O cão que virou santo proibido pela Igreja:casino ice

Legenda do áudio, O cão que virou santo proibido pela Igreja

Profundamente arrependido, o homem mandou providenciar um enterro com honras para Guinefort, com direito a lápide. Aos poucos, a história acabou ganhando contornoscasino icelenda, aumentada e espalhada. E o local se tornou um pontocasino icedevoção popular.

Mais que herói, Guinefort havia se tornado um santo. São Guinefort. Procurado principalmente por mães aflitascasino icebuscacasino icecuras milagrosas para seus filhos doentes.

Mas no entendimento da Igreja, havia algo errado. Venerar um animal parecia mais idolatria do que cristianismo.

"A Igreja,casino icefato, condena a prática da veneração a animais, porque a tradição católica entende que a santidade é uma dádiva concedida por Deus especificamente ao ser humano, que foi criado àcasino iceimagem e semelhança", explica o estudiosocasino icehagiologias Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federalcasino iceSão Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

Inquisição

Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitecasino iceMoraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ponto-chave é entender que, para o cristianismo, "o ser humano é a joia da criaçãocasino iceDeus".

"Este é o elemento fundamental da concepção judaico-cristã: Deus cria absolutamente tudo, mas é ao ser humano dotadocasino icerazão que ele acaba,casino icealguma forma, fazendo transparecercasino iceimagem e semelhança", aponta.

"Nesse sentido, a tradição eclesiástica entende que esse privilégio dos seres humanos nos colocamcasino iceum patamar acima dos animais. Os animais também representam a criaçãocasino iceDeus, mas os seres humanos são racionais, carregando a ideia e o conceitocasino iceserem imagem e semelhança do próprio Deus", acrescenta ele.

Nesse sentido, o teólogo lembra que "a veneraçãocasino iceanimais" acaba sendo vista como "algo que poderia se configurar uma idolatria".

"E a Inquisição acaba agindocasino icemaneira truculenta, violenta até,casino icedefesa dessa concepção teológica, para evitar que um animal fosse adorado", contextualiza Moraes.

Coube ao religioso dominicano Estevãocasino iceBourbon (1180-1261) dar um basta a essa história. Considerado um dos primeiros inquisidores da Igreja, ele dedicou-se a enumerar e escrever sobre o que ele considerava como sendo os bons e os maus exemplos daquele tempo. E condenou veementemente a devoção ao santo canino.

Registroucasino icehistória, é verdade. Mas, segundo consta, mandou exumar os restos mortais do bicho e determinou que tudo fosse queimado, para que o local deixassecasino iceser pontocasino iceperegrinação.

"Entretanto, a veneração [a Guinefort] continuou. Porque existe o poder da voz popular e o culto ao cão se difundiu", conta Maerki.

"A Inquisição usava a violência,casino icemodo absurdo. Mas nem sempre a Igreja tem o controle sobre o quecasino icefato as pessoas sentem, a fé que as pessoas têm. Isso não se controla. E a história daquele cão acabou desembocandocasino iceveneração", afirma Moraes.

Santos e cães

Professor no Institutocasino iceHistória da Universidade Federal do Riocasino iceJaneiro (UFRJ), o historiador André Leonardo Chevitarese comenta que a passagemcasino iceSão Guinefort o faz relembrarcasino iceadolescênciacasino iceNiterói, no Riocasino iceJaneiro.

São Domingoscasino iceGusmão, representado ao ladocasino iceum cão

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, São Domingoscasino iceGusmão, representado ao ladocasino iceum cachorro carregando uma tocha

Há cercacasino ice40 anos, quando ele frequentava a igreja dedicada a São Domingoscasino iceGusmão, no bairro da Tijuca, Riocasino iceJaneiro, houve um incidente com a imagem dedicada ao santo da paróquia.

Conta-se que quando estava grávida dele, a mãecasino iceDomingoscasino iceGusmão (1170-1221) sonhou que dava à luz a um cão carregando uma tocha na boca. E interpretou que isso significava que seu filho seria um valente defensor da fé, capazcasino iceiluminar os caminhos.

Por conta disso, o santo é comumente representado ao ladocasino iceum cachorro carregando a tocha. Mas o padre dessa paróquia da Tijuca havia notado que muitos estavam rezando mais para o cachorro do que para o santo.

"Uma vez ele deu uma bronca meio geral na comunidade reunida para reclamar que as pessoas faziam promessas e pedidos não a São Domingos, mas ao cachorrocasino iceSão Domingos", recorda Chevitarese.

"Para evitar esse desviocasino iceconduta do fiel, ele mandou retirar a imagem do cachorro da estátua do santo."

São Domingos não é o único santo cuja hagiografia ou mesmo representação iconográfica costuma ter a companhiacasino iceum cão. Isso também ocorre com São Roque (1295-1327), Santa Margaridacasino iceCortona (1247-1297) e São João Bosco (1815-1888).

"É interessante pensar também sobre São Francisco [de Assis (1181-1226)], sempre retratado como o santo da natureza, o protetor dos animais, aquele que conversava com os animais", comenta Maerki.

"Ele via todas as criaturas como irmãs, por terem sido criadas pelo mesmo Deus."

Para os estudiosos, o ponto é quecasino icetodos esses casos, os animais não são protagonistas da devoção, mas sim instrumentos da ação divina.

O historiador Chevitarese explica que a Igreja não aceita a veneraçãocasino iceanimais "porque o atocasino icevenerar santos se apoiacasino icedois elementos-chave".

"O primeiro é que o que faz o indivíduo se tornar santo é seu modelocasino icevirtude, algo pautado por uma conduta absolutamente impecável, alguém a ser copiado, um exemplo. Esse é o primeiro aspecto", pontua.

"Em segundo lugar, a veneração também dialoga com uma intrínseca relaçãocasino iceintercessor: o santo ou a santa são intercessores no céu, junto a Deus."

Nesse sentido, conforme ele justifica, tornar um cão como exemplocasino iceveneração seria um problema. Porque, no grego, a palavra cão deu origem a um movimento filosófico, os cínicos.

"Que são aqueles que não se adaptam a um padrãocasino icecultura estabelecido por uma sociedade. O cínico poderia não utilizar o banheiro para defecar, optar por andar nu ou mesmo ter relações sexuais foracasino iceum espaço reservado", exemplifica.

"No campo filosófico, o modelo do cão é o daquele que não está preso a nenhum padrão ético, moral oucasino icevirtude que se enquadre minimamente no campocasino iceveneração dos santos."

São Roque representado ao ladocasino iceum cão, antiga imagemcasino icedomínio público, autor desconhecido

Crédito, Domínio Público

Legenda da foto, São Roque costuma ser representado ao ladocasino iceum cão que teria salvadocasino icevida

Maerki lembra ainda dos escritos do monge beneditino Rábano Mauro (780-856), que utilizava a figura do cão para ilustrar o próprio demônio.

"Para ele, o cão era assimilado ao diabo. E também aos judeus, aos povos gentios, aos padres desonestos e heréticos", cita.

Sem exceções

É impossível que um dia haja uma exceção e a Igreja Católica aceite a canonizaçãocasino icequalquer animal. Ao mesmo segundo o entendimento religioso contemporâneo.

"Enquanto permanecer a lógicacasino iceque o ser humano é a joia da criaçãocasino iceDeus, um ser racional criado à imagem e semelhançacasino iceDeus, não há possibilidade algumacasino iceexceção", explica o teólogo Moraes.

"A visão [corrente da Igreja] écasino iceque o ser humano é o administrador da casa, do jardim, o mordomo que cuidacasino icetudo… É lógico que, na história da humanidade, o ser humano tem cuidado muito mal dessa casa chamada planeta Terra…", comenta ele.

Para quem quiser arriscar uma prece ao santo canino, o seu dia é 22casino iceagosto.

- Este texto foi publicado originalmente em http://www.mi-rob.com/geral-62630274

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