'Escondi ela no armário por horas': lésbica conta como é viver com a namorada no Irã, onde ser gay é ilegal:full from of cbet

Duas mulheres com enfeitesfull from of cbetarco-íris nas mãos

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Relacionar-se com alguém do mesmo sexo ainda é prática proibida por leifull from of cbet77 países

O depoimentofull from of cbetSara

"Tinha 11 ou 12 anos quando me apaixonei pela primeira vez por uma mulher. Contei para minha prima, que ficou horrorizada. Ela me chamoufull from of cbethamjensbaaz: sapatão.

Na hora, não me dei conta que era um insulto, mas soube que, se contasse para mais alguém, fariam poucofull from of cbetmim.

Ativista LGBT

Crédito, joopeA

Legenda da foto, Irã é um dos países que têm leis contra qualquer "conduta homossexual"

Uma vez disse à minha treinadora que sentia algo por ela, e ela me respondeu dizendo para ler o Alcorão.

Quando conheci minha companheira, Maryam*, há quatro anos, não estava certafull from of cbetque era gay. Conversamos pela internet e, quando fomosfull from of cbetnosso primeiro encontro, conheci uma menina pequena e delicada. Fiquei fascinada comfull from of cbetbeleza e pensei: 'Ela realmente será minha namorada?'.

Minha mãe escuta nossas conversas íntimas por telefone. Às vezes, pela manhã, checa nosso quarto, olha para as almofadas e diz: 'Por que vocês duas dormem tão juntas?'.

Ou sugere que a cama é muito pequena e que umafull from of cbetnós deveria dormirfull from of cbetoutro lugar. Também entra no quarto sem avisar e sempre verifica se a porta está aberta. Gostariafull from of cbetpedir que parasse, e que isso não compete a ela.

Minha mãe tem medo. Posso ser muito agressiva. Não machucaria ninguém, mas se estou sob muita pressão, estouro. Já aconteceu antes, e saífull from of cbetcasa duas vezes. Não tinha para onde ir, por isso voltei alguns dias depois.

Uma vez, no meio da noite, a escutei chorando e pedindo a Deus que me curasse. É muito difícil.

Fui ingênuafull from of cbetpensar que, como meus primos trazem suas namoradas para as reuniões familiares, eu também podia fazer isso. Minha família tornou-se cada vez mais hostil, e, na festafull from of cbetaniversário do meu primo, todos ignoraram Maryam.

Foi incômodo, e tivemosfull from of cbetir embora. Eles me amam, mas a odeiam. Não consigo suportar isso. É ridículo.

Uma vez, quando meus tios vieram nos visitar, tive que escondê-la no armário por horas. Quando minhas tias vieram sem avisarem, Maryam pediu que a escondesse outra vez para que não tivessefull from of cbetvê-las.

Às vezes, tenho pena da minha mãe. Tem quase 70 anos e é religiosa. Não posso discutir com ela e temo que não seja capazfull from of cbetsuportar tudo isso.

Também acreditofull from of cbetDeus e rezo todos os dias. Busco por algo no Alcorão que mostre que a homossexualidade pode ser compatível com o Islã. Mas não encontro e não posso perguntar a um imã.

Uma vez, fui a uma terapeuta, e ela começou a me insultar. "Não entende que até as vacas sabem como ter um sexo normal?", ela perguntou. Disse que eu estava violando as leis da natureza.

Em dado momento, pensei que a única formafull from of cbetenfrentar isso seria mudarfull from of cbetsexo. No Irã, ser transexual é considerado um transtorno médico tratável, mas é ilegal ser homossexual.

Ativistas LGBT

Crédito, joopeA

Legenda da foto, Muitos homossexuais iranianos tiveramfull from of cbetdeixar o país por medofull from of cbetserem punidos

Às vezes, as pessoas são incentivadas a fazer a cuirurgiafull from of cbetmudançafull from of cbetsexo para que não "caiamfull from of cbetpecado" vivendo como homossexuais.

Os médicos não costumam ser honestos quando opinam se ser transexual realmente requer uma operação, por isso as pessoas ficam confusas com frequência.

Tive dez sessões com uma terapeuta, que me analisou e me colocou na listafull from of cbetespera para a cirurgia, mas não acho que conseguiria me submeter a ela. Poderia me arrepender. Além disso, minha namorada odiaria. Poderia me deixar.

E não há como voltar a ser o que era se você mudafull from of cbetideia. Conheço pessoas transgênero que, depois da operação, sofreram com depressão e problemasfull from of cbetsaúde mental.

Vi uma mulherfull from of cbetuma clínica que havia feito a operação para virar homem. Estava chorando e implorando que revertessem a operação. Dizia que não podia viver no corpofull from of cbetum homem. Fiquei horrorizada.

De qualquer forma, tenho uma aparência bem masculina. Tenho cabelo curto e uso jeans folgados, relógiofull from of cbethomem e sapatos esportivos.

Fico encantada com o poder que os homens têm e adoro me comportar como um homem no meu relacionamento. Às vezes, quando vejo casais heterossexuais, me sinto fraca por não poder proteger minha companheira como quero.

A polícia moral já deteve nós duas quando saímos juntas, e fomos interrogadas. Uma vez, estávamosfull from of cbetum parque, e tirei meu véu. Um homem se aproximou, me perguntou se eu era mulher, e eu disse: "Sim".

Ele me disse para acompanhá-lo, mas, quando lhe mostrei o cartão que me deram no centrofull from of cbetterapia transexual, ele me deixou ir. Esse cartão significa que tenho permissãofull from of cbetsairfull from of cbetlugares públicos sem levar o hijab, porque te permitem viver como um homem antes da operação.

Lésbicasfull from of cbetmãos dadas

Crédito, Thinkstock

Legenda da foto, Homossexuais iranianos são incentivados a mudaremfull from of cbetsexo

Hoje, é possível ver mulheres jovens como eu nas ruas, e é um pouco mais tranquilo do costumava ser. Mas, há alguns anos, quando caminhava por Teerã, me sentia totalmente insegura.

Fico preocupada que me detenham, chequem meu telefone e encontrem fotos ou mensagensfull from of cbettexto para minha namorada, me levem para a prisão, confisquem meu passaporte e até me matem.

Gostariafull from of cbetme casar com ela. Quem sabe um dia, quando sairmos do Irã, isso seja possível."

O depoimento da mãefull from of cbetSara

"Não sei se é um tipofull from of cbetdoença ou o que é. Sob o Islã, é pecado. Ela não aceita que eu diga isso, mas não está certo.

Soube desde o início que seu relacionamento não era só amizade. Não havia problemas com suas outras amigas. Conhecia suas famílias e seus antecedentes. Mas essa mulher é uma completa estranha. Não sei como se conheceram.

Costumavam sair juntas, e minha filha voltava muito tarde para casa. Dizia quefull from of cbetamiga era muito jovem e que não sabia como voltar para casa e, por isso, precisava levá-la até a estaçãofull from of cbettrem.

Pensei que era melhor se ficassem juntasfull from of cbetcasa. É perigoso estar lá fora. É melhor ficarfull from of cbetcasa do que ficar perambulando por parques e até mesmo hotéis. Foi assim que essa mulher passou a viver na minha casa.

Não interfiro. Essa mulher vive aqui comodamente. Não sai do quarto quando minha filha não estáfull from of cbetcasa. Ela come no quarto, inclusive. Sei o que está acontecendo, mas fico calada. Tento evitá-las. Sempre que possível, saio para não terfull from of cbetvê-las.

Odeio essa mulher, mas, pelo bem da minha filha, a aguentofull from of cbetminha casa. Minha filha fica presa entre ela e eu. Se ela fosse uma amiga normal, não teria nenhuma objeção. Não quero que minha filha fique sozinha, e é bom que tenha uma amiga próxima.

Marcha gayfull from of cbetLondres

Crédito, AP

Legenda da foto, Muitos saíram às ruasfull from of cbetLondres para demostrar solidariedade pelas vítimas do ataquefull from of cbetOrlando; no Irã, isso é inimaginável

Se fossem só amigas normais, eu mesmo pediria que ficassem juntas pelo resto da vida. Mas sei que essa mulher é grosseira e sem vergonha. É atirada e descarada. Está corrompendo minha filha. Aproveita-se da Sara e a faz gastar dinheiro. São como amantes e compram coisas para se presentearem.

Fui amável com essa mulher. Dei conselhosfull from of cbetmãe a ela e lhe pedi que encontrasse um marido, mas ela se incomodou e contou para minha filha.

Minha filha está muito sozinha, e acho que, se disser algo para essa mulher, partirei seu coração. Tenho muito medofull from of cbetdizer qualquer coisa. Se provoco essa mulher para que ela se váfull from of cbetminha casa, minha filha poderia se magoar, e eu lamentaria pelo restofull from of cbetminha vida.

Ela poderia incendiar a casa. Uma vez, ameaçou fazer isso. Fico preocupada que se machuque, então, fico calada. Odeio falar disso.

Se Sara tivesse um irmão ou seu pai estivesse vivo, essa mulher não se atreveria a vir aqui e se envolver com minha filha dessa forma. Perguntei a ela: "O que significa esse anelfull from of cbetseu dedo? Tire-o para que um jovem te faça uma proposta". Ela respondeu: "Não me casarei até quefull from of cbetfilha se case".

Preciso que alguém fale com minha filha, faça ela pensar no futuro. Porque ficará velha e não terá filhos. Essa mulher não ficará com a minha filha. Ela a deixará e se casará com um homem!

Vigilia pelas vítimas do ataquefull from of cbetOrlando

Crédito, AP

Legenda da foto, O ataque a uma boate gay na Flórida gerou comoção ao redor do mundo

Minha filha é especial. É amável e inteligente, e sempre digo a ela que é perfeita, exceto por esta única coisa. É anormal.

Essa mulher é uma tortura para mim. Não sei o que fazer. Não gostofull from of cbetdeixá-las sozinhasfull from of cbetcasa nem por uma noite e muito menos que vivam juntas.

Não consigo achar uma solução. Não sei como salvar a vida da minha filha."

*Os nomes das entrevistadas foram alterados. Sara efull from of cbetmãe falaram à jornalista da BBC Leyla Khodabakhshi