'Não se priorizou o combate à fome no Brasil', diz representante da FAO no país:afun bonus de cadastro
Segundo o mexicano, que ocupa o posto máximo da FAO/ONU no Brasil desde o finalafun bonus de cadastro2018, o problema do Brasil não éafun bonus de cadastroescassezafun bonus de cadastroalimentos como outras partes do mundo, mas simafun bonus de cadastrodesigualdade.
Zavala afirma que o país foi protagonistaafun bonus de cadastrouma das campanhas mais bem-sucedidas contra a insegurança alimentar do mundo, quando,afun bonus de cadastro2014, reduziu a proporçãoafun bonus de cadastrocidadãos que passam fome para 1,7% da população, ou 3,4 milhõesafun bonus de cadastrohabitantes, e superou o problema da pobreza extrema.
No entanto, abandonou nos últimos anos práticas importantes que contribuíram para esse cenário, como investimentos no salário mínimo e na geraçãoafun bonus de cadastroempregos.
"O país sabe como fazer para mudar essa situação", diz o mexicano.
Zavala concedeu entrevista à BBC News Brasil por ocasiãoafun bonus de cadastrosua participação nesta quinta-feira (30/06) na Conferênciaafun bonus de cadastroSegurança Internacional do Forteafun bonus de cadastroCopacabana, evento da áreaafun bonus de cadastrosegurança internacional idealizado pela Fundação Konrad Adenauer, Delegação da União Europeia e Centro Brasileiroafun bonus de cadastroRelações Internacionais.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Diversas pesquisas recentes revelaram uma piora significativa na condição da fome no Brasil. Uma delas falaafun bonus de cadastro33,1 milhõesafun bonus de cadastrobrasileirosafun bonus de cadastroinsegurança alimentar, ou 15,5% da população. Como o senhor avalia a atual situação?
afun bonus de cadastro Rafael Zavala - O estudo citado mediu o númeroafun bonus de cadastropessoas entrevistadas que disseram que, emafun bonus de cadastropercepção, passaram fomeafun bonus de cadastroalgum momento. Isso quer dizer que não existem atualmente 33 milhõesafun bonus de cadastropessoas passando fome ao mesmo tempo. Mas,afun bonus de cadastroqualquer maneira, é uma cifra assustadora.
Podemos dizer que existem atualmente dois bolsõesafun bonus de cadastropobreza no Brasil: as cidades grandes e as zonas rurais mais afastadas e incomunicáveis,afun bonus de cadastroque uma interrupção do fluxoafun bonus de cadastroabastecimento pode gerar condiçõesafun bonus de cadastroinsegurança alimentar grave.
Por outro lado, fica muito claro que o Brasil teve uma das experiências mais bem-sucedidas, não só na América Latina mas no mundo,afun bonus de cadastrocombate à fome há cercaafun bonus de cadastro15 ou 20 anos. Ou seja, o país sabe como fazer para mudar essa situação.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Qual foi a fórmula utilizada que contribuiu para essa experiência bem-sucedida? Como ela deve ser adaptada para o momento atual?
afun bonus de cadastro Zavala - Foram seguidas cinco grandes prioridades. A primeira delas foiafun bonus de cadastrocombate à fomeafun bonus de cadastrotodo o país. A segunda e terceira foram o aumento do salário mínimo e o investimento na geraçãoafun bonus de cadastroempregos. Em seguida, se fortaleceu os programasafun bonus de cadastromerenda escolar, cozinhas e restaurantes comunitários.
A quinta e última prioridade foiafun bonus de cadastropromoção e inclusão da agricultura familiar nas compras públicas, que implicouafun bonus de cadastroestabilidade para muitas famílias queafun bonus de cadastrooutra maneira teriam migrado para os centros urbanos.
Desses cinco pontos, somente os dois últimos continuam estáveis atualmente. Não se priorizou o combate à fomeafun bonus de cadastronível nacional nos últimos anos. Manteve-se o investimentoafun bonus de cadastroprogramasafun bonus de cadastroalimentação e promoçãoafun bonus de cadastroagricultura familiar, mas isso não foi suficiente, como ficou muito claro.
A estratégia para o próximo governo, seja ele qual for, precisa ser na direçãoafun bonus de cadastropriorizar o combate à fomeafun bonus de cadastrotodo o país, alémafun bonus de cadastrocontinuar com o maior investimento para geraçãoafun bonus de cadastroempregos e fortalecimentoafun bonus de cadastroprogramasafun bonus de cadastroinclusão social.
O problema no Brasil e na América Latina não éafun bonus de cadastrodisponibilidadeafun bonus de cadastroalimentos, mas simafun bonus de cadastrodesigualdade, pobreza e faltaafun bonus de cadastrorenda.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - A pandemiaafun bonus de cadastrocovid-19 piorou a situação?
afun bonus de cadastro Zavala - Sim, a pandemia deu uma grande sacudidaafun bonus de cadastromuitos setores. Quando se decretou o confinamento e as escolas foram fechadas, por exemplo, muitas crianças ficaram sem seu alimento principal do dia.
O auxílio emergencial foi um esforço notável, mas não foi suficiente e muitas pessoas passaram fome - calcula-se cercaafun bonus de cadastro20 milhões no primeiro ano da pandemia. Mas a covid-19 também provocou inflação, que significou preços mais altosafun bonus de cadastropraticamente tudo.
Além disso, boa parte da população brasileira se ocupa na economia informal e viu seus ingressos para alimentação diminuírem na pandemia. Elas então passaram a comprar
alimentosafun bonus de cadastromenor qualidade, mais ultraprocessados e menos proteína, frutas, e verduras, levando a uma má nutrição. E esse problema se traduzafun bonus de cadastroobesidade.
Então um segundo desafio, além da fome, é promover dietas mais saudáveis e ao mesmo tempo garantir que as famílias tenham renda suficiente para poder adquirir uma dieta saudável. Esse é um dos grandes desafios, não só do Brasil, mas da América Latina como um todo.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - O governo brasileiro poderia ter agidoafun bonus de cadastroforma diferente para evitar ou minimizar os impactos da pandemia na insegurança alimentar?
afun bonus de cadastro Zavala - Posso imaginar que, há cinco anos, o problema da fome estava mais concentrado no Norte e Nordeste do Brasil. Então é possível que tenha havido uma interpretaçãoafun bonus de cadastroque tratava-se apenasafun bonus de cadastroum problema regional. Mas essa realidade mudou e esse tema precisa ser uma prioridade nacional agora.
Além disso, a fome não é uma tarefa somente do governo, mas também da sociedade civil, dos governos estaduais e das prefeituras, sobretudo no caso do Brasil, que é o país mais descentralizado da América Latina.
O Rioafun bonus de cadastroJaneiro, por exemplo, tem um plano municipalafun bonus de cadastrosegurança alimentar que gosto muito, com esquemasafun bonus de cadastrocozinhas econômicas e o Prato Feito, voltado para as populações mais vulneráveis. E esse exemplo não é único.
Sou testemunhaafun bonus de cadastroprogramasafun bonus de cadastrorestaurantes comunitários e outros esquemas similaresafun bonus de cadastroBelo Horizonte, no Distrito Federal e outras cidades que precisam ser melhor promovidos.
Mas a única cifra aceitávelafun bonus de cadastrofome no Brasil é zero.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Ao que mais o senhor atribuiria a piora nos dados?
afun bonus de cadastro Zavala - Há um contexto globalafun bonus de cadastrocrise. Dizemos que há geralmente quatro grandes causas por trás da fome: conflitos armados, crise econômica, choque climático e epidemias. As quatro estão acontecendo simultaneamente no mundo hoje.
Nos últimos cinco anos, retrocedemos 10 anosafun bonus de cadastrotermosafun bonus de cadastrodadosafun bonus de cadastrofome. Entre 2016 e 2021, o númeroafun bonus de cadastropessoasafun bonus de cadastrosituaçãoafun bonus de cadastroinsegurança alimentar cresceu 80%. Desses, 72% estãoafun bonus de cadastropaíses com conflito armado e 16%afun bonus de cadastropaíses com conflito econômico severo. Os demais 12% são causados pelo choque climático, especialmente pelos grandes períodosafun bonus de cadastrosecas registrados na África e Ásia.
Também é importante mencionar a invasão da Ucrânia pela Rússia, que gerou uma distorção logística global, aumentoafun bonus de cadastropreços e inflação. Neste exato momento, 350 navios cargueiros estão atracados no portoafun bonus de cadastroOdessa cheiosafun bonus de cadastrogrãos e fertilizantes, insumos estratégicos para produzir alimentos, que iriam para todo mundo, mas não estão chegando.
O próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, admitiu que países como Iêmen, Somália e Sudão do Sul, que dependem da produçãoafun bonus de cadastrotrigo da Ucrânia, podem sofrerafun bonus de cadastro"fome múltipla".
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Um estudo da Embrapa, a Empresa Brasileiraafun bonus de cadastroPesquisa Agropecuária, mostrou que o Brasil é responsável pela alimentaçãoafun bonus de cadastrocercaafun bonus de cadastro800 milhõesafun bonus de cadastropessoasafun bonus de cadastrotodo o mundo com o seu agronegócio. Ao mesmo tempo, a insegurança alimentar não paraafun bonus de cadastrocrescer. Ao que o senhor atribui essa contradição?
afun bonus de cadastro Zavala - Ao fatoafun bonus de cadastroque o país não tem um problemaafun bonus de cadastrodisponibilidadeafun bonus de cadastroalimentos, mas simafun bonus de cadastroacesso econômico a eles.
O Brasil é conhecido como 'celeiro do mundo' ou 'cestaafun bonus de cadastropães' do mundo porafun bonus de cadastroproduçãoafun bonus de cadastroalimentos,afun bonus de cadastroespecialafun bonus de cadastrogrãos. Mas eu gostoafun bonus de cadastrochamá-loafun bonus de cadastro'locomotiva alimentar mundial'. Ou seja, os alimentos já existem, estão disponíveis, mas não são acessíveis para famílias que têm rendas mínimas.
A América Latina tem 650 milhõesafun bonus de cadastrohabitantes e produz comida para alimentar o dobro da população, mas o grande desafio é fazer com que esses alimentos cheguem aos lares. E é por isso que temos que trabalhar pela geraçãoafun bonus de cadastrorenda.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Em termosafun bonus de cadastroprodução agropecuária, quais são os desafios que o Brasil tem pela frente?
afun bonus de cadastro Zavala - São dois grandes desafios. O primeiro é que o Brasil é uma locomotiva alimentar mundial, mas que utiliza combustível produzido a 12 mil quilômetrosafun bonus de cadastrodistância. A maior parte dos fertilizantes e dos insumos agrícolas utilizados no país vem da Bielorrússia, Ucrânia, Rússia e norte da África É preciso diminuir essa dependência e investirafun bonus de cadastroum movimento regional, pois países como Argentina e Chile sofrem do mesmo mal.
O segundo grande desafio está no fatoafun bonus de cadastroque, diferentementeafun bonus de cadastrooutras locomotivas alimentares como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Índia e China, o Brasil fica muito perto do coração da biodiversidade planetária. Ou seja, o obstáculo é gerar uma estratégiaafun bonus de cadastroagricultura verdadeiramente sustentável, com desmatamento zero, para alimentar uma população com fome zero.
afun bonus de cadastro BBC News Brasil - Houve uma grande repercussão aqui no Brasil quando o país saiu do Mapa Mundial da Fome da ONUafun bonus de cadastro2014. Onde o país se encontra nesse momento?
afun bonus de cadastro Zavala - O Mapa da Fome da ONU não existe mais. Ele era baseado nos Objetivosafun bonus de cadastroDesenvolvimento do Milênio (ODMs), estabelecidosafun bonus de cadastro2000, que foram substituídos pelos Objetivosafun bonus de cadastroDesenvolvimento Sustentável - e com a mudança mudamos a formaafun bonus de cadastrocomunicar os dados.
Mas vale destacar que, se o Mapa ainda existisse, o Brasil estaria dentro no momento atual. Eram listados os países com maisafun bonus de cadastro5% da populaçãoafun bonus de cadastrocondiçãoafun bonus de cadastroinsegurança alimentar - que é o caso do Brasil hoje.
- Este texto foi publicadoafun bonus de cadastrohttp://www.mi-rob.com/brasil-62004074
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