Entenda o que significa a Igreja Católica usar o termo LGBT oficialmente pela primeira vez:pokerstars freespins

  • Edison Veiga
  • De Milão para a BBC Brasil
Papa conversa com jovens

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A preparação para o sínodo teve a colaboraçãopokerstars freespinsjovenspokerstars freespinstodo o mundo

pokerstars freespins Pela primeira vez napokerstars freespinsmilenar história, a Igreja Católica pokerstars freespins usou o termo LGBTpokerstars freespinsum documento oficial.

Trata-se do Instrumentum Laboris, publicado na semana passada e que deve nortear as discussões e reflexõespokerstars freespinsbispos do mundo inteiro na 15a. Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que está marcada para acontecer entre os dias 3 e 28pokerstars freespinsoutubro, na Cidade do Vaticano.

Sínodo é um encontro que reúne representantes católicos do mundo todo para discutir um tema específico, determinado pelo papa. As discussões tratadas pelos religiosos são apresentadas ao pontíficepokerstars freespinsformapokerstars freespinsrelatório. Na sequência, ele reflete sobre elas e prepara um outro documento, chamadopokerstars freespinsexortação apostólica.

Francisco, que no último sínodo convidou os bispos a se debruçarem sobre a questão da família na sociedade contemporânea, desta vez quer um encontro que trate sobre a juventude. E a preparação ocorreupokerstars freespinsuma maneira bastante contemporânea: 15 mil jovenspokerstars freespinstodo o mundo, tanto católicos quanto não católicos, responderam a longos questionáriospokerstars freespinsseis grupos distintos no Facebook.

Além disso, outros 300 jovens, tambémpokerstars freespinsvárias partes do mundo, foram convidados a debater, ao longopokerstars freespinsuma semanapokerstars freespinsmarço, presencialmente,pokerstars freespinsum evento realizadopokerstars freespinsRoma, o chamado encontro pré-sinodal. Doutorandopokerstars freespinsciências sociais da Pontifícia Universidade Gregoriana, o brasileiro Filipe Domingues,pokerstars freespins31 anos, foi um deles.

"O encontro começou com um discurso inicial do papa. Em seguida, os participantes se reunirampokerstars freespinspequenos grupos linguísticos, grupospokerstars freespinsno máximo 20 pessoas. Foi assim que respondemos aos questionários e refletimos sobre as questões da juventude hoje", recorda-se ele. "Com base nisto, uma comissão redatora, da qual eu fiz parte, preparou um relatório final."

Este relatório foi uma das fontes utilizadas pelo Vaticano para preparar o documentopokerstars freespinstrabalho, o Instrumentum Laboris, que será utilizado pelos bispospokerstars freespinsoutubro.

Acolhimento

O documento foi estruturadopokerstars freespinstrês partes, levandopokerstars freespinsconsideração o que querem os jovens dentro da igreja. A primeira parte é um reconhecimento da realidade da juventude atual. Em seguida vem a interpretação do significado dessa realidade e, por fim, quais devem ser os caminhos escolhidos pela igreja diantepokerstars freespinstal cenário.

De acordo com o documento, os jovenspokerstars freespinshoje buscam uma "igreja autêntica", que brilhe por "exemplaridade, competência, corresponsabilidade e solidez cultural". A juventude quer uma igreja "transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa, acessível, alegre e interativa", "menos institucional e mais relacional, capazpokerstars freespinsacolher sem julgar previamente, amiga e próxima, acolhedora e misericordiosa".

Papa Francisco fala com bispos

Crédito, Reuters

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O papa Francisco, que no último sínodo convidou os bispos a se debruçarem sobre a questão da família na sociedade contemporânea, desta vez quer um encontro que trate sobre a juventude

As sondagens pré-sinodais também identificaram uma aversão que a igreja provocapokerstars freespinsmuitos jovens, que apontam a instituição como algo que "incomoda e irrita". Os escândalos sexuais recentes, com casospokerstars freespinspedofilia, foram apontados.

Para o Vaticano, sete "chaves" devem ser utilizadas no acolhimento dos jovens: escuta, acompanhamento, conversão, discernimento, desafios, vocação e santidade.

Questão LGBT

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No campo moral, há uma grande distância entre os valores da Igreja Católica e o que pensam os jovens. O documento ressalta que "os ensinamentos da igreja sobre questões controversas, tais como contracepção, aborto, homossexualidade, coabitação e casamento são fontespokerstars freespinsdebate entre os jovens, dentro da igreja e fora dela".

A última parte do documento traz considerações a respeito da inserção e do acolhimento aos homossexuais. E aí está o ineditismo do documento. Ao afirmar que "alguns jovens LGBT desejam se beneficiar com maior proximidade e se sentir amparados pela igreja", o Vaticano usa, pela primeira vez, a sigla preferencial da comunidade gay. No passado, a igreja costumava usar a expressão "pessoas com tendências homossexuais".

Em seu pontificado, Francisco tem buscado um diálogo mais acolhedor. E, não raras vezes, referiu-se a esse grupo simplesmente como gays -pokerstars freespinsentrevistas e declarações públicas. Nos documentos, a menção passou a ser apenas "homossexuais".

Em coletivapokerstars freespinsimprensa realizada no Vaticano na semana passada, o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do escritório do Sínodo do Vaticano, disse que a escolha pela sigla LGBT foipokerstars freespinsvirtudepokerstars freespinster sido este o termo mais citado pelos jovens nos encontros pré-sinodais, e seu escritório teria optado por respeitar o trabalho dos jovens.

Um dos relatores do documento pré-sinodal, o brasileiro Domingues, acredita que o uso da sigla é uma questão menor dentropokerstars freespinsum contexto mais amplopokerstars freespinsacolhimento epokerstars freespinsacompanhamento. "Acompanhamento no sentidopokerstars freespinsque a igreja precisa ir ao encontro das pessoas, da realidade delas,pokerstars freespinsonde elas estão. Não importa se elas estão seguindo os padrões desejados ou não pela igreja", comenta ele,pokerstars freespinsentrevista à BBC News Brasil.

"Se é casado, se é divorciado e casadopokerstars freespinssegunda união, se pode participar disso ou daquilo... Essas respostas antigas é que estão mudando. Acompanhamento é encontrar o espaçopokerstars freespinscada um na igreja", diz ele.

"Na minha opinião, o uso do termo LGBT não foi pela intençãopokerstars freespinstrazer uma agenda para a discussão. Sei que algumas pessoas criam uma teoria da conspiraçãopokerstars freespinscima disso", comenta. "O termo foi usado porque é o termo que os jovens usam, é popular, e é assim que uma comunidade ampla se autodefine. Muda alguma coisa? Muda na ideiapokerstars freespinsque é uma linguagem mais aberta ao diálogo. Se a igreja colocasse 'jovens que vivem o problema da homossexualidade', por exemplo, já iria apresentar isso como um problema, como uma negativa, fechando o diálogo. A intenção foi usar uma linguagem aberta,pokerstars freespinsacolhimento. Vejo com naturalidade."

Bandeira LGBT

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Ao afirmar que jovens LGBT desejam se beneficiar com maior proximidade e se sentir amparados pela igreja, o Vaticano usa, pela primeira vez, a sigla preferencial da comunidade gay

Para o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católicapokerstars freespinsSão Paulo (PUC-SP), a explicação está no "realismo pastoral" que Francisco trouxe para a igreja. "Não se tratapokerstars freespinsmudar os princípios, maspokerstars freespinsprocurar soluções para os problemas que não estão sendo enfrentados com sucesso. Nesse sentido pode-se entender que textos emanados do Vaticano incluam termos usados no contexto atual, como LGBT e gênero. Isso evidentemente tem um efeito na reflexão e, espera-se. na prática", diz ele, à BBC News Brasil.

"Existe, entre jovens do mundo todo, um desencanto com o modopokerstars freespinsvida da sociedade moderna. Muitos movimentos católicos souberam responder a esse desencanto e têm obtido muito sucesso junto aos jovens, reafirmando os valores cristãos tradicionais. Contudo, uma grande parte da juventude está fora desse processo. Não se identificam com os valores hegemônicos na cultura atual, mas também não são alcançados pelas propostas católicas", analisa Ribeiro Neto. "Esse realismo pastoralpokerstars freespinsFrancisco deve direcionar o Sínodo justamente no sentidopokerstars freespinsfalar com esses jovens."

Autor do livro Building a Bridge: How the Catholic Church and the LGBT Community Can Enter into a Relationship of Respect, Compassion, and Sensitivity (Construindo uma ponte: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem ter uma relaçãopokerstars freespinsrespeito, compaixão e sensibilidade,pokerstars freespinstradução livre) e consultor do Vaticano, o padre jesuíta americano James Martin viu com entusiasmo o documento. "Lembre-se que, até alguns anos atás, nem a palavra gay era usada. Papa Francisco começou a fazê-lo. Agora vemos o termo LGBT", afirma, à BBC News Brasil. "É um sinal claropokerstars freespinsque o Vaticano está escutando mais atentamente este grupopokerstars freespinspessoas, respeitando-as como elas querem ser chamadas."

"O uso do termo LGBT mostra que a igreja está ouvindo mais atentamente essa comunidade", prossegue. "Em vezpokerstars freespinso Vaticano os chamarpokerstars freespinshomossexuais ou atraídos pelo mesmo sexo, há um respeito suficiente para que eles sejam chamados da maneira como pedem para o serem. Isso é respeito. Indivíduos e grupos têm o direitopokerstars freespinsserem chamados pelos nomes que escolheram, e não pelos nomes que os outros decidiram usar."

Sínodo

Papa Franciscopokerstars freespinscoletivapokerstars freespinsimprensa

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Cerca 300 jovens foram convidados a debater, ao longopokerstars freespinsuma semana, o chamado encontro pré-sinodal

O sínodo ocorrepokerstars freespinsoutubro. Os bispos convocados, representantes do mundo todo, devem ser chamadospokerstars freespinsagosto. Como costuma acontecer, o Vaticano também convida pessoas leigas que tenham a ver com o temapokerstars freespinsdiscussão - ou seja, nesta ano, jovens. Essas pessoas são tratadas como observadoras mas,pokerstars freespinsdeterminados momentos da assembleia, são ouvidas pelos bispos para que eles saibam exatamente como elas se sentem.