Joana Angélica, a mártir católica que é considerada heroína da Independência:freebet zaklady bukmacherskie

freebet zaklady bukmacherskie O historiador Bernardino Joséfreebet zaklady bukmacherskieSouza (1884-1949) escreveu que dos acontecimentos "tormentosos" da época, "nenhum impressionou mais fundo a alma da Bahia do que o selvagem ataque dos soldados contra o indefeso conventofreebet zaklady bukmacherskieNossa Senhora da Conceição da Lapa". Foi o episódio no qual, segundo suas palavras, "morreu nobremente a primeira heroína da epopeia da Independência".

Neste trecho, do livro Heroínas Baianas, Souza referia-se à religiosa concepcionista Joana Angélicafreebet zaklady bukmacherskieJesus (1761-1822). Há exatos 200 anos, entre 11h e 12h do dia 20freebet zaklady bukmacherskiefevereirofreebet zaklady bukmacherskie1822, a freira morreu, após ter sido atingida por golpefreebet zaklady bukmacherskiebaioneta quando tentava proteger seu convento da invasãofreebet zaklady bukmacherskietropas portuguesas.

Para a historiografia, acabou sendo aclamada como uma heroína do processo que culminaria, no mesmo ano, na Independência do Brasil. Para a Igreja Católica, seu atofreebet zaklady bukmacherskiebravura a torna uma mártir da fé, postulando-a à devoção dos altares.

Joana foi um dos destaquesfreebet zaklady bukmacherskieuma exposição realizada pela Câmara dos Deputadosfreebet zaklady bukmacherskie2016 sob o título Mulheres Pioneiras: Elas Fizeram História. Na ocasião, foi apresentada como "um símbolo da resistência contra o autoritarismo português" já que, "em meio aos conflitos entre as milícias brasileiras pró-independência e o exército português, Joana, aos 60 anos, morreu ao receber um golpefreebet zaklady bukmacherskieum soldado por resistir à invasão das tropas ao convento".

Em texto recente, o arcebispofreebet zaklady bukmacherskieSalvador e primaz do Brasil, cardeal Sergio da Rocha exaltou Joana Angélica como uma das "figuras marcantes do itinerário rumo à independência", segundo ele uma heroína "por integrar um outro 'exército', formado por mulheres que traziam consigo a cruz e o rosário, assassinada às portas do convento".

"O significado do seu gesto ultrapassa a atitude patrióticafreebet zaklady bukmacherskieenfrentamento dos soldados portugueses, pela liberdade do Brasil", pontua Rocha. "O seu martírio ocorrefreebet zaklady bukmacherskiedefesa, não somentefreebet zaklady bukmacherskieum edifício religioso, mas do que ele representava: a comunidadefreebet zaklady bukmacherskieirmãs que lá vivia, a féfreebet zaklady bukmacherskieCristo por elas professada, a Igreja que devias ser sempre respeitada."

Para o cardeal, o episódio protagonizado por Joana "merece figurar, com maior atenção, não somente na história da Independência do Brasil, mas na história da Igreja Católica da Bahia". "Precisamos conhecer e valorizar mais Joana Angélica, bem como a história rica e plural da Bahia", acrescenta ele.

Contexto

À BBC News Brasil, o historiador Sérgio Guerra Filho, professor na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, explica que o episódio da mortefreebet zaklady bukmacherskieJoana Angélica insere-se no contexto anti-lusitano que havia na Bahia naquele iníciofreebet zaklady bukmacherskieséculo 19.

"A Independência [do Brasil] foi um ato complexo que envolveu uma sériefreebet zaklady bukmacherskieeventosfreebet zaklady bukmacherskiediversas regiões do que hoje chamamos Brasil. Lutava-se contra a dominação portuguesa. No caso da Bahia, havia uma disputa pelo comando militar da região", afirma ele.

Vale ressaltar que o clima havia se complicadofreebet zaklady bukmacherskiedecorrência do "rearranjo do Reino Unido", ou seja, da coroa portuguesa. Depoisfreebet zaklady bukmacherskie13 anosfreebet zaklady bukmacherskieque a corte havia se transferido para o Riofreebet zaklady bukmacherskieJaneiro, o rei português dom João VI (1767-1826) havia retornado para Portugal no ano anterior.

"[Muitos revoltosos] queriam que as províncias [do Brasil Colônia] mantivessem algumas autonomias que tinham conseguido a partirfreebet zaklady bukmacherskie1808", acrescenta Guerra Filho.

Em solo baiano, essa situação se materializava na disputa entre "os nascidosfreebet zaklady bukmacherskiePortugal, interessados na retomada das prerrogativas coloniais e os nascidos na Bahia, preocupados com a manutenção das vantagens que tinham conseguido com a vinda da família real ao Brasil", diz o professor.

Entre essas vantagens, ele lista como as principais a liberdadefreebet zaklady bukmacherskiecomércio e as "experiênciasfreebet zaklady bukmacherskiepoder", ou seja, com portugueses nascidos no Brasil sendo alçados a cargos importantes.

Pesquisador do Grupo Intelectuais e Política nas Américas, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré, o historiador Victor Missiato frisa que a região do Recôncavo Baiano era um redutofreebet zaklady bukmacherskierevoltas desde o fim do século 18 — ele lembra o episódiofreebet zaklady bukmacherskiecunho separatista conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, ocorrido entre 1798 e 1799.

"Ou seja: era um localfreebet zaklady bukmacherskiemovimentos muito radicais com algumas vertentes republicanas lutando pela a autonomia ou pela independência, dependendo do grupo", pontua ele,freebet zaklady bukmacherskieconversa com a BBC News Brasil. "Havia na Bahia uma relação muito conflituosa entre portugueses e nativos, muito por conta da cobrançafreebet zaklady bukmacherskieimpostos mas também por conta da misériafreebet zaklady bukmacherskieque muitos escravos e libertos viviam numa região que estava perdendo cada vez mais força para o Riofreebet zaklady bukmacherskieJaneiro."

Autorfreebet zaklady bukmacherskiediversos livros sobre o período, o pesquisador Paulo Rezzutti diz à reportagem que "os eventos ocorridos na Bahia no começo do ano [de 1822] são um marco do processo da independência" que "não foi somente eternizado com o grito do Ipirangafreebet zaklady bukmacherskie7freebet zaklady bukmacherskiesetembro" e "estava longefreebet zaklady bukmacherskienão ser um movimento popular e que só atingia o sudeste brasileiro".

Rezzutti explica que naquele iníciofreebet zaklady bukmacherskieano, setores populares baianos reagiram contra a nomeaçãofreebet zaklady bukmacherskieum militar português, o general Madeirafreebet zaklady bukmacherskieMelo, para o cargofreebet zaklady bukmacherskiegovernador das Armas da Bahia. "Tanto a população quanto as tropas tentaram não aceitar a nomeação imposta por Lisboa", comenta. "Cidadãos notáveis tentaram impugnar a posse e o caso acabou levando a um embate entre os populares e os soldados baianos contra o general e seus comandados."

"O ponto alto da batalhafreebet zaklady bukmacherskieSalvador foi a tomada do Fortefreebet zaklady bukmacherskieSão Pedro, onde o brigadeiro Manuel Pedrofreebet zaklady bukmacherskieFreitas Guimarães, comandante nativista, acabou dominado, preso e enviado para Portugal", narra o pesquisador. "Na sequência dos combates, soldados portugueses, grande parte embriagados, perseguiram os brasileiros que escaparam do Quartel da Mouraria. Como esse ficava perto do Convento da Lapa, ele foram até o convento para verificar se os brasileiros tinham fugido para lá e se o local guardaria armas."

Alegando terem ouvido rumores, os portugueses disseram acreditar que as religiosas estivessem dando abrigo para os brasileiros. "Ela tentou impedir que os soldados entrassem no claustro, que era vetado para os homens, e acabou sendo morta com golpesfreebet zaklady bukmacherskiebaioneta", relata o pesquisador Rezzutti.

"[A freira] agiufreebet zaklady bukmacherskiemaneira a resguardar a integridade das freiras, colocando-se diante dos soldados portugueses que queriam invadir a clausura, e acabou morta por eles", diz ainda o pesquisador. "A ação dela erafreebet zaklady bukmacherskieproteger o convento, as noviças e outras irmãs, não tinha qualquer ligação com a causa entre portugueses e brasileiros."

Mesmo assim, Rezzutti ressalta que ela "é considerada a primeira heroína da independência" e é "pouco lembrada por isso".

Narrativas da época registram que ela teria enfrentado as tropas dizendo: "Para trás, bandidos! Respeitem a casafreebet zaklady bukmacherskieDeus! Recuem: só conseguirão penetrar nesta casa passando por cima do meu cadáver!" Mas hoje se acredita que esses dizeres tenham sido inventados postumamente para ilustrar o seu martírio.

Para o historiador Guerra Filho, o gestofreebet zaklady bukmacherskieJoana pode ter sido imbuídofreebet zaklady bukmacherskievalores católicos e tambémfreebet zaklady bukmacherskieum conhecimento do contexto político. "Eu acredito que ela praticou a defesa da religião, ou seja, protegendo o claustro como um local, dentrofreebet zaklady bukmacherskieum convento feminino,freebet zaklady bukmacherskieque homens não podem entrar. Mas não desprezo que ela tivesse também a percepção das injustiças, da opressão portuguesa, algo que era muito comum à época."

Como era uma religiosa baiana, não havia como ignorar esse contexto. "Era uma percepção daquele período: a das diferenças entre os nascidosfreebet zaklady bukmacherskiePortugal, os portugueses da Europa, e os portugueses nascidos no Brasil", complementa o historiador. "Nesse processo, a ação dela durante uma disputa entre soldados portugueses e soldados baianos foi incorporada pela historiografia baiana como um ato patriótico."

"Não temos como dizer com certeza o que se passava na cabeça da freira, mas é possível dizer que ela estava defendendo o claustro e, ao mesmo tempo, entendendo que os portugueses exerciam uma forçafreebet zaklady bukmacherskieopressão colonial, uma opressão contra os baianos", avalia ele.

Missiato lembra que o fatofreebet zaklady bukmacherskieela ter sido uma religiosa, "em uma sociedade hegemonicamente católica", onde "a defesa das instituições católicas sempre se fez muito presente" deu dimensões mais reluzentes ao episódio.

"E os portugueses foram extremamente violentos na entrada do convento. A mortefreebet zaklady bukmacherskieJoana Angélica acabou gerando uma comoção popular na Bahia", afirma ele. "Mesmo que [o episódio] tenha sido exaltado posteriormente como um casofreebet zaklady bukmacherskieidentificação nacional, o que ocorreu no calor do momento foi importante. Ela teve um papel importante, para a historiografia, no processofreebet zaklady bukmacherskieindependência."

Quem foi

Joana Angélica erafreebet zaklady bukmacherskieuma famíliafreebet zaklady bukmacherskiericos aristocratasfreebet zaklady bukmacherskieSalvador. Conta-se que desde muito cedo manifestava inclinação pela vida religiosa e seus pais, José Tavaresfreebet zaklady bukmacherskieAlmeida e Catarina Maria da Silva, nunca se opuseram a isso — pelo contrário, apoiaram a menina.

Segundo informações da Arquidiocesefreebet zaklady bukmacherskieSalvador, ela foi aceita aos 20 anos como noviça no Convento Nossa Senhora da Conceição da Lapa. Tornou-se irmã consagrada no ano seguinte.

A biografia disponibilizada pela Arquidiocese ainda atesta que ela era "estimada pelos m oradores da capital baiana pelos conhecimentos que detinha". Ela foi designada abadessa — cargo máximo do convento — por duas vezes. Primeiro,freebet zaklady bukmacherskie1815 a 1817. Depois,freebet zaklady bukmacherskie1821 até seu assassinato.

Há tempos setores da Igreja defendem que Joana Angélica pode ser reconhecida como beata — e, posteriormente, como santa. Sefreebet zaklady bukmacherskiemorte for entendida oficialmente pelo Vaticano como um martíriofreebet zaklady bukmacherskiedefesa da fé, nem a comprovaçãofreebet zaklady bukmacherskiemilagres seria necessária.

De acordo com a Arquidiocesefreebet zaklady bukmacherskieSalvador,freebet zaklady bukmacherskie2001 foi solicitada "a inclusão da pesquisafreebet zaklady bukmacherskiedocumentos comprobatórios" do martírio dela "para que se tornasse possível o processo canônico da beatificação da citada freira".

Os trabalhos consistiramfreebet zaklady bukmacherskiepente-finosfreebet zaklady bukmacherskiearquivos como o do Estado da Bahia, da Cúria Metropolitana efreebet zaklady bukmacherskieconventos e mosteiros. Considerado insuficiente, o processo avançou por outros acervos. A partirfreebet zaklady bukmacherskieentão, o dossiê passou a incluir documentos do Museu Paulista da Universidadefreebet zaklady bukmacherskieSão Paulo, do arquivo do Mosteiro da Luzfreebet zaklady bukmacherskieSão Paulo, da Biblioteca Nacional, do Museu Histórico Nacional e do Arquivo Nacional, entre outras instituições brasileiras.

Pesquisadores também buscaram materiaisfreebet zaklady bukmacherskiePortugal, com consultas ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, à Biblioteca Nacional e ao acervo da Universidadefreebet zaklady bukmacherskieCoimbra.

"Atualmente, há uma equipe escrevendo sobre a biografia dela para dar respaldo a um processofreebet zaklady bukmacherskiebeatificação", conta Guerra Filho.

Procurada pela reportagem, a Arquidiocesefreebet zaklady bukmacherskieSalvador não respondeu sobre o status atual dos trâmites que podem levar Joana Angélica à chamada "glória dos altares". A assessoriafreebet zaklady bukmacherskiecomunicação da instituição limitou-se a informar que uma missa especial deve ser celebrada neste domingofreebet zaklady bukmacherskiememória ao bicentenário do martírio dela.

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