'Festivalsacar pixbetBesteira que Assola o País', as crônicas que ironizavam a ditadura e que 'estão mais vivas que nunca':sacar pixbet

"Mais por fora do que umbigosacar pixbetvedete"

O festivalsacar pixbetdespautérios incluíasacar pixbetcapitães a prefeitos,sacar pixbetgenerais a delegados. Em São Paulo (SP), agentes do Dops invadiram a casa da escritora Jurema Finamour e, entre outros objetos considerados suspeitos, apreenderam um aparelhosacar pixbetliquidificador. Em Belo Horizonte (MG), policiais davam vozsacar pixbetprisão a torcedores que insistissemsacar pixbetsoltar maissacar pixbettrês palavrões por jogosacar pixbetfutebol.

Aliás, quase tudo era proibido na "Redentora" - apelido "carinhoso" dado por Stanislaw Ponte Preta ao golpe militarsacar pixbet1964:sacar pixbetserenata,sacar pixbetOuro Preto (MG), a vodca,sacar pixbetBrasília (DF),sacar pixbetnamoro no jardim da praça,sacar pixbetMariana (MG), a máscarasacar pixbetbailesacar pixbetcarnaval,sacar pixbetSão Luís (MA). No caso da vodca, a bebida destiladasacar pixbetorigem russa foi proibida por um nobre "depufede" - neologismo criado pelo autor para designar "deputado federal" - para "combater o comunismo".

"O que será que o Stanislaw diria hoje da descobertasacar pixbetque nossos livros didáticos 'têm muita coisa escrita' (em referência a frase dita pelo presidente Jair Bolsonarosacar pixbetjaneiro), da defesa da abstinência sexual (campanha promovida pela ministra Damares Alves) como política pública ou, então, da afirmaçãosacar pixbetque o 'índio está evoluindo e, cada vez mais, é um ser humano igual a nós' (frase também dita por Bolsonaro)?", indaga a professora Cláudia Thomé, da UFJF. "Imagine isso tudo aos olhos do Stanislaw Ponte Preta. Penso que nossas prateleiras seriam pequenas para tantos volumes novos do Febeapá".

Stanislaw não livrava a carasacar pixbetninguém. Nem mesmosacar pixbetseus colegas jornalistas. Volta e meia, citava uma ou outra manchete, como "Todo fumante morresacar pixbetcâncer a não ser que outra doença o mate primeiro", do Correio do Ceará,sacar pixbetFortaleza (CE), ou "É necessária muita cautela para revidarmos uma autocrítica", do Jornal da Cidade,sacar pixbetGravatá (PE).

"Só levanto o olho da máquinasacar pixbetescrever para botar colírio"

Antessacar pixbetganhar a vida como escritor, radialista e teatrólogo, entre outras profissões, Sérgio Marcos Rangel Porto trabalhou 23 anos no Banco do Brasil. Lá, conheceu e tornou-se amigosacar pixbetoutro Sérgio, o Jaguaribe - nomesacar pixbetbatismo do cartunista Jaguar. "Sérgio não trabalhava menos que 15 horas por dia. A qualquer hora do dia ou da noite, quando ia visitá-losacar pixbetcasa, lá estava ele batucando as teclassacar pixbetsua Remington semiportátil. Numa dessas visitas, ao buscar os originaissacar pixbetum livro, soltou umasacar pixbetsuas muitas pérolas: 'Só levanto o olho da máquina para botar colírio'", diverte-se.

Porto ainda batia ponto como bancário quando,sacar pixbet1947, aos 24 anos, começou a trabalhar como jornalista no Folha do Povo,sacar pixbetAparício Torelly (1895-1971), o irreverente Barãosacar pixbetItararé. Não parou mais. Ao longo da carreira, deu expedientesacar pixbetuma infinidadesacar pixbetjornais (Diário Carioca, Tribuna da Imprensa e Última Hora) e revistas (Manchete, Senhor e O Cruzeiro). Por dois anos, chegou a produzir duas crônicas diárias: uma para o Tribuna da Imprensa e outra para o Última Hora.

"À tarde, papai se recolhiasacar pixbetseu 'escritório', ou seja, a parte da sala dividida por uma estantesacar pixbetmadeira. Ali, ficava até tarde na máquinasacar pixbetescrever, produzindosacar pixbetcrônica diária para jornal. Aossacar pixbetcasa, era exigido fazer silêncio. Tinha o hábitosacar pixbetouvir música e, enquanto trabalhava, tinha preferência por jazz. À noite, saía para entregar os textos no jornal, na rádio ou na TV, e íamos com ele, jásacar pixbetpijama no carro", relembra a historiadora Ângela Porto, uma das três filhassacar pixbetSérgio com Dirce Pimentelsacar pixbetAraújo, com quem ele se casousacar pixbet1952.

Como escritor, Sérgio Porto lançou dez livros: sete como Stanislaw e três como Sérgio. "Não considero o Stanislaw Ponte Preta um pseudônimo do Sérgio Porto e, sim, um heterônimo", explica Raquel Solange Pinto, doutorasacar pixbetLiteraturassacar pixbetLíngua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católicasacar pixbetMinas Gerais (PUC-Minas) e autorasacar pixbetEspaços da crônica: espetáculo e bastidores do Febeapá (2003).

"A personagem é construída com todo um histórico: tinha família, amigos e até datasacar pixbetnascimento: 22sacar pixbetnovembrosacar pixbet1955".

A "família" a que Raquel se refere era formada, entre outros membros, pela Tia Zulmira, uma senhora muito culta e inteligente; o Primo Altamirando, um típico mau-caráter, corrupto e autoritário; e Rosamundo das Mercês, um sujeito distraído, mas tão distraído que nasceusacar pixbetdez meses. No livro Dupla Exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta (1998), o jornalista Renato Sérgio explica que a criação foi "coletiva". Participaram dela, além do próprio Porto, o ilustrador do jornal Diário Carioca, Tomás Santa Rosa, e o crítico musical Lúcio Rangel. Cada um deles sugeriu um nome tomando como referência o personagem-títulosacar pixbetSerafim Ponte Grande (1933),sacar pixbetOswaldsacar pixbetAndrade (1890-1954).

"A irreverência é a arma do humorista"

Ao contrário do dramaturgo grego, Sérgio Porto nunca teve agentes do Dops batendo emsacar pixbetporta. "Ele não chegou a sofrer censura e perseguição simplesmente porque morreu antes,sacar pixbet30sacar pixbetsetembrosacar pixbet1968", explica o jornalista Luís Pimentel, organizadorsacar pixbetA Revista do Lalau (2008). "Foi a partirsacar pixbet13sacar pixbetdezembrosacar pixbet1968, quando o AI-5 foi decretado, que as coisas pioraram".

Censura ou perseguição, Sérgio Porto pode até não ter sofrido. Mas, tentativasacar pixbetenvenenamento, sim. Em julhosacar pixbet1968, ele estava apresentando o Show do Crioulo Doido no Teatro Ginástico, no Rio, quando, no camarim, sentiu um gosto amargo no café. Na mesma hora, vieram à lembrança as ameaças que estava recebendosacar pixbetrepresália ao espetáculo.

"O show não tem nada demais, a não ser suas irreverências. E ninguém puxa irreverência e atira. É armasacar pixbethumorista, não machuca tanto quanto cassetete na cabeça da Marília Pera ou pontapés na barrigasacar pixbetmoça grávida, como fizeram lásacar pixbetSão Paulo", declarousacar pixbetentrevista à revista Manchete,sacar pixbet10sacar pixbetagostosacar pixbet1968, referindo-se à invasão do Teatro Ruth Escobar,sacar pixbetSão Paulo,sacar pixbet18sacar pixbetjulhosacar pixbet1968, quando integrantessacar pixbetum grupo paramilitar chamado Comandosacar pixbetCaça aos Comunistas (CCC) agrediram o elenco da peça Roda Viva.

Jásacar pixbetcasa, Porto tomou um comprimido para dormir, mas,sacar pixbetvezsacar pixbetcair no sono, passou 30 horas acordado. Foi levado para um hospital. "Sérgio concedeu várias entrevistas, associando esse possível atentado a outros cometidos contra espetáculos teatrais no Rio esacar pixbetSão Paulo", relata a historiadora Dislane Zerbinatti Moraes, doutorasacar pixbetLiteratura Brasileira pela Universidadesacar pixbetSão Paulo (USP) e autorasacar pixbetO trem tá atrasado ou já passou: A sátira e as formas do cômicosacar pixbetStanislaw Ponte Preta (2003). "Esse atentado nunca foi devidamente investigado ou comprovado, mas podemos deduzir que houve, sim, uma reação dos militares à obra do Stanislaw como um todo".

Sérgio Porto morreusacar pixbet1968, aos 45 anos, vítimasacar pixbetum terceiro infarto. Em 2005, o jornalista Clóvis Rossi (1943-2019) declarou,sacar pixbetumasacar pixbetsuas colunas, que "se vivo fosse, Stanislaw teria hoje material para uns 500 festivais por dia, tal o nívelsacar pixbetbesteiras que caracteriza a política brasileira".

"O Febeapá continua mais vivo que nunca", endossa o historiador Hélio Dias da Costa, autorsacar pixbetStanislaw Ponte Preta e a desconstrução da imagem da ditadura: uma análise da representação satírica do Febeapá (2008). "Stanislaw continua vivo nos espetáculossacar pixbet'stand up comedy', nos canais interativossacar pixbethumor e até nos colunistassacar pixbetjornal, rádio e TV que atuam na desconstruçãosacar pixbetmitos. Era um mestre na artesacar pixbetaliar informação e humor, e oferecer denúncia sob a formasacar pixbetgracejo", diz.

Quinze anos depois da declaraçãosacar pixbetRossi, o ator e humorista Gregório Duvivier, apontado pelas filhassacar pixbetSérgio Porto como 'herdeiro literário' do pai, por fazer "uma crítica feroz da política e dos costumes", assina embaixo. "Sérgio Porto é um gigante. Foi com ele que entendi que humor político é redundância. Millôr Fernandes, que tive a sortesacar pixbetconhecer, falava dele comosacar pixbetum irmão. Os dois, ao lado do Nelson Rodrigues, formam a santíssima trindade do humor brasileiro. Que sorte a nossa!".

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