'Brasil recebe, mas não acolhe': violência, preconceito e pobreza fazem com que congoleses pensempowerball jogar onlinedeixar o país:powerball jogar online

Moïse Kabagambe

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Congolês Moïse Kabagambe foi espancado até a morte no Rio

Mas ela diz que nunca conseguiu um emprego na áreapowerball jogar onlineque se formou e foi morar na periferia, onde conseguia pagar as contas com os trabalhos que surgem, graças aos outros e por iniciativa própria.

A vida foi se ajeitando, mas Lina acha que pode ser obrigada a partirpowerball jogar onlinenovo. Ela diz que,powerball jogar onlineuns anos para cá, as hostilidades contra os congoleses ficaram mais frequentes.

Conta quepowerball jogar onlinecasa foi invadida e que seu marido recebeu uma ameaçapowerball jogar onlinemorte. Lina decidiu se mudar com a família para outro bairro - e, alguns dias depois, um amigo, que também era africano, foi assassinado pelo vizinho.

"Não foi um caso isolado. O que aconteceu com o Moïse já aconteceu com outros. Muita gente acha que a situação vai piorar ainda mais", diz ela. "Muitos estão pensandopowerball jogar onlinesair do Brasil."

O governo da República Democrática do Congo, por meio dapowerball jogar onlineembaixada no Brasil, disse que Moïse foi o quinto congolês morto no país nos últimos seis anos.

O Congo disse que pediu explicações ao governo brasileiro, mas que nunca recebeu retorno.

A BBC News Brasil questionou o Itamaraty, que não respondeu se foi ou não questionado pelo governo do Congo sobre os crimes.

O ministério falou apenas do casopowerball jogar onlineMoïse e disse que "expressapowerball jogar onlineindignação com o brutal assassinato e espera que o culpado ou culpados sejam levados à Justiça no menor prazo possível".

Três homens foram presos e acusadospowerball jogar onlinematar o congolês. Imagenspowerball jogar onlinecâmeraspowerball jogar onlinesegurança registraram o crime.

"Não queremos mais ficar no país", disse a mãepowerball jogar onlineMoïse à revista Marie Claire. "Pretendemos ir embora do Brasil quando se fizer justiça pelo meu filho."

Crise humanitária no Congo é uma das mais complexas do mundo

Homem peneira pedras

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Conflitos nas disputas por minério são um dos principais focospowerball jogar onlineviolência do Congo hoje

Os congoleses são a terceira nacionalidade que mais recebeu refúgio no Brasil na última década.

Foram 1.050 pessoas entre 2011 e 2020, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Publica, só menos do que os venezuelanos (46.412 -powerball jogar onlinelonge, os mais numerosos) e os sírios (3594).

Mas os especialistas alertam que as estatísticaspowerball jogar onlinemigração costumam ser subnotificadas, e os números na prática são provavelmente maiores.

Desde 1999, 2.552 pedidospowerball jogar onlinerefúgiopowerball jogar onlinecongoleses foram aceitos pelo Brasil,powerball jogar onlineacordo com os dados oficiais. A maioria absoluta deles ocorreu nos dez últimos anos.

Isso faz partepowerball jogar onlineuma mudança radical no perfil da imigração para o Brasil. O país costumava receber mais pessoaspowerball jogar onlinepaíses desenvolvidos, especialmente os funcionáriospowerball jogar onlineempresas e suas famílias.

Mas, na década passada, o Brasil começou a ser o destinopowerball jogar onlinecada vez mais gentepowerball jogar onlineoutros paísespowerball jogar onlinedesenvolvimento.

Isso tempowerball jogar onlineparte a ver com os fluxos gerados por crises humanitárias, como no Haiti, na Síria e na Venezuela.

No caso do Congo, uma guerra civil eclodiu após o longo períodopowerball jogar onlineditadura e mergulhou o país na violência a partirpowerball jogar online1997.

Oficialmente, o conflito acaboupowerball jogar online2003, mas o país continuou a sofrer com instabilidades políticas e sociais.

"A guerra nunca acabou", diz o congolês Bas'Ilele Malomalo, professorpowerball jogar onlineRelações Internacionais da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab) e pesquisadorpowerball jogar onlinemovimentos migratórios africanos no Brasil.

Capacete da ONU ao ladopowerball jogar onlinesoldado

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'A guerra nunca acabou', diz pesquisador congolês

Malomalo explica que o Congo continua a sofrer com a violência por causa dos conflitos vizinhos que transbordam pelas fronteiras.

Também há uma sangrenta disputa pelo controlepowerball jogar onlineterritórios para mineração das enormes reservaspowerball jogar onlinecoltan do Congo - o minério é usado na produçãopowerball jogar onlinecomponentespowerball jogar onlineaparelhospowerball jogar onlinetecnologia e,powerball jogar onlinetão valioso e badalado, ganhou o apelidopowerball jogar online"ouro azul".

"As multinacionais financiam grupos rebeldes para conseguir extrair o minério com a ajudapowerball jogar onlinepolíticos locais", diz Malomalo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a situação humanitária do Congo hoje "é uma das mais complexas e desafiadoraspowerball jogar onlinetodo o mundo", porque "múltiplos conflitos afetam várias partes do país".

A ONU calcula que maispowerball jogar online5 milhõespowerball jogar onlinepessoas tiverampowerball jogar onlineabandonar suas casas só entre 2017 e 2019 por causa da violência.

"Além disso, a pobreza também não acabou e, apesarpowerball jogar onlineter havido um avanço democrático com as eleiçõespowerball jogar online2018, ainda tem repressão", afirma Malomalo, que chegou ao Brasilpowerball jogar online1997 para estudar Teologia.

Campopowerball jogar onlinerefugiados no Congo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Milhõespowerball jogar onlinepessoas já tiveram que abandonar suas casas por causa da violência no Congo

Como o Brasil se tornou destino dos congoleses

O pesquisador explica que o Brasil não era tradicionalmente o destino dos imigrantes congoleses.

Eles costumavam ir para os Estados Unidos e, por causa da facilidadepowerball jogar onlinejá falarem francês, para a Bélgica - que colonizou o Congo - e a França.

Mas, a partir dos anos 2000, ficou cada vez mais difícil imigrar para esses países, e as fronteiras do Brasil se abriram com os acordos culturais e econômicos fechados com países africanos.

Essa não é a primeira ondapowerball jogar onlineimigração congolesa (e africanapowerball jogar onlinegeral) para o Brasil, explica Malomalo: "70% da população escravizada que veio para cá saiu da parte da África onde está o Congo".

O samba, os quilombos, o "pretuguês" - a influência dos idiomas africanos sobre o português - são alguns dos exemplos que o professor cita da influência dos congoleses.

"Nossos avós moldaram o Brasil e ajudaram a construir a identidade nacional."

Mas eles têm dificuldadepowerball jogar onlineconseguir trabalho no Brasil que não seja braçal ou mal remunerado.

Um imigrante congolês formalmente empregado ganha R$ 1.862powerball jogar onlinemédia, apontam dados do governo. É o segundo menor valor entre todas as nacionalidades. Só os haitianos ganham menos (R$ 1.776).

Os entrevistados também avaliam que nos últimos anos ficou mais demorado e difícil conseguir vistos e refúgio no Brasil. Dizem que o governo aumentou a burocracia dos processospowerball jogar onlinepropósito para reduzir o fluxo do Congo para cá.

Procurados pela BBC News Brasil, os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores não responderam sobre esse assunto até a publicação da reportagem.

Os dados oficiais mostram que, no caso dos congoleses, o númeropowerball jogar onlinerefúgios concedidos vem caindo ano a ano desde o picopowerball jogar online2015, quando 708 pedidos foram aceitos.

Em 2019, o último ano antes da pandemia, foram 80 - 90% a menos.

E 2020 foi o primeiro ano nos últimos cincopowerball jogar onlineque mais pedidospowerball jogar onlinerefúgiopowerball jogar onlinecongoleses foram negados (41) do que aceitos (34). Em 2021, 21 foram negados e 28, aceitos.

"Cercapowerball jogar onlinemetade das pessoas que pedem refúgio hojepowerball jogar onlinedia não conseguem e acabam indo para o limbo dos indocumentados", diz Malomalo.

"Elas não conseguem procurar emprego, abrir um negócio. É uma categoriapowerball jogar onlinegente sem cidadania."

Pandemia agravou a situação dos congoleses

Favela no Rio

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Salário baixo e informalidade levam os imigrantes a viverpowerball jogar onlinefavelas e periferias

Os congoleses vivem hoje no Brasil, na maioria absoluta dos casos, nas periferias e favelas. É onde eles conseguem aluguéis mais baratos e sem burocracia.

Eles são invisíveis, diz a advogada Karina Quintanilha, que é especializadapowerball jogar onlinemigração e refúgio e pesquisadora da Universidade Estadualpowerball jogar onlineCampinas (Unicamp).

São invisíveis porque ficam longe da vistapowerball jogar onlinemuita gente, vivendo nas franjas das grandes cidades, mas também são invisíveis para o Estado, que não cria políticas públicas para eles, diz Quintanilha.

"Isso ficou muito claro durante a pandemia, porque não havia uma previsão específica do auxílio emergencial para esses imigrantes", afirma a advogada.

Ao mesmo tempo, a pandemia deixou muitos congoleses sem renda.

Vários são ambulantes, têm comércios ou pequenos negócios e trabalham com cultura e, especialmente, com turismo - uma vantagem que falar francês confere a eles.

Também ficou mais difícil contar com a ajuda que eles normalmente recebem da comunidade.

Homem caminhapowerball jogar onlinerua comercial vazia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pandemia deixou muitos refugiados sem trabalho

Aline Thuller, coordenadora do Programapowerball jogar onlineAtendimento a Refugiados da Cáritas RJ, organizaçãopowerball jogar onlineassistência que é mantida pela Arquidiocese do Riopowerball jogar onlineJaneiro, diz que ela voltou a ver refugiados que há muito tempo não procuravam ajuda.

"Eram pessoas que estavam estabilizadas. São pobres, mas a vida estava organizada, e agora vieram pedir uma cesta básica, ajuda para o aluguel pra não serem despejadas, um medicamento…"

A assistente social diz que muitos dos congoleses chegaram ao Brasil com a intençãopowerball jogar onlinetrabalhar para sustentar a família aqui ou mandar dinheiro para quem ficou no Congo.

Mas Thuller afirma que muitos começaram a ter problemas para fazer isso nos últimos anos, porque o custopowerball jogar onlinevida subiu, e os salários não acompanharam.

"Acaba sobrando muito pouco. Muitos pensampowerball jogar onlinesair do Brasil porque não conseguem mais se sustentar aqui."

'Violência é cotidiana'

A tudo isso se soma que os refugiados são mais vulneráveis à violência urbana por causapowerball jogar onlineonde vivem.

"Já ouvipowerball jogar onlinemuitas mães que elas saíram do Congo para que a guerra não matasse o seu filho, mas que nunca tinha ouvido tanto tiro quanto no Riopowerball jogar onlineJaneiro", afirma a assistente social.

Os relatos e acontecimentos também deixam claro como os imigrantes africanos são frequentemente alvopowerball jogar onlineracismo e xenofobia.

"As pessoas sempre acham que eles são menos civilizados, são chamadospowerball jogar onlinemacacos, na escola a merendeira diz que a criança não pode recusar um alimento porque veiopowerball jogar onlineum país onde se passa fome", diz Thuller.

Lina diz que percebeu desde as últimas eleições que o ódio contra os imigrantes ficou mais evidente.

"Na feira, no ônibus, na rua, nas lojas... as pessoas viram e falam 'tem muito estrangeiro no bairro…', 'por que você não volta prapowerball jogar onlineterra?' ou 'o governo tá cuidando mais do imigrante do que do brasileiro'. A gente é xingado, espancado, assaltado. As nossas casas são invadidas. Isso só tem aumentado."

Ela conta que, quando anda na rua com as roupas tradicionais do Congo, tem gente que acha que ela é "macumbeira".

"Já teve gente que fugiupowerball jogar onlinemim quando fui pedir uma informação, mudoupowerball jogar onlinebanco no metrô, já teve motoristapowerball jogar onlineônibus que não parou", diz Lina.

"De onde eu venho, racismo não existe. O Brasil foi para mim uma grande escola da discriminaçãopowerball jogar onlineseres humanos."

Os casos recentespowerball jogar onlineviolência física contra imigrantes, como opowerball jogar onlineMoïse, só aumentam ainda mais a sensaçãopowerball jogar onlineinsegurança entre os congoleses e outros imigrantes. "Tenho medo do futuro para os meus filhos", afirma Lina.

"Não é só pela violência física, mas tem a psicológica também, porque a gente não tem os direitos mais básicos respeitados. Queria que o Congo tivesse paz para que eu pudesse voltar para a minha terra."

Karina Quintanilha diz que os crimes que vêm a público são uma parte muito pequena parte dos que realmente estão acontecendo por aí.

"Nas conversas com os imigrantes, vamos achando novos casos que a gente nem imaginava. Teve um haitiano que morreu na empresapowerball jogar onlineque ele trabalhava, e sumiram com o corpo dele. Tem muito desrespeito a direitos trabalhistas, casospowerball jogar onlinetrabalho escravo e também ofensas racistas. A violência é cotidiana."

A advogada diz que é preciso rever a imagem do Brasil como um país da imigração, porque os casos e relatos deixam claro que na prática não é assim.

Lina, com a propriedade quepowerball jogar onlineexperiência lhe confere, resume bem o motivo: "O Brasil recebe, mas não acolhe".

*O nome da entrevistada foi trocado para preservarpowerball jogar onlineidentidade.

Línea

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