O futebol brasileiro está embranquecendo?:jogo do foguetinho blaze
- João Fellet - @joaofellet
- BBC News Brasiljogo do foguetinho blazeSão Paulo

Crédito, CBF
jogo do foguetinho blaze Pelé, Garrincha, Leônidas da Silva, Romário, Neymar… é longa a listajogo do foguetinho blazeatletas negros que fizeram do Brasil o país mais vitorioso no futebol mundial.
Porém, para a filósofa Sueli Carneiro, os tempos são outros.
"Você pega o campeonato francês: é uma profusãojogo do foguetinho blazegente preta como você não vê mais aqui no Brasil, que é o tal do futebol pentacampeão, e que foi pentacampeão graças aos jogadores negros", disse a filósofa no podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown,jogo do foguetinho blaze26jogo do foguetinho blazemaio.
Segundo Carneiro, que é um dos principais nomes do movimento negro brasileiro e raramente concede entrevistas, jovens negros vêm sendo substituídos no futebol por meninos brancosjogo do foguetinho blazeclasse média.
Mano Brown perguntou então à filósofa se o futebol teria deixadojogo do foguetinho blazeser "o sonhojogo do foguetinho blazeconsumo da molecada negra", ao que Carneiro rebateu: "eles não deixaramjogo do foguetinho blazedesejar futebol, eles têm sido gradativamente excluídos".
A falajogo do foguetinho blazeCarneiro, doutorajogo do foguetinho blazeFilosofia pela USP e fundadora do Geledés - Instituto da Mulher Negra, ecoou nas redes sociais.
Mas o que pessoas do universo futebolístico pensam sobre a opinião? O futebol brasileiro está embranquecendo?
A BBC fez a pergunta a quatro pessoas que trabalham com futebol dentro ou fora dos campos.
A resposta unânime foi que sim, os negros estão perdendo espaço no esporte símbolo nacional.
As divergências se deram quanto ao grau do fenômeno: enquanto alguns avaliam que ele se restringe a estádios e categoriasjogo do foguetinho blazebase, um ex-jogador já vê efeitos desse processo na seleção brasileira atual (leia mais abaixo).

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Esportejogo do foguetinho blazebrancos e imigrantes
Quando chegou ao Brasil,jogo do foguetinho blaze1895, o futebol era um esporte praticado principalmente por brancos. Na primeira metade do século 20, vários jogadores da seleção eram filhosjogo do foguetinho blazeimigrantes europeus.
Com o tempo, no entanto, o futebol e a seleção se tornaram multirraciais.
Desde a Copajogo do foguetinho blaze1950,jogo do foguetinho blazemaior ou menor grau, atletas negros vestiram a camisa brasileirajogo do foguetinho blazetodos os Mundiais. Alguns, como Pelé, Garrincha e Romário, foram os destaquesjogo do foguetinho blazeequipes que se sagraram campeãs.
É possível, porém, que negros percam o protagonismo no futebol brasileiro no futuro, segundo comentaristas entrevistados pela BBC News Brasil.
Eles disseram que a mudança na forma com que meninos são selecionados pelos clubes têm deixado as equipes juvenis mais elitizadas e, consequentemente, mais brancas.
No passado, muitos jovens jogadores vinhamjogo do foguetinho blazecampos nas periferias das cidades, onde eram identificados por olheiros a serviço dos clubes. Foi assim que muitos meninos negrosjogo do foguetinho blazefamílias pobres conseguiram chegar a grandes times e se destacar no esporte.
Hoje, no entanto, os entrevistados afirmam que cada vez mais clubes têm buscado atletasjogo do foguetinho blazeescolasjogo do foguetinho blazefutebol particulares, que cobram mensalidades dos alunos. A mudança, segundo os analistas, tem favorecido meninosjogo do foguetinho blazeclasse média, cujas famílias têm condiçõesjogo do foguetinho blazepagar as escolas e são majoritariamente brancas.

Crédito, CBF
Alimentação ruim
O ex-jogador Edinaldo Batista Libânio, o Grafite, cita à BBC outro fator que estaria excluindo do esporte muitos meninos negros pobres: a má qualidade da alimentação.
Hoje comentaristajogo do foguetinho blazefutebol, Grafite diz que jovens que não comem direito na infância chegamjogo do foguetinho blazepiores condições físicas às "peneiras", os processosjogo do foguetinho blazeseleção dos clubes. E hoje, segundo ele, as equipes consideram a forma física mais importante do que a habilidade ao escolher jovens atletas.
O ex-jogador diz ter notado um sinal "gritante" do desequilíbrio na formação física dos atletas na última Copa São Paulojogo do foguetinho blazeFutebol Júnior, principal competição nacional para jogadores com até 20 anosjogo do foguetinho blazeidade.
Segundo ele, o desempenho físicojogo do foguetinho blazeequipes do Sul e Sudeste no torneio foi muito superior ao dos times do Nordeste, cujos atletas tinham origens mais pobres.
Grafite se tornou um símbolo do combate ao racismo no futeboljogo do foguetinho blaze2005, quando acusou o zagueiro argentino Leandro Desábatojogo do foguetinho blazechamá-lojogo do foguetinho blaze"negritojogo do foguetinho blazemierda" durante uma partidajogo do foguetinho blazeSão Paulo.
O zagueiro, que negou a ofensa, chegou a ficar dois dias preso no Brasil antesjogo do foguetinho blazevoltar à Argentina.

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Embranquecimento dos estádios
O comentaristajogo do foguetinho blazefutebol Paulo Cesar Vasconcellos menciona outro público do futebol que estaria vivendo um "processojogo do foguetinho blazeembranquecimento": as torcidas nos estádios.
Ele afirma que muitos campos reformados para receber a Copajogo do foguetinho blaze2014 deixaramjogo do foguetinho blazereceber pessoas mais pobres, muitas delas negras.
Foi o caso do Maracanã: as obras eliminaram a chamada "geral", setor da arquibancada com ingressos mais baratos e que costumava abrigar grande númerojogo do foguetinho blazenegros.
"Veja como a modernização do futebol é perversa: a partir do momentojogo do foguetinho blazeque os estádios foram repaginados e se tornaram mais bem cuidados, entendeu-se que eles não podiam mais ter o pobre", diz Vasconcellos.
E a seleção?
Se há concordância entre os entrevistados quanto ao embranquecimento dos estádios e categoriasjogo do foguetinho blazebase, há divergências quanto ao alcance desse fenômeno entre as equipes profissionais.
Para Marcelo Medeiros Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, jovens negrosjogo do foguetinho blazebaixa renda continuam chegando aos clubesjogo do foguetinho blazefutebol graças aos olheiros.
Ele diz que esses profissionais podem ter perdido espaço com o avanço das escolinhasjogo do foguetinho blazefutebol, mas não desapareceram. "O olheiro, talvez inconscientemente, ainda olha para esse menino negro e acha que vai descobrir um novo Pelé, um novo Romário", afirma.

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Paulo Cesar Vasconcellos também acha que a elitização nas categoriasjogo do foguetinho blazebase ainda não produz efeitos visíveis no futebol brasileiro profissional.
"Tanto é que o maior nome do futebol no mundo no momento é um jovem negrojogo do foguetinho blazefamília humilde chamado Vinicius Jr.", afirma o comentarista, referindo-se ao jogador brasileiro que se tornou um dos destaques do Real Madrid, da Espanha, e deverá estar na seleção brasileira na próxima Copa.
Vasconcellos avalia ainda que "por ora não há um processojogo do foguetinho blazeembranquecimento da seleção". "A maioria dos jogadores ainda vemjogo do foguetinho blazeclasses mais baixas e tem na profissãojogo do foguetinho blazejogador a salvação da família".
A possibilidadejogo do foguetinho blazeascender socialmente pelo futebol, aliás, é um elemento que distingue o futebol masculino do futebol feminino no quesito racial, diz Renata Mendonça, comentaristajogo do foguetinho blazefutebol e cofundadora do Dibradoras, veículo que enfoca as mulheres do esporte.
Ex-jornalista da BBC, Mendonça diz que, como o futebol feminino nunca ofereceu boas perspectivasjogo do foguetinho blazecarreira no Brasil, muitas atletas profissionais dependeram do apoio financeiro da família para permanecer no esporte.
E como negros são maioria entre os mais pobres, diz a comentarista, "é possível que muitas meninas negras tenham tido que abandonar o esporte por não terem condiçõesjogo do foguetinho blazeseguir bancando seu sonho".

Crédito, CBF
Pele mais clara
Já para o ex-jogador Grafite, a elitização das categoriasjogo do foguetinho blazebase já produz efeitos no futebol profissional e na própria seleção brasileira.
Presente na Copajogo do foguetinho blaze2010, ele afirma que, "considerando o plantel geral, o númerojogo do foguetinho blazenegros vem diminuindo" na seleção, e "jogadoresjogo do foguetinho blazepele clara vêm sendo predominantes".
O ex-jogador diz ainda que o tomjogo do foguetinho blazepele dos jogadores negros da seleção tem clareado ao longo das última décadas, algo que ele atribui à "miscigenação" da população brasileira no período.
Na seleção que venceu a Copajogo do foguetinho blaze1970, por exemplo, havia vários negros retintos (de pele mais escura) - casojogo do foguetinho blazePelé, Zé Maria, Joel e Everaldo.
Hoje, negros com esse tomjogo do foguetinho blazepele se tornaram mais raros na seleção principal e na olímpica. Esta última, por abrigar emjogo do foguetinho blazemaioria jogadores com até 23 anosjogo do foguetinho blazeidade, tende a indicar qual será a cara da seleção principal no futuro.

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Pretos retintos
Para o jornalista esportivo Marcos Luca Valentim, um dos membros do Ubuntu Esporte Clube, podcast que busca trazer uma "visão afrocentrada" do esporte, quanto mais escuro é o tom da pelejogo do foguetinho blazeuma pessoa no Brasil, "mais chances ela temjogo do foguetinho blazesofrer racismo ejogo do foguetinho blazeter oportunidades negadas".
O fenômeno é conhecido entre pesquisadores e ativistas do movimento negro como "colorismo".
"Pessoas pretas retintas têm menos possibilidadejogo do foguetinho blazeentrar nas categoriasjogo do foguetinho blazebase não porque os clubes não as queiram, mas porque, por este ser um problema estrutural, terão menos acesso ao transporte e a outras condições para chegar às peneiras", diz Valentim.
Mesmo que consigam entrar no esporte, essas pessoas tendem a ser mais discriminadas ao longo da carreira e receber apelidos pejorativos, segundo o jornalista.
Mas não só pretos retintos sofrem tratamento discriminatório no futebol brasileiro.
Jájogo do foguetinho blaze1964, o jornalista Mário Filho escreveujogo do foguetinho blazeseu clássico O Negro no Futebol Brasileiro que as duras críticas que três jogadores negros (Barbosa, Juvenal e Bigode) receberam após a derrota do Brasil na Copajogo do foguetinho blaze1950 eram um sinal do racismo entre os brasileiros.
Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, diz que é comum se atribuir o fracassojogo do foguetinho blazeum jogador negro "à questão da noite, da malandragem, das mulheres". Já a derrocadajogo do foguetinho blazejogadores brancos raramente é associada a essas causas, diz Carvalho.
E num momentojogo do foguetinho blazeque há cada vez mais jogadores estrangeiros nos clubes brasileiros, Carvalho questiona por que há tão poucos atletas africanos no Brasil, ainda que eles tenham grande espaço nos clubes europeus. "A África manda jogadores para o mundo inteiro, menos para o Brasil", diz Carvalho.

Crédito, Getty Images
Manifestações contra o racismo
Para Marcos Luca Valentim, do Ubuntu Esporte Clube, uma esfera do futebol brasileirojogo do foguetinho blazeque negros jamais entraram é a dos dirigentesjogo do foguetinho blazeclubes e federações. Essa faltajogo do foguetinho blazenegros no topo, segundo ele, tende a desencorajar atletas negros a protestar contra o racismo.
"Clubes que se comportem como empresas podem achar problemático ter atletas com atitudes contestatórias", diz o apresentador.
"Os negros proporcionam o show, mas quem gere o show são os brancos", afirma Valentim.
Paulo Cesar Vasconcellos também critica a ausênciajogo do foguetinho blazenegros na estruturajogo do foguetinho blazecomando do futebol brasileiro.
"Temos vários técnicos estrangeiros no futebol brasileiro, mas quantos técnicos negros temos na série A? Só um. E dirigentes? E médicos negros entrandojogo do foguetinho blazecampo?", questiona.
"A estrutura é toda branca, e aos negros sempre restaram os postosjogo do foguetinho blazemassagista, cozinheiro, faxineiro, roupeiro", afirma o comentarista.
"O futebol é um território no qual o negro é só péjogo do foguetinho blazeobra, nada mais."

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