Em meio a lobby para Nobel da Paz, Raoni viaja ao Reino Unido e tenta encontro com Greta:link aposta ganha

"Todos deveriam proteger a floresta do Brasil. O mundo fala, todos estão preocupados com a destruição da Amazônia. Não devemos ficar calados", diz ele,link aposta ganhacaiapó. Sua fala é traduzida por seu sobrinho, o chefe caiapó Megaron Txucarramãe.

"Eu conheço, conheço bem a natureza, os pajéslink aposta ganhaantigamente me ensinaram. Nós todos devemos nos unir, porque a Terra está sendo destruída. Há desmatamento, e hoje o mundo estálink aposta ganhaguerra", afirma. "Hojelink aposta ganhadia há muitas mortes sob o olharlink aposta ganhaquem nos fez. Eu também estou observando e ficando preocupado."

'Não vim falar disso'

Raoni tem uma longa histórialink aposta ganhaluta pela preservação da floresta, e é respeitado e considerado por outros povos uma liderança.

Nos anos 1980, foi apresentado ao cantor britânico Sting e com ele rodou o mundo defendendo a necessidadelink aposta ganhaproteção à Amazônia e aos povos indígenas.

No Brasil, participoulink aposta ganhamobilizações indígenas durante a elaboração da Constituiçãolink aposta ganha1988. O texto aprovado garante a proteção aos direitos dos indígenas no país e a demarcaçãolink aposta ganhaterras.

Sua representatividade, no entanto, é questionada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele afirmou no ano passado que Raoni merece respeito, mas "não fala pelos indígenas". "Não existe mais o monopólio do Raoni. Raoni fala outra língua. Não fala a nossa língua."

Agora, Raoni não quer mais falar sobre Bolsonaro. "Deixe ele para lá, para lá. Não vim falar disso, vim para falar sobre assuntos nossos do povo menbégôkre (caiapó)", diz à BBC News Brasil. Questionado sobrelink aposta ganharepresentatividade, Raoni diz apenas que tem muita gente que o apoia.

Há poucas semanas,link aposta ganhameadoslink aposta ganhajaneiro, Raoni convocou uma reuniãolink aposta ganhalideranças indígenas na Terra Indígena Capoto/Jarina, no Mato Grosso, uma ideia que tinha há muitos anos e conseguiu concretizar com recursoslink aposta ganhadoadores levantadoslink aposta ganhaoutra viagem que fez ao Reino Unido, no ano passado.

Maislink aposta ganha600 membroslink aposta ganha45 etnias compareceram, e todos prestaram reverência ao cacique — uma espécielink aposta ganharecado a Bolsonaro. No evento, indígenas também endossaramlink aposta ganhaindicação ao Nobel da Paz e divulgaram um manifesto que denuncia o "genocídio, etnocídio e ecocídio" por parte do governo brasileiro.

Apesarlink aposta ganhabastante respeitado, Raonilink aposta ganhafato não é considerado um líder por todos os povos. Um grupolink aposta ganhaindígenas que praticam agricultura mecanizadalink aposta ganhaseus territórios, por exemplo, tem se aproximadolink aposta ganhaBolsonaro. Raoni diz não gostar desses grupos. "Pensamos diferente, eu não gostolink aposta ganhaviolência, não gostolink aposta ganhaconflito. Tem indígenas fazendo o errado", diz à BBC News Brasil.

Quando fala na preservação da floresta, fala também sobre os jovens indígenas, com quem afirma se preocupar. "Comecei minha luta desde jovem e agora os jovens já conhecem a cultura dos brancos. Estão deixando nossa cultura indígena, e isso me preocupa."

Possibilidade do Nobel

O nomelink aposta ganhaRaoni começou a ser aventado para o Nobel da Paz no ano passado e, quando o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed ganhou o prêmio, houve decepção entre seus apoiadores.

Maslink aposta ganhaindicação só havia sidolink aposta ganhafato submetida ao Comitê do Nobellink aposta ganhasetembro, o que significa que valeria apenas para o prêmiolink aposta ganha2020. O ganhador é anunciado no final do ano —link aposta ganha2019, o vencedor do prêmio recebeu 9 milhõeslink aposta ganhacoroas suecas, o equivalente a R$ 3,8 milhões.

Indicações para o prêmio podem ser feitas por professores universitários, membroslink aposta ganhaassembleias nacionais ou lídereslink aposta ganhaEstado, entre outros.

No casolink aposta ganhaRaoni, foi o Instituto Darcy Ribeiro quem encampoulink aposta ganhacandidatura, pedindo, no entanto, que uma terceira pessoa o inscrevesse no prêmio, explica Toni Lotar, vice-presidente do instituto. Isso porque,link aposta ganhaacordo com as regras do prêmio, quem preenche o formulário não pode divulgar a inscrição — e o instituto queria fazer isso.

"A ideialink aposta ganhafazer a indicação do Raoni já tem alguns anos. No ano passado, o Brasil teve essa mudançalink aposta ganhagoverno, entrou esse presidente novo, que é um presidente como nenhum outro no passado se declarou explicitamente anti-indígena. Virou um personagem preocupante para os povos indígenas, o que fez com que o Raoni a partirlink aposta ganhaabril e maio do ano passado saísselink aposta ganhasua aldeia e retomasse suas turnês pelo mundo", conta Lotar.

Em agosto, Raoni se reuniu com o presidente francês, Emmanuel Macron, que depois acabaria discutindo com Bolsonaro sobre a preservação da Amazônia. Os dois já haviam se encontrado na Françalink aposta ganhamaio.

Lotar diz então ter se encontrado com Raonilink aposta ganhaabril, no Acampamento Terra Livre, mobilização indígena, e comentado com ele sobre a possibilidade da candidatura ao Nobel e "ele falou ok". "Ele não incentivou, eufórico, mas entendeu que poderia ser algo importante para a causa indígena e deu autorização."

À BBC News Brasil, Raoni diz que muitas pessoas falaram com ele sobre o tema. "Vão me dar o prêmio pelo meu trabalho, por ajudar as pessoas", diz.

Impulsionado por quem mantém contato com ele e o acompanhalink aposta ganhaviagens, como Lotar e outros acadêmicos, o cacique entroulink aposta ganhauma espécielink aposta ganhacampanha.

A estratégia para ser agraciado com um Nobel passa por uma turnê mundial, que neste ano começoulink aposta ganhaOxford, com um evento organizado com o objetivo primordiallink aposta ganhachancelar a candidatura do indígena ao prêmio, no dia 30link aposta ganhajaneiro.

"Maislink aposta ganha600 lideranças estiveram juntas ali (no encontro promovido por Raoni recentemente no Mato Grosso) respaldando o cacique. Nossa intenção ao trazê-lo a Oxford era que ele também fosse respaldado pela academia", diz Colón, da Universidade Estadual da Flórida.

"Damos uma mensagem para o mundo,link aposta ganhaque esse chefe brasileiro tem um respaldo não sólink aposta ganha45 etnias e 600 lideranças, mas também é respaldado pela academia, que dá a ele a legitimidadelink aposta ganhaser o nosso Nobel da Paz."

"Meu tio não está pedindo. Ele não está falando: 'Dá para mim'. Ele não sabe o que é prêmio Nobel da Paz. Estão falando que vão fazer tudo para ele ganhar esse prêmio como reconhecimento do trabalho, da luta dele", diz Megaron, sempre ao ladolink aposta ganhaRaoni.

"Se ele ganhar, será muito bom para nós indígenas. O mundo inteiro vai ver e ter mais respeito com a terra indígena. Eu acho que é isso que nós queremos."

A tática para o Nobel também conta com menos falas combativas sobre Bolsonaro e mais falas sobre paz, alémlink aposta ganhaum possível encontro com a jovem ativista sueca Greta Thunberg.

Segundo Lotar, também faz parte da estratégia a entrega do manifesto redigido no encontro no Mato Grosso ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, com Raoni indo pessoalmente fazê-lo.

Outras táticas

A ideialink aposta ganhaum encontro entre Raoni e Greta tem sido repetida por quem defende seu nome para o prêmio — e os precedenteslink aposta ganhaum Nobel da Paz duplo alimentam a ideia. Em 2014 e 2018, por exemplo, o Nobel da Paz foi dado a maislink aposta ganhauma pessoa.

Nesta segunda-feira (03/02), duas integrantes do Parlamento da Suécia disseram ter submetido o nomelink aposta ganhaGreta para o Nobel da Paz. No ano passado, ela também havia sido indicada.

A imagem fortelink aposta ganhaum possível encontro é alink aposta ganhadois ativistas juntos pela preservação do meio ambientelink aposta ganhageraçõeslink aposta ganhapontas opostas: uma jovem europeialink aposta ganha17 anos e um indígena brasileiro com cercalink aposta ganha90 anos e um grande históricolink aposta ganhaluta ecológica. Ambos também já foram hostilizados por Bolsonaro.

"A gente gostaria muito que eles pudessem dialogar, se encontrarlink aposta ganhaalgum momento, mas não sabemos ainda quando será isso. Existe a possibilidade e o desejo muito grandelink aposta ganhaque eles possam trocar alguma formalink aposta ganhadiálogo", diz Colón.

"Seria bastante simbólico que ganhasse o Nobel da Paz uma liderança da estirpe do Raoni junto com uma adolescente, europeia nórdica, e os dois defendendo a mesma causa", diz Lotar.

Segundo ele, há negociações para promover o encontrolink aposta ganhameados do ano. "Não deu para fazer isso agora. A menina tem uma agenda carregada."

Mas Lotar diz que o encontro seria "muito mais para Raoni levar o agradecimento dos povos indígenas às falas da Greta do que propriamente uma açãolink aposta ganhamarketing para ganhar o Nobel da Paz, porque o Raoni não estálink aposta ganhabusca do Nobel da Paz".

A assessorialink aposta ganhaimprensalink aposta ganhaGreta confirma que ela foi procurada por representanteslink aposta ganhaRaoni. Diz, porém, quelink aposta ganhaagosto, mêslink aposta ganhaque foi convidada para ir ao Brasil encontrar Raoni, ela voltará à escola, e descarta possibilidadeslink aposta ganhaencontroslink aposta ganhaoutras datas.

A outra estratégia do líder indígena é, como aconteceu na entrevista, evitar falar sobre Bolsonaro.

Segundo o Instituto Raoni, a decisão é ligada a um aumentolink aposta ganhahostilidadelink aposta ganharelação a ele e outros indígenas depois que ele começou a responder a provocações do presidente.

A BBC News Brasil apurou que, além disso, acredita-se que falas combativaslink aposta ganharelação a Bolsonaro não "combinariam" com o prêmio, e portanto o indígena terialink aposta ganhareduzi-las, embora já tenha falado bastante sobre o presidente no ano passado.

Lotar diz que não é o caso. Segundo ele, Raoni simplesmente paroulink aposta ganhacriticar o presidente porque viu que é perdalink aposta ganhatempo, e que as lutas devem ser travadas no Legislativo e no Judiciário.

A presençalink aposta ganhaoutros países e a denúncia pública dos problemas na Amazônia também é vista como positiva para a candidatura ao Nobel, já que o prêmio considera os feitos recentes dos nomeados.

Depois que teve seu nome enviado ao Comitê do Nobel, Raoni foi convidado para visitar neste ano os Estados Unidos e a Suíça. Antes disso, também havia sido convidado para ir ao Japão. Ainda não há confirmação dessas viagens.

No Reino Unido, Raoni tinha na agenda um encontro com o ministro do Meio Ambiente, Zac Goldsmith. Questionado sobre o que pediria ao governo britânico, afirmou que gostarialink aposta ganhaapoio para a preservação dos povos indígenas e da Amazônia, sem explicarlink aposta ganhaque forma, e também para ir até o Congresso brasileiro entregar o manifesto redigido no Mato Grosso.

"O coração do Brasil é a floresta. Se derrubarem toda a floresta haverá mudanças climáticas, como as fortes chuvas e inundação. Espero que as autoridades daqui e outros se juntem para combater o desmatamento, para não haver mudançaslink aposta ganhaclima", afirma. "Se não se unirem, vai aumentar a destruição da Amazônia e será ruim para todos nós."

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