília. E foi assim que conheci Otto, que mais tarde se tornou meu padrasto,afiliado green betirmã eafiliado green betmãe", afirma.
As duas se tornaram amigas — "não melhores amigas", esclarece Eva, devido a interesses distintos na época.
"Eu queria brincar. Anne era mais feminina, mais interessadaafiliado green betroupas e meninos já. Quando eu disse a ela que tinha um irmão, ela falou: 'Ah, posso conhecer?'", recorda.

Crédito, Anne Frank Museum
"(Mas) Ele não estava interessadoafiliado green betuma garota da idade daafiliado green betirmãzinha. Queria uma namorada mais velha."
Pouco tempo depoisafiliado green betos Geiringer chegarem a Amsterdã,afiliado green bet1940, os nazistas invadiram a Holanda — e a perseguição aos judeus logo começou. Eles tentaram deixar o país, mas desta vez não conseguiram.
"Não podíamos usar o transporte público, tínhamos que andarafiliado green betbicicleta, fazer comprasafiliado green betlojasafiliado green betjudeus, pessoas cristãs eram proibidasafiliado green betvir à nossa casa, éramos proibidosafiliado green betir a casas cristãs. Não podíamos ir ao cinema, à piscina... Falaram que tínhamos que deixar nossa escola e ir para escolas judaicas", diz ela.
Mas, apesarafiliado green bettudo, Eva ainda guarda boas lembranças deste período — sobretudo do irmão, Heinz, que tocava músicas para ela dançar no piano e, como não podiam mais ir ao cinema, preparou uma apresentação especial do filme Brancaafiliado green betNeve e os Sete Anões, que estavaafiliado green betcartaz, para a irmã, com os personagens desenhadosafiliado green betcartolina.
"Ele faziaafiliado green bettudo para me fazer feliz, para me agradar."
"Então a ocupação ainda não era tão terrível", avalia Eva.

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
Mas o pior ainda estava por vir. Em 1942, os nazistas apresentaram a chamada "solução final", o plano para o genocídio do povo judeu, que culminou no assassinatoafiliado green betdois terços da populaçãoafiliado green betjudeus da Europa.
Foi quando o irmãoafiliado green betEva, assim como outros jovens, recebeu uma cartaafiliado green betconvocação para se apresentar para ser enviado a um campoafiliado green bettrabalho nazista na Alemanha — e seu pai decidiu que a família deveria se esconder.
"Meu pai explicou que todo país ocupado (pelos nazistas) tinha um movimentoafiliado green betresistência, o que significava que estavam boicotando o que os alemães estavam fazendo."
"Estas pessoas encontraram casas para nós nos escondermos", afirma.
A família Geiringer se dividiu estrategicamenteafiliado green betcasas diferentes — Eva se refugiou com a mãe, enquanto seu irmão, Heinz, se escondeu com o pai.
Como havia incursões constantes da polícia nazista, a resistência holandesa construiu um pequeno esconderijo para Eva e a mãe no banheiro da casaafiliado green betque estavam refugiadas, atrásafiliado green betuma parede falsa.
Ela lembra do pavor que sentiu quando um dos soldados entrou no banheiro.
"Ouvi (o barulho) das botas dele entrando, e meu coração batia tão alto que achei que ele ouviria pela divisória, mas é claro que não (ouviu). Apenas abriu a porta, olhou para dentro e provavelmente já saiuafiliado green betnovo."
Após dois anos se escondendo,afiliado green bet11afiliado green betmaioafiliado green bet1944, diaafiliado green betque Eva completou 15 anos, aconteceu o que os Geiringer temiam.
"Era meu aniversárioafiliado green bet15 anos, havíamos nos mudado recentemente para a casa desta família, uma família muito bacana, um casal mais velho. Tinham feito um café da manhã especialafiliado green betaniversário com ovo, porque só comíamos um ovo por semana."
"De repente, ouvimos uma batida na porta. Bem,afiliado green betmanhã não tinha problema. O dono da casa desceu e abriu a porta — havia dois nazistas e dois policiais holandeses. Eles subiram as escadas e foram diretoafiliado green betmim e na minha mãe."
A famíliaafiliado green betEva havia sido traída por um agente duplo da Resistência Holandesa.
Elas foram levadas até a sede da Gestapo, a polícia secreta nazista, onde Eva foi exaustivamente interrogada. O que ela não sabia é que seu pai e seu irmão também haviam sido capturados.
"Eles acabaram me liberando, e me jogaramafiliado green betuma salinha. Lá estavam meu pai, Heinz e minha mãe."
Mais tarde, descobriu-se que a enfermeira que estava abrigando o pai e o irmãoafiliado green betEva entregou cercaafiliado green bet200 famíliasafiliado green betjudeus para os nazistas, incluindo os Geiringer.
Os nazistas ofereciam grandes recompensas para quem entregasse os judeus que estavam escondidos.
"E quando nós fomos visitar, nos seguiram, então sabiam onde estávamos", diz ela.
Na sequência, os Geiringer foram levadosafiliado green betum tremafiliado green betcarga para o campoafiliado green betconcentraçãoafiliado green betAuschwitz-Birkenau, dentroafiliado green betum vagão para transporteafiliado green betgado.
"Cercaafiliado green bet70 pessoas foram empurradas para dentro (do vagão). Não havia lugar para sentar, apenas no chão. Trouxeram dois baldes, um para água e outro para (servir de) banheiro. Um balde comum pequeno."
"Depois vieram e fecharam a porta, já nos sentíamos numa prisão. E então seguimos viagem. Uma vez por dia, a porta era aberta, e eles jogavam pedaçosafiliado green betpão para dentro. E trocavam os baldes", relembra.
Àquela altura, eles ainda não sabiam para onde estavam indo.
"Viajamos talvez por três ou quatro dias. As pessoas desmaiavam, choravam, era um clima terrível."
A viagemafiliado green bettrem foi a última ocasiãoafiliado green betque os Geiringer estiveram todos juntos como família.

Crédito, AFP/AFP via Getty Images
"Meu pai pediu desculpas a nós, disse que não poderia mais nos proteger."
"E nos deu instruções: 'Lavem sempre as mãos, tentem sempre ajudar uns aos outros. Tentaremos ficar juntos. Lembrem-se: temos uma chance, podemos conseguir, nós quatro'."
Quando chegaram a Auschwitz,afiliado green betterritório polonês, os homens foram quase que imediatamente separados das mulheres. Eva teve que se despedir então do pai e do irmão.
"Foi uma despedida terrível, porque nos demos conta que talvez nunca mais nos veríamosafiliado green betnovo", diz Eva.
Pelo menos 1,1 milhãoafiliado green betpessoas seriam assassinadasafiliado green betAuschwitz, que com suas câmarasafiliado green betgás e crematórios, se tornaria o complexoafiliado green betcamposafiliado green betextermínio mais mortal do Terceiro Reich.
Eva e a mãe foram levadas para Birkenau, um anexoafiliado green betAuschwitz, onde passaram por outra triagem, feita desta vez por Josef Mengele, o médico nazista conhecido como "Anjo da Morte".
"Ele não estava ali para cuidar da saúde das pessoas, mas para decidir quem ia morrer e quem ia viver. A gente não sabia, claro."

Crédito, Karl Hoecker/Museu do Holocausto
Enquanto estavam enfileiradas, ela conta que a mãe insistiu para que botasse seu casaco e chapéu.
"Era um casaco enorme, que não serviaafiliado green betmimafiliado green betjeito nenhum, e eu não queria, estava quente. Mas minha mãe disse: 'Use, talvez seja útil'."
"Mengele vinha, ele olhava para você por uma fraçãoafiliado green betsegundo e dizia: 'Deste lado, para aquele lado, deste lado, para aquele lado'. Era muito rápido. E como não viu o quão jovem eu era, fui para o lado 'bom' com minha mãe."
Na ocasião, Eva não sabia o que significava ser selecionada para o outro lado.
"Pensamos: Talvez elas sejam levadas para um acampamento melhor, um campo (de trabalho) mais fácil, não queríamos pensarafiliado green betoutra coisa."
Na sequência, tiveram que se despir completamente — Eva se lembra dos soldados nazistas rindo daafiliado green bethumilhação —, tiveram o cabelo raspado e foram tatuadas.
"'Vocês vão ser tatuadas agora. Vamos colocar um número no seu braço, e se precisarmosafiliado green betvocê, vamos te chamar pelo número. Esqueça que você tem um nome e é um ser humano'", Eva se lembraafiliado green betterem dito.
Ainda nuas, mãe e filha foram levadas para fora, onde havia pilhas enormesafiliado green betroupa.

Crédito, Galerie Bilderwelt/Getty Images
"Você só podia ter uma peça, que poderia ser um casaco pesado ou um vestidoafiliado green betnoite, apenas uma, tanto fazia. E então dois sapatos, todos sem cadarço, claro, e nunca era um par — podiam ser duas botasafiliado green betcano alto ou uma sandália e uma bota…", descreve.
Enquanto isso, as prisioneiras foram informadasafiliado green bettomafiliado green betescárnio pelos guardas que as familiares separadas delas na primeira triagem haviam sido executadas.
"Quando vocês saíremafiliado green betalguns minutos, já vão poder sentir o cheiro da carne queimada, porque elas já foram mortas na câmaraafiliado green betgás, só vão ser incineradas agora."
"Foi uma crueldade extra. Não precisavam nos dizer isso."
Mãe e filha foram encaminhadas então até um galpão, uma espécieafiliado green betalojamento, onde havia apenas belichesafiliado green betmadeira.
"Eram (beliches)afiliado green bettrês andares, sem cobertor, sem (forro de) palha. Nada. E oito (mulheres) tinham que caberafiliado green betum desses", descreve Eva.
"Eles disseram: 'Apenas encontrem um lugar, é aqui que vocês vão morar enquanto estiverem vivas'. E nos deixaram lá."
Poucos dias depois, Eva adoeceu com tifo — doença causada por bactérias transmitidas por piolhos e outros artrópodes, que provoca febre alta, dores musculares e erupções cutâneas. Na época, matava entre 10% e 40% dos infectados.
Uma das vítimas mais famosas do tifo durante a Segunda Guerra Mundial foi Anne Frank, que morreu da doença no campoafiliado green betextermínio nazistaafiliado green betBergen-Belsenafiliado green bet1945.
"Sabíamos que havia um hospital onde Mengele estava trabalhando. Então minha mãe disse que poderia me levar até lá para ver se conseguíamos algum remédio."
"As outras presas diziam: 'Não leve (a menina), porque ela nunca sairá viva'. E minha mãe falou: 'Mas ela vai morrerafiliado green betqualquer jeito se eu não for'. Tenho que ir'."

Crédito, Arquivo estatalafiliado green betBelarus/Museu do Holocausto
Ao chegarem lá, encontraram uma conhecida.
"Uma mulher sai e olha para minha mãe, minha mãe olha para ela.... E acabou que era uma prima, uma das melhores amigas dela, na verdade. Elas se conheciam muito bem e se abraçaram."
Era Minnie, prima da mãeafiliado green betEva, que estava trabalhando como enfermeira no campo — e se tornaria uma importante aliada das duasafiliado green betAuschwitz.
O marido dela, um médico judeu, havia sido recrutado para trabalhar com os nazistas — e negociou uma vagaafiliado green betenfermeira para a esposa, como assistenteafiliado green betMengele, que conduzia experimentos mortaisafiliado green betprisioneiros.
"Claro, era um trabalho terrível."
"Mas ela era a única mulher no campo que não tinha a cabeça raspada porque tinha a proteção do Mengele", relembra.
Minnie conseguiu então remédio para Eva, que logo melhorou.
"Definitivamente, salvou minha vida", diz ela.
As condições no campo eram deploráveis — Eva e a mãe não só ficaram infestadasafiliado green betpiolho, como passaram fome.
Ela se lembra que as guardas costumavam cozinhar batata — e, se estivessemafiliado green betbom humor, davam a água da batata para elas.
"Elas eram muito cruéis. Às vezes,afiliado green betvezafiliado green betdespejar na nossa caneca, elas derramavam no chão. Era horrível."
Eva conta que inicialmente foram levadas para trabalharafiliado green betum galpão conhecido como "Canadá" — uma menção à terra da fartura, onde os pertences dos judeus presos eram vasculhadosafiliado green betbuscaafiliado green betobjetosafiliado green betvalor.
"Era (um trabalho) muito melhor (do que os outros), porque encontrávamos comida. Uma das minhas tarefas era abrir as bainhasafiliado green bettodas as roupas, porque as pessoas escondiam dinheiro, joias, todo tipoafiliado green betcomida nas roupas."
E foi durante uma pausa no trabalho que algo inesperado aconteceu — Eva avistou um homemafiliado green betuniforme listrado do outro lado da cerca que parecia seu pai.
"Eu chamei: Papi, pai... O homem se virou, e era meu pai! Um grande milagre também."
"Foi maravilhoso, porque eu não tinha ideiaafiliado green betonde ele estava, o que havia acontecido… perguntei como o Heinz estava, porque não sabia se ele havia sido selecionado. E ele disse: 'Não, Heinz está bem. Ele trabalhaafiliado green betum jardim'. Não sei se era verdade. Mas foi o que ele disse."
A maréafiliado green betsorte não durou muito tempo, no entanto. Depois do "Canadá", mãe e filha foram submetidas a um trabalho mais pesado — tiveram que carregar enormes blocosafiliado green betpedraafiliado green betuma ponta a outra do campo e depois martelar até ficaremafiliado green betpedacinhos. Um trabalho extenuante.
A comida era tão limitada que, certa vez, elas comeram abóbora mofada e folhasafiliado green betcenoura do lixo — Eva diz que fizeramafiliado green betconta que era melão e salsinha.

Crédito, Getty Images
Cada vez mais magras e fracas, elas viviam diariamente sob o temor das triagens conduzidas por Mengele, que semanalmente selecionava prisioneiros para a câmaraafiliado green betgás.
"Um dia, fomos tomar banho, eu saí primeiro, nua, e Mengele estava lá, com alguns soldados da SS, e a triagem estava acontecendo. Tive que dar uma volta, e fui aprovada."
A mãeafiliado green betEva, que já havia perdido muito peso, foi avaliada na sequência, chegou a dar duas voltas, mas não passou pelo crivoafiliado green betMengele — e acabou sendo despachada para a morte junto a outras 40 prisioneiras
"Fiqueiafiliado green betchoque. Corri para me despedir. Ela só olhou desesperada para mim e disse: 'Tente achar Minnie'."
Para chegar até Minnie, Eva teria que atravessar o campo sem permissão — e se fosse pega, seria executada.
Obviamente, era uma missão extremamente arriscada. Ela esperou até anoitecer.
"Poderia facilmente ter dado errado, mas não deu. Eu sabiaafiliado green betque galpão a Minnie estava. Então corri rapidamente entre os diferentes beliches, a acordei e disse: 'Mutti (forma como Eva chamava a mãe) foi selecionada, tente pedir a Mengele para salvá-la'. Foi tudo muito rápido, e corriafiliado green betvolta'."
Meses se passaram, e Eva começou a perder a esperançaafiliado green betver a mãe novamente. E, com isso, suas forças.
"Era inverno, a neve estava alta, e eu havia perdido meus sapatos, estava descalça (...) Meus dedos estavam todos sangrando e com feridas abertas, eu estava faminta, estava sozinha."
"Honestamente, estava quase a pontoafiliado green betdesistir. Pensei: Minha mãe está morta, não sei se Heinz e meu pai ainda estão vivos. Estou morrendoafiliado green betfome, faminta, não tenho forças, não sou capazafiliado green betcontinuar."
Foi quando uma guarda a chamou do ladoafiliado green betfora — "será meu fim agora?, pensei" —, e Eva teve uma grande surpresa.
"Eu saio e vejo meu pai com um homem da SS (a milícia armada do Partido Nazista). Era um milagre. Claro que nos abraçamos, perguntei como Heinz estava, e ele disse que estava bem", conta Eva, que não fazia ideiaafiliado green betcomo o pai havia convencido o guarda a deixá-lo ver a filha.
"Ele me perguntou então onde Mutti estava, e eu comecei a chorar... Disse a ele: 'Ela foi para a câmaraafiliado green betgás'."
"Pude ver o rosto do meu pai desmoronando, ele perdeu a postura, a força, mas logo se recuperou e disse: 'Você não pode desistir. A guerra deve acabar logo, nós vamos conseguir, nós três ainda estaremos juntos. E Mutti cuidaráafiliado green betnós'."
A visita inesperada ajudou Eva a recuperar suas forças — o que ela não sabia é que seria a última vez que veria o pai.
Em janeiroafiliado green bet1945, um climaafiliado green betpânico começou a se espalhar pelo campo à medida que o exército russo avançava. Mas o horror ainda estava longeafiliado green betterminar.
Os guardas nazistas começaram a destruir documentos e a demolir o crematório. Corpos que haviam sido enterrados atrás das câmarasafiliado green betgás foram desenterrados e queimadosafiliado green betenormes valas a céu aberto.
"Muitos nazistas haviam ido embora, aviões russos estavam sobrevoando, e percebemos que algo estava acontecendo. Mas nós realmente não sabíamos o que era."
Em meio ao caos que se instalava, Eva encontrou algumas mulheres que conheceu durante seus primeiros diasafiliado green betAuschwitz. E mais um "milagre" aconteceu.
"Elas disseram: 'Ah, que maravilha, nós vimosafiliado green betmãe'. E eu falei: 'Não, não pode ser. Vocês estão enganadas. Porque minha mãe foi selecionada'. E elas disseram: 'Não, não. Ela está no alojamento dos doentes comafiliado green betprima Minnie, veja se você consegue ir até lá', e elas me disseram onde era."
Eva ainda não conseguia acreditar que a mãe estava viva. Mas poucos dias depois, conseguiu ir até o complexo do hospital para ver com seus próprios olhos.
"Minha mãe estava na camaafiliado green betcima. Eu chamei: 'Mutti, Mutti'. Eafiliado green betcabecinha, muito fraca, apareceu: 'Eva, Eva...' Ela não conseguia acreditar. Foi fantástico."
Por intermédioafiliado green betMinnie, Eva e a mãe passaram a dividir a mesma cama e ficaram juntas novamente.
"Foi maravilhoso."
"Na ocasião, eu estava muito otimistaafiliado green betque tudo ficaria bem", afirma.
Pouco tempo depois, os nazistas abandonaram o campoafiliado green betAuschwitz e levaram muitos prisioneiros com eles, no que ficaria conhecido como marcha da morte.
Os presos foram forçados a caminhar pela neve para cidades a maisafiliado green bet50 kmafiliado green betdistância — muitos morreramafiliado green betfrio, fome, exaustão ou fuzilados pelos guardas alemães ao longo do trajeto.
"Uma noite, eles entraram no alojamento e falaram: 'Todas para fora, vamos marchar. E se você não vier, vamos trancar o alojamento e queimar todo o acampamento'. É o que estavam dizendo."
Mas a mãeafiliado green betEva estava muito fraca — e não tinha condiçõesafiliado green betmarchar.
"É claro que eu também fiquei. Em todo o campo, ainda havia cercaafiliado green bet300 ou 400 pessoas, que estavam muito fracas ou não podiam ir e ficaram para trás", recorda.
"E então, nós acordamos uma manhã, e os alemães tinham ido embora, levando com eles a maioria dos presos."
Mas ainda não havia motivo para comemorar. Depois que eles foram embora, Eva teve que encarar a morteafiliado green betfrente. As pessoas ao seu redor estavam definhando — havia muito pouca comida, muito pouca água. E muita gente simplesmente não sobreviveu.

Crédito, Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images
"Eu tive que levar os corpos para fora, porque era uma das pessoas que ainda tinha força. E não conseguíamos nem sequer fechar suas pálpebras porque estavam congeladas."
"Foi terrível, porque eu tinha falado com aquelas pessoas no dia anterior e,afiliado green betrepente, tinha que colocar (seus corpos) para fora. Foi, na verdade, a pior experiência para mim. Tive pesadelos com isso durante muitos e muitos anos", conta.
"Minha mãe também estava muito fraca, mas como estávamos juntas, tínhamos um poucoafiliado green betforça extraafiliado green betalguma forma."
Naquela época, Eva passava grande parte do diaafiliado green betbuscaafiliado green betágua e comida — "se encontrasse um poucoafiliado green betpão, eu levava para as pessoas que não podiam sair", diz ela.
E, certa vez, decidiu fazer uma incursão até o acampamento masculinoafiliado green betAuschwitz, junto a outra sobrevivente, no intuitoafiliado green betdescobrir o que aconteceu com seu pai e irmão.
Quando chegou lá, não os encontrou, mas viu um rosto conhecido.
"Fui até ele e disse: 'Você me parece um pouco familiar'. E ele olhou para mim e perguntou: 'Você é Eva Geiringer'? E eu disse: 'Sim, sim'. 'Sou Otto Frank, pai da Anne'."
Ele não tinha notícias da mulher e das filhas, mas contou a Eva que seu pai e irmão haviam deixado o campo na marcha com os nazistas.
"Naquela época, não sabíamos sobre as marchas da morte. Achamos que era uma boa notícia. Eles ainda estavam vivos, e tinha certezaafiliado green betque iam conseguir."

Crédito, Galerie Bilderwelt/Getty Images
Eva e a mãe foram finalmente salvasafiliado green betAuschwitz pelo exército soviético — e Otto Frank se juntou a elas.
"Ainda estávamos ansiosos, tudo havia sido bombardeado, era uma situaçãoafiliado green betcaos. Acho que a primeira vez que nos sentimos realmente seguras, foi quando estávamosafiliado green betvolta a Amsterdãafiliado green betnosso apartamento. Mas ainda estávamos muito ansiosas, porque não tínhamos notícia da nossa família."
Os três voltaram para Amsterdãafiliado green betjunhoafiliado green bet1945. Enquanto Otto procurava as filhas e a esposa, Eva tentava encontrar o pai e o irmão.
"Era um momentoafiliado green betmuita ansiedade, mas aindaafiliado green betesperança."
Esta esperança acabouafiliado green betagostoafiliado green bet1945, quando Eva descobriu que seu pai e irmão foram forçados a marchar até Mauthausen, na Áustria, o último campoafiliado green betconcentração a ser liberado pelos aliados.
Heinz morreuafiliado green betexaustão, e seu pai faleceu apenas três dias antes do fim da guerra.
"Eu não queria aceitar, não acreditava. Era impossível. Meu pai era um homem tão forte, estava bem alguns meses atrás, eu o tinha visto", diz Eva.
Mais ou menos na mesma época, Otto também descobriu que era o único sobrevivente da família.
Os três passaram então a se apoiar mutuamente — e, certa vez, Otto apareceu para fazer uma visita, segurando um livro que pertencia àafiliado green betfilha Anne.

Crédito, Calle Hesslefors/ullstein bild via Getty Images
"Estavaafiliado green betum pequeno pacote, ele abriu com muito, muito cuidado e disse: 'Preciso mostrar o que achei. Um milagre. Encontrei o diário da Anne. Posso ler algo para vocês?'."
"Nós dissemos: 'Claro'. Ele lia uma passagem, mas sempre acabava caindoafiliado green betprantos. Levou três semanas para ler. Ele simplesmente não tinha forças."
Com a ajuda da mãeafiliado green betEva, Otto publicou o Diárioafiliado green betAnne Frankafiliado green betholandêsafiliado green bet1947. Traduzido posteriormente para 70 idiomas, se tornaria o documento mais lido sobre o Holocausto. Maisafiliado green bet30 milhõesafiliado green betcópias foram vendidas até hoje.
Para Eva, a descoberta do diárioafiliado green betAnne reavivou a lembrança da última conversa que teve com o irmão, Heinz, dentro do trem a caminhoafiliado green betAuschwitz.
Ele e o pai haviam começado a se dedicar à pintura durante a ocupação nazista — na ausênciaafiliado green bettelas, usavam panosafiliado green betprato, fronhasafiliado green bettravesseiro, qualquer superfície que pudessem encontrar.

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
E Heinz contou a ela que havia escondido todas as suas obrasafiliado green betarte sob o assoalho da casa onde estavam escondidos. Se ele não sobrevivesse, Eva teria que buscá-las.
"A casa estava ocupada por um jovem casal, mas eles disseram: 'Não, não, não tem nada na nossa casa'. E fecharam a porta", recorda.
"Eu comecei a chorar, e minha mãe falou: 'A gente volta outro dia'. Eu disse: 'Não, não, não'. Então fomos láafiliado green betnovo, e eles falaram: 'Ok, entrem e vejam, mas não tem nada na nossa casa'."
"Mas claro que tinha. E, claro, foi incrível!"

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
"Abrimos as tábuas do assoalho e vimos todas aquelas pinturas com um bilheteafiliado green betcima: 'Pertencem a Heinz Geiringer, depois da guerra vamos voltar para buscá-las'. Foi muito emocionante, foi incrível."
Em 1951, Eva se mudou para Londres para estudar fotografia.
Foi lá que ela conheceu o marido, Zvi Schloss, um judeu alemão que fugiu para a Palestina durante a guerra depois que o pai foi preso no campoafiliado green betconcentraçãoafiliado green betDachau.

Crédito, EVERT ELZINGA/AFP via Getty Images
"Ele me pediuafiliado green betcasamento, e eu disse não. Falei para ele que tinha uma mãe viúvaafiliado green betAmsterdã e era muito próxima dela, não podia imaginar me casar e deixá-la sozinha."
Mas quando Otto foi visitá-la, e Eva contou esta história para ele, teve uma grata surpresa.
"Ele ficou um pouco envergonhado e disse: 'Sua mãe e eu também nos apaixonamos, e depois que você se casar, nós gostaríamosafiliado green betnos casar'."

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
"Então eu voltei para aquele rapaz e disse: 'Você pode se casar comigo agora'", relembra.
Eva construiu uma nova vida com o maridoafiliado green betLondres, onde vive até hoje, e teve três filhas.
Como cofundadora da Anne Frank Trust UK, ela preserva a memória não só da irmã póstuma, mas também do irmão.
Ao longo dos anos, Eva esteve envolvida na montagemafiliado green betuma peçaafiliado green betteatro sobre Heinz — há também um documentárioafiliado green betandamento.

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
Mas o maior legadoafiliado green betHeinz é, obviamente,afiliado green betarte. Ele deixou vinte pinturas, que Eva doou ao Museu da Resistência Holandesaafiliado green betAmsterdã.

Crédito, Arquivo pessoal / Eva Schloss
"Meu pai prometeu a ele que ele viveria também no que conquistou emafiliado green betcurta vida", diz ela, lembrandoafiliado green betuma conversa que o pai teve com o irmão durante a ocupação nazista, quando ele estava com medoafiliado green betmorrer.
"Certamente, ele não será esquecido."
afiliado green bet Ouça a íntegra da entrevistaafiliado green betEva Schloss ao programaafiliado green betrádio Outlook — parte 1 afiliado green bet e parte 2 afiliado green bet (em inglês).

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