Da Baixada Fluminense à Califórnia: o jovem cientista brasileiro selecionado para estudar o coronavírus:luva bet ajuda

Crédito, Arquivo pessoal
Mas alémluva bet ajudaterminarluva bet ajudaescreverluva bet ajudatese sobre o chikungunya para defesa neste ano, Neris está apenas esperando acabar seu isolamento no quarto anexoluva bet ajudaum amigo, por conta da viagem internacional, para pesquisar também o novo coronavírus.
Ele foi um dos sete pesquisadores brasileiros selecionados para estudar a covid-19 com uma bolsa da Dimensions Sciences, uma organização fundada nos Estados Unidos pela brasileira Marcia Fournier, executiva na árealuva bet ajudabiotecnologia residindoluva bet ajudaWashington.
Com a bolsa, que tem duraçãoluva bet ajudatrês meses, Neris vai atuarluva bet ajudaduas frentes. Uma, a mais imediata, colocando a mão na massa e ajudando a processar testes moleculares que estão sendo feitos no Centroluva bet ajudaTriagem Diagnóstica para covid-19 criado pela UFRJ — afinal, a capacidadeluva bet ajudafazer e analisar testes tem sido um dos principais gargalosluva bet ajudatodo o país no combate ao coronavírus.
"Temos uma grande defasagemluva bet ajudatestes no Brasil. Os casos estão sendo subnotificados, já não conseguimos nem mais estimar muito o quão subnotificada é a situação no país", diz o jovem,luva bet ajudaentrevista à BBC News Brasil por telefone.
Na outra frente, o pesquisador, graduadoluva bet ajudaciências biológicas e mestreluva bet ajudamicrobiologia pela UFRJ, vai se debruçar sobre o coronavírusluva bet ajudalaboratório.
"Vou estudar a genética do vírus e suas mutações, mas também alterações observadas no indivíduo durante a infecção, como metabólicas e pulmonares. A ideia é entender como o vírus infecta célulasluva bet ajudadiferentes tecidos e por que há quadros tão diversos e às vezes tão graves —luva bet ajudaalguns, sem nenhum tipoluva bet ajudacomorbidade."
"Uma das linhas mais prováveis é que a infecção pelo coronavírus levaria a uma exacerbação da resposta imune. Ou seja, a infecção poderia causar uma inflamação muito grande, principalmente no tecido pulmonar, e esta inflamação seria extravasada para outros tecidos, causando diferentes manifestações."
Bolsa no ensino fundamental e escola pública no médio

Crédito, Arquivo pessoal
Muito antesluva bet ajudaprocurar como cientista respostas sobre o novo coronavírus, Rômulo se divertia na infância com os paleontólogos dos filmes e também catando bichos no quintalluva bet ajudacasa.
Com pai ferroviário e mãe auxiliar administrativa, que se formou mais tardeluva bet ajudapedagogia, ele lembra que dentroluva bet ajudacasa a conversa sempre foi franca sobre as condições para o investimento financeiro na educação dele e da irmã, hoje formadaluva bet ajudadireito.
No ensino fundamental, Rômulo estudouluva bet ajudauma escola particular com bolsa e, no ensino médio, foi para o Colégio Estadual Círculo Operário,luva bet ajudaCaxias. E,luva bet ajudarelação ao incentivo dos pais à leitura e ao estudoluva bet ajudacasa, este sempre foi integral, lembra.
De uma parceria entre a Secretarialuva bet ajudaEducação local e o Instituto Nacionalluva bet ajudaMetrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), veio a oportunidadeluva bet ajudafazer, durante o ensino médio, um curso técnicoluva bet ajudametrologia e qualidade industrialluva bet ajudaum turno, enquanto continuava frequentando normalmente a escola estadual no outro.
"Um amigo da família recomendou este curso técnico, eu li sobre e gostei bastante porque vi que teríamos aulas diversas,luva bet ajudafísica, química, elétrica, mecânica. E o curso me ajudou muito no preparo para entrar na faculdade, porque na minha época o pré-vestibular popular não era tão comum e minha família não tinha condiçõesluva bet ajudapagar um curso preparatório", conta Neris, que passaria então no vestibular regular da UFRJ.
Das escolas pelas quais passou, Neris lembraluva bet ajudaprofessores "inspiradores" que o incentivavam a seguir a carreira científica, e tambémluva bet ajudaestímulos no colégio estadual como aulasluva bet ajudareforço para o ensino técnico e olimpíadas internasluva bet ajudamatemática.
Fora do colégio, ele também participouluva bet ajudacompetições, ficando entre os melhores colocados da Olimpíada Brasileiraluva bet ajudaAstronomia e da Prova Brasilluva bet ajuda2009.
Esforço pessoal como 'catalisador'
Dos incentivos, bolsas e premiações emluva bet ajudatrajetória, Neris aponta que estes tiveram um papel motivacional, mas também material, para seguir estudando.
"Eu fiz uma provaluva bet ajudamatemática organizada pelo governo estadual do Rio que premiava com um notebook os 1.000 alunos com melhores notas, e eu fiquei entre os melhores colocados. E esse notebook foi o que eu usei para estudar nos meus dois primeiros anosluva bet ajudafaculdade."
"No final do ensino técnico, eu tive uma bolsaluva bet ajudaestágio — a minha primeira bolsa. Lembro que usei esse dinheiro para pagar o transporte, o almoço e outras despesas com a faculdade."
E sobre o debate recorrente na educação sobre méritos pessoais e incentivos externos, o cientista aponta que a equação é complexa.
"Quando comento minha trajetória, tem tanta coisa, tanto detalhe e evento paralelo que confluiu para onde estou que é impossível que eu atribua só ao meu mérito. Para começar, desde pequeno lembro dos meus pais investindo na minha educação da maneira que podiam, me incentivando a ler..."
"Tenho consciêncialuva bet ajudaque, se eu comparar minha trajetória com aluva bet ajudapessoas que cresceram comigo, estou numa posição singular considerando as oportunidades que eu tive. Mas eu não atribuo a maior parte desta minha história a meu mérito pessoal, nemluva bet ajudaperto."
"Posso dizer queluva bet ajudacerto modo o sucesso é proporcional ao esforço... O sucesso é consequência do esforço, na verdade. Mas não é o esforço que vai determinar o tamanho desse sucesso — este é completamente proporcional ao contexto. Isso é algo que muita gente não considera nessa equação, as pessoas acham que o esforço leva diretamente ao sucesso"
"Penso meu esforço como um catalisador, mas o sucesso é completamente dependente do contexto. Você pode ser fisicamente muito forte e trabalhar na construção civil a vida inteira, ou ser um lutador. Isso não depende do esforço da pessoa, mas do contexto."
Cientista no Brasil como 'eterno estudante'
Se no passado bolsas e prêmios contribuíram com passagensluva bet ajudaônibus e um notebook, para um doutorando, elas são como um salário.
Entretanto, apósluva bet ajudaexperiência nos Estados Unidos, onde foi bolsista do programa Fullbright, financiado pelo governo americano, Neris voltou com a impressão que o pós-graduando brasileiro é encarado como um "eterno estudante".
"O Brasil ainda lida, principalmente na ciência,luva bet ajudaum jeito muito amador com os pesquisadores. Quem faz mestrado, doutorado, quem está produzindoluva bet ajudalaboratório, é visto como um eterno estudante — e isso não é demérito aos estudantes, mas fazer ciência também é uma profissão."
"Para muitosluva bet ajudanós, a bolsa que recebemos é o nosso salário. Então, quando alguém me pergunta: 'como é estar sem bolsa'? Digo: é o equivalente a um jovemluva bet ajuda27 anos, a minha idade, que tem um emprego mas não recebe um salário."

Crédito, Divulgação/Kindallas
No início do doutorado, o pesquisador conta ter recebido por um período uma bolsa da Coordenaçãoluva bet ajudaAperfeiçoamentoluva bet ajudaPessoalluva bet ajudaNível Superior (Capes), do Ministério da Educação. Mas, tendo sido contemplado com a bolsa nos Estados Unidos, a bolsa do Brasil foi remanejada dentroluva bet ajudaseu programa.
Consultada pela reportagem, a Capes informou que o programaluva bet ajudapós-graduaçãoluva bet ajudaImunologia e Inflamação da UFRJ, do qual Neris é discente, teveluva bet ajuda2020 acréscimoluva bet ajudaoito bolsasluva bet ajudadoutorado e trêsluva bet ajudamestrado.
Hoje,luva bet ajudavolta ao Brasil, o pesquisador comemora a seleção para a bolsa da Dimensions Sciences, que envolve reuniões e relatórios periódicos sobre o andamento dos seus estudos. Com a pandemialuva bet ajudacoronavírus, ele também tem participado comluva bet ajudaorientadora, Iranaia Assunção Miranda, e seu grupoluva bet ajudapesquisa,luva bet ajudaprojetos especificamente sobre a nova doença,luva bet ajudaparceria com outros laboratórios e grupos da UFRJ.
Uma outra percepção que mudou na experiência nos Estados Unidos foi na questão racial. Hoje se identificando como preto, Neris reconhece que este foi um reconhecimento seu recente, depoisluva bet ajudamuitos anos se identificando como pardo.
"Percebi lá que é um assunto tratado mais abertamente do que no Brasil. Aqui, usamos outros termos, 'moreninho', 'pardo', mas no meu caso. euluva bet ajudafato me considero preto, depoisluva bet ajudater me inteiradoluva bet ajudadebates a respeito."
"Lá (nos EUA), vi muitas pessoas debatendo sobre representatividade negraluva bet ajudadiversos espaços, inclusive muitas pessoas que possivelmente não seriam consideradas negras pelo senso comum no Brasil. Exatamente porque a gente tende a fazer mais essa separação, essa subseparaçãoluva bet ajudacor."
Arboviroses e coronavírus
Ainda nos Estados Unidos, Neris viu o coronavírus provocar uma pandemia, e a partir daí, começou a estudá-lo.
É um vírus como muitos outros, mas também diferente dos arbovírus — aos quais se dedica há alguns anos e que não configuram uma classificação taxonômica, como um gênero ou espécie, mas um grupo genérico daqueles vírus transmitidos por insetos — como o mosquito Aedes aegypti — e aracnídeos.
"Sempre trabalhei com arboviroses: dengue, febre amarela, zika, chikungunya, o mayaro... Mas apesarluva bet ajudaserem causadas por vírus, as síndromes respiratórias são muito diferentes. Então, passei os últimos dois meses estudando bastante sobre a biologialuva bet ajudavírus respiratórios. Dentro da virologia, é todo um novo mundo."
O cientista explica diferenças, por exemplo, nos "sítiosluva bet ajudareplicação" — ou seja, os locaisluva bet ajudaque o vírus se replica.
"Nas arboviroses, na maior parte das vezes, o vírus replica nas camadas superficiais da pele, depois alcançando a corrente sanguínea e migrando para outros tecidos; já o coronavírus replica principalmente no epitélio do pulmão. Assim, o modo como as células respondem e morrem é diferente; o tempoluva bet ajudareplicação é outro."
"Só isso já é o suficiente para mudar toda a nossa abordagem para tratamentos", aponta, destacando também a diferença entre os principais transmissores nos dois casos, o mosquito e o próprio ser humano, no caso do coronavírus.
Em seu doutorado, o pesquisador focaluva bet ajudaum conjuntoluva bet ajudaproteínas presenteluva bet ajudamuitas das nossas células, o imunoproteassoma. Ele pode explicar por que muitos indivíduos infectados com chikungunya continuam sentido dor nas articulações e nos músculos mesmo depois do vírus não ser mais detectado no corpo.
"O imunoproteassoma tem várias funções, mas uma das principais é servir como um trituradorluva bet ajudalixo da célula. Temos encontrado evidênciasluva bet ajudaque,luva bet ajudauma infecção por chikungunya, o vírus causa uma ativação aberrante do imunoproteassoma, e com isso ele começa a perder o controle do que está degradando. Muito possivelmente começa a degradar coisas que são importantes para a própria célula infectada, mesmo depois da infecção controlada."
A importância da divulgação científica
A entrevista à BBC News Brasil não foi a primeira vez que o cientista precisou explicarluva bet ajudapoucas palavrasluva bet ajudateseluva bet ajudadoutorado. Em 2018, Neris foi semifinalista do FameLab Brasil, uma competiçãoluva bet ajudadivulgação científica organizada pelo British Councilluva bet ajudaque cientistas precisam explicarluva bet ajudapoucos minutos para uma plateia conceitos científicos.
Em fevereiro deste ano, Neris escreveu no Twitter sobre medidasluva bet ajudaprevenção contra o coronavírus e… viralizou. Suas mensagens foram retuitadas e curtidas dezenasluva bet ajudamilharesluva bet ajudavezes.
"Eu não esperava — acordei no dia seguinte, vi que tinha viralizado e muita gente estava mandando mensagens e dúvidas. Foi uma experiência muito legal."
"Foi um baque também, porque as coisas que eu escrevi nos tuítes eram simples para mim. Surpreendeu porque grande parte do que estava ali não eraluva bet ajudaconhecimento geral do público."
"Sempre procurei divulgar minhas pesquisas — quando tenho algum artigo publicado, faço alguma postagem nas minhas redes sociais resumindo o artigoluva bet ajudamaneira simples. Mas,luva bet ajudadois anos para cá, tenho entendido mais a divulgação científica como um dever da minha atribuição como pesquisador."

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