Crise financeira: um colapso que ameaçou o capitalismo:slot 777 com
slot 777 com A primeira década do século 21 foislot 777 comgrande medida escrita nos Estados Unidos. Começou com uma grave crise geopolítica, no coraçãoslot 777 comNova York — o 11slot 777 comSetembro —, e terminou com uma grave crise econômica, também ambientadaslot 777 comNova York, no centro financeiroslot 777 comWall Street.
A crise financeira iniciadaslot 777 com2007, causada pela perdaslot 777 comvalorslot 777 comativos imobiliários, carregou a Europa, se alastrou pelo mundo e provocou uma recessão global no anoslot 777 com2009. Levou à nacionalizaçãoslot 777 combancos, derrubou governos, gerou taxasslot 777 comdesemprego altíssimas e causou várias ondasslot 777 comprotestos, muitos deles violentos.
Para muitos, a maior recessão desde a décadaslot 777 com1930 representava a falência do modeloslot 777 comcapitalismo financeiro predominante a partir dos anos 1980. O resultado da crise, no entanto, fez com que nações inteiras pagassem pelas perdas econômicas causadas pela má gestão do sistema. Diante da sensaçãoslot 777 comque sociedades arcaram com o custo das açõesslot 777 comuma elite econômica, muitos atribuem à crise o surgimentoslot 777 commovimentos populistas,slot 777 comesquerda eslot 777 comdireita, anos mais tarde.
O fim do dinheiro fácil
Até 2007 a vida ia muito bem nas nações ocidentais desenvolvidas, cujas economias cresciam sem olhar para trás. A inflação estava sob controle, as taxasslot 777 comjuros eram inofensivas, o crédito era acessível, e o desemprego era baixo.
Na América do Norte e na Europa, nem o terrorismo internacional ou as guerras travadas no Oriente Médio foram suficientes para conter o otimismo geral sentido no cotidiano.
Uma ambição simbolizava essa época: a casa própria. Comprar um imóvel nunca havia sido tão fácil, fosse nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Espanha ou na Irlanda, com crédito disponível mesmo para aqueles que não tinham renda ou segurança profissional suficientes.
Nos Estados Unidos, o nome dado para a dívida imobiliária, ou hipoteca, contraída por pessoas que normalmente não teriam capacidadeslot 777 comassumi-la era "subprime". A oferta desse tiposlot 777 comdívida cresceu nos anos 1990, e a partirslot 777 com2001 avançouslot 777 comritmo mais acelerado.
Com crédito fácil para aquisiçãoslot 777 comimóveis, aumentava a demanda por casa própria, o que elevava os preços. Com preços mais altos, instituições financeiras tinhamslot 777 comoferecer empréstimosslot 777 comcondições ainda mais favoráveis e atraentes para continuar conquistando novos compradores.
Entre essas ofertas, estavam juros mais baixos nos primeiros meses, o que aumentava o riscoslot 777 como comprador não cumprir com os pagamentos quando viesse um aumento futuro. Naturalmente, a grande maioria desses empréstimos era garantida pela própria propriedade adquirida, a conhecida hipoteca.
Todos os sinais apontavam para uma bolha imobiliária nos Estados Unidos na primeira década dos anos 2000, com um aumentoslot 777 compreços que começara na década anterior.
O valor médioslot 777 comum imóvel no país, segundo dados do Censo americano, eraslot 777 comUS$ 120 mil no primeiro trimestreslot 777 com1991. Dez anos depois, eraslot 777 comUS$ 165,3 mil — um aumentoslot 777 com38%. Após apenas sete anos, no primeiro trimestreslot 777 com2007, chegou a US$ 257,4 mil — um saltoslot 777 com56%.
Um estudo produzido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), no fimslot 777 comagostoslot 777 com2017, explicou o que acontecia no setor imobiliário americano. Segundo o relatório, ferramentas como ARMs, siglaslot 777 cominglês para "taxasslot 777 comhipoteca ajustáveis", que facilitavam a entradaslot 777 comcompradoresslot 777 combaixa renda num mercadoslot 777 comcusto alto, não funcionavam mais.
"Enquanto os preços das casas estavam subindo, o choqueslot 777 comnovas taxasslot 777 comjuros, quando as primeiras taxas atraentes acabavam, podia ser evitado com um refinanciamento do imóvel com uma outra ARM ou taxa híbrida. Mas muitos credores e devedores sabiam, ou deveriam saber, que esses empréstimos não eram viáveis na taxaslot 777 comjuros completa."
Em resumo, o mercado vivera uma arriscada fantasia, emprestando dinheiro para quem, mais cedo ou mais tarde, não teria condiçõesslot 777 compagarslot 777 comvolta.
Jáslot 777 com2006, aumentou significativamente a frequênciaslot 777 comcalotesslot 777 compagamentosslot 777 comparcelasslot 777 comhipotecas, o que começou a afetar a saúde geral do mercado imobiliário. A partir do segundo trimestreslot 777 com2007, o preço médio dos imóveis nos Estados Unidos não subiu mais. Na verdade, desabaram. Cairiam seguidamente até chegar, no primeiro trimestreslot 777 com2009, à médiaslot 777 comUS$ 208,4 mil, numa consequência da falência do modelo das hipotecas "subprime".
A crise provocou uma reaçãoslot 777 comcadeia, já que toda a economia estava ligada,slot 777 comuma forma ouslot 777 comoutra, à valorização do setor nos anos anteriores. Com a perdaslot 777 comvalor dos ativos imobiliários, devedores presos a hipotecas que não conseguiam pagar perderam suas casas que porslot 777 comvez não eram suficientes para quitar a dívida com os bancos credores.
A crise do "subprime" gerou a crise dos "foreclosures", ou da retomada dos imóveis — cercaslot 777 com10 milhõesslot 777 comamericanos perderiam suas residências entre 2007 e 2016. E isso foi só o começo.
A crise atinge a Europa
Para a economia global, o problema era que as hipotecas arriscadas dos Estados Unidos não eram uma realidade restrita aos americanos. Por meio da securitização — a transformaçãoslot 777 comcréditos a receber no futuroslot 777 comprodutos financeiros negociados no mercado —, os "subprimes" eram transacionados nos mercados internacionais.
Transformadosslot 777 comtítulos, eram comprados e vendidos como commodities, numa ciranda usada para levantar recursos e gerar liquidez. A deterioração da situação americana, portanto, não passou despercebida no exterior.
Em 9slot 777 comagostoslot 777 com2007, o banco francês BNP Paribas fez um anúncio que caiu como uma bomba nos mercados. Assustado com o que via acontecer no outro lado do Atlântico, o banco congelou 1,6 bilhãoslot 777 comeuros — US$ 2,2 bilhões —slot 777 comfundos, dizendo que a situação americana "tornava impossível determinar o valorslot 777 comalguns bensslot 777 comforma justa, independentementeslot 777 comsua qualidade ou avaliaçãoslot 777 comcrédito".
Sem saber o tamanhoslot 777 comsua exposição a créditos ruins e o tamanhoslot 777 comsuas futuras perdas, outras instituições europeias também decidiram reter fundos e reduzir seus riscos. O mercado sofreu um choqueslot 777 comliquidez, e as bolsasslot 777 comvalores sentiram o golpe — no dia 10slot 777 comagosto, aslot 777 comLondres caiu 3,7%,slot 777 commaior quedaslot 777 comquatro anos.
No Reino Unido, a situação foi fatal para o banco Northern Rock, um dos principais fornecedoresslot 777 comhipotecas do país, envolvido até o pescoço no mercadoslot 777 comtítulos ligados ao setor imobiliário.
Na noiteslot 777 com13slot 777 comsetembro, o jornalista Robert Peston, da BBC News, revelou que a instituição havia pedido — e obtido — ajuda financeira ao Banco da Inglaterra, o banco central do Reino Unido.
Diante da notícia, na manhã seguinte correntistas fizeram filas nas agências para retirar seu dinheiro do banco — a primeira vez que isso aconteceu numa instituição britânicaslot 777 com140 anos. Em apenas um dia, clientes retiraram 1 bilhãoslot 777 comlibras da instituição, cujas ações despencaram 32%. Em fevereiroslot 777 com2008, o Northern Rock acabou nacionalizado pelo governo britânico.
O finalslot 777 com2007 foi tenso nos mercados internacionais. Naquela fase, as dificuldades da economia global tinham um nome: "credit crunch", ou "esmagamento do crédito", porque o problema principal era a dramática redução do dinheiro disponível nos mercados internacionais.
Em marçoslot 777 com2008, o banco americano Bear Sterns, fortemente envolvido no mercadoslot 777 comsecuritizaçãoslot 777 comhipotecas e enfrentando uma grave crise, chegou à beira da falência. Acabou sendo comprado por outro banco americano, JP Morgan, por apenas US$ 236 milhões — uma fraçãoslot 777 commenosslot 777 com10% do que o banco valia dias antes.
Reportagem do jornal USA Today disse que a quebra do Bear Sterns revelava o momento delicado da crise. "No melhor cenário possível agora, o Fed [banco central americano] consegue fazer os mercados voltarem à atividade, levando a uma recuperação no mercado imobiliário e à recuperação da economia. O pior cenário: um colapso econômicoslot 777 comque a crise se espalha para outros bancos e além deles."
Não apenas ocorreu o pior cenário, como ele se mostrou ainda mais grave e duradouro do que muitos imaginavam.
Num domingo, 7slot 777 comsetembroslot 777 com2008, o governo americano decidiu resgatarslot 777 comuma falência certa as duas maiores financiadoras imobiliárias do país, Freddie Mac e Fannie Mae. A avaliação do governo eraslot 777 comque a falênciaslot 777 comambas paralisaria o setor completamente, talvez por anos.
Segundo o então presidente George W. Bush, o risco que elas enfrentavam era "inaceitável", e por isso o governo injetaria até US$ 100 bilhõesslot 777 comcada uma delas — o maior resgate corporativo da história.
Os mercados reagiram bem, com altas nas bolsas, mas a alegria durou pouco. Uma semana depois, o Lehman Brothers, o quarto maior bancoslot 777 cominvestimentos do país, quebrou. O governo americano recusou-se a socorrê-lo, e a instituição faliu.
Pânico e recessão globais
O Lehman Brothers entrou com pedidoslot 777 comrecuperação judicialslot 777 com15slot 777 comsetembroslot 777 com2008, uma segunda-feira e teveslot 777 comfalência decretada. Com uma dívidaslot 777 comUS$ 613 bilhões, o banco, fundadoslot 777 com1847, empregava cercaslot 777 com25 mil pessoas no mundo todo. No mesmo dia, outro grande banco americanoslot 777 comdificuldades, Merrill Lynch, foi incorporado pelo Bank of America.
Os acontecimentos daquele dia derrubaram os mercadosslot 777 comações. O índice Dow Jones da bolsaslot 777 comNova York caiu 4,42%, o Standard & Poor's 500, 4,69%, e o Nasdaq, 3,6%.
Horas antes, as bolsas europeias já haviam fechado com fortes quedas — 3,92%slot 777 comLondres, 3,78%slot 777 comParis e 2,74%slot 777 comFrankfurt. Estava decretado o inícioslot 777 comuma nova fase na crise financeira,slot 777 comque todos os aspectos da economia mundial foram afetados.
O sistema financeiro ocidental continuavaslot 777 comprofundas dificuldades, e governos tentavam buscar soluções. Em 29slot 777 comsetembro, a Câmara dos Representantes americana rejeitou uma propostaslot 777 comajudaslot 777 comUS$ 700 bilhões aos bancos do país.
A decisão provocou a maior queda do índice Dow Jones da históriaslot 777 compontos —slot 777 com777,68 pontos, um derretimento mais acentuado que o visto logo após os atentadosslot 777 com11slot 777 comsetembroslot 777 com2001. Foi uma quedaslot 777 com7%, acompanhada por um recuo ainda maior do Standard & Poor's 500,slot 777 com8,8%, e pior ainda para o Nasdaq,slot 777 com9,1%.
Na Europa, o pânico também se espalhava. Tanto queslot 777 com8slot 777 comoutubroslot 777 com2008 o governo britânico anunciou um pacoteslot 777 comajuda e nacionalização parcial dos bancos do país, no valorslot 777 com£500 bilhões — cercaslot 777 comUS$ 700 bilhões.
O Banco da Inglaterra ainda reduziuslot 777 comtaxa anualslot 777 comjurosslot 777 com0,5 ponto percentual naquele dia,slot 777 com5% para 4,5%, o que foi pouco diante do que faria mais adiante. Em novembro, o banco central britânico baixou os juros ainda mais, para 3%, e realizou novos cortes dos meses seguintes até marçoslot 777 com2009, quando introduziu a incrível taxa anualslot 777 com0,5% — a mais baixa desde a fundação da instituição,slot 777 com1694. Não foi o suficiente.
Com os juros praticamente a zero e a economia britânicaslot 777 comrecessão desde 2008, o Banco da Inglaterra iniciou a chamada "flexibilização quantitativa" — uma estratégiaslot 777 comestímulo monetário, com o objetivoslot 777 cominjetar recursos na economia.
Na prática, o governo recomprava antecipadamente títulosslot 777 comsua dívida junto aos bancos, injetando assim,slot 777 comlarga escala, o dinheiroslot 777 comque as instituições tanto precisavam. Começou com £75 bilhõesslot 777 commarço, injetou mais £50 bilhõesslot 777 commaio, e no finalslot 777 com2009 o total chegou a £200 bilhões.
O PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido despencou 4,25%slot 777 com2009, após já ter caído 0,28% no ano anterior.
A Zona do Euro também sofreu um impacto histórico, apesarslot 777 comum pacoteslot 777 comestímuloslot 777 com200 milhõesslot 777 comeuros, anunciadoslot 777 comnovembroslot 777 com2008. O PIB da região recuou 4,5%slot 777 com2009, após ter estagnado (0,4%)slot 777 com2008.
Um dos primeiros dramas nacionais foi o da Islândia, pequena ilhaslot 777 commenosslot 777 com400 mil habitantes, fora da União Europeia, que na década anterior havia surfado numa bonança financeira. Seus bancos, sem grande experiência internacional, mergulharam nos mercadosslot 777 comtítulos imobiliários, gerando uma riqueza que fez a economia do país crescer a uma média anualslot 777 com7,25% entre 2004 e 2007.
Quando essa riqueza evaporou, o país pagou um preço alto. Em 2009, o PIB da Islândia sofreu um tomboslot 777 com6,78% eslot 777 com2010slot 777 com3,44% — levando a protestos contra as autoridades e a elite financeira islandesa, que causaram a derrubada do governoslot 777 comcentro-direita.
Países europeus que viviam suas próprias bolhas imobiliárias, como Irlanda e Espanha, sofreramslot 777 comforma aguda com a crise. As grandes economias da Alemanha, França e Itália também entraramslot 777 comrecessão, fenômeno que acabou tomando o mundo todo.
Isso apesar da resistência da China e das outras naçõesslot 777 comdesenvolvimento, como o Brasil, cuja economia recuou apenas 0,1%slot 777 com2009.
Segundo dados do Banco Mundial, naquele ano a economia global sofreu uma quedaslot 777 com1,7%, e o PIB per capita baixou 2,9%, configurando uma recessão global — a primeira desde 1993. Os anosslot 777 com2008 e 2009 entrariam para a história como a Grande Recessão.
Austeridade e protestos
A partirslot 777 com2010, enquanto os mercados financeiros ainda tentavam se recuperar, a economia real nos Estados Unidos e na Europa sofria.
O custo social da crise econômica ficava cada vez mais claro com a disparada do desemprego. A taxa globalslot 777 comdesemprego, medida pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), saltouslot 777 com5,4% da forçaslot 777 comtrabalhoslot 777 com2008 para 6%slot 777 com2009, empurrada por algumas situações nacionais dramáticas.
Entre elas, a da Espanha. Após cercaslot 777 com15 anos reduzindoslot 777 comtaxaslot 777 comdesempregados, o país viu esse percentual aumentarslot 777 comforma assustadora a partirslot 777 com2009, quando saltouslot 777 com8,2% no ano anterior para 11,25%. A taxaslot 777 comdesemprego da Espanha continuou subindo até atingir 26%slot 777 com2013 — entre os jovens, abaixoslot 777 com25 anosslot 777 comidade, ela foislot 777 comincríveis 56%.
Parte do custo social da crise econômica estava ligada ao amargo remédio adotado para contê-la. A necessidadeslot 777 como Estado assumir as perdas do sistema financeiroslot 777 com2008 e 2009, que levou a medidas como nacionalizaçãoslot 777 combancos, realçou inicialmente o importante papel do poder público para salvar a economia. Entretanto, logo depois veio a necessidadeslot 777 compagar por esse socorro.
Políticasslot 777 comausteridade foram adotadas por toda a Europa, com cortesslot 777 comgastos públicos que afetaram tanto a vida das pessoas como a capacidadeslot 777 comcada nação acelerar a atividade econômica.
Alguns países, como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, tiveramslot 777 comrecorrer à União Europeia, que fez aportes bilionários para salvar essas economias. A contrapartida eram duras medidasslot 777 comausteridade, para garantir o pagamento da dívida, que foram recebidas com uma ondaslot 777 comprotestos.
Cidadãos europeus deixaram claro com suas manifestações — muitas pacíficas e outras violentas — que não concordavamslot 777 comterslot 777 compagar o preçoslot 777 comuma crise provocada por ações irresponsáveisslot 777 combancos. Entre os indignados estavam, especialmente, os gregos.
Nenhum país no mundo sofreu tanto quanto a Grécia os efeitos da crise financeira. Entre 2010 e 2015, o PIB grego desabou maisslot 777 com30%, destruindo todo o crescimento obtido desde 2003. A taxaslot 777 comdesemprego disparouslot 777 com7,8%,slot 777 com2008, para 27,5%,slot 777 com2013.
O país não apenas estava demasiadamente vulnerável à forte redução no crédito e na liquidez pelo mundo, porque já vinha extremamente endividado, como também foi vítima da corrupção presente na elite política da época. A crise revelou que dados das finanças públicas vinham sendo maquiados havia anos, escondendo a verdadeira situação econômica do país — fato que enfraqueceu ainda maisslot 777 comeconomia, por abalar a confiança internacional na Grécia.
A pouca credibilidade das autoridades gregas não era um problema novo. Em 15slot 777 comnovembroslot 777 com2004, a BBC News noticiou: "A Grécia admitiu ter adotado o euroslot 777 com2001 com baseslot 777 comnúmeros que mostravam que seu déficit orçamentário era muito mais baixo do que realmente era".
Segundo admitia seu ministro da Fazenda, o déficit grego — que, segundo as regras da Zona do Euro não podia ficar acimaslot 777 com3% do PIB — já ultrapassara esse limiteslot 777 com1999, coisa que continuaria ocorrendo nos anos seguintes, no contexto da organização dos Jogos Olímpicosslot 777 comAtenas,slot 777 com2004.
Naquele ano, a Grécia estava sob novo governo, do premiê Kostas Karamanlis, que substituíra o socialista Costas Simitis. A promessa eraslot 777 comque a partirslot 777 comentão o país reduziria seu déficit, e seus números seriam confiáveis. Não foram. O país continuou se endividando, mas após a quebra do banco Lehman Brothers,slot 777 com2008, não conseguiu mais renegociarslot 777 comdívida pública, que já ultrapassava o valor totalslot 777 comsua economia. Em 2009, ela chegou a 127% do PIB, contra 109% no ano anterior.
Ao mesmo tempo, a comunidade internacional descobria que continuava sendo enganada pelas autoridades gregas. Como noticiou o jornal britânico Financial Times,slot 777 com12slot 777 comjaneiroslot 777 com2010: "A Grécia foi criticada pela Comissão Europeia por falsificar dados sobre suas finanças públicas e permitir que pressões políticas obstruíssem a coletaslot 777 comestatísticas precisas".
A comissão colocava dúvidas até mesmo nos dados revisados pelo governo grego meses antes, quando Atenas mudouslot 777 comprevisãoslot 777 comdéficit orçamentárioslot 777 com2009,slot 777 com3,7% para 12,5%. A cada notícia como essa, agênciasslot 777 comavaliaçãoslot 777 comrisco rebaixavam a dívida grega, enquanto subia a contrapartida que a Grécia precisava pagar para que o mercado adquirisse seus títulos. Como resultado, a dívida saltaria para 146% do PIBslot 777 com2010 e para 172%slot 777 com2011.
Nesse cenário, as ruas explodiramslot 777 comraiva. Os choques com a polícia começaramslot 777 com2008, como parteslot 777 comprotestos espontâneos contra a morte do adolescente Alexis Grigoropoulos,slot 777 com15 anos, por um policialslot 777 comAtenas.
Inicialmente desconectado da crise financeira, o incidente logo serviuslot 777 comgatilho para protestos contra a situação econômica e a corrupção. Em setembroslot 777 com2009, o premiê Kostas Karamanlis convocou eleições antecipadas devido à crescente crise. Perdeu. O oposicionista George Papandreou tornou-se primeiro-ministroslot 777 comoutubro, marcando o retorno dos socialistas ao poder.
Em maioslot 777 com2010, o governoslot 777 comPapandreou anunciou medidasslot 777 comausteridade, como cortesslot 777 comgastos públicos e congelamentoslot 777 comsalários eslot 777 comaposentadorias, e com isso obteve do bloco europeu seu primeiro pacoteslot 777 comajuda,slot 777 com110 bilhõesslot 777 comeuros. As medidas levaram a uma nova ondaslot 777 comprotestos violentosslot 777 comAtenas.
Cenasslot 777 comconfrontos com a polícia grega tornaram-se comuns no noticiário internacional, enquanto jornais e TVs abusavam do termo "tragédia grega". Um segundo pacoteslot 777 comajuda europeu veioslot 777 com2011, seguidoslot 777 comum terceiroslot 777 com2015, elevando o total emprestado ao país a 289 bilhõesslot 777 comeuros.
Papandreou não durou muito, sendo forçado a renunciarslot 777 comnovembroslot 777 com2011, após um acordo político para a aprovação da ajuda europeia. Com a economia aindaslot 777 comdepressão, as ruas tomadas por manifestantes e a política tumultuada, a Grécia teria cinco diferentes primeiros-ministros até o fimslot 777 com2015.
Não foi, porém, apenas na Grécia que a Grande Recessão levou a mudanças na política. Em quase todos as nações da Europa ocidental houve um preço político pela crise, com várias trocasslot 777 comgovernos.
No Reino Unido, a esquerda trabalhista foi castigada nas urnas, com a derrota do premiê Gordon Brown eslot 777 comsubstituição pelo conservador David Cameron,slot 777 com2010.
Na Espanha,slot 777 com2011, o Partido Socialista perdeu o poder para a oposição conservadora. Já na França,slot 777 com2012, foi o presidente conservador Nicolas Sarkozy quem perdeu, emslot 777 comtentativaslot 777 comreeleição, para o socialista François Hollande. Na Itália, o conservador Silvio Berlusconi foi levado a renunciarslot 777 com2011, diante da crise eslot 777 comsua perdaslot 777 comcredibilidade pessoal.
A única líder europeiaslot 777 comdestaque que continuou firmeslot 777 comseu posto foi a chanceler alemã, Angela Merkel. Em 2013, ela liderou seu partido, o conservador CDU — União Democrática Cristã — à expressiva vitória nas urnas, o que foi visto por analistas políticos como um reconhecimento dos eleitores alemães à liderança firme e decisiva da chanceler no combate à crise econômica.
Longe dali, onde a crise toda começou, os americanos também responsabilizaram o partido do governo pela crise e colocaram o futuro do país nas mãos da oposição.
Mudança e protesto nos EUA
O governo do republicano George W. Bush chegou ao fimslot 777 comjaneiroslot 777 com2009, apenas quatro meses depois da quebra do banco Lehman Brothers.
Nas eleições presidenciaisslot 777 comnovembroslot 777 com2008, seu nome não estava na cédula, mas o candidatoslot 777 comseu partido, o senador John McCain, tinha uma tarefa difícil. A popularidadeslot 777 comBush variava entre apenas 25% e 30%, segundo o instituto Gallup, basicamente devido à guerra no Iraque e à crise econômica.
Além disso, contra ele estava a estrela ascendente do senador democrata Barack Obama, que prometia esperança numa épocaslot 777 comimensas dificuldades. Os eleitores decidiram apostar na oposição, eslot 777 comjaneiro Bush entregou a Presidência a Obama, que tinha como tarefa principal lidar com a Grande Recessão.
Os Estados Unidos terminaram 2008 com uma quedaslot 777 com0,14% do PIB. O Fed reduziu no fim daquele ano a taxaslot 777 comjuros no país para 0,25%, a menor na história, mas o novo governo precisaria tomar medidasslot 777 commuito mais impacto para estimular a economia.
Em fevereiro, Obama assinou um pacoteslot 777 comajudaslot 777 comUS$ 787 bilhões. Ainda no inícioslot 777 com2009, o governo americano também injetou dinheiro diretamente nas três principais fabricantesslot 777 comveículos — General Motors, Chrysler e Ford —, num pacoteslot 777 comajuda ao setor automotivoslot 777 comUS$ 86 bilhões.
Apesar dos esforços, o PIB dos Estados Unidos encolheu 2,54%slot 777 com2009, mas voltou a crescer a partirslot 777 com2010. Como na Europa, no entanto, o custo mais grave da crise veio na forma do aumento do desemprego.
Segundo a OIT,slot 777 com2008 o desemprego americano subiu a 5,8% da população economicamente ativa, contra 4,6% no ano anterior. Em 2009, porém, o salto foi bem maior, para 9,3%. Em 2010, a taxa continuou a subir, para 9,6%, e manteve-se altaslot 777 com2011,slot 777 com9%.
Esse quadro estimulou a sensaçãoslot 777 comgrande parte da populaçãoslot 777 comque os cidadãos, assim como os indignados europeus, estavam pagando o preçoslot 777 comuma crise criada por uma elite financeira. Esses americanos diziam-se "os 99%" da população que arcava com os custos dos privilégios do 1% restante.
Essa foi a bandeira do movimento "Occupy Wall Street" — ou "Ocupe Wall Street". Em setembroslot 777 com2011, centenasslot 777 compessoas se organizaram e tomaram a área do Parque Zucotti, no sul da Ilhaslot 777 comManhattan,slot 777 comNova York, coração do sistema financeiro americano.
O protesto logo se transformouslot 777 comum grande acampamento, com cercaslot 777 com200 pessoas dormindo no local. Usando o slogan "We are the 99%" — Nós somos os 99% —, os manifestantes, jovens emslot 777 commaioria, atacavam a desigualdade e condenavam a forte influênciaslot 777 comcorporações no comando da política.
Apesarslot 777 commotivados pela realidade americana, os envolvidos inspiravam-se também nas manifestaçõesslot 777 compaíses na Europa, como Grécia, Islândia e Espanha, e na Primavera Árabe, a ondaslot 777 comprotestos no Oriente Médio iniciada naquele ano.
As diferentes iniciativas,slot 777 comvárias partes do mundo, levaram à definiçãoslot 777 comuma data específica para uma manifestação global conjunta: sábado, 15slot 777 comoutubroslot 777 com2011. Protestosslot 777 comrua foram organizadosslot 777 comgrandes cidades, num dia conhecido como a jornada dos "indignados" — nome emprestado do movimento lançado na Espanha cinco meses antes.
A iniciativa "Occupy" cresceu e tornou-se muito maior que a tomada do parqueslot 777 comNova York, com outras ocupações mundo afora e o estabelecimentoslot 777 comum movimento permanente e global por mudanças progressistas.
slot 777 com Legado político
A Grande Recessão foi acabando aos poucos, dependendo do país, ao longo da segunda década do século 21.
No Reino Unido, os preços dos imóveis só retomaram uma trajetória consistenteslot 777 comcrescimentoslot 777 com2013. Portugal começou a pagarslot 777 comdívida ao FMI, após ter recebido ajuda,slot 777 commarçoslot 777 com2015. A taxaslot 777 comdesemprego da Espanha começou a cairslot 777 com2014, masslot 777 com2020 continuavaslot 777 com13%, maior que os 11%slot 777 com2008.
A crise das endividadas nações da Europa, que ameaçou a própria existência do euro, a moeda única europeia, começou a ser aliviadaslot 777 com2013. O PIB da Grécia voltou a crescerslot 777 com2017, eslot 777 com2018 o país deixouslot 777 comdepender do programaslot 777 comajuda europeu — o pagamento da dívida, porém, continuaria por muitos anos.
Medidas para prevenir uma crise semelhante foram introduzidasslot 777 comvários países, como um aumento do controle e monitoramento do sistema financeiro. No Reino Unido, por exemplo, novas regras foram implementadas para aliviar o impacto da possível falênciaslot 777 comuma instituição financeira.
Segundo o Bank of England, nesta nova era, se um banco for à falência, "as perdas cairão sobre os investidores do banco, não sobre contribuintes".
Controlar o futuro econômico, no entanto, talvez tenha sido mais fácil que lidar com o político. As reverberações da Grande Recessão para a política foram muitas, imensas e duradouras. Movimentos mais extremos, tanto à direita como à esquerda, surgiram e cresceram como reação à crise.
Na Espanha, o movimento dos "indignados", também conhecido como Movimento 15-M por ter começadoslot 777 com15slot 777 commaioslot 777 com2011, levou à criação do partido políticoslot 777 comesquerda Podemos, lançadoslot 777 com2014.
Na Grécia, a coalizãoslot 777 comesquerda Syriza ganhou força com os protestos contra as medidasslot 777 comausteridade e chegou ao poder nas eleiçõesslot 777 com2015. Seu líder, Alexis Tsipras, assumiu então o cargoslot 777 comprimeiro-ministro, que ocupou até 2019.
Em outros países europeus, a reação foi conservadora. A crise econômica, combinada com uma ondaslot 777 comimigração vinda da África e do Oriente Médio, fortaleceu partidosslot 777 comdireitaslot 777 comnações como o Reino Unido e a Itália.
Em 2016, os britânicos aprovaram num referendo o chamado Brexit, a saída do país da União Europeia, movimento que acabaria dando ao populista conservador Boris Johnson o cargoslot 777 comprimeiro-ministro,slot 777 com2019. No pleitoslot 777 com2018, os italianos levaram ao poder o partidoslot 777 comextrema-direita A Liga e o movimento Cinco Estrelas,slot 777 comcaráter antissistema.
Na França, a crise econômica fortaleceu a Frente Nacional, partido nacionalistaslot 777 comextrema-direitaslot 777 comMarine Le Pen, que chegou ao segundo turno nas eleições presidenciaisslot 777 com2017. A vitóriaslot 777 comLe Pen acabou evitada pelo surgimentoslot 777 comEmmanuel Macron como líderslot 777 comum novo movimento centrista, o Em Marcha.
Já nos Estados Unidos, grande parte da população continuou descontente com a situação econômica. Mas, apesar dos protestosslot 777 com2011slot 777 comcaráter progressista, o país fez uma guinada conservadora. Em 2016, os americanos deram a Presidência ao magnata populista conservador Donald Trump, que tomara o comando do Partido Republicano.
Com o avançoslot 777 commovimentos políticos com posições mais extremas, tanto à direita como à esquerda, o mundo tornou-se mais polarizado. A crise financeira, que poupouslot 777 comgrande medida os paísesslot 777 comdesenvolvimento, penalizou principalmente os assalariados das nações desenvolvidas, espalhando frustração e ressentimento. Seus efeitos continuariam a ser sentidos, por muitos anos, na economia, na política e na sociedade. O mundo nunca conseguiu voltar a ser o que era antes da Grande Recessão.
Este artigo é parte da série "21 Histórias que Marcaram o Século 21", da BBC News Brasil.
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