Como Kim Jong-un subiu ao poder na Coreia do Norte - e quais seus planos para o país:super sena

Logo atrás seguia seu tio Chang Song-thaek, considerado o segundo homem mais poderoso na Coreia do Norte. Do outro lado do carro, estavam o chefesuper senagabinete das Forças Armadas, Ri Yong-ho, e o ministro da Defesa, Kim Yong-chun.

A partir daquele momento, pensava-se que esses homens experientes deteriam o podersuper senaPyongyang. Mas não foi bem assim.

Na décadasuper sena50, o avôsuper senaKim Jong-un, Kim Il-sung, criou algo que não existia no mundo comunista: transformou a Coreia do Nortesuper senauma "dinastia familiar" onde o poder central e único passavasuper senapai para filho.

Durante duas décadas, Il-sung preparou seu filho mais velho, Kim Jong-il, para sucedê-lo. Levava o filho a todos os lugares onde ia. Em 1994, quando o velho faleceu, Kim Jong-il assumiu o poder imediatamente. Mas quando ele próprio faleceu, inesperadamente,super sena2011, seu filho mal tinha iniciado o aprendizado para se tornar o terceiro supremo líder da Coreia do Norte.

Esse fato fez com que vários analistas previssem o colapso do sistemasuper senagoverno centradosuper senaum único homem. Não iria demorar para que percebessem seu erro.

Expurgos

Dentrosuper senapoucos meses, o chefesuper senagabinete, Ri Yong-ho, e o ministro da Defesa, Kim Yong-chun, foram ambos demitidos. Até hoje não se sabe o paradeirosuper senaRi.

Em dezembrosuper sena2013, Kim Jong-un tomou a decisão mais chocantesuper senatodas. Durante uma reunião do patido, seu próprio tio, Chang Song-thaek, foi detido, acusadosuper senatraição, sendosuper senaseguida executado. Alguns relatos não confirmados disseram que na execução foi usada uma arma antiaéreasuper senagrande porte.

Entre 2012 e 2016, Kim levou a cabo a maior limpeza política já vista na Coreia do Norte desde os tempossuper senaseu avô. O Instituto Nacionalsuper senaSegurança Estratégica da Coreia do Sul relatou a execuçãosuper sena140 autoridades do governo e oficiaissuper senaalta patente das Forças Armadas. Outras 200 pessoas foram demitidas e/ou presas no país.

Kim eliminou todos quesuper senaalguma forma estavam no seu caminho, substituindo-os por jovens leais a ele. O grupo vem sendo liderado pela irmã, Kim Yo-jong, eleita para o Politburosuper sena2017, quando tinha 30 anos.

Atualmente, não há dúvida sobre quem dá as cartassuper senaPyongyang. O líder supremo é Kim Jong-un, que deve voltar a fazer história nesta terça-feira ao se reunir com o presidente americano Donald Trump.

Encontro com a Coreia do Sul

Numa tardesuper senaabrilsuper sena2018, Kim Jong-un está sentado à mesa colocada sobre uma pontesuper senamadeira, numa clareirasuper senafloresta bem no meio da zona desmilitarizada (DMZ, na siglasuper senainglês) que separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul.

Seis anos haviam se passado desde aquele diasuper senafrio intensosuper senaPyongyang.

Kim toma chásuper senapequenos goles, ouvindo o que diz o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. O encontro histórico está sendo transmitido ao vivosuper senatodo o mundo. Ninguém na audiência pode ouvir uma palavra sequer que é dita pelos dois líderes.

Por meia hora, milhõessuper senapessoassuper senatodo o mundo assistem perplexos a essa conversa muda, tentando decifrar cada gesto.

Poucos meses antes, Kim realizara testes militares, disparando mísseis balísticos que cruzaram o espaço aéreo japonês. Ele também ameaçou atacar a Coreia do Sul e os Estados Unidos.

Agora, ele senta à mesa, sorridente, e conversa seriamente com seu inimigo declarado.

O que exatamente Kim deseja? Ele está blefando? Ou será que ele está realmente resolvido a seguir um caminho diferente daquele inaugurado por seu avô, Kim Il-sung, e passado a ele por seu pai Kim Jong-il?

O pequeno general

Em 1992, numa vilasuper senaPyongyang, uma festasuper senaaniversário celebrava os oito anossuper senaum menino vestido com um uniformesuper senaverdade - uma versãosuper senaminiatura, mas um autêntico uniformesuper senageneral do Exército Popular da Coreia. O menino era justamente Kim Jong-un.

Ao chegar à festa, outros generais, muito mais velhos, cumprimentaram o meninosuper senaoito anos com reverência.

A históriasuper senacomo ele se tornou o "General Kim" foi contadasuper sena2016 pela tiasuper senaKimsuper senauma entrevista ao Washington Post. Há quase 20 anos, Ko Yong-suk e seu marido se tornaram dissidentes, fugindo para o Ocidente. Atualmente, eles moram nos EUA.

Na entrevista, Ko disse que deixou aquela festasuper senaaniversário convencidasuper senaque Kim Jong-un já tinha sido consagrado como herdeiro e sucessorsuper senaseu pai Kim Jong-il.

Ko disse que "para ele, era impossível crescer como uma criança comum, sendo tratado daquele jeito pelas pessoas que o cercavam".

Ela descreveu o adolescente Jong-un como temperamental e arrogante.

"Ele não era um encrenqueiro, mas era mal-humorado e intolerante. Quandosuper senamãe lhe dava bronca por ficar brincando mais do que estudando, ele não revidava. Mas protestavasuper senaoutras maneiras, como fazendo grevesuper senafome."

Pequenas informações como essas são praticamente tudo que sabemos sobre a infânciasuper senaKim Jong-un. Não é muito para construir uma imagemsuper senaquem ele é e por que foi escolhido para suceder seu pai no lugarsuper senaseu irmão mais velho, Kim Jong-chol, e do meio-irmão Kim Jong-nam.

O primeiro a prever a ascensãosuper senaKim Jong-un ao poder parece ter sido um chef japonês que atende pelo pseudônimosuper senaKenji Fujimoto, que acabou entrando para o círculo íntimo dos Kim por preparar comida japonesa para Kim Jong-il.

Em livrosuper sena2001, Fujimoto descreveu seu primeiro encontro com Kim Jong-un e seu irmão mais velho, Kim Jong-chol.

"A primeira vez que conheci os dois jovens príncipes, ambos usavam uniformes militares. Eles apertaram a mãosuper senacada um dos funcionários. Mas quando chegou a horasuper senaapertar minha mão, o príncipe Kim Jong-un me deu um olhar gelado. Era como se quisesse dizer: 'Nós odiamos japoneses como você'. Eu nunca vou esquecer seu olhar afiado. Ele tinha sete anossuper senaidade."

Em um segundo livrosuper sena2003, Fujimoto fez uma previsão que à época foi notável, mas que acabou por se concretizar:

"Kim Jong-chol é considerado o sucessor mais provável. Mas duvido muito disso. Kim Jong-il costumava dizer: 'Jong-chol não é bom, ele é como uma menina'. Seu favorito é o filho mais novo, o segundo príncipe. Jong-un é muito parecido com seu pai. Ele foi criado como seu pai. Massuper senaexistência não foi revelada ao público."

O irmão envenenado

Há muito por trássuper senacomo Jong-un, o caçula, superou seus irmãos na ascensão ao poder - inclusive uma morte suspeita.

Seu pai Kim Jong-il teve duas mulheres oficiais e pelo menos três amantes, com quem teve cinco filhos.

Kim Jong-nam era filhosuper senasua primeira amante, e Jong-un era o filho mais novosuper senasua segunda amante, Ko Yong-hui, uma ex-atriz nascida no Japão. O velho ditador manteve suas amantes e seus filhossuper senasegredo. Eles viviamsuper senamoradias isoladas umas das outras. Embora compartilhassem um pai, Kim Jong-nam e Kim Jong-un nunca se encontraram.

Como o filho mais velho, Kim Jong-nam foi por muito tempo considerado o sucessor mais provávelsuper senaKim Jong-il. Até que,super sena2001, ele foi preso quando tentou entrar no Japão com um passaporte falso. Ele planejava visitar a Disneylândiasuper senaTóquio.

Reza a lenda que, para seu paisuper senaPyongyang, isso era uma humilhação imperdoável.

No entanto, segundo o jornalista Yoji Gomi, familizarizado com a família Kim, o problemasuper senarelacionamento com o pai começou depois que Jong-nam retornou do internato na Suíça no final dos anos 80. A experiênciasuper senaviver nove anos na Europa afetara-o profundamente.

Durante a décadasuper sena1990, a Coreia do Norte foi atingida por uma grave fome, eufemisticamente chamadasuper sena"Marcha árdua". O colapso do apoio econômico após o fim da União Soviética e uma sériesuper senainundações devastadoras deixaram o país sem comida. Em maissuper senaquatro anos, entre 1 e 3 milhõessuper senapessoas morreramsuper senadoenças e desnutrição.

De acordo com Gomi, Kim Jong-nam queria que seu pai mudasse o sistema econômico da Coreia do Norte, defendendo reformas no estilo chinêssuper senapropriedade privada e mercado.

"Kim Jong-il ficou muito bravo", diz Gomi. "Ele disse a Kim Jong-nam que ele deveria mudarsuper senaideia ou sairsuper senaPyongyang."

O jornalista Bradley K Martin, autor da biografia da dinastia Kim, concorda.

"Kim Jong-nam não foi rejeitado porque queria ir à Disneylândia", diz ele. "Eu acho que Kim Jong-nam disse coisas sobre necessidadesuper senamudar a política e seu pai não gostou."

Kim Jong-nam foi enviado para o exíliosuper senaPequim. Ele acabou sendo envenenadosuper senafevereirosuper sena2017 no aeroportosuper senaKuala Lumpur, capital da Malásia. A Coreia do Norte negou envolvimento.

O próximo da filasuper senasucessão ao poder deveria ser Kim Jong-chol, outro filhosuper senaKim Jong-il. Mas parece que ele nunca foi seriamente considerado e diz-se que não tem interesse pela vida política. Em vez disso, Jong-il escolheu seu filho mais novo, Jong-un.

De acordo com Martin, "ele foi escolhido por seu pai porque ele era o mais desprezível e perversosuper senaseus filhos".

Em outras palavras, ele tinha a melhor chancesuper senasobreviver a uma luta brutalsuper senasucessão e manter vivo o negócio da família.

E como fazer isso?

'Economiasuper senaprimeiro lugar?'

Em 20super senaabril deste ano,super senauma sessão plenária do Partido dos Trabalhadores da Coreia, Kim Jong-un fez um discurso declarando o congelamentosuper senatodos os testes adicionaissuper senaarmas nucleares e mísseissuper senalongo alcance esuper senauma "nova linha estratégica" focada na construção da economia da Coreia do Norte.

O discurso foi visto por alguns observadores como um sinalsuper senaque Kim Jong-un quer seguir o exemplo econômico da China.

"A nova estratégia é a economiasuper senaprimeiro lugar", diz John Delury, da Universidade Yonsei,super senaSeul. "Kim está dizendo: 'Eu realmente vou melhorar a economia. Você não vai ter que apertar seus cintos novamente'. Nos últimos cinco ou seis anos, houve uma melhora modesta, mas nadasuper senainovador. Em vez disso, ele obviamente se concentrou no programa nuclear."

Outros, como Bradley K Martin, não têm tanta certeza.

"Ele está pensando seriamente que pode transformar seu país? Não sei. Não se encaixa com o que sabemos sobre ele. Ele teve anos para fazer isso se quisesse. Ele gostasuper senaaparecer, como seu pai e seu avô. 'Vamos construir monumentos.' Cada um fez a mesma coisa."

Se Kim Jong-un está agora empenhadosuper senadesenvolver o seu país, ele precisa do fim das sanções internacionais contra Pyongyang. Ele precisasuper senacomércio e investimento maciço. Em troca, os Estados Unidos e o Ocidente exigem que ele entreguesuper sena"espada preciosa", suas armas nucleares. É o que Kim fará agora?

Isso não está claro.

A Coreia do Norte tem perseguido seu programasuper senaarmas nucleares obstinadamente, com grande custo econômico e apesar da intensa pressão internacional contrária.

Depoissuper senachegar ao podersuper sena2011, Kim Jong-un acelerou dramaticamente o programa nuclear esuper senamísseis, e muitos especialistas externos concordam que o país parece ter a capacidadesuper senaatingir os EUA.

Nos últimos meses, Kim prometeu concessõessuper senaseu programa nuclear e,super senagestosuper senadistensão, enviou uma delegação à Olimpíadasuper senaInverno na Coreia do Sul.

Mas ainda restam questões importantes a serem respondidas, a começar por: qual é o arsenal norte-coreanosuper senamísseis nucleares?

Emsuper senarecente reunião com o presidente Moon, Kim Jong-un pediu a "completa desnuclearização da península coreana" e prometeu suspender todos os testes e desmantelar suas instalaçõessuper senatestes nucleares.

Mas, segundo o especialistasuper senaarmas nucleares Duyeon Kim, do Fórum do Futuro da Península da Coreia, isso não significa que Kim Jong-un esteja pronto para se desarmar unilateralmente - longe disso.

"Ele declarou na verdade que (a Coreia do Norte) é uma potência nuclear", diz. "Kim Jong-un está preparandosuper senapersona, entrando nesses encontros para ser visto como o lídersuper senaum país poderoso e normalsuper senapésuper senaigualdade com os EUA."

E para que servem as armas nucleares norte-coreanas? A resposta, segundo Duyeon Kim, é conseguir o chamado "desacoplamento" - impedir que os Estados Unidos ajudem a Coreia do Sul se e quando Pyongyang decidir que é horasuper sena"unificar" novamente a península coreana.

"Com base nas declarações públicas do Norte e suas ações e seus comentários privados, parece que as armas nucleares são para dissuasão e para uso potencialsuper senauma unificação forçada. Isso é algo que eles falam abertamente esuper senaprivado."

A ideiasuper senaque a pobre e atrasada Coreia do Norte poderia impor a unificaçãosuper senaum Sul moderno, rico e militarmente mais avançado parece absurda, e talvez seja. Mas Bradley K Martin diz que, por mais improvável que seja, esse continua sendo o objetivosuper senaPyongyang.