Eleições municipais 2020: os entregadores e motoristas do Uber que viraram candidatos:quina da caixa

  • Leandro Machado
  • Da BBC News Brasilquina da caixaSão Paulo
entregador andando na avenida Paulista

Crédito, Roberto Parizotti/Fotos Públicas

quina da caixa Nas eleições municipais deste ano, representantesquina da caixauma nova categoria estão tentando despontar ainda mais na política: os trabalhadoresquina da caixaaplicativos.

Esse cenário é comprovado pelos números:quina da caixa2016, nas últimas eleições municipais, por exemplo, 1.072 "motoboys" se candidataram no Brasil, segundo o site Congressoquina da caixaFoco. Neste ano, eles são 1.317, altaquina da caixaquase 23%.

Por outro lado, 173 candidatos escolheram colocar a palavra "Uber" no nome que aparecerá na urna eletrônica, segundo levantamento do Observatório das Plataformas Digitais, grupo que reúne pesquisadores da Universidade Federalquina da caixaMinas Gerais e procuradores do Ministério Público do Trabalho. São pessoas como o Marcelão do Uber, a Cida Maria da Uber, o Pastor da Uber e o Bigode da Uber.

O estudo também apontou que 2.731 candidatos adotaram nomesquina da caixaurna com referências ao trabalhoquina da caixamotorista, entregas e plataformasquina da caixatransporte. O maior númeroquina da caixacandidatos (1.041) usa "táxi" ou "taxista". Já 842 escolheram a palavra "motorista" e 595, "mototáxi" e "motaxista".

No total, as eleições deste ano têm 517.095 candidatos a vereador e 19.206 a prefeito no país inteiro.

Mas quem são esses candidatos oriundos dessa emergente categoria? Por que eles decidiram enfrentar as urnas? Quais projetos eles apresentam para uma classequina da caixatrabalhadores que aumenta a cada dia? A BBC News Brasil conversou com cinco deles,quina da caixavárias regiões do país, para entender esse pontos.

Um deles é o paulistano Marlon Luz,quina da caixa40 anos, que escolheu o nomequina da caixaMarlon do Uber para disputar uma das 55 vagasquina da caixavereador na Câmara Municipalquina da caixaSão Paulo.

Marlon começou a trabalhar com aplicativosquina da caixa2015, para complementarquina da caixarendaquina da caixafuncionárioquina da caixauma empresaquina da caixatecnologia. "Masquina da caixa2016, a crise econômica bateu forte e eu saí da empresa. A Uber virou minha única fontequina da caixarenda", diz.

Marlon Luz

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Marlon Luz fez campanha com apoiadoresquina da caixaum ato com críticas aos aplicativos

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O motorista, no entanto, percebeu um nichoquina da caixauma classequina da caixatrabalhadores que cresce exponencialmentequina da caixaum momentoquina da caixadesemprego alto. Apenas a Uber, por exemplo, tem 1 milhãoquina da caixamotoristas e entregadores no Brasil.

Marlon criou um canal no YouTube para contar suas experiências com passageiros, relatar as dificuldades do trabalho, reclamar das condições impostas pelas empresas e dar dicasquina da caixamelhores maneirasquina da caixaganhar dinheiro.

Hoje, seu canal tem 610 mil seguidores e vídeos que já alcançaram 3 milhõesquina da caixavisualizações.

"A partirquina da caixa2018, os aplicativos começaram a abusar dessa forçaquina da caixatrabalho, que existequina da caixaabundância. Houve diminuiçãoquina da caixataxasquina da caixapagamento, faltaquina da caixatransparência e expulsãoquina da caixatrabalhadores sem qualquer direitoquina da caixadefesa", explica. Em meio a seu sucesso no YouTube, ele virou dirigente da Associação dos Motoristasquina da caixaAplicativosquina da caixaSão Paulo (Amasp), que oferece uma sériequina da caixaserviços aos associados, como advogados e proteção veicular.

"Depois pensei que poderia contribuir mais para nossa classe por meio da política. Há vereadores que representam taxistas e outros trabalhadores. Por que não ter um vereador motoristaquina da caixaaplicativo?", diz o candidato, filiado ao Patriotas.

Marlon se define como "liberal", mas acha que as empresa temquina da caixaser cobradas quanto ao respeito a direitos. "Critico muito as empresas. Apesar do meu posicionamento como liberal, acredito que precisa haver regras. As pessoas precisam ter direitos respeitados", explica.

'Nossa vez'

Recentemente, Marlon criou um grupo chamado "Agora é nossa vez", que reúne cercaquina da caixa50 motoristas-candidatos por diversos partidos — do PT ao Novo.

A plataforma defende uma sériequina da caixapropostas para os trabalhadores da área, como o "direitoquina da caixatransparência para todas as regras que afetam a profissão dos motoristas", "direito ao acesso ao trabalho" e "transparência sobre os motivos das punições impostas pelos aplicativos aos colaboradores", uma das principais demandas do setor.

Para Leo Vinicius Liberato, doutorquina da caixasociologia política pela Universidade Federalquina da caixaSanta Catarina (UFSC) e pesquisador do setorquina da caixaaplicativos, diferenças ideológicas com basequina da caixafiliação partidária devem ser relativizadas quando se fala dos candidatos oriundos da categoria.

"Já vi um discursoquina da caixaum candidato do Patriotas que era mais crítico aos aplicativos do que outro do PT, que falavaquina da caixareduçãoquina da caixaimposto e menos regulação. A pessoa escolhe um partido muitas vezes porque é nele que encontra espaço pra se candidatar. A candidaturaquina da caixavereador, que é mais baixa na hierarquia institucional, tem muito menos controle ideológico por parte dos partidos, aparece gentequina da caixatodo tipo", diz.

Uma das candidatas do grupo "Agora é nossa vez" é Letícia Leite Lisbôa, 45, motorista e concorrente a uma vagaquina da caixavereadoraquina da caixaPelotas, no Rio Grande do Sul. Apesarquina da caixase dizerquina da caixaesquerda, ela concorre pelo Partido Liberal (PL), mas nunca viu problema nisso. "O partido sempre me deixou livre para ter minhas opiniões. A gente prioriza as pessoas e o trabalho", diz.

A motorista do Uber Letícia Lisbôa é candidata a vereadoraquina da caixaPelotas (RS)

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A motorista do Uber Letícia Lisbôa é candidata a vereadoraquina da caixaPelotas (RS)

Advogada, ela entrou no setor no meioquina da caixa2019, depoisquina da caixaanos trabalhando na sede local da OAB. "Sempre gostei muitoquina da caixadirigir, desde pequena amo carros. Mas também percebi que meus rendimentos eram maiores como motorista", explica Letícia.

No dia a dia, ela começou a repararquina da caixaproblemas enfrentados pelos motoristas, como "guerraquina da caixapreços" entre os aplicativos e descontos dados a passageiros e repassados a motoristas.

Ela também reclama da precariedade da estrutura viária da cidade, com muitos buracos no asfalto, falha na sinalização e faltaquina da caixapontosquina da caixadesembarquequina da caixapassageiros. "Um dia, parei o carro pertoquina da caixaum pontoquina da caixatáxi, e um taxista me abordouquina da caixauma maneira bem intimidatória: ele encostou no meu carro, tirou fotos e me gravou pelo celular", diz.

Uma das promessas da candidata é criar locaisquina da caixaapoio e descanso para motoristas, com cozinha, banheiro e lava-rápido. "Muitos motoristas saemquina da caixacasa sem saber a hora que vão voltar. Nós prestamos um serviço para a população, mas não temos qualquer benefício", afirma.

'Precarizados'

Os entregadores também estão representados na massaquina da caixacandidatos. Os nomes "entrega", "entregador" e "delivery" são utilizados por 29 pessoas nas urnas, segundo o levantamento do Observatório das Plataformas Digitais.

Apesarquina da caixanão utilizar nenhuma dessas alcunhas, o universitário Saulo Benicio, 28, é um desses trabalhadores que decidiram se arriscar na política. Estudantequina da caixahistória na Universidade do Estado do Rioquina da caixaJaneiro, Saulo trabalhou como mototaxista e entregador do iFood até meados deste ano.

O estudante Saulo Benicio já trabalhou como entregador e hoje é candidato a vereadorquina da caixaNilópolis (RJ)

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O estudante Saulo Benicio já trabalhou como entregador e hoje é candidato a vereadorquina da caixaNilópolis (RJ)

Filiado ao PSOL, ele concorre a uma vaga na Câmaraquina da caixaNilópolis, na baixada fluminense.

"O trabalhoquina da caixaentregador é extremamente precarizado. E as empresas se aproveitam da crise econômica equina da caixauma juventude que não tem oportunidades, que está abandonada. Por isso, as pessoas aceitam fazer jornadas desgastantes para ganhar pouco. Você já começa o diaquina da caixatrabalho devendo as taxas para a empresa", diz.

"Quando você é entregador, está preso a várias amarras criadas pelos aplicativos, como taxas, punições, avaliação. Você não tem vida, só consegue pensar no trabalho. Isso mexe inclusive com a saúde das pessoas."

Para ele, Nilópolis deveria investir maisquina da caixaalternativasquina da caixaemprego, educação e cultura para a juventude da cidade. "Acredito que a política institucional é uma forma importantequina da caixamudar a vida das pessoas, principalmente das mais pobres. Por isso resolvi me candidatar", diz.

Em São Paulo, o motoboy Renato Assad, 28, também tenta se tornar vereador, pelo PSOL. Estudantequina da caixageografia na USP, ele trabalhava como professorquina da caixauma escola particular até ser demitido por causa da pandemiaquina da caixacovid-19.

Renato Assad

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O motoboy Renato Assad é um dos candidatos a vereadorquina da caixaSão Paulo

Para conseguir se manter, começou a fazer entregas para várias plataformas. "O motoboyquina da caixaaplicativo não tem nenhuma segurança e planejamento financeiro, pois taxas e promoções variam a depender do dia, da chuva, da demanda. Você nunca sabe quanto vai ganhar. É uma rotina exaustiva, vivemosquina da caixacalçadaquina da caixacalçada, sem ter nem banheiro para usar ou lugar para comer", diz.

Para ele, a categoria precisa se conscientizar que não é "autônoma", como pregam as empresas do setor. "Todas as fases do trabalho são ditadas pelos aplicativos. As pessoas não têm controle sobre o trabalho, apesar dos aplicativos dizerem que sim", afirma ele, que promete brigar por leis que garantam mais direitos à categoria, como alimentação, licença maternidade e uma taxa mínimaquina da caixaremuneração.

Para Rodrigo Lopes Correia, 31, motoboy há três anos e candidato a vereador pelo PCdoBquina da caixaOlinda, são os próprios entregadores que devem lutar por melhorias e direitos — e não podem esperar que isso venha das empresas. "Várias categorias têm representação na política: policial, taxista, bancário. Eu vi a necessidadequina da caixanossa categoria estar lá também, para brigar por mudanças", diz.

Para o sociólogo Leo Vinicius Liberato, as candidaturas para vereador, principalmentequina da caixacidades menores, assumem um caráter não apenasquina da caixaparticipação e luta política, mas tambémquina da caixaoportunidadequina da caixatrabalho.

"Em uma situaçãoquina da caixadesemprego alto, se tornar vereador é uma chancequina da caixaascensão econômica,quina da caixasaídaquina da caixauma condiçãoquina da caixavida ruim. Essas candidaturasquina da caixamotoristas do Uber equina da caixaentregadores devem ser encaradas também como uma tentativaquina da caixamobilidade social,quina da caixamudançaquina da caixaum emprego ruim para algo melhor", diz.

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