Por que o coronavírus mata mais as pessoas negras e pobres no Brasil e no mundo:paysafecard roulette

"Isso tudo tem relação com o sistemapaysafecard rouletteque a gente vive, com o racismo", explica ela, apontando como, por causa do racismo estrutural, pessoas negras têm piores condiçõespaysafecard roulettevida.

Os pobres são atingidospaysafecard rouletteforma "muito violenta"paysafecard rouletterelação aos "remediados e ricos", afirma o médico sanitarista e professorpaysafecard roulettesaúde pública da USP Gonzalo Vecina Neto.

Resultadospaysafecard rouletteum estudo do Núcleopaysafecard rouletteOperações e Inteligênciapaysafecard rouletteSaúde, grupo da PUC-Rio, confirmam que pretos e pardos morreram por covid-19 mais do que brancos no Brasil. O grupo analisou a variação da taxapaysafecard rouletteletalidade da doença no Brasilpaysafecard rouletteacordo com variáveis demográficas e socioeconômicas da população. Cercapaysafecard roulette30 mil casospaysafecard roulettenotificaçõespaysafecard roulettecovid-19 até 18paysafecard roulettemaio disponibilizados pelo Ministério da Saúde foram levadospaysafecard rouletteconta.

Considerando esses casos, quase 55%paysafecard roulettepretos e pardos morreram, enquanto, entre pessoas brancas, esse valor ficoupaysafecard roulette38%. A porcentagem foi maior entre pessoas negras do que entre brancaspaysafecard roulettetodas as faixas etárias e também comparando todos os níveispaysafecard rouletteescolaridade.

O estudo também concluiu que, quanto maior a escolaridade, menor a letalidade da covid-19 nos pacientes. Pessoas sem escolaridade tiveram taxas três vezes superiores (71,3%) às pessoas com nível superior (22,5%).

Cruzando escolaridade com raça, então, a coisa piora: pretos e pardos sem escolaridade tiveram 80,35%paysafecard roulettetaxaspaysafecard roulettemorte, contra 19,65% dos brancos com nível superior.

"A desigualdade social tem impacto direto nos óbitos entre os mais pobres e com menor escolaridade", diz, por e-mail, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo, Paula Maçaira, pesquisadora do Departamentopaysafecard rouletteEngenharia Industrial do CTC/PUC-Rio e integrante do NOIS. "Quanto mais desfavorável a situação do paciente, mais chances ele tempaysafecard roulettefalecer."

O fenômeno não é exclusivamente brasileiro. Nos Estados Unidos, dados levantados pelo APM Research Lab mostra que negros morreram a uma taxapaysafecard roulette50,3 por 100 mil pessoas, comparado com 20,7 para pessoas brancas. Mais que o dobro.

No Reino Unido, números do Office of National Statistics mostraram que homens negros da Inglaterra epaysafecard rouletteGales têm três vezes mais chancepaysafecard roulettemorrer por covid-19 do que homens brancos.

"É um fenômeno mundial. Esse vírus mata mais pobres e negros - não porque são negros, mas porque são pobres", diz Vecina Neto. Para Góes, os contexto são semelhantes. "As pessoas negras nos EUA e no Reino Unido também são as que vivempaysafecard roulettelocais periféricospaysafecard roulettemenos acesso, menos fornecimentopaysafecard rouletteserviços e com maior prevalênciapaysafecard roulettecomorbidades. O que muda são os sistemaspaysafecard roulettesaúde."

Mas por que isso acontece?

Góes e Vecina Neto citam algumas razões para as taxaspaysafecard roulettemortalidade maiores para a população negra e pobre - no Brasil e no mundo.

A primeira, segundo Góes, é o acesso a serviçospaysafecard roulettesaúde. "Pessoas negraspaysafecard roulettegeral estão nas regiões mais marginalizadas, mais periféricas e esses lugarespaysafecard roulettegeral são lugares que têm baixa ofertapaysafecard rouletteserviçopaysafecard roulettesaúde", diz a pesquisadora. "Elas precisam se deslocar para o centro, onde ficam os serviçospaysafecard roulettesaúde públicos e privados."

Um segundo motivo são as condiçõespaysafecard roulettevida da população mais pobre. Vecina Neto diz que "pessoas pobres morampaysafecard roulettelugares piores, com pior acesso às condiçõespaysafecard roulettemoradia mais decente" e que, com um número maiorpaysafecard roulettepessoas por metro quadrado, a propagação da doença é facilitada.

A terceira explicação é a faltapaysafecard rouletteacesso a saneamento básico. "No caso do Brasil, principalmentepaysafecard rouletteSão Paulo, a periferia não tem ofertapaysafecard roulettesaneamento semelhante às zonas residenciais com distribuiçãopaysafecard rouletterenda maior", diz Vecina Neto. "A faltapaysafecard rouletteacesso à água é uma coisa muito grave nessa epidemia."

Um quarto motivo possível: a fome, ou necessidadepaysafecard roulettetrabalhar para ganhar o dinheiro para a comida do dia. "Quem mora na periferiapaysafecard roulettegrande medida faz parte do mercadopaysafecard roulettetrabalho informal, portanto ganha o dinheiro do dia para comer a comida do dia. Se o sujeito não sair todo dia para ganhar alguma coisa para levar dinheiro para casa, vai ter fome na casa dele", afirma.

Mesmo com a ajuda do governo federalpaysafecard rouletteR$ 600 mensais para trabalhadores informais, que considera "insuficiente", "as pessoas têm que sair para arrumar comida, e ao sair, se contaminam mais facilmente". A realidade é completamente distinta à situaçãopaysafecard roulettequem pode ficar isolado ou trabalhandopaysafecard roulettecasa.

"Essas pessoas negras e pobres são as pessoas inseridas mais informalmente no mercadopaysafecard roulettetrabalho, e que estão no front na áreapaysafecard roulettesaúde, enfermagem, serviços gerais, do trabalho doméstico", afirma Góes. "Esse cenário só agudiza a situação."

Por fim, a pesquisadora sobre acesso desigual a sistemaspaysafecard roulettesaúde destaca condições relacionadas ao bem-estar, como alimentação, exercícios físicos, lazer. Uma população mais pobre tem menos acesso a boa alimentação e consome mais alimentos industrializados. Também está sujeita a mais estresse pela "faltapaysafecard rouletteestrutura da cidade, transporte, moradia", diz ela. "São fatores modificáveis, que poderiam ser alterados para dar melhores condiçõespaysafecard roulettevida às pessoas."

Isso leva a mais um fator, e um fator grave no contexto da covid-19: a prevalênciapaysafecard roulettecomorbidades, como hipertensão e diabetes, que também afetam negros e pobres desproporcionalmente, nessa população. Essas comorbidades contribuem para a mortalidade por covid-19, e estão mais presentes na população negra e pobre "não por uma questão hereditária, mas porque ela está mais exposta a situações precárias", diz Góes.

O que fazer?

Para resolver esse problema, os especialistas dizem ser preciso endereçar o problema da desigualdade no Brasilpaysafecard roulettegeral, enfrentar o racismo e investir no SUS, o sistema universalpaysafecard roulettesaúde brasileiro.

"O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. A sociedade brasileira considera a desigualdade um problema? Eu acredito que grande parte da população não acha que a desigualdade é um problema", diz Vecino Neto. Mas, para ele, essa é a "patologia social" mais importante que se tem. "É um quadro que a sociedade tem que buscar corrigir. Não dá pra conseguir se defenderpaysafecard rouletteepidemia como essa com nossa desigualdade."

Para ele, é necessário "melhorar o SUS". "Estamos colocando o SUS à prova e ele está respondendopaysafecard roulettemaneira mais ou menos adequada. Vamos sair dessa epidemia com uma lição importante que é buscar melhorar o funcionamento do SUS."

Já Góes diz que a solução deve passar por "repensar e refazer estratégias colocando a questão do enfrentamento ao racismo no centro do debate", para que pessoas negras tenham o mesmo acesso ao mercadopaysafecard roulettetrabalho e serviçospaysafecard rouletteeducação e saúde.

"Enquanto não refletirmos sobre isso e não tivermos uma sociedade preparada para reconhecer o racismo como estrutural e reconhecer as desigualdades, será bem difícil fazer mudanças estruturais."