Com apenas três falantes, língua indígena tem estudo recuperado pelo Museu Nacional:champions bet apk

Crédito, Arquivo pessoal
Escritos entre 1976 e 1977, os cadernoschampions bet apkcampo, agora digitalizados, trazem a caligrafia original da época, fotografada e colorida. São 2.762 entradas, com vocabulários e expressões yawalapiti, transcritoschampions bet apkum sistema fonético, que abrangem temas como corpo, indumentária, animais, ambientes da casa, festas e rituais.
O léxico traduz expressões que o português desconhece, como haka, o cheirochampions bet apkalimento que está sendo feito. O contato com o branco fez com que novas expressões surgissem no vocabulário da língua. Os óculos são a "defesa do olho". Ferramenta do linguista, o gravador tem o nomechampions bet apk"pegadorchampions bet apkpalavra".
Outros nomes são intraduzíveis e estão na raiz da cosmogonia yawalapiti. Na tradição da etnia, o sol (Kami) e a lua (Küri) são dois irmãos gêmeos. Para os xinguanos, eles são os arquétipos e criadores da humanidade. Não há como chamá-loschampions bet apkoutra língua sem perdachampions bet apksentido.
"Quando se rompe a transmissão da língua, você rompe também a dos conhecimentos", afirma a linguista Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, orientadorachampions bet apkTapí no mestrado da UnB. "A perdachampions bet apkuma língua é a perda desse vínculo com a história, com a identidade."
'Identidade do povo'
A história do povo Yawalapiti é feitachampions bet apkcrises e sobrevivências. Atingida por epidemias na décadachampions bet apk1940, a etnia chegou a contar com 25 indivíduoschampions bet apk1954. Com a chegada dos irmãos Villas-Bôas - Orlando, Cláudio e Leonardo, sertanistas que idealizaram o Parque Indígena do Xingu, criadochampions bet apk1961 -, casamentos interétnicos foram estimulados como estratégiachampions bet apkpreservação do grupo.
Os falantes da língua original foram desaparecendo à medida que os idiomas vizinhos eram incorporados à vida da aldeia. Quando Tapí nasceu,champions bet apk1977, havia 20 falanteschampions bet apkyawalapiti.
"Está na minha responsabilidade revitalizar a língua materna do meu povo. Se ela desaparecer, a gente perde parte da cultura. A língua é identidade do povo", diz o linguista, que ainda não conhecia os cadernos guardados no Museu Nacional, escritos no ano do seu nascimento.
Ele anota e estuda diariamente registros da língua com o pai. Sua pesquisa aponta processoschampions bet apkmudança que o idioma adotou para sobreviver, pressionado pelo contato com outras línguas.
O yawalapiti reestruturou as formaschampions bet apknegação, as orações subordinadas, a concordânciachampions bet apkgênero, a extensão das palavras. Mas, para além dos estudoschampions bet apkgramática, é a prática cotidiana da língua que Tapí quer estimular na aldeia, hoje com cercachampions bet apk120 pessoas na área principal.
Com a instruçãochampions bet apkTapí, um professor do ensino médio já ensina a adolescentes palavras simpleschampions bet apkyawalapiti, como nomeschampions bet apkanimais, peixes e árvores. "Eles já estão me cobrando uma gramática", conta o pesquisador, que tem o projetochampions bet apkcriar livros didáticos e material audiovisual no idioma.

Crédito, Tapí Yawalapiti
"Meu pai e eu queremos ver os meninos falarem a língua. Os jovens estão interessados. Eles só precisam da gramática", diz Tapí, que, além do yawalapiti, fala português, kalapalo, kamaiurá e kuikuro.
O papelchampions bet apkliderança na tribo não é gratuito: ele foi escolhido pelo pai, Aritana, e pelo cacique Raoni Metuktire como o próximo líder dos povos do Xingu.
Segundo o Atlaschampions bet apkLínguaschampions bet apkPerigo da Unesco, o Brasil é o país com mais línguas sob riscochampions bet apkextinção no mundo: são 178 idiomas ameaçados e 12 já desaparecidos. No país, 45 línguas estãochampions bet apksituação crítica,champions bet apkrisco iminentechampions bet apkserem extintas.
Essa condição ocorre quando os poucos falantes do idioma já estãochampions bet apkidade avançada e interagem apenas parcialmente na língua com os demais membros da comunidade.
É o caso do yawalapiti. "Se essas três pessoas falecerem, e não registrarmos, a língua vai acabar, vai desaparecer", diz Tapí. Estudos indicam que, desde a colonização, o Brasil possa ter perdido ao menos mil línguas indígenas.
A salvo do incêndio
A salvaguarda dos cadernos da década 1970 ocorreu por uma coincidência: no momento do incêndio, os originais estavam fora do arquivo,champions bet apkprocessochampions bet apkhigienização juntochampions bet apkoutros itens.
Os documentos haviam sido doados pela linguista Charlotte Emmerich, professora aposentada da UFRJ que orientou os estudos à época e coordenou o trabalhochampions bet apkrecuperação.
Antes da tragédia, os arquivos do Museu Nacional guardavam, catalogados, cercachampions bet apk11 mil documentos relativos a maischampions bet apk190 línguas indígenas do Brasil, algumas já extintas. Somados aos não indexados, estima-se que fossem maischampions bet apk16 mil itens entre cartas, vocabulários, cadernos e diárioschampions bet apkcampo, anotações, telegramas e outros papéis, alémchampions bet apkarquivos sonoros com discursos, narraçãochampions bet apkmitos e cantos rituais.
"Comparado ao que se perdeu, é uma parte mínima", diz Marília Facó, diretora do Centrochampions bet apkDocumentaçãochampions bet apkLínguas Indígenas (Celin), vinculado ao museu e responsável pela guarda e catalogação desses materiais. O incêndio consumiu arquivos históricos extensos, como o do povo Parkatêjê, do Pará, cujo idioma, o Timbira Oriental, é hoje falado apenas entre os mais velhos.
Com uma equipe fixachampions bet apktrês pessoas (alémchampions bet apkMarília, uma bibliotecária e uma arquivista), o Celin trabalha para indexar o material recuperado e as doações que chegam ao arquivo, hojechampions bet apknúmerochampions bet apk208 peças catalogadas, alémchampions bet apk6 mil livros.
Uma outra estratégiachampions bet apkresgate é o que se chamachampions bet apkrecuperação digital por circuitochampions bet apkusuários, quando os pesquisadores guardamchampions bet apkseu próprios arquivos cópias e fotografias do material consultado.
Foi assim que o museu resgatou, por exemplo, o vocabulário da extinta língua Puri, coletadochampions bet apk1885 pelo engenheiro Albertochampions bet apkNoronha Torrezão. No último levantamento,champions bet apksetembrochampions bet apk2019, já haviam sido recuperados 690 itenschampions bet apkdocumentaçãochampions bet apk77 línguas.
Além dos materiais que escaparam ao incêndio por estarem momentaneamente fora do arquivo, outros foram preservados por digitalização prévia. O Museu Nacional guardava os originais dos arquivos do etnólogo alemão Curt Nimuendajú, responsável pelo maior númerochampions bet apkexpedições nas aldeias do país na primeira metade do século 20.
Comprados após a morte do estudiosochampions bet apkuma aldeia Ticuna,champions bet apk1945, os documentos foram perdidos no incêndio. Mas um trabalhochampions bet apkdigitalização, feitochampions bet apk2016 com recursos do extinto Ministério da Cultura, permitiu que os documentos estivessem hoje preservados. Agora a ideia, segundo Marília, é tornar esses arquivos acessíveis a todos.
"Não adianta passar a vida com os arquivos e achar que só os especialistas vão procurá-los", diz a linguista. "Esses materiais só tem seu valor pleno se divulgados. Não podem ficar como frutochampions bet apkum colecionismo que acha que vai salvar línguas mantendo um arquivo protegido."

Crédito, Arquivo pessoal
A criaçãochampions bet apkarquivos públicoschampions bet apklínguas indígenas ainda é minoritária no Brasil. Linguista e professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Fernando Orphãochampions bet apkCarvalho consultou as cópias dos cadernos Yawalapitichampions bet apk2016, quando estudava o desenvolvimento histórico do idioma, um dos três da família Aruak, a maior da América do Sulchampions bet apknúmerochampions bet apklínguas e extensão geográfica.
Ele diz que apenas nas últimas duas décadas o país vem adotando modeloschampions bet apkdocumentação pública nos quais os dados são compartilhados.
"A tradição no Brasil é a seguinte: o pesquisador vai a campo, coleta dados sobre a língua, mas ele meio que 'senta' sobre aqueles dados. Aquelas informações ficam sendo dele, privadas", diz o professor, que hoje pesquisa o idioma do povo Ikpeng, do Alto Xingu.
Segundo Carvalho, nos Estados Unidos, a criaçãochampions bet apkbancoschampions bet apkdados extensos sobre documentação linguística permitiu que, hoje, populações remanescentes tentem revitalizar línguas já extintas. "Produziram-se arquivoschampions bet apkdocumentos enormes, com gravaçõeschampions bet apkvídeo,champions bet apkáudio, que ainda nem sequer foram analisadas."
Não é raro, segundo Marília Facó, que pesquisadores mantenham seus arquivos sob guarda privada. "Alguns constituem dentrochampions bet apkcasa, o que não é legal, porque as pessoas são pagas com verba pública", diz.
Para Carvalho, o hábitochampions bet apkguardar,champions bet apkcoleção própria, material coletadochampions bet apkcampo torna difícil a constituiçãochampions bet apkestudos mais densos. "Pesquisadores, propositadamente, boicotam ações por partechampions bet apkoutros linguistas que queiram trabalhar com aquela língua", afirma.
Corrida pela digitalização
No Brasil, trabalhoschampions bet apkampla documentação ainda são tímidos. Em 2009, o Museu do Índio lançou um projeto linguísticochampions bet apkestudo sobre 13 línguas, com a produçãochampions bet apkrelatórios, estudos gramaticais e vocabulários. Aos poucos, a digitalização começa também a ser uma tática comumchampions bet apkpreservação.
O Museu Paraense Emílio Goeldi guarda 20 mil itens relativos a aproximadamente 80 línguas indígenas amazônicas, das quais 65 já digitalizadas. O alto custo, no entanto, ainda é uma barreira. A recuperação dos cadernos Yawalapiti custou cerca R$ 20 mil, obtidoschampions bet apkrecursochampions bet apkapoio emergencial da Fundaçãochampions bet apkAmparo à Pesquisa do Estado do Riochampions bet apkJaneiro (Faperj).
Na áreachampions bet apkcriaçãochampions bet apkbancos arquivísticos, também há iniciativaschampions bet apkinstituições e consórcioschampions bet apkpesquisadores internacionais, no campo da linguísticachampions bet apksalvamento, que é a documentaçãochampions bet apkidiomaschampions bet apkestado críticochampions bet apkexistência. O programa alemão Dobes documentou, por exemplo, a língua kuikuro, falada no Xingu.
A documentação esparsa resultachampions bet apktrabalhoschampions bet apkpouco fôlego. Segundo a professora Ana Suelly, são poucos os dicionários indígenas na América do Sul, que não vão muito alémchampions bet apk4 mil palavras. Um dos mais completos trabalhos continua sendo o do padre jesuíta Antonio Ruizchampions bet apkMontoya, que documentou a antiga língua Guarani no século 17. A língua do povo Wajãpi, do Amapá, tem descriçãochampions bet apkléxico com 6 mil entradas.
Para Carvalho, comparado ao estadochampions bet apkdocumentaçãochampions bet apklínguas da Europa e da América do Norte, o continente sul-americano continua sendo uma terra incógnita.
"Há línguas que não têm mais documentação do que listaschampions bet apkpalavras isoladas, registradas por indivíduos sem treinamento linguístico. São dados problemáticos", afirma.
"A documentação das línguas no Brasil é muito fragmentária", diz Ana Suelly. "Alguém faz uma gramática e já chamachampions bet apk'a gramática'. É preciso todo tipochampions bet apkdocumentação, da flora, da fauna, dos fazeres, dos rituais, a fala das crianças, da mãe com as crianças. A língua é uma fontechampions bet apkconhecimento inesgotável", afirma a professora, que trabalha para a criaçãochampions bet apkum atlas sonoro com 40 línguas indígenas no Laboratóriochampions bet apkLínguas e Literaturas Indígenas (Lalli), que coordena na UnB.
Para ela, a documentação feita pelo indígena, imerso na cultura que estuda, é incomparável. "Tapí sabechampions bet apkcoisas que linguista nenhum vai saber", diz.
O protagonismo indígena na linguística é dado recente. Antes apenas objetochampions bet apkobservação e análise, o indígena passa a se tornar protagonista da própria língua. No Museu Nacional, o Mestrado Profissionalchampions bet apkLinguística e Línguas Indígenas tem 70% das vagas destinadas a esse grupo.
Na UnB, indígenas também ocupam os programaschampions bet apkpós-graduação e ediçõeschampions bet apkrevistas acadêmicas são dedicadas exclusivamente a esses pesquisadores.
Pesquisador dessa geração, Tapí diz que o trabalho do pesquisador não indígena é importante, mas a interação com as aldeias é necessária. "Todos os trabalhos científicos precisam ter um retorno", diz. "Tem que levar esses trabalhos escritos aos caciques, à comunidade. Os professores indígenas podem trabalhar com a escrita e o registro da língua materna e paterna."
A recuperação dos cadernos do Museu Nacional estão dentro dessa lógica, diz Marília Facó. "Os yawalapiti podem se apropriar do trabalho para corrigir, para mudar, comentar, discutir. É parte do processochampions bet apkrevitalização,champions bet apkretomada."
Tapí só aguarda o retorno das atividades da UnB, suspensas pela pandemia da covid-19, para defender a dissertaçãochampions bet apkmestrado e se preparar para o doutorado. Ele se mostra confiante na sobrevivência e revitalização dachampions bet apklíngua, que já pode ser ouvida, ainda que timidamente, entre os mais jovens pela aldeia.
"Converso com os meninos e eles estão muito interessados. Acredito que vou conseguir realizar meu sonhochampions bet apkver os jovens falarem na língua materna."

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