Os jovens que uniram indígenas dos EUA contra oleoduto barrado por Obama e liberado por Trump:girias de apostas esportivas

Thomas Lopez

Crédito, Madeline Cottingham

Legenda da foto, Para Thomas Lopez, Standing Rock se tornou um movimentogirias de apostas esportivasafirmação

O oleoduto se estende por 1.800 quilômetros, ligando camposgirias de apostas esportivaspetróleo na Dakota do Norte a refinariasgirias de apostas esportivasIllinois. A maior parte da construção já foi concluída.

Defensores do projeto dizem que ele gerará empregos na indústria petrolífera, reduzirá a dependência dos EUA por importaçõesgirias de apostas esportivascombustíveis e barateará a gasolina.

Dias após se tornar presidente, Donald Trump ordenou a retomada do obra e do oleoduto Keystone XL, também barrado por Obama.

Na terça-feira, o Exército, atravésgirias de apostas esportivassua divisãogirias de apostas esportivasengenharia, concedeu a autorização federal que faltava para a conclusão do Dakota Acces. Responsável pela obra, a empresa Energy Transfer Partners diz que seguirá padrõesgirias de apostas esportivassegurança ainda mais rígidos que os exigidos pelo governo para evitar vazamentos.

Barracas dos manifestantes

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Resistênciagirias de apostas esportivasmanifestantes pertogirias de apostas esportivasonde será o oleoduto Dakota Access

Poder espiritual

Para os indígenas, porém, o oleoduto tinha outra dimensão. Eles viam a obra como uma ameaça não só à água e ao bem-estar dos sioux, mas ao equilíbrio espiritual da comunidade, já que a construção poderia revirar túmulosgirias de apostas esportivasantepassados.

E ao se opor à iniciativa, acreditavam também enfrentar outras batalhas mais amplas: uma delas, contra os combustíveis fósseis e a degradação ambiental do planeta; outra, contra a epidemiagirias de apostas esportivassuicícios, o alcoolismo e a marginalizaçãogirias de apostas esportivasindígenas nos EUA.

Para Thomas Lopez,girias de apostas esportivas24 anos, mais do que um movimentogirias de apostas esportivasrejeição, Standing Rock se tornou um movimentogirias de apostas esportivasafirmação.

"Ali nós estávamos resgatando nosso poder - não o poder físico, mas o poder espiritual", ele diz à BBC Brasil.

"E nós estávamos resgatando nossa identidade."

Para muitos indígenas da geraçãogirias de apostas esportivasLopez, que nasceramgirias de apostas esportivasfamílias multiétnicas e cresceram entre a reserva e a cidade, identidade pode ser um conceito fluido.

Criado entre os lakota, um dos subgrupos sioux, Lopez se identifica também como membro das nações apache, dine e otomi; e, descendentegirias de apostas esportivasmexicanos, diz-se ainda chicano (termo pejorativo incorporado e ressignificado pelo grupo).

Após se formargirias de apostas esportivastecnologias da comunicaçãogirias de apostas esportivasDenver, maior cidade do Colorado, ele decidiu passar alguns dias no acampamentogirias de apostas esportivasStanding Rockgirias de apostas esportivasagosto.

Lopez comparagirias de apostas esportivaschegada ao local à sensação que um "branco teria ao ser transportado para um contogirias de apostas esportivasfadas com castelos e dragões". "Só que nos nossos sonhos há búfalos, tendas e pessoas vivendo conforme as nossas tradições. Foi a coisa mais extraordinária, algo indescritível."

O sensogirias de apostas esportivascomunidade que encontrou ali e a possibilidadegirias de apostas esportivasexperimentar o estilogirias de apostas esportivasvida dos antepassados fizeram com que ficasse.

Sonhos, rezas e revelações eram elementos centrais do movimentogirias de apostas esportivasStanding Rock, e cerimônias e homenagens aos ancestrais regiam a rotina do acampamento.

O oleoduto era associado a uma profecia lakota sobre uma serpente preta. Segundo a profecia, a chegada da serpente traria catásfrofes para a Terra, e só uma geração seria capazgirias de apostas esportivasderrotá-la. Muitos jovens no acampamento acreditavam pertencer a essa geração.

Eryn Wise ao ladogirias de apostas esportivasuma amiga e dois irmãos

Crédito, Jacquelyn Cordova

Legenda da foto, "Se nos unirmos teremos mais chancesgirias de apostas esportivasvencer", diz Eryn Wise (à esq.), que faz parte do movimento

Canhõesgirias de apostas esportivaságua

Conforme o protesto crescia, aumentavam também as tensões. Em novembro, quando manifestantes tentaram furar um bloqueio para cruzar uma ponte, foram barrados com balasgirias de apostas esportivasborracha, gás lacrimogênio e canhõesgirias de apostas esportivaságua. Em outro embate, seguranças privados atacaram manifestantes com cães.

Integrante dos povos jicarilla apache e laguna pueblo, do Novo México (EUA), Eryn Wise, 26 anos, cuidavagirias de apostas esportivasadolescentes que voltavam feridos dos encontros. Muitos haviam decorado seu telefone ou anotado o númerogirias de apostas esportivasseus corpos. Alguns tinham só 13 anos.

Wise largou um emprego na áreagirias de apostas esportivasmarketinggirias de apostas esportivasagosto para se juntar ao acampamento, onde já estavam dois irmãos mais novos.

A indígena, que tentou se matar aos 11, associa o movimento contra o oleoduto ao combate aos suicídios, ao alcoolismo e ao consumo abusivogirias de apostas esportivasdrogasgirias de apostas esportivasreservas.

"Não havia álcool nem abusogirias de apostas esportivasdrogasgirias de apostas esportivasnossas terras antes da chegada dos brancos. O álcool nos foi dado num atogirias de apostas esportivasguerra. O oleoduto é mais um atogirias de apostas esportivasguerra", ela diz.

Segundo o governo federal, a mortalidade por alcoolismo entre indígenas americanos é o triplo da registrada na população geral. O índicegirias de apostas esportivassuicídos é maisgirias de apostas esportivasduas vezes maior e afeta principalmente jovens.

Indígenas associam os problemas à marginalização e à violência que sofrem desde a chegada dos colonizadores europeus. Dizimados por doenças e guerras, os povos se dispersaram e hoje vivemgirias de apostas esportivasfraçõesgirias de apostas esportivassuas terras.

Mas não desapareceram. Segundo o governo dos EUA, há hoje no país 5,2 milhõesgirias de apostas esportivaspessoas que se identificam como indígenas ou parcialmente indígenas, que pertencem a 562 povos e habitam 362 reservas.

Centenas desses povos enviaram representantes ao acampamento, algo inédito na história do movimento indígena americano. A mobilização contra o oleoduto foi comparada a grandes protestos do passado - como ogirias de apostas esportivasWounded Knee,girias de apostas esportivas1973, quando indígenas ocuparam por 71 dias parte da reserva Pine Ridge,girias de apostas esportivasDakota do Sul.

Iniciado por jovens, o protestogirias de apostas esportivasStanding Rock acabou por incorporar líderes mais velhos. Mas os jovens continuaram a ter voz no movimento e, pela primeira vez, ganharam espaço no conselhogirias de apostas esportivasanciãos que definia as estratégias.

"Eles perceberam que tínhamos coisas válidas a oferecer", conta Lopez, referindo-se à desenvoltura do grupo no manuseiogirias de apostas esportivastecnologias. "Temos jovensgirias de apostas esportivas16, 17 anos com maisgirias de apostas esportivas30 mil seguidores nas redes sociais. Nós dominamos meios que eles não dominam."

Donald Trump

Crédito, AFP

Legenda da foto, Nos EUA, índios voltaram a se organizar quando Trump anunciou a retomadagirias de apostas esportivasoleodutos

Mortos e vivos

O protesto atraiu ainda indígenas do Canadá, América Central, Bolívia, Oceania e Noruega - e reverberou também no Brasil.

A indígena brasileira Daiara Tukano, que acompanhou o movimento pela internet, diz que os manifestantes tinham as mesmas preocupações que índios contrários a hidrelétricas na Amazônia.

Ao citar a oposição do povo munduruku à construçãogirias de apostas esportivasusinas no rio Tapajós, no Pará, ela diz que os indígenas não temem apenas os impactos das obras no território onde vivem, mas a violaçãogirias de apostas esportivasuma lei natural que teria implicações tanto para vivos quanto para mortos.

"Há um entendimentogirias de apostas esportivasque a água e o ar não têm fronteira. Estamos bebendo a mesma água e respirando o mesmo ar que todos os nossos antepassados beberam e respiraram", ela diz.

"É mais do que uma diferença sobre religião ou espiritualidade: é outra formagirias de apostas esportivasperceber o mundo,girias de apostas esportivasperceber os ciclosgirias de apostas esportivasque estamos inseridos enquanto seres vivos", afirma.

Retorno à terra

Em Standing Rock, os indígenas voltam a se organizar para enfrentar o oleoduto - agora que a retomadagirias de apostas esportivassua construção foi ordenada pelo governo Trump.

Eryn Wise diz que a experiência no acampamento mostrou a muitos povos que andavam afastados que, "se nos unirmos contra as pessoas que querem nos destruir, teremos mais chancesgirias de apostas esportivasvencer".

Qualquer que seja o desfecho, Wise e outros jovens parecem ter encontrado um propósito maior no movimento. Ela conta que Standing Rock a ligou aos antepassados que viveram sucessivos traumas nos últimos séculos, mas mesmo assim passaram adiante seus cantos, rezas e histórias.

"Não importa o quanto nos colonizem, nós vamos sempre voltar."