As técnicas agrícolas capazesbet bbbreduzir dependência do Brasil por fertilizantes:bet bbb

Crédito, Governo da Bahia
No livro "A Artebet bbbGuardar o Sol - Padrões da Natureza na reconexão entre florestas, cultivos e gentes" (ed. Bambual), lançadobet bbb2021, Steenbock lista várias dessas práticas.
Uma delas é o faxinal, sistema presente no Paranábet bbbque animais (principalmente porcos) são criadosbet bbbmeio à florestabet bbbaraucárias, alimentando-se do pinhão ebet bbboutros frutos nativos.
Outro é a cabruca, na Bahia, na qual a mata é raleada para o cultivobet bbbcacaubet bbbmeio a outras árvores,bet bbbcondições mais próximas ao ambiente original da espécie.

Crédito, Governo do PR
Ele afirma que, embora sejam comprovadamente eficientes, muitas dessas práticas ainda não são reconhecidas pela agronomia tradicional como agriculturas - por isso ele as chamabet bbb"agriculturas invisíveis".
Outros desses métodos são vistos como "atrasados", diz Steenbock. É o caso da coivara, técnica amplamente difundida entre comunidades rurais e indígenas brasileiras, na qual abrem-se clareiras na mata com auxílio do fogo e se cultivam espécies perenes como a mandioca, a batata-doce e o inhame.
As roças são depois abandonadas até que a floresta se regenere, enquanto uma nova clareira é abertabet bbboutro lugar.
Steenbock diz que,bet bbbcomum, essas técnicas usam a "diversidade e a abundância da biomassa vegetal como base para a fertilidade do sistema produtivo".
Ainda que "invisíveis", as técnicas têm permitido que muitos agricultores brasileiros produzam alimentos sem recorrer a adubos químicos, afirma o agrônomo.
Além disso, diz ele, conceitos presentes nessas agriculturas têm sido adotados inclusive por alguns setores do agronegócio, reduzindo impactos ambientais e permitindo ganhosbet bbbprodutividade.
É o caso, por exemplo, da chamada Integração Lavoura-Pecuária (ILP), na qual culturas como soja e milho são consorciadas com pastagens e,bet bbbcertos casos, com linhasbet bbbárvores.
De 2005 a 2021, segundo a Embrapa (Empresa Brasileirabet bbbPesquisa Agropecuária), a área onde a ILP é praticada passoubet bbb2 milhõesbet bbbhectares para 17,4 milhões.
Outro exemplo são as técnicas agroflorestais incorporadas por grandes empresas como o Grupo Pãobet bbbAçúcar (no cultivobet bbbalimentos orgânicos) e a fabricantebet bbbpneus Michelin (na produçãobet bbbborracha a partirbet bbbseringueiras).

Crédito, Governobet bbbTocantins
Agricultura familiar
Dados do último Censo Agropecuário, divulgadobet bbb2017 pelo IBGE (Instituto Brasileirobet bbbGeografia e Estatística), indicam que uma eventual redução na ofertabet bbbfertilizantes teria impactos bastante desiguais nas diferentes formasbet bbbagricultura praticadas no país.
Segundo o Censo, 70% dos estabelecimentos rurais brasileiros não usam fertilizantes químicos. O número é puxado pela agricultura familiar, que responde por 77% dos estabelecimentos rurais no país e é composta por pequenas propriedades.
Nessas unidades, 69,1% dos agricultores relataram não usar adubos químicos, e 11,7% disseram usar só adubos orgânicos.

Crédito, Governo do RN
Embora ocupe só 23% da área agrícola do país, a agricultura familiar tem participação significativa na produçãobet bbbalimentos que vão para a mesa dos brasileiros, segundo o IBGE.
O segmento responde, por exemplo, por 48% do valor da produçãobet bbbcafé e banana, 80% do valorbet bbbprodução da mandioca, 69% do abacaxi e 42% do feijão.
Por outro lado, fertilizantes químicos são um dos pilares da produçãobet bbblarga escalabet bbbcommodities agrícolas como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão - produtos que respondem pela maior parte do valor da produção vegetal no país.
Em entrevista recente à BBC, o pesquisador da Embrapa Solos José Carlos Polidoro afirmou que essas quatro culturas respondem por 90% dos fertilizantes consumidos no Brasil.
Revolução Verde

Crédito, Governo da BA
O usobet bbbfertilizantes cresceu no país com a chegada da chamada Revolução Verde - um conjuntobet bbbtécnicas agrícolas desenvolvidas nos EUA e na Europa a partir dos anos 1930 e hoje presentes no mundo todo.
Uma das principais técnicas difundidas foi o usobet bbbfertilizantes químicos, extraídos principalmente por mineração e processados por indústrias.
Os três principais são o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K), também chamadosbet bbbNPK, conforme suas iniciais na tabela periódica.
Para os adeptos da Revolução Verde, corrente hoje majoritária nas faculdadesbet bbbAgronomia do país, os solos brasileiros são naturalmente pobresbet bbbnutrientes e precisambet bbbfertilizantes para produzirbet bbbforma satisfatória.
Na entrevista à BBC, José Carlos Polidoro, da Embrapa, afirmou que esse é o caso especialmente do Cerrado, "onde estão nossos melhores solos para agricultura — (eles) têm muita água, são solos profundos, planos, mas têm essa limitação naturalbet bbbnutrientes, que é algo próprio da natureza tropical".
Dependênciabet bbbimportações

Crédito, Casa Civil do PR
Com o conflito entre Rússia e Ucrânia, porém, o fornecimentobet bbbfertilizantes ao Brasil se tornou incerto.
Responsável por 23% das importações brasileirasbet bbbadubos químicos, a Rússia orientou suas empresas a suspender as exportações dos itens após sofrer uma sériebet bbbsanções internacionais.
A instabilidade jogou os preços dos produtos para os valores mais altos da história e estimulou o governo brasileiro a buscar outros países que possam ampliar as vendas ao Brasil no curto prazo.
Em outra frente, o governo anunciou um plano para reduzirbet bbb85% para 60% a fatia ocupada por fertilizantes importados no país nos próximos 30 anos.
O plano tem como principal objetivo ampliar a produçãobet bbbfertilizantes no Brasil e inclui o Projetobet bbbLei 191/20, que autorizaria a mineraçãobet bbbterras indígenas.
'Recursos finitos'
A iniciativa do governo foi elogiada por entidades do agronegócio, mas duramente criticada pela Associação Brasileirabet bbbAgroecologia (ABA).
Em nota, a associação diz que o aumento da produçãobet bbbfertilizantes no Brasil não resolveria o que ela considera um problema central desse modelobet bbbagricultura:bet bbbdependência por recursos naturais finitos.
A ABA cita estimativasbet bbbque nos próximos 50 a 100 anos as reservas mundiaisbet bbbfósforo se esgotarão ou terão custosbet bbbexploração inviáveis.

Crédito, EmaterDF
Afirma ainda que os fertilizantes nitrogenados são produzidos industrialmente com o usobet bbbgás natural ou nafta, combustíveis fósseis associados ao aquecimento global.
"Se este modelo agrícola não garante condiçõesbet bbbexistência para as gerações futuras, ele não é sustentável", diz a associação.
Solos pobres?
Ex-presidente da ABA e professora aposentada do Departamentobet bbbSolos da Universidade Federalbet bbbViçosa, a agrônoma Irene Maria Cardoso afirma à BBC que é plenamente possível produzir alimentos no Brasil sem recorrer a fertilizantes químicos.
Para isso, diz ela, primeiro se deve combater a noçãobet bbbque os solos brasileiros são pobres.
"Se você analisar os 20 primeiros centímetrosbet bbbsolo, a quantidadebet bbbnutrientes disponíveis é pouca. Acontece que nossos solos são muito profundos, então os nutrientes estão lá, mas estão dispersos", afirma.

Crédito, Governo do ES
Essa característica, diz ela, não impede que esses solos sejam cultivados nem produzam alimentosbet bbbabundância. Basta que nele se preservem suas condições naturais, como a existênciabet bbbárvores com raízes extensas, que acessem os nutrientes nas profundezas e os levem para suas folhas e galhos.
Assim, quando essas plantas soltarem folhas ou forem podadas, os nutrientes voltarão à superfície do solo, podendo ser absorvidos por espécies com raízes mais curtas que o agricultor deseje cultivarbet bbbmeio às árvores.
O funcionamento do sistema também exige que a atividade biológica do solo seja intensa. Afinal, segundo Cardoso, são microorganismos que vivem no solo - como bactérias e fungos - os principais responsáveis por reciclar a matéria orgânica, garantindo que as plantas obtenham os nutrientesbet bbbque precisam.
A agrônoma afirma que esses seres e suas complexas interações permitiram o surgimentobet bbbalguns dos ecossistemas mais ricos do globo, como a Amazônia e o Cerrado,bet bbbsolos que a agronomia tradicional considera pobres.

Crédito, Governobet bbbSP
Mas ela diz que o sistema entrabet bbbcolapso quando o solo é transformado por técnicas agrícolas modernas, como o revolvimento por máquinas pesadas, o usobet bbbagrotóxicos e o monocultivo.
As novas condições prejudicam a atividade biológica: revirado, o solo fica ressecado e compactado. Com a remoçãobet bbbárvores, cai a quantidadebet bbbmatéria orgânica para alimentar os microorganismos.
E, com a destruiçãobet bbbplantas vistas como "daninhas", o solo fica exposto a ventos e chuvas.
As plantas passam então a precisarbet bbb"suplementos" que reponham os nutrientes absorvidos pela safra anterior ou perdidos pela erosão.
Transição gradual
Para Cardoso, há formasbet bbbsuavizar a transição para outro modelo agrícola, substituindo gradualmente fertilizantes químicos por adubos orgânicos.
Ela defende que resíduos domésticos produzidos nas cidades, como restosbet bbbalimentos e árvores podadas, sejam direcionados para a agricultura.
Diz ainda que subprodutos da construção civil, como pósbet bbbrochas gerados pela extraçãobet bbbgranito ou gnaisse, têm nutrientes valiosos e já são usados com bons resultados por muitos agricultores.
"Não trabalhamos com ideiabet bbbromper com esse modelobet bbbum dia pro outro. O importante é que as coisas caminhem na direção correta", afirma Cardoso.
Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), porém, o Brasil não tem como abrir mão dos fertilizantes químicos nem substituí-los por outros produtos no curto prazo.
Em entrevista à BBC, o diretor técnico adjunto da entidade, Reginaldo Minaré, diz que a busca por fontes alternativas aos fertilizantes químicos é bem-vinda.
Afirma ainda que a produçãobet bbbfertilizantes orgânicos - como estercos e compostos - pode ser ampliada no país, "mas não tem a escala do que seria preciso para resolver a safra do final do ano".
Além disso, ele afirma que essas alternativas precisam ser "economicamente viáveis".
"Precisamosbet bbbuma abordagem profissional até chegarmosbet bbbuma modelagem que permita a produção desses itensbet bbbgrande escala e que não encareça os alimentos", diz Minaré.
O diretor da CNA cita técnicas que já vêm sendo adotadas nos últimos anos por setores do agronegócio para proteger a vida nos solos e reduzir a necessidadebet bbbfertilizantes.
Uma delas é o chamado plantio direto, na qual as sementes são plantadas sobre a palha da safra anterior. O método, bastante difundido entre produtoresbet bbbsoja, evita que os solos fiquem expostos entre a colheita e a semeadura, alémbet bbbampliar a quantidadebet bbbmatéria orgânica disponível.
Outra tecnologia adotada por sojicultores é a inoculaçãobet bbbbactérias capazesbet bbbfixar o nitrogênio do ar no solo. Segundo a Embrapa, a técnica permite ao Brasil economizar cercabet bbbUS$ 8 bilhões ao ano nas comprasbet bbbfertilizantes nitrogenados.
Minaré diz, porém, que a mudança do "modelo agrícolabet bbbbase química para um modelobet bbbbase biológica" não é simples e leva tempo.
Ele afirma que o modelobet bbbbase química foi desenvolvido ao longobet bbbquase cem anos no Hemisfério Norte e que o Brasil levou décadas para adaptá-lo às condições do país.
"Foi esse conjuntobet bbbferramentas que permitiu não só à agricultura brasileira, mas à agricultura mundial, chegar onde chegou", afirma.
Uma mudança nessa matriz, segundo Minaré, exigirá tempo semelhante ao que se usou para construir a matrizbet bbbbase química - alémbet bbbmuito investimentobet bbbpesquisa.
Walter Steenbock, o agrônomo entusiasta das "agriculturas invisíveis"bet bbbindígenas e comunidades rurais, concorda com a importânciabet bbbinvestirbet bbbpesquisa, mas diz que o país caminha a passos lentos.
"Precisamosbet bbbprofessores que ensinem a fazer agrofloresta nas universidades", defende o agrônomo, que também cobra mais políticasbet bbbcrédito para o setor e maior aberturabet bbbórgãos que assessoram agricultores às práticas agroecológicas.
"É uma eutanásia continuar buscando gás do outro lado do mundo para produzir alimentos. Se não pararmos por causa da guerra, teremos que parar por outro motivo", afirma.

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