Melatonina, 'hormônio do sono', está liberado no Brasil, mas médicos pedem cautela:aposta spaceman
- André Biernath - @andre_biernath
- Da BBC News Brasilaposta spacemanSão Paulo

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Os suplementosaposta spacemanmelatonina estão à venda desde o inícioaposta spacemandezembroaposta spacemanformatoaposta spacemancomprimidos e gotas
aposta spaceman Desde o inícioaposta spacemandezembro, farmácias brasileiras estão vendendo melatoninaaposta spacemancomprimidos ou gotas sem a necessidadeaposta spacemanprescrição médica.
A substância, conhecida popularmente como "hormônio do sono", teve a comercialização liberada no país no dia 15aposta spacemanoutubroaposta spaceman2021 pela Agência Nacionalaposta spacemanVigilância Sanitária, a Anvisa.
Embora a decisão esteja alinhada com o que ocorreaposta spacemanvários países da Europa e da América do Norte, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil criticam a decisão e pedem muita cautela na horaaposta spacemancomprar e utilizar esse produto.
"É preocupante que a melatonina seja vendida como se fosse um picolé. Não estamos falandoaposta spacemanuma substância inócua e seu uso errado pode trazer problemas", alerta o neurocientista Fernando Mazzilli Louzada, coordenador do Laboratórioaposta spacemanCronobiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
"E é um conceito estranho enquadrá-la como suplemento alimentar. Não há consenso algumaposta spacemanquando há uma deficiência desse hormônio no organismo", aponta a neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sonoaposta spacemanSão Paulo. "Não existe sequer uma diretriz no mundo que indique a melatonina como tratamento para insônia", emenda a especialista, que também é professora da Universidade Federalaposta spacemanSão Paulo (Unifesp).
"Precisamos deixar claro que a melatonina pode até ser uma ferramenta terapêutica, mas não vai ser indicada para todo mundo", concorda o médico Paulo Augusto Miranda, vice-presidente da Sociedade Brasileiraaposta spacemanEndocrinologia e Metabologia (SBEM).
Mas, para entender toda essa polêmica, é preciso saber antes o que é a melatonina eaposta spacemanimportância para o funcionamento do corpo.
A maestrina do crepúsculo
"É muito bonito pensar que o dia e a noite são incorporados no nosso organismo pela melatonina", raciocina Louzada.
Esse hormônio é produzido pela glândula pineal, uma estrutura que fica bem no centro do cérebro.
E há um aspecto muito importante nesse processoaposta spacemanfabricação: ele só acontece na ausênciaaposta spacemanluz.
Conforme anoitece e o Sol se põe, a produção da melatonina começa a ocorrer na nossa cabeça. A meta é preparar o organismo para o sono ao longo do período noturno.

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A glândula pineal (ou pineal gland,aposta spacemaninglês) é esse pequeno 'caroço' bem no meio do cérebro. Essa é a a estrutura responsável por produzir a melatonina
"Já parou para pensar como o fígado, o estômago, todos os demais órgãos e o próprio metabolismo sabem se é dia ou se é noite? A sinalização do tempo, dos ciclosaposta spaceman24 horas, é dada justamente pela melatonina", explica o professor da UFPR.
No raiaraposta spacemanum novo dia, quando a claridade volta a aparecer, a produção da melatonina é interrompida, o que prepara o corpo para despertar e se preparar para as atividades diárias.
Só que esse cicloaposta spacemansono e vigília, ditadoaposta spacemangrande parte por esse hormônio, pode ser atrapalhado por uma sérieaposta spacemanfatores, a começar pela exposição à luz durante a noite.
"Desde que a humanidade passou a conviver com a eletricidade, houve uma alteração na secreção da melatonina. Se eu ficar acordado até meia noite assistindo TV ou mexendo no celular, essa substância vai acabar inibida", acrescenta Louzada.
Com baixa na melatonina, a qualidade do sono, ou até mesmo a quantidadeaposta spacemanhoras dormidas, acabam prejudicadas.
Mas, além das comodidades do mundo moderno, a fabricação do hormônio do sono também pode ser afetada por algumas doenças específicas ou pelo próprio avançar da idade — idosos tendem a produzir uma menor quantidadeaposta spacemanmelatoninaaposta spacemancomparação com os mais jovens.
Mas será que tomar um suplemento pode resolver alguns desses problemas?
Sinal verde para a venda
Ao anunciar que tinha liberado a melatonina no dia 15aposta spacemanoutubro, a Anvisa argumentou que "a substânciaaposta spacemanquestão já é utilizadaaposta spacemandiversos países como suplemento alimentar e como medicamento, com condiçõesaposta spacemanuso variadas".
A agência também declarou que decidiu avaliar a segurança e a eficácia da molécula "devido ao interesse dos consumidores e do setor produtivo no acesso e na ofertaaposta spacemanprodutos contendo essa substância".
Antes, esse produto só estava disponívelaposta spacemanfarmáciasaposta spacemanmanipulação, com exigênciaaposta spacemanreceita assinada por um médico.
Embora a melatonina seja enquadrada agora como um suplemento alimentar e possa ser comprada sem prescrição nas drogarias convencionais, a Anvisa impôs algumas restrições ao seu uso.
A primeira é que ela só poderá ser tomada por pessoas com maisaposta spaceman19 anosaposta spacemanidade e a dosagem é de, no máximo, 0,21 miligramas por dia.
Em outros locais, como Estados Unidos e Europa, é possível encontrar doses bem maiores, que chegam a até 5 mg.
O órgão regulatório brasileiro também determinou que as embalagens devem conter a advertênciaaposta spacemanque esse produto não deve ser consumido por "gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidasaposta spacemanatividades que requerem atenção constante".
Além disso, orienta-se que indivíduos com alguma enfermidade ou que tomam medicamentos procurem um médico antesaposta spacemanconsumir esse suplemento por conta.

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A luminosidade das telasaposta spacemantelevisões, computadores e celulares inibe a produçãoaposta spacemanmelatonina durante a noite
Poyares avalia que a dose aprovada no país,aposta spaceman0,21 mg, fica muito próxima àquilo que é produzidoaposta spacemanmédia pelo próprio organismo, o que diminui o riscoaposta spacemaneventos adversos mais preocupantes.
Por outro lado, essa quantidade pode não ser suficiente para serviraposta spacemantratamento para pessoas que realmente apresentam algum distúrbioaposta spacemansono e que eventualmente até se beneficiariamaposta spacemanuma carga extraaposta spacemanmelatonina.
"Ainda não existe um consensoaposta spacemanqual é a dose adequada para obter um efeito terapêutico nos pacientes que têm indicaçãoaposta spacemanuso", diz a neurologista.
A especialista também lembra que não estão disponíveisaposta spacemanlarga escala exames para medir a quantidadeaposta spacemanhormônio do sono e determinar se há uma deficiência dele no organismo.
"A melatonina não é igual a vitamina D, que a gente consegue facilmente mensurar no sangue e ver se há necessidadeaposta spacemansuplementação ou não", compara.
"Ou seja: ninguém sabe quando realmente é preciso 'repor' a melatonina. Não temos, portanto, evidências científicas do benefício da suplementação desse hormônio na população geral", conclui.
Quando o suplemento pode ajudar
Embora o tema seja recheadoaposta spacemancontrovérsias, os médicos admitem que a reposição da melatonina pode auxiliaraposta spacemanalguns cenários bem específicos.
"Um indivíduo idoso que apresenta dificuldades para dormir, por exemplo, se beneficiaria da suplementação, desde que exista uma avaliação e uma prescrição médica", defende Miranda, da SBEM.
"Existem também alguns distúrbios do sono bem específicos que são tratáveis com essa substância", complementa.
Uma terceira indicação seria para aqueles indivíduos que viajam para outro país com um fuso horário muito diferente. Nesses casos, o suplemento facilitaria a entrada na nova rotina sem passar pelo fenômeno do jet lag — distúrbio temporário do sonoaposta spacemanque o relógio biológico está foraaposta spacemansincronia com o horário local.
"E vale ressaltar que, ao contrário do que dizem algumas propagandas e postagensaposta spacemanredes sociais, não existem estudos comprovando que esse suplemento ajuda a controlar ou perder peso", chama a atenção o endocrinologista.

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Idosos com dificuldade para dormir podem se beneficiar do suplementoaposta spacemanmelatonina, desde que tenham passado por uma avaliação médica
Antesaposta spacemancomprar o produto na farmácia, portanto, vale buscar um especialista se você apresenta constantemente dificuldades para pegar no sono (ou manter-se dormindo), ronca durante a noite, tem sonolência ao longo do dia ou fica com aquela sensaçãoaposta spacemanque o descanso noturno não foi reparador.
Esse profissional, que costuma ter uma formaçãoaposta spacemanmedicina do sono ou cronobiologia, pode fazer uma avaliação aprofundada e entender os motivos que estão por trásaposta spacemantodas essas dificuldades.
"Muitas vezes, antesaposta spacemanpensaraposta spacemanprescrever a melatonina, podemos tentar uma sérieaposta spacemanmudançasaposta spacemancomportamentos e hábitos para melhorar a quantidade e a qualidade do sono", informa Louzada.
Os médicos costumam chamar essas intervençõesaposta spacemanhigiene do sono. Uma das principais modificações é justamente aumentar a exposição à luz durante o dia e diminuir o contato com telas e lâmpadas no período noturno.
Essa alteração já pode fazer toda a diferença na produção naturalaposta spacemanmelatonina e garantir um descansoaposta spacemanmelhor qualidade.
"A gente não corrige hábitos errados com uma medicação. Na maioria das vezes, precisamos justamente alterar esses hábitos para alcançar uma melhor qualidadeaposta spacemanvida", concorda Miranda.
"E, mesmo nos casosaposta spacemanque há realmente a necessidadeaposta spacemansuplementaçãoaposta spacemanmelatonina, é preciso pensar com muito cuidado na dosagem e no horárioaposta spacemaningestão do produto", aponta Louzada.
"A sensibilidade à melatonina varia muitoaposta spacemanpessoa para pessoa e é preciso o acompanhamento com um profissionalaposta spacemansaúde para evitar o efeito contrário ao desejado", sugere.
Os eventos adversos mais comunsaposta spacemantomar a melatoninaaposta spacemanforma errada são doraposta spacemancabeça, irritação e sonolência ao longo do dia.
"Em longo prazo, porém, o principal problema do uso inadequado é que o suplemento pode não resolver as queixas relacionadas ao sono que aquela pessoa apresenta. Por isso, é tão importante o acompanhamento médico", conclui Miranda.

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