MEC quer proibir novos cursosganhe betmedicina. Mas o Brasil tem mais médicos do que precisa?:ganhe bet

Médicosganhe betambiente hospitalar

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Legenda da foto, Apesarganhe betvir aumentando o númeroganhe betmédicos recém-formados, o Brasil ainda diploma menos profissionais que países europeus

De acordo com o MEC, a mudança sequer passaria pelo Congresso Nacional. A novidade passaria a valer por um mero decreto do presidente da República. O documento, contudo, ainda precisa ser elaborado e assinado pelo presidente Michel Temer (PMDB).

Brasil versus Europa

Apesarganhe betvir aumentando o númeroganhe betmédicos recém-formados, o Brasil ainda diploma menos profissionais que países europeus - mas já passou nações como Estados Unidos e Canadá. De acordo com cálculos feitos a partir das projeções do estudo Densidade Médica no Brasil, o país teráganhe bettornoganhe bet10,6 novos graduandos por 100 mil habitantes nesse ano.

No bloco europeu, esse índice eraganhe bet12,4 novos médicos para cada 100 mil habitantesganhe bet2015,ganhe betacordo com a Eurostat. Já nos EUA e no Canadá naquele ano, a taxa eraganhe bet6,5 e 7,3, respectivamente.

Simulaçãoganhe betatendimento médicoganhe betPorto Alegre
Legenda da foto, Ainda há muitas regiões do país com deficitganhe betmédicos | Foto: Prefeitura Municipalganhe betPorto Alegre

Pelas projeçõesganhe betnovos formandos no Brasil, o índiceganhe betnovos diplomados deve crescer nos próximos anos e,ganhe bet2020, chegar a 15 médicos por 100 mil habitantes. Apesar do aumento, o número ainda ficará distanteganhe betpaíses como a Dinamarca que,ganhe bet2015, tinha 23 graduandos por 100 mil habitantes, segundo a Eurostat.

Para o ex-ministro da saúde Arthur Chioro, que atuou no governo federal durante a implantação da lei Mais Médicos, o Brasil ainda está atrásganhe betpaíses desenvolvidos com sistemas gratuitosganhe betsaúde quanto à taxaganhe betestudantes e médicos por grupos da população.

"Há uma discussãoganhe betque o Brasil tem muitas faculdadesganhe betmedicina. Mas o númeroganhe betvagas por 10 mil habitantes é consistente. Se comparar a nossa realidade com a dos países da OCDE, nossa situação é crítica", diz Chioro, que hoje atua como docente do Departamentoganhe betMedicina Preventiva da Unifesp,ganhe betSão Paulo.

Na média, Brasil e OCDE estão próximos - o grupo tinha 10,2 novos médicos por 100 mil habitantesganhe bet2015. Contudo, a taxa variava entre países da organização: enquanto a Áustria tinha um índiceganhe bet19,9 médicos diplomados por 100 mil habitantes, a França tinha 6. Nesse último, não há sistema universalganhe betsaúde.

Notas ruins

Apesar do crescimento das vagasganhe betmedicina, o ensino médico não avançou, afirmam profissionais ouvidos para a reportagem. Para alguns, a queda na qualidade está na expansão rápida da redeganhe betuniversidades, sem a devida fiscalização. Para outros, a crise está na especialização precoce dos estudantes, que saem da faculdade sem uma formação generalista.

Resultados do último exame realizado pelo Cremesp (Conselho Regionalganhe betMedicina do Estadoganhe betSão Paulo) ilustram a crise atual. Em 2016, mais da metade (56,4%) dos médicos recém-graduados que prestaram a prova da instituição reprovaram. Entre os alunosganhe betescolas privadas, a reprovação chegou a 66%.

De acordo com o relatório do Cremesp, participantes erraram questões básicasganhe betmedicina. Oitoganhe betcada dez que fizeram a prova não souberam interpretar um exameganhe betradiografia e erraram a conduta terapêuticaganhe betpaciente idoso. A prova não impede que alunos reprovados tirem o registro profissional.

"O curso médico tem passado por uma crise mesmo", afirma Cláudia Bacelar, professora do Departamentoganhe betMedicina Preventiva e Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA). "A nossa formação é hospital-cêntrica, estamos fazendo uma especialização precoce dos médicos. Quando eles passam por avaliações mais abertas,ganhe betque você espera o conhecimento mínimo para o exercício médico, os alunos vão muito mal", afirma.

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Legenda da foto, Em 2016, mais da metade dos recém-graduados que prestaram a prova do Cremesp reprovaram

Para o médico Luís Fernando Correa, membro do Fórum Saúde do Colégio Brasileiroganhe betExecutivosganhe betSaúde (CBEXS), organização que reúne executivos do setor, a deficiência no ensino médico está diretamente ligada à aberturaganhe betcursosganhe betuniversidades que nem sempre possuem hospital universitário e programasganhe betresidência médica para complementar a experiência acadêmica com a prática.

"Medicina não é só títuloganhe betprofessor, é laboratório e hospital universitárioganhe betqualidade. Hoje, faculdades não possuem tomógrafo, uma máquinaganhe betressonância", afirma. "Na cidade do Rioganhe betJaneiro você não tem uma faculdadeganhe betmedicina que você diz serganhe betexcelência. As universidades públicas, que eram conhecidas pelaganhe betqualidade, estão falidas", aponta.

Uma análiseganhe bet2015 do CFM sobre a estrutura das escolasganhe betfuncionamento no país naquele momento mostrou que, dos 194 municípios com uma graduação para formar médicos, 63% não tinham nenhum hospital universitário.

Embora a lei Mais Médicos condicionasse a aberturaganhe betnovos cursos à implantaçãoganhe betprogramasganhe betresidência médica, eles estão paralisados. "As vagasganhe betresidência médica estão estagnadas, as que estão sendo abertas são do programa saúde da família. As vagas estão basicamente congeladas", diz Ribeiro, do CFM.

Ainda faltam médicos

Apesar do avanço do númeroganhe betgraduandos, o desabastecimentoganhe betmédicos continuaganhe betregiões periféricas eganhe betáreas inteiras do SUS, principalmente a atenção primária, afirma Mário César Scheffer, professor do departamentoganhe betmedicina preventiva da Universidadeganhe betSão Paulo (USP) e coordenador do estudo Demografia Médica no Brasil.

Para ele, é preciso repensar a captação do médico para o serviço público e evitar a evasão para os serviços privados. Dados do estudo coordenado por ele revelam que apenas 21,6% dos médicos atuantes no país estão exclusivamente no setor público. Na outra ponta, 26,9% estão exclusivamente no setor privado - que atende somente um quarto da população. A maioria (51.5%) transita entre os dois setores.

O paradoxo é que, enquanto forma mais médicos, o Brasil não conseguiu canalizá-los para os locais onde há carênciaganhe betassistência médica.

"Faltam médicosganhe betvários pontos do Brasil. A própria população sente essa falta, é um diagnóstico que levou à decisãoganhe betabrir mais escolas médicas. Mas o fatoganhe betexistir mais médico por meio da aberturaganhe betescolas não significa que esses médicos irão para onde o sistemaganhe betsaúde precisa mais desses profissionais", afirma Scheffer.

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Legenda da foto, Colaçãoganhe betgrauganhe betformandos no Ceará: Brasil tem hoje 291 universidadesganhe betMedicina | Foto: UFC

Dos médicos que estão no setor público, 26% estão na atenção primária,ganhe betprogramasganhe betsaúde da família, unidades básicasganhe betsaúde e prontos-socorros. Na secundária, onde estão os especialistas, como cardiologistas, endocrinologistas e oftalmologistas, há somente 5% dos médicos que atuam no setor público.

Para o pesquisador, o desinvestimento na saúde - cuja verba deve retrair 9%ganhe bet2018, segundo a organização Contas Abertas - deve piorar a situação.

"Não vai adiantar formar médicos se estamos encolhendo o SUS, se as prefeituras estão fechando leitos, encolhendo serviçosganhe betsaúde, se a rede pública não expande. Não adianta só uma políticaganhe betaberturaganhe betcursos, não será por transbordamento que colocaremos médicos onde eles estãoganhe betfalta", afirma.

De acordo com o MEC, a suspensão proposta não afetará os editais jáganhe betandamento e os novos cursos autorizadosganhe betagosto desse ano não serão revogados. Também não afetará os editais previstos para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Se escolas não forem fechadas, a projeção é que,ganhe bet2020, haja cercaganhe bet530 mil médicos atuantes no país - uma médiaganhe bet15 diplomados por 100 mil habitantes, próximo do índice da Holanda, que registrava 14,9 formandos por 100 mil habitantesganhe bet2015.