'A guerra contra as drogas é um fracasso', diz responsável pela capturabets nordestePablo Escobar:bets nordeste

Gustavo De Greiff

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Ao defender a legalização das drogasbets nordesteum evento nos Estados Unidos, De Greiff perdeu popularidade com a CIA

Maisbets nordeste20 anos depois, a figurabets nordesteDe Greiff voltou à tona com o lançamento da segunda temporada da série Narcos, da Netflix - neste ponto da história, os caminhos do procurador e do traficante, então foragido da Justiça, se cruzam.

Em entrevista à BBC Brasil, ele, hoje com 87 anos, falou sobre drogas, papel dos Estados Unidos e, é claro, Escobar. Confira.

bets nordeste BBC Brasil - Como o senhor descobriu a existênciabets nordestePablo Escobar?

bets nordeste Gustavobets nordesteGreiff - Antesbets nordesteeu começar a trabalhar na Procuradoria-Geral da Colômbia, Pablo Escobar era conhecido pela Justiça como um narcotraficantebets nordestemenor importância.

Em um tribunalbets nordesteMedelín, corria um processo relacionado a ele e a uma pequena quantidadebets nordestecocaína destinada a uma ilha francesa no mar do Caribe - ainda que os organismosbets nordesteinteligência da polícia e da Justiça acreditassem que este não era o único casobets nordesteque Escobar estivesse envolvido, não havia nenhuma outra prova contra ele.

Pouco antesbets nordesteeu assumir a funçãobets nordesteprocurador-geral, Escobar se submeteu a Justiça e confessou envolvimento no caso da pequena quantidadebets nordestecocaína no Caribe.

E quando assumi o cargobets nordestefato, fiz com que a Procuradoria-Geral continuasse investigando as atividadesbets nordesteEscobar, que nesta época já estava detido na prisãobets nordesteItagüí,bets nordesteonde depois fugiu.

Pablo Escobar

Crédito, AFP

Legenda da foto, "Não foi Pablo Escobar que instalou uma crise na Colômbia. Quando ele apareceu, o país já estavabets nordestecrise."

bets nordeste BBC Brasil - Na série bets nordeste Narcos bets nordeste , o senhor é retratado conversando diretamente com Escobar,bets nordesteuma cena que ele teria ligado pedindo proteção à família depoisbets nordesteter fugido da prisão. Vocês chegaram a manter contato?

bets nordeste De Greiff - Eu nunca falei diretamente com Escobar.

Depois que fugiu da prisãobets nordesteItagüí, tentei fazer ele se entregar novamente. Para isso, falei com o advogado dele e esclareci que a Procuradoria-Geral garantiria proteção física, assim como o respeito aos seus direitos processuais.

Enquanto eu mantinha conversações com o seu advogado, a Procuradoria-Geral continuou buscando Escobar. Para localizá-lo, concebemos dar proteção àbets nordesteesposa, filha e filho depois que o advogado nos mostrou que a família corria perigobets nordesteum atentado por parte do Cartelbets nordesteCali e demais inimigos narcotraficantes.

Abrigamos a família com a esperançabets nordestequebets nordestealgum momento ele tentaria falar com a esposa e, por meio desse contato, nós o localizaríamos. Aconteceu que, já com a família sob nossa custódia, a esposa manifestou que gostariabets nordestese exilar na Alemanha junto dos filhos.

Com a esperançabets nordesteque Escobar tentaria se comunicar com a família antes da viagem ou depois dela, ajudamos nessa tentativabets nordesteexílio, mesmo sabendo que a Alemanha ou qualquer outro país não admitiria a entrada da família naquele momento, com ele foragido.

Issobets nordestefato aconteceu: eles não conseguiram o exílio e localizamos Escobar.

bets nordeste BBC Brasil - Escobar ficou conhecido como um dos maiores narcotraficantesbets nordestetodos os tempos. Foi ele que instalou uma crise política e social na Colômbia ou ele é frutobets nordesteuma crise nacional mais antiga?

bets nordeste De Greiff - Não foi Pablo Escobar que instalou uma crise na Colômbia. Quando ele apareceu na vida pública e criminal, o país já estavabets nordestecrise.

Já haviam guerrilhas, já havia violência nos campos e já acontecia o extermíniobets nordesteum movimento político denominado União Patriótica (partido políticobets nordesteesquerda fundadobets nordeste1985 e perseguido por narcotraficantes), composto por guerrilheiros que se desmobilizaram depoisbets nordesteum acordobets nordestepaz com o governo, mas que desafortunadamente não prosperou porque eles passaram a ser exterminados violentamente.

Também já existiam grupos paramilitares que exterminavam guerrilhas nos campos, ao mesmo tempobets nordesteque cometiam todo o tipobets nordesteultrajes para enriquecer.

Escobar, juntobets nordestesua quadrilha e demais narcotraficantes do período, veio a ser um ator adicionalbets nordestetoda essa tragédia do país. Tem maisbets nordeste53 anos que a Colômbia não sabe o que é viverbets nordestepaz.

Escobar com a mulher, Victoria, e o filhobets nordesteum jogobets nordestefutebol

Crédito, AP Photo/El Tiempo

Legenda da foto, Ex-procurador-geral diz nunca ter falado diretamente com Escobar

bets nordeste BBC Brasil - Como foibets nordesterelação com os EUA enquanto ocupou o cargobets nordesteprocurador-geral?

bets nordeste De Greiff - Quando estava há um ano no cargobets nordesteprocurador-geral da Colômbia, fui convidado para participarbets nordesteum evento nos Estados Unidos pelo senhor Kurt Schmoke, na época prefeitobets nordesteBaltimore. O tema do evento era o narcotráfico, seus problemas sociais e suas possíveis soluções - funcionáriosbets nordesteoutros países, assim como demais cidadãos interessados no tema, também foram convidados.

Esse evento ocorreu há maisbets nordestevinte anos, e eu ainda guardo fortes recordações. Eu era novo no cargobets nordesteprocurador-geral, mas já tinha forte a convicçãobets nordesteque a repressão ao tráfico poderia embargar carregamentosbets nordestedrogas, confiscar bensbets nordestetraficantes, destruir laboratórios, mas não solucionava o problema do tráfico. E expus isso na minha falabets nordesteBaltimore.

A maioria das pessoas que me viu falar concordou comigo, mas um funcionário do Departamentobets nordesteEstado do Governo Federal dos EUA, cujo nome infelizmente não me lembro mais, me ameaçou, impondo inimizade do seu país comigo e suspendendo toda a ajuda à Procuradoria-Geral.

Ele cumpriu combets nordesteameaça quando retornei à Colômbia.

bets nordeste BBC Brasil - Durante o processobets nordestecapturabets nordesteEscobar, o senhor foi um forte defensor da legalização das drogas. Maisbets nordestevinte anos depois, mantém essa opinião?

bets nordeste De Greiff - Sim, basta ver como o narcotráfico tem sido um problema até hoje para países produtores e ou consumidoresbets nordestedrogas.

O narcotráfico seguirá sendo um problema enquanto esses países não regularizarem a produção e o comércio das drogas hoje proibidas. Ou seja, é necessária a legalização das drogas, mas seguidabets nordesteuma adoçãobets nordestenovas medidasbets nordestesaúde pública dirigidas aos consumidores.

Claro que algumas coisas mudaram nessas décadas no que diz respeito à políticabets nordesterelação às drogas, principalmente nos EUA, como a legalização do consumobets nordestemaconha para usos medicinaisbets nordestepoucos lugares.

E,bets nordestealguns Estados norte-americanos, a maconha já é liberada para usos recreativos, assim como há o estabelecimentobets nordestesalas e lugares limposbets nordesteque é permitido o usobets nordestedrogas, numa tentativabets nordesteretirar esse consumo das ruas.

Perserguição a Escobar

Crédito, JESUS ABAD-EL COLOMBIANO/AFP/Getty Images

Legenda da foto, Policiais no telhado onde Escobar foi morto,bets nordeste1993

Por outro lado, é o próprio Governo Federal dos Estados Unidos que impõe grandes obstáculos no avanço das políticasbets nordestedrogas dentro e fora do país - esses pequenos avanços foram estipulados por legislações estaduais e não pela federal norte-americana.

Esse comportamento atrasado dos Estados Unidos foi seguido até pelo presidente (Barack) Obama, que afirmou que seu governo aceitava discutir a legalização, mas que não seria ele que mudaria tal política.

bets nordeste BBC Brasil - O senhor acredita que ainda há grande interesse dos Estados Unidosbets nordesteinfluenciar a maneira como os países latinos estipulam suas políticas relacionadas às drogas?

bets nordeste De Greiff - Creio que o interesse do governo norte-americano pelo problema das drogas nos países latinos seja por conveniência:bets nordesterazão da proibição, o mercado das drogas se desenvolvebets nordestemeio à violência e à corrupção.

Para garantir que medidas repressivas quanto à políticabets nordestedrogas se apliquem nesses países, os EUA usa do seu poderio material e político.

Com razão, nos países onde os Estados Unidos têm influência na ação contra as drogas, o cenário foi denominado como uma "guerra contra as drogas".

Como infelizmente dependemos do comércio com o mercado norte-americano ebets nordestemanter relações com as suas instituições financeiras, seguimos suas indicações forçadas e também participamos dessa "guerra". E todos têm que entrar neste jogo: desde os indivíduos até os funcionários desses países subordinados.

Isso aconteceu comigo e foi por isso que me apelidarambets nordesteamigobets nordestenarcotraficantes. O propósito não foi somente um apelido, mas foi obets nordesteme desqualificar para que meu testemunho não tivesse valor para propor uma mudança na política proibicionista.

A minha resposta diante disso sempre foi: tenho um estranho problema na coluna vertebral que me impedebets nordesteme curvar aos poderosos.

Continuarei defendendo a legalização da produção e do comércio das drogas e continuarei dizendo: a atual guerra contra as drogas é um fracasso.