Antes dos portugueses, SP teve floresta tropical, Cerrado e mini-Pantanal:bónus premier bet

  • João Fellet - @joaofellet
  • Da BBC Brasilbónus premier betBrasília
Mapabónus premier betSP antes da colonização
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A BBC Brasil elaborou um mapa inédito da flora paulistana original marcada pela diversidadebónus premier betbiomas antes da colonização | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

bónus premier bet Antes da chegada dos portugueses, quem caminhasse alguns quilômetros pelo território da atual cidadebónus premier betSão Paulo poderia cruzar florestas tropicais com bromélias, orquídeas e árvoresbónus premier betaté 45 metrosbónus premier betaltura, campos cerrados com espéciesbónus premier bettroncos grossos e galhos retorcidos, araucárias e arbustos típicos da região Sul e várzeasbónus premier betrios que lembravam o Pantanal.

A extraordinária variedade da flora nativa -bónus premier betparte moldada pelos indígenas que habitavam a área e hoje confinada a poucas ilhas na zona urbana - atraía para a região um conjunto igualmente diversobónus premier betanimais, entre os quais onças-pintadas, tucanos-de-bico-verde, micos-leões-pretos e veados-catingueiros.

A partirbónus premier betrelatos históricos,bónus premier betestudos do botânico Ricardo Cardim ebónus premier betinformações etimológicas, a BBC Brasil produziu um mapa inédito das formações vegetaisbónus premier betSão Paulo antes da colonização. A ilustração, a cargo do artista Leandro Lopesbónus premier betSouza, busca recriar a paisagem contemplada da colina onde,bónus premier bet25bónus premier betjaneirobónus premier bet1554, padres jesuítas celebraram a missa que passou para a história como o atobónus premier betfundação da cidade.

Segundo Cardim, daquele morro, na confluência dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, tinha-se "uma das melhores vistas do Brasil".

"São Paulo era um local extraordinário porque justamente havia essa contraposiçãobónus premier betcampos, florestas, rios produtivos e muita caça - não por acaso os índios escolheram viver aqui", afirma o pesquisador, que está finalizando um livro sobre a vegetação original da cidade.

Cerrado e araucárias
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Cerrado e araucárias eram parte da vegetação paulistana | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, ou seja, um pontobónus premier betencontrobónus premier betdiferentes biomas. Cardim diz que havia na cidade trechos da Mata Atlântica, vegetação característica do litoral brasileiro,bónus premier betmatas mistasbónus premier betaraucárias, bioma típico do Sul, e do Cerrado, formação predominante no Centro-Oeste.

Ele afirma ainda que nos cerrados paulistanos se achavam plantas do Pampa, bioma do Rio Grande do Sul, e que as várzeas dos rios Tietê e Pinheiros - os maiores da cidade - se assemelhavam ao Pantanal mato-grossense.

A localizaçãobónus premier betSão Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidadebónus premier betbiomas. Também contribuírambónus premier betvariedadebónus premier betsolos e topografia irregular (a diferença entre o ponto mais alto da zona urbanizada da cidade, a Vila Mariana, e as águas do Tietê chega a 109 metros, segundo um estudo do geógrafo Aziz Ab'Sáber).

Garça vermelha
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Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Moldada por incêndios

Quando os primeiros exploradores portugueses venceram a Serra do Mar, encontraram na futura capital paulista três aldeias indígenas, do povo Tupiniquim.

Em Negros da terra: índios e bandeirantes nas origensbónus premier betSão Paulo, o historiador americano John Manuel Monteiro conta que os povoados não eram fixos: conforme o solo empobrecia e a caça rareava, as comunidades buscavam outras áreas.

Segundo o botânico Ricardo Cardim, sucessivos incêndios - naturais e provocados pelos indígenas - ajudam a explicar a presençabónus premier betcerrados na paisagem original paulistana. O fogo impedia o adensamento da vegetação e favorecia a sobrevivênciabónus premier betárvores resistentes, com troncos grossos, típicas do bioma.

Cardim diz que os indígenas recorriam ao fogo para abrir clareiras para roças, encurralar animais na caça ou renovar a vegetação campestre. A rebrota atraía herbívoros, entre os quais cervos, que também eram caçados pelos grupos.

Animais da antiga fauna paulistana
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A extraordinária variedade da flora nativa atraía para a região um conjunto igualmente diversobónus premier betanimais, entre os quais onças-pintadas, tucanos-de-bico-verde, micos-leões-pretos e veados-catingueiros | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

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Os incêndios comiam as bordas das florestas e as deixavam com formato circular - daí, segundo o botânico, o nome do bairro Capão Redondo, na zona sul da cidade. Havia muitos outros capões (do tupi kaa'pãu, ilhabónus premier betmato) pelo território.

No início do século 17, a fauna local ainda parecia bem preservada. Segundo o pesquisador, moradores eram alertados sobre os riscosbónus premier betcaminhar nas vias paulistanas "porque havia onças que comiam gente".

Dizia-se que várias delas moravam na serra da Cantareira e desciam até a várzea do Tietê para caçar. Há relatos sobre a presença dos felinos até na região da atual avenida Paulista, então coberta por uma floresta densa, chamada pelos indígenasbónus premier betcaaguaçu (matagal,bónus premier bettupi). Um trecho da antiga mata deu origem ao Parque Trianon, um dos raros locais na zona urbana que preservam a vegetação original.

Outra áreabónus premier betmata fechada ficava no vale do Anhangabaú, no atual centro da cidade, onde índios escravizados costumavam buscar refúgio. Dessa floresta, nada restou.

Mapa
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| Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Árvores-bairros

Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram. A primeira espécie, comum nas matas ciliares paulistanas, atraía antas ao frutificar e batizou um bairro da região central.

A segunda, hoje restrita à região Sul e a algumas serras do Sudeste, se espalhava por todos os biomas da cidade. Resistente a incêndios brandos e importante para a alimentação dos indígenas, que consumiambónus premier betsemente, o pinhão, a árvore é a razão por trás do nome do bairro Pinheiros.

Outros endereços paulistanos com nomesbónus premier bettupi dão pistas sobre a riqueza das paisagens nativas, conforme o dicionário tupi-portuguêsbónus premier betLuiz Caldas Tibiriçá (curiosamente, também se chamava Tibiriçá o cacique da antiga aldeia Inhapuambuçu, nas imediações do atual Pateo do Colégio).

Murici
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Ilustraçãobónus premier betuma murici; hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevivebónus premier betapenas três faixasbónus premier betterra na zona oeste | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber. M'Boi Mirim, atual estrada na zona sul, é uma possível derivaçãobónus premier betmboia mirim, cobra pequena.

Ibirapuera pode vir da junçãobónus premier betybyrá, árvore, e puera, sufixo que indica passado, algo "que foi" - possível menção ao charco com troncos secos (que já foram árvores) onde se criou o principal parque da cidade, drenado após o plantiobónus premier beteucaliptos australianos.

Reproduçãobónus premier betantiga paisagem paulista
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Localizaçãobónus premier betSão Paulo favoreceu a diversidadebónus premier betbiomas e a presença do jerivá | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Ipiranga, cujas margens plácidas ouviram o brado retumbante, é rio vermelho - e que, como tantos outros cursos d'água paulistanos, foi canalizado conforme a cidade crescia.

O bioma paulistano mais golpeado pela urbanização foi o Cerrado, que, segundo Cardim, se estendia por boa parte da cidade atual, incluindo trechos dos bairros do Ipiranga, Bela Vista, Luz, Butantã, Vila Mariana e a região do aeroportobónus premier betCongonhas.

Araucária
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Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

A formação foi descrita no fim do século 16 por um antepassado do botânico - e que, embora padre, deixou herdeiros no Brasil -, o jesuíta português Fernão Cardim. Em visita à então vilabónus premier betPiratininga, embrião da São Paulo contemporânea, ele comparou a vegetação à do país natal.

"É terrabónus premier betgrandes campos e muito semelhante ao sítiobónus premier betÉvora, na boa graça, e campinas, que trazem cheiabónus premier betvacas, que é formosurabónus premier betver", descreveu numa carta ao superior eclesiástico. "Esta terra parece um novo Portugal", concluiu, encantado.

Hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevivebónus premier betapenas três faixasbónus premier betterra na zona oeste - duas delas na Cidade Universitária e uma no Jaguaré.

Uma boa amostra da formação original está no Parque Estadual do Juquery, no município vizinhobónus premier betFranco da Rocha. Para Cardim, trata-se da "última joia incrustada (na região metropolitanabónus premier betSão Paulo) que conserva o cerrado perfeito", onde se encontram espécies como pequizeiros, palmeiras macaúbas e muricis.

Cambucis
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Mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais; na imagem, cambucis | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Floresta cultural

Ao longo do desenvolvimentobónus premier betSão Paulo, as árvores nativas foram cedendo espaço não só para construções, mas também para espécies exóticas. Hoje,bónus premier betacordo com Cardim, 90% das plantas da cidade são estrangeiras.

"Somos como aqueles cariocas que há cem anos andavambónus premier betcartola e casacobónus premier betpele na beira da praia porque queriam ser franceses. O paulistano, no que se refere ao paisagismo e às áreas verdes, quer ser tudo, menos brasileiro."

Por isso, diz o botânico, mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais.

Jabuticabeira
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No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, um pontobónus premier betencontrobónus premier betdiferentes biomas; acima, jabuticabeira | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza

Ele afirma que as antigas áreasbónus premier betCerrado seriam sufocadas por capins estrangeiros e que não haveria mais incêndios para manter o equilíbrio do bioma.

Com o tempo, diz ele, a cidade seria tomada por uma floresta densa - "mas não uma Mata Atlântica natural, e sim uma floresta cultural, que refletiria nossas escolhas enquanto sociedade e serviria como um registro da nossa passagem por aqui".

Floresta
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A localizaçãobónus premier betSão Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidadebónus premier betbiomas | Ilustração: Leandro Lopesbónus premier betSouza