Covid-19: comportamento da população na pandemia 'decepciona', diz diretor do Sírio Libanês:cassino foguetinho
- André Biernath
- Da BBC News Brasilcassino foguetinhoSão Paulo

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Essa é a pior crise sanitária que o país viveucassino foguetinhotoda acassino foguetinhohistória, acredita Chapchap
cassino foguetinho No início da pandemia, as imagenscassino foguetinhomédicos utilizando escafandro e cilindroscassino foguetinhooxigênio nos deixaram com a impressão que a prevenção da covid-19 era muito complicada.
Mas a experiência mostrou que atitudes simples, como manter o distanciamento físico, usar máscaras e evitar aglomerações, são as medidas que mais ajudam a evitar uma infecção pelo coronavírus responsável pela pandemia atual.
Apesarcassino foguetinhorelativamente simples, essas estratégias são ignoradas por parte da população — e não são reforçadas por nenhuma campanhacassino foguetinhocomunicação feita pelo Governo Federal.
Essas e outras observações foram feitas pelo médico Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio Libanês,cassino foguetinhoSão Paulo, numa entrevista exclusiva à BBC News Brasil.
O especialista ainda contou que todas as previsões mais pessimistas feitas pelo comitêcassino foguetinhocrise do hospital estão se concretizando e as últimas semanas foram as piores desde que a pandemia começou, há maiscassino foguetinhoum ano.
Chapchap também chama a atenção para o risco que o fechamento prolongado das escolas traz às futuras gerações. "Há um enorme prejuízo às crianças. Esse dano é permanente e coletivo", aponta.
Confira os principais trechos a seguir.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Como o senhor classifica a atual situação da pandemiacassino foguetinhocovid-19 no hospital e,cassino foguetinhoforma mais ampla,cassino foguetinhotodo o Brasil?
cassino foguetinho Paulo Chapchap - Esse é o momentocassino foguetinhomaior demandacassino foguetinhopacientes com covid-19 no nosso hospital. De todas as semanas desde que começou a pandemia no Brasil, essas são as piores que temos até agora. Dia após dia, temos batido nosso recorde anteriorcassino foguetinhoindivíduos internados aqui no Hospital Sírio-Libanês.

Crédito, Divulgação/Hospital Sírio-Libanês
O médico Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio Libanês,cassino foguetinhoSão Paulo
cassino foguetinho BBC News Brasil - Na experiência do senhor, o momento atual se aproxima a algum outro períodocassino foguetinhocrise que vocês viveram por aí?
cassino foguetinho Chapchap - Não, essa é a pior crise sanitária que o país viveucassino foguetinhotoda acassino foguetinhohistória. Não há dúvida, pelo menos se considerarmos a história moderna. É claro que tivemos problemas anteriores, como a gripe espanholacassino foguetinho1918. Mas do que nós presenciamos, não há dúvidascassino foguetinhoque essa é a maior crise que já vivemos.
E ela não é um desafio apenas para o sistemacassino foguetinhosaúde, mas para a sociedade brasileira como um todo. Isso porque há implicações enormescassino foguetinhotodas as áreas da vida e da economia.
Nós observamos, por exemplo, um efeito brutal na socialização das crianças e no comprometimento cognitivo delas pela falta do estímulo escolar. A crise é tão disseminada no país que afeta todas as áreascassino foguetinhonossa sociedadecassino foguetinhouma forma muito grave. Nós precisamos então encurtá-la o máximo que conseguirmos para voltar à normalidade assim que possível.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Nas últimas semanas, acompanhamos as notíciascassino foguetinhodiversas cidades do país com lotação totalcassino foguetinhoseus leitos hospitalares. Como lidar com esse cenáriocassino foguetinhocrise e escassez do pontocassino foguetinhovista da gestão hospitalar?
cassino foguetinho Chapchap - Esse é um desafio permanente. Porque alémcassino foguetinholidar com a covid-19 e com os pacientes potencialmente contaminantes, devemos pensar nos próprios colaboradores do hospital, que precisam zelar pela própria saúde e o bem-estarcassino foguetinhosuas famílias. Em paralelo a todos os atendimentos relacionados à pandemia, as pessoas continuam a sofrer com problemas cardíacos, neurológicos, câncer, outras infecções…
Tudo isso confere ao hospital um desafiocassino foguetinhoatender a demanda e segmentar as necessidades. Nós criamos fluxos separados das pessoas com suspeitascassino foguetinhocovid-19 e outros indivíduos que precisam vir até aqui. Essa adaptação precisa ser rápida, isso é fundamental.
Mas eu preciso te dizer uma coisa: aqui no hospital nós construímos projeções do que vem pela frente. E nós sempre adotamos o cenário mais pessimista para nos prepararmos. E preciso te dizer que nós temos acertado: as nossas previsões mais pessimistas têm se materializado.
Quando vieram as festascassino foguetinhofinalcassino foguetinhoano, nos preparamos para uma maior cargacassino foguetinhoserviço, uma demanda que realmente aconteceu no mêscassino foguetinhojaneiro. Quando aconteceram os feriadoscassino foguetinhocarnaval, previmos uma piora do quadro e,cassino foguetinhonovo, isso se materializou, levando a essa enorme sobrecargacassino foguetinhoserviço que temos agora.
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cassino foguetinho BBC News Brasil - O Hospital Sírio-Libanês é reconhecido como uma das instituiçõescassino foguetinhoponta, com uma enorme estrutura. Vocês imaginavam que chegariam a esse ponto crítico?
cassino foguetinho Chapchap - Nós temos reuniões diárias com o nosso centrocassino foguetinhoenfrentamento da crise. No início da pandemia, fazíamos esse encontro até duas vezes ao dia. Mas, quando houve uma diminuiçãocassino foguetinhocasoscassino foguetinhosetembro e outubrocassino foguetinho2020, começamos a nos reunir duas vezes por semana, porque víamos um arrefecimento da pandemia.
Quando percebemos que a crise se aprofundavacassino foguetinhooutras partes do Brasil e a chegadacassino foguetinhopacientes com sintomascassino foguetinhosíndrome gripal no pronto-atendimento começaram a aumentar, já conseguíamos projetar que o númerocassino foguetinhointernações iria a aumentarcassino foguetinhoseguida, assim como os casos graves, a necessidadecassino foguetinhounidadescassino foguetinhoterapia intensiva e as mortes.
Ao observar tudo isso, nós conseguimos prever todas as ondas com antecedência. Nós monitoramos issocassino foguetinhofunção da médiacassino foguetinhoutilizaçãocassino foguetinhonossos serviços nos períodos anteriores e projetamos as necessidades para o futuro. Houve uma épocacassino foguetinhoque a gente já disparava os pedidos da reposiçãocassino foguetinhonossos estoquescassino foguetinhooxigênio quando eles chegavam a 40%. Depois, progredimos para 70%. Atualmente, não deixamos ficar abaixocassino foguetinho90% e temos entregas diárias dos suprimentos.
Mas qual a razão disso? Nós aumentamos muito o númerocassino foguetinholeitos para pacientes críticos. Abrimos maiscassino foguetinho100 desses leitos. Tínhamos 470 e hoje estamos com 580 vagas. Além disso, convertemos leitoscassino foguetinhobaixa complexidade para terapia intensiva. Multiplicamos por várias vezes nossa capacidadecassino foguetinhoatendimentocassino foguetinhopacientes críticos.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Nos últimos meses, acompanhamos uma sériecassino foguetinhoeventos que incentivaram a aglomeraçãocassino foguetinhopessoas, como as eleições, as festascassino foguetinhofinalcassino foguetinhoano e o carnaval. Em paralelo, uma nova variante do coronavírus foi descobertacassino foguetinhoManaus no início do ano. Esses dois fatores explicam o cenário da pandemia que vivemos agora?
cassino foguetinho Chapchap - Sim, e elas conferem um desafio adicional. Mesmo fora desses eventos específicos que você citou, o comportamento das pessoas tem sido bastante inadequado frente ao conhecimento que nós já temos das medidascassino foguetinhoproteção. Hoje nós sabemos que os cuidados preventivos são mais simples do que imaginávamos lá no começo. Nós víamos aquelas imagens da China, com as pessoas pulverizando as casas, aplicando sprays antissépticoscassino foguetinhotodos os lugares, profissionais da saúde usando escafandro, respirando por tanquescassino foguetinhooxigênio…
Hoje sabemos que nada disso é preciso. Se você usar máscara e manter um distanciamento das pessoas, não vai contrair a doença. As medidas são muito simples. Sabendo que o sacrifício poderia ser menor, acreditamos que isso seria suficiente para que as pessoas evitassem as situaçõescassino foguetinhoalto risco, o que nos permitiria controlar a pandemia.
Mas nós nos surpreendemos negativamente ao vermos que as pessoas não adotam essas simples medidascassino foguetinhocontenção. Há uma certa decepção dos profissionais da saúde com o comportamento da população na pandemia. Vemos indivíduos fazendo festas com aglomerações, que tiram a máscara para comer, beber, cantar… E tudo issocassino foguetinhoambientes fechados. A chancecassino foguetinhocruzar com alguém infectado é muito grande.
Nós sabemos como conter a disseminação do vírus e ainda há tempocassino foguetinhofazer isso. Se todos cooperarem e fizerem o certo,cassino foguetinhoduas ou três semanas começaremos a ver uma curva descendentecassino foguetinhocasos e óbitos, o que vai nos alegrar muito.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Muitos governadores e prefeitos têm anunciado o fechamentocassino foguetinhoatividades comerciais e a aberturacassino foguetinhonovos leitos. Essas medidas fazem sentido agora? O que mais poderia ser feito?
cassino foguetinho Chapchap - Essas medidas têm sentido sim. Muitas vezes vejo gente perguntar: por que não abrimos novos hospitaiscassino foguetinhocampanha agora, se a crise atual é pior do que a primeira? Porque nos últimos meses nós aparelhamos muitos dos hospitais já existentes. Nós compramos milharescassino foguetinhorespiradores e ativamos novos leitoscassino foguetinhoterapia intensiva e enfermaria. Com isso, agora estamos mais preparados do que na primeira crise. Por isso que aquicassino foguetinhoSão Paulo estamos resistindo até agora sem entrarcassino foguetinhocolapso.
Mas se essa onda continuar aumentando como está, precisamos simcassino foguetinholeitos adicionaiscassino foguetinhohospitaiscassino foguetinhocampanha. Por isso, fazemos um apelo à população para que ela se contenha e use sempre as suas máscaras.

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Hospitalcassino foguetinhocampanha construído no estádio do Pacaembu,cassino foguetinhoSão Paulo, no iníciocassino foguetinho2020
Vejo que vários governadores anunciaram medidas mais restritivas. Porque quando você chega numa crise dessas, precisamos ser mais rigorosos. Os governos têm anunciado muito propriamente a diminuição da circulaçãocassino foguetinhopessoascassino foguetinhodeterminado horário e o fechamentocassino foguetinhotodas as situaçõescassino foguetinhoque pode acontecer uma infecção. E, mesmo com festas, restaurantes e bares fechados, há gente que teimacassino foguetinhofazer festas clandestinas, com pouca consciência da gravidade do momento que estamos passando.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Como o senhor destacou, essas medidas são necessárias no curto prazo. Mas quais são as perspectivascassino foguetinhomédio e longo prazo? O que precisamos fazer para que a pandemia acabe?
cassino foguetinho Chapchap - O mais importantecassino foguetinhotudo agora é vacinar a população. Nos países com uma cobertura vacinal significativa, como os Estados Unidos, já há diminuição na curvacassino foguetinhomortes. É claro que isso acontece não só por causa das vacinas, mas também porque o atual governo americano teve a consciênciacassino foguetinhorecomendarcassino foguetinhoforma mais consistente para que a população fizesse distanciamento, usocassino foguetinhomáscaras e todo o comportamento adequado.
Mas a vacina também traz um impacto porque você começa protegendo a população mais vulnerável, com o objetivocassino foguetinhodiminuir as mortes. Isso traz um impacto enorme.
Se você me perguntar o que o Brasil tem que fazer, o momento é focar na compracassino foguetinhovacinas e abrir canais para o fornecimentocassino foguetinhodoses além daquelas que já estão garantidas. E ter certezacassino foguetinhoque elas serão entregues no prazo que foi prometido.
A vacinação é o meio mais eficaz para lidarmos com a pandemia no médio e no longo prazo. Enquanto isso não acontece, é aquilo que eu disse e reforço: precisamos do comportamento adequado das pessoas por meio da criaçãocassino foguetinhobarreiras contra o vírus, como o distanciamento e a proteção facial.
cassino foguetinho BBC News Brasil - O momento é muito complicado e delicado, mas o senhor acredita que dê para tirar algum aprendizadocassino foguetinhotudo que estamos vivendo?
cassino foguetinho Chapchap - Um ensinamento importante é ter uma cartilha para o enfrentamentocassino foguetinhouma crise como essa, que acomete o país inteirocassino foguetinhouma só vez. Antes, víamos o agravamentocassino foguetinhoalgumas cidades ou estados e era possível migrar capacidades e ajudar. Agora não.
É importante observar que nós temos uma estrutura robusta para enfrentar uma pandemia, que é o Sistema Únicocassino foguetinhoSaúde, o SUS. Ele dá acesso a todos, independentemente do poder aquisitivo, da classe social ou da localidade. Esse princípio é muito importante, ainda mais quando notamos que uma parte da falência dos Estados Unidos no momento pior da crise por lá aconteceu porque muitas pessoas não procuraram atendimento médico porque não tinham o direitocassino foguetinhoserem atendidas. Elas acabaram retardando o tratamento numa tentativacassino foguetinhopreservar o patrimônio e não pagar as contas do hospital depois.
Mas qual o aprendizado que tiramos da pandemia? Nós deveríamos ter centralizado os dados, as decisões e a comunicação. Deveríamos ter montado um gabinetecassino foguetinhocrise no Governo Federal, reunindo todas as competências necessárias para tomar a decisão. Deveríamos ter pessoas que tivessem experiência e competência, capazescassino foguetinhoreunir os dados enviados por estados e municípios sobre as necessidadescassino foguetinholeitos, equipamentoscassino foguetinhoproteção, remédios…

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Chapchap acredita que a reabertura após o agravamento deve priorizar as escolas, desde que respeitados protocolos rígidos
Ao conhecer esse mapacassino foguetinhoacometimento, poderiam ser feitos os isolamentos adequados para que não houvesse contaminação das localidades vizinhas. Para suprir as necessidades, precisaríamoscassino foguetinhoforça nacionalcassino foguetinhosaúde, inclusive. E poderíamos restringir a movimentação das pessoas a partir desses locais mais atingidos,cassino foguetinhouma forma que não fosse desumana, claro.
Esse métodocassino foguetinhoenfrentamentocassino foguetinhouma crise, que envolve decisões centralizadas, competentes e alimentadas por dados, foi uma coisa que nós falhamos. Poderíamos ter feito diferente e a gente não fez.
Talvez, para uma próxima pandemia, esses protocoloscassino foguetinhoenfrentamento e processoscassino foguetinhodecisão precisam estar desenhados para que não tenhamos que viver tudo novamente.
cassino foguetinho BBC News Brasil - Nesse momentocassino foguetinhoagravamento da pandemia, quais cuidados as pessoas precisam tomar para se proteger?
cassino foguetinho Chapchap - São medidas que só dependemcassino foguetinhonós mesmos. Primeiro, utilizaçãocassino foguetinhomáscarascassino foguetinhotodos os ambientes. A única exceção é dentrocassino foguetinhocasa, com as pessoas que moram com você. Isso se elas não estiverem com sintomascassino foguetinhogripe, aí até mesmo nessa situação é preciso usar máscara. Esse equipamento também deve estar no rostocassino foguetinhotodas as situaçõescassino foguetinhoque você encontre pessoas que não são próximas do seu convívio.
A segunda medida é evitar aglomeraçõescassino foguetinhoambientes coletivos. Se você precisar ir à farmácia, ao supermercado, é máscara o tempo todo e sem se aproximar dos outros.
Precisamos falar também das escolas. Num momentocassino foguetinhocrise, eu até entendo a necessidadecassino foguetinhofechá-las. Mas a primeira coisa que nós vamos abrir assim que tivermos um arrefecimento precisa ser o setorcassino foguetinhoensino. Há um enorme prejuízo às crianças. Esse dano é permanente e coletivo, porque elas precisam ser estimuladas cognitivamente. E hoje sabemos que esses ambientes podem funcionar com relativa segurança, desde que respeitados protocolos rígidos.
Outro ponto: tomar a vacina, tão logo ela esteja disponível para você. Qual vacina devo tomar? A que estiver disponível. Nós sabemos que todas protegem contra a doença grave e a morte, alémcassino foguetinhodiminuir o potencialcassino foguetinhocontaminação para outras pessoas.
Portanto, é horacassino foguetinhousar máscara, manter distanciamento físico, evitar ambientes fechados ou aglomerações e tomar a vacina assim que ela estiver disponível. É isso. Não é nada difícil. E precisamos respeitar essas medidas não apenas pela nossa própria saúde, mas pela responsabilidade coletiva que temos com o resto da sociedade.

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