Chernobyl: como a União Soviética tentou esconder o maior acidente nuclear da história:cas da aposta

  • Lucía Blasco
  • Da BBC News Mundo
O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev (ao centro) ecas da apostaesposa Raisa Gorbacheva (à esq.) conversam com trabalhadores na usina nuclearcas da apostafevereirocas da aposta1989, pouco antes do desastre

Crédito, AFP

Legenda da foto, O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev (ao centro) ecas da apostaesposa Raisa Gorbacheva (à esq.) visitaram a usinacas da aposta1989

cas da aposta É difícil imaginar uma tragédia pior que acas da apostaChernobyl cas da aposta . Mas é ainda mais difícil compreender a ideiacas da apostacomo o alto escalão da União Soviética tentou evitarcas da apostatodas as formas que o maior acidente nuclear cas da aposta da história viesse à tona.

Quando o reator número quatro explodiu, espalhando nuvens radioativas no hemisfério norte da Terra, da Checoslováquia ao Japão, e liberando na atmosfera o equivalente a 500 bombascas da apostaHiroshima, o Partido Comunista da União Soviética tentou controlar informações para criarcas da apostaprópria versão dos fatos.

"Esconderam a gravidade do acidente desde o início e se recusaram a evacuar Kiev (capital da Ucrânia)", diz a jornalista Irena Taranyuk, do serviço ucraniano da BBC.

Irena era uma estudante e vivia na época na parte ocidental da antiga URSS. Ela se lembra do medo e da confusão que sentiu quando a notícia foi divulgada.

"Nós nos informávamos por meio do 'inimigo' - a mídia ocidental, como a BBC - sobre o que estava acontecendo. Enquanto isso, muitos jovens e colegas universitários foram enviados para trabalhar na zona como voluntários, sendo expostos à radiação."

A URSS não conseguiu conter as notícias por muito tempo. "Não foi possível encobrir algo tão grande quanto isso. Os rumores começaram a se espalhar como água", diz Taranyuk.

Três décadas depois, ainda não sabemos a extensão total da tragédia ou quantas pessoas exatamente morreramcas da apostacâncer oucas da apostaoutras doenças decorrentes - estima-se que sejam cercacas da aposta4 mil, mas este número pode ser maior.

Testemunhos, dados e históriascas da apostasobreviventes, juntamente com o trabalhocas da apostapesquisadores, nos contam hoje como tudo aconteceu. Também permitiram recriar na televisão o dramacas da apostaChernobylcas da apostauma aclamada minissériecas da apostaficçãocas da apostamesmo nome que acabacas da apostaestrear na HBO.

Mas vamos voltar aos fatos. O que exatamente aconteceucas da aposta26cas da apostaabrilcas da aposta1986 e como a antiga União Soviética tentou impedir que o mundo soubesse desse desastre?

Da negação à irresponsabilidade

Cenacas da aposta'Chernobyl'

Crédito, HBO

Legenda da foto, Vasily Ignatenko (Adam Nagaitis), um dos protagonistas da série da HBO, era um bombeiro recém-casado
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Eram 5h da manhã quando Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, recebeu um telefonema. Ele foi informadocas da apostaque havia ocorrido uma explosão na usina nuclearcas da apostaChernobyl, mas, aparentemente, o reator estava intacto.

"Nas primeiras horas e até mesmo no dia seguinte ao acidente, não se sabia que o reator havia explodido e que havia acontecido uma enorme emissãocas da apostamaterial nuclear na atmosfera", disse o próprio Gorbachev mais tarde.

O homem mais poderoso da URSS naquela época não viu necessidadecas da apostaacordar outros líderes políticos ou interromper seu fimcas da apostasemana para realizar uma reuniãocas da apostaemergência, explica o historiador ucraniano Serhii Plokhii no livro Chernobyl: the History of a Nuclear Catastrophe (Chernobyl: a Históriacas da apostauma Catástrofe Nuclear, em tradução livre 2018).

Em vez disso, ele criou uma comissão do governo liderada por Boris Shcherbina, vice-presidente do conselhocas da apostaministros, para investigar as causas da explosão. Enquanto isso, os cidadãos corriam perigo. Mas ninguém se atreveu a ordenar uma evacuação.

Cenacas da aposta'Chernobyl'

Crédito, HBO

Legenda da foto, O vice-presidente soviético Boris Shcherbina (interpretado na série por Stellan Skarsgård, à esq.) foi forçado a escolher entre a versão do Estado e os fatos

A primeira aproximaçãocas da apostahelicóptero, cercacas da aposta24 horas após a explosão, mostrou a magnitude da catástrofe. "Quando eles desembarcaram, ainda não estavam prontos para aceitar o que havia ocorrido", diz o historiador.

O próprio Shcherbina escreveucas da apostasuas memórias que tevecas da apostase forçar a assimilar o que seus olhos viam.

"No começo, eles estavamcas da apostaestadocas da apostachoque e negação, não queriam aceitar o que havia acontecido, não queriam se responsabilizar pelo que aconteceu", diz Plokhii, que também é diretor do Instituto Ucranianocas da apostaPesquisa da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

"Houve uma negação por parte daqueles que trabalhavamcas da apostaChernobyl e, além disso, era muito difícil dizer o que estava acontecendo sem se colocarcas da apostauma situação ainda mais perigosa."

Plokhii escrevecas da apostaseu livro que "à medida que os níveiscas da apostaradiação aumentavam, as autoridades ficavam cada vez mais nervosas, mas não tinham o podercas da apostadecidir pela evacuação". "O país levou 18 dias para falar sobre isso na televisão", acrescenta.

Imagemcas da apostaChernobylcas da aposta1990 feita a partircas da apostaum helicóptero

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Quando os cientistas e engenheiros viram a cena situação a partircas da apostaum helicóptero, eles entenderam que era muito grave

"A reação imediata foi esconder a tragédia e,cas da apostaseguida, tentar minimizar a quantidadecas da apostainformação publicada", diz Adam Higginbotham, autorcas da apostaMidnight in Chernobyl (Meia-noitecas da apostaChernobyl,cas da apostatradução livre, 2019), que reúne testemunhos sobre o desastre.

O escritor aponta que havia uma "dimensão psicológica" nessa negação inicial. "O evento foi tão catastrófico e a escala do desastre foi tal que nem mesmo especialistas bem treinados, que entendiam exatamente a energia nuclear, conseguiram assimilar o que estavam vendo", diz Higginbotham.

"É preciso entender que a escala do acidente era muito grande até mesmo para os soviéticos para não se deixar levar por estereótipos típicos sobre como funcionava a URSS. A história é mais complexa e complicada do que isso."

Armen Abagian, na época diretorcas da apostaum institutocas da apostapesquisacas da apostaenergia nuclear, disse a Shcherbina que a cidade tinhacas da apostaser evacuada. "Falei para ele que havia crianças correndo pelas ruas, gente colocando a roupa para secar no varal. E a atmosfera estava radioativa", teria afirmado Abagian, segundo o historiador Serhii Plokhii.

Mas a URSS avaliou que a retirada não era necessária. Ninguém queria assumir a responsabilidadecas da apostaordenar uma evacuação e, assim, fazer um mea culpa. Mas, enquanto a comissão pensava sobre o que fazer, as pessoas começavam a deixar a cidade.

Bombeiroscas da apostaChernobyl

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Os bombeiros foram os verdadeiros heróis da tragédia', diz o historiador Serhii Plokhii

O governo soviético não queria que as más notícias se espalhassem tão rapidamente quanto a radiação. Por isso, cortou as redescas da apostatelefonia, e os engenheiros e funcionários da usina nuclear foram proibidoscas da apostacompartilhar informações sobre o que aconteceu com seus amigos e familiares, explica Plokhii.

Não era a primeira vez que os soviéticos enfrentavam uma situação assim. "Houve um outro desastre nuclear (muito menor)cas da apostasetembrocas da aposta1957,cas da apostaKyshtym, nos Montes Urais, mas não havia nenhuma informação sobre isso", diz Plokhii. "Manter o silêncio era um protocolo padrão na URSS."

"Os americanos encontraram alguns sinaiscas da apostaque houve uma explosão e contaminação no primeiro desastre, mas não disseram nada porque eles próprios desenvolviam grandes planos nucleares e não queriam criar alarde."

Higginbotham também cita o acidentecas da apostaKyshtym, que os soviéticos conseguiram esconder com sucesso "Simplesmente adotaram a mesma abordagemcas da apostaChernobyl, mas, neste caso, a fronteira era mais próxima do Ocidente e a contaminação e seu alcance foram muito maiores."

Como o mundo descobriu?

"Foram os suecos que detectaram primeiro que algo estava errado e,cas da apostaseguida, alguns britânicos que trabalhavamcas da apostaoutra usina nuclear", diz Plokhii.

Higginbotham diz que os suecos começaram a perguntar às autoridades soviéticas se houve um acidente nuclear, "mas, mesmo naquele momento, eles continuaram negando que algo tivesse acontecido."

Na Suécia, altos níveiscas da apostaradiação foram detectados nos dias após o acidente cuja origem não tinha explicação.

"Autoridades europeis alertaram sobre o que estava acontecendo, e a URSS tevecas da apostadivulgar informações. Revelaram mais e mais coisas, mas apenas pela pressão do Ocidente", concorda Plokhii, que acrescenta que o contexto da Guerra Fria é essencial para entender como os fatos se desenrolaram.

O historiador diz que a "insatisfação" daqueles que viviam na URSS naquela época também desempenhou um papel fundamental. As pessoas estavam se informando sobre os fatos por meio da mídia estrangeira ecas da apostarumores - alguns corretos e outros não - e não por seu próprio governo.

"Levou semanas, meses e até mesmo anos até que, gradualmente, a verdade emergisse,cas da apostaparte porque eles capturaram correspondentes estrangeiros baseadoscas da apostaMoscou e os impediramcas da apostasair da cidade e se aproximar da zona do acidente", diz Higginbotham.

"Muitos desses jornalistas começaram a publicar qualquer informação que recebiam, mesmo que fossem rumores." Nos Estados Unidos, o jornal New York Post chegou a dizer que 15 mil pessoas haviam morrido, exatamente o oposto do que o governo queria.

Chernobylcas da aposta2015

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A mídia estrangeira pressionou a URSS a publicar informações sobre Chernobyl

"Eles não queriam que a população tomasse precauções", diz Irena. "Foi irônico que nos informássemos pela mídia estrangeira."

Mas Higginbotham diz que a história contada sobre Chernobyl no Ocidente é muitas vezes incompleta e que "muitas coisas que foram escritas são baseadascas da apostaideias pré-concebidas sobre como era a vida na URSS", deixandocas da apostalado a dimensão psicológica e humana daqueles que tomaram as decisões.

A quedacas da apostaum império

"Chernobyl está frequentemente ligado a mudanças estratégicas na União Soviética e aos primórdios dacas da apostaabertura política, o princípiocas da apostatudo estácas da apostaChernobyl", explica Plokhii.

O historiador diz que queria escrever sobre a tragédia que fez partecas da apostasua história pessoal. "Lembro-me do horror daqueles dias, não sabia o que ia acontecer e tentei reconstruir os fatos da melhor forma possível", diz Plokhii.

"A recontituição me fez concluir que houve realmente uma ligação direta entre Chernobyl e a queda da URSS."

Uma equipecas da apostatestescas da apostaradiação retornou à usina nuclear cinco anos após o acidente que destruiu o reator.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Chernobyl entrou para a história como o maior acidente nuclear

"A maneira como a União Soviética entroucas da apostacolapso não pode ser realmente entendida sem a históriacas da apostaChernobyl."

Higginbotham considera que este foi um momento-chave "na desintegração da URSS, não só pelo custo econômico ou pela crescente desconfiança das instituições pelos soviéticos, mas também por causacas da apostacomo isso mudou o próprio Gorbachev".

"O acidente revelou que Gorbachev corrompeu o império que havia herdado", diz ele.

"Mas a lição mais importante que Chernobyl nos deixa é o problemacas da apostaconfiar demais na tecnologia - as pessoas acreditavam que um acidente daquela escala era impossível mesmo após ter ocorrido - e também que uma cultura que nega evidências científicas e é baseadacas da apostamentiras e sigilo não é segura para ninguém."

Línea.

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