Iemanjá tem cor? Por que a divindadeqg pixbetorigem africana se transformouqg pixbet'mulher branca' no Brasil:qg pixbet

Mulher negra observa estátuaqg pixbetIemanjá

Crédito, Alexandre Macieira/Riotur

Legenda da foto, Para historiadores, imagem ocidentalizada da entidade tem raízes na opressão das religiões dos negros escravizados e se massificou com sincretismo da umbanda

Da mesma forma, entende Helena Theodoro, pesquisadoraqg pixbethistória comparada da UFRJ, a imagemqg pixbetIemanjá branca tem raízes no processoqg pixbetcolonização do Brasil, que impôs uma visãoqg pixbetsuperioridade europeia sobre os povos indígenas e africanos. "Houve uma demonização das religiões negras e indígenas a partir do que a Europa situou como sendo civilizado, humano. Nesse contexto, o humano é europeu, brancoqg pixbetolho azul", nota ela.

Quadroqg pixbetIemanjá, da artista Valeria Felipe, mostra representação negraqg pixbetIemanjá, fora dos padrõesqg pixbetmagreza

Crédito, Reprodução/Acervo pessoal Carolina Rocha

Legenda da foto, Quadroqg pixbetIemanjá, da artista Valeria Felipe, mostra representação negraqg pixbetIemanjá, fora dos padrõesqg pixbetmagreza

Essa dinâmica, continua Theodoro, provocou um processoqg pixbetsincretismo religiosoqg pixbetque os escravos e seus descendentes aproveitavam as datasqg pixbetfestejosqg pixbetsantos católicos para cultuar seus orixás, usando inclusive imagens desses santos. Iemanjá, mãeqg pixbetgrande parte dos orixás, foi sincretizada com várias santas, como Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora dos Navegantes, ambas celebradasqg pixbet2qg pixbetfevereiro, e Virgem Maria, a mãeqg pixbetJesus.

"Foi uma grande lutaqg pixbetMãe Estelaqg pixbetOxossi, (falecidaqg pixbet2018, por décadas ialorixá) do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, que se tirasse as imagensqg pixbetsanto do candomblé. Durante um determinado período isso era necessário porque a gente não podia excercer o nosso culto", lembra Theodoro.

A massificação da imagemqg pixbetIemanjá branca, representadaqg pixbetestátuasqg pixbetgesso, porém, ocorre com o surgimento da umbanda, no início do século passado. Essa religião aprofundou o sincretismo no Brasil, unindo elementos do espiritismo, do cristianismo, do candomblé e tambémqg pixbetculturas indígenas.

"Essa imagemqg pixbetIemanjá, como mulher branca, nasceu, muito provavelmente, no ambiente da umbanda, uma religião sincrética, surgida num contextoqg pixbet'desafricanização' da cultura afrobrasileira", respondeu por email à BBC News Brasil o cantor Nei Lopes, estudioso das culturas africanas e autorqg pixbetdiversos livros como "Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos".

"Mesmo porque as modalidadesqg pixbetculto (de matriz africana) mais tradicionais não representam as divindadesqg pixbetforma humana, pois elas são, sobretudo, energias, forças cósmicas", ressalta ainda Lopes.

Casaqg pixbetIemanjá, na Praia do Rio Vermelho

Crédito, Tatiana Azeviche/Setur/Governo da Bahia

Legenda da foto, Casaqg pixbetIemanjá, na Praia do Rio Vermelho

Orixá não tem cor?

Como explica o portal do Museu Afro Brasil, a escravidãoqg pixbetnegros, regimeqg pixbetexploração que perdurou no Brasil por maisqg pixbettrês séculos até ser abolidoqg pixbet1888, "colocouqg pixbetcontato as religiõesqg pixbetdiferentes povos africanos, que acabaram por assimilar e trocar entre si elementos semelhantesqg pixbetsuas culturas". Foi nessa mistura que se formaram as religiões afro-brasileiras.

O candomblé "não é um único culto religioso, mas antes uma sérieqg pixbetcultos estreitamente aparentados", nota ainda o site. Suas divindades levam os nomesqg pixbetorixás, inquices e voduns,qg pixbetacordo com o povoqg pixbetorigem, se ioruba, banto ou jeje, respectivamente. No Brasil, as três formas estão presentes, mas a nomenclatura orixá é que a mais se popularizou.

Diferentementeqg pixbetJesus Cristo, descrito no catolicismo como uma encarnação humanaqg pixbetDeus, Iemanjá representa no candomblé uma força da natureza, uma energia. Nesse sentido, o orixá não tem uma corqg pixbetpele. Para a historiadora e candomblecista Carolina Rocha, porém, é importante afirmar a negritudeqg pixbetIemanjá. Segundo ela, representá-la como branca faz parteqg pixbetum processoqg pixbet"epistemicídio", conceito usado pelo sociólogo português Boaventuraqg pixbetSousa Santos para se referir à destruição ou inferiorizaçãoqg pixbetconhecimentos, saberes e culturas pelo colonialismo.

"Todas as entidades, símbolos, forças que são cultuadas, apesarqg pixbetnão terem tido uma existência humana propriamente dita, elas têm uma origem, têm uma história", afirma a pesquisadora, que está concluindo um doutorado sobre conflitos religiosos contemporâneos na Universidade do Estado do Rioqg pixbetJaneiro.

Rocha — que emqg pixbetcasa tem um quadroqg pixbetuma Iemanjá negra da artista plástica Valeria Felipe — questiona não só a cor, mas todo a "estética ocidental" presente na imagem mais popular da entidade como uma mulher "super magra,qg pixbetcabelos lisos". Ela lembra que Iemanjá, assim como outros orixás femininos (yabás) relacionados à água como Oxum e Nanã, representa a fertilidade, a abundância e a transmissãoqg pixbetconhecimento.

"Em termosqg pixbetreligião negra africana, Iemanjá, obviamente, alémqg pixbetser uma mulher negra, é uma mulherqg pixbetseios muito fartos,qg pixbetquadris largos, isso também passa pela prosperidade feminina, pelo símboloqg pixbetfertilidade. Então, há um completo apagamento do que significa esse símbolo nessa imagem branca com barriga chapada", crítica.

"É algo muito cruel essa imagem que tem uma capilarização no tecido social imensa e nega uma origem, num projetoqg pixbetracismoqg pixbetque o padrão ocidental branco é colocado como o bonito. Parece bobagem falarqg pixbetestética, mas não é, porque na verdade você está falandoqg pixbetautoestima e sem autoestima você não é nada", reforça.

Procissãoqg pixbetCidreira

Crédito, Fauers

Legenda da foto, Em Cidreira, no litoral do Rio Grande do Sul, uma grande procissãoqg pixbethomenagem a Iemanjá e a à Nossa Senhoraqg pixbetCandeias ocorre anualmente na noiteqg pixbet1ºqg pixbetfevereiro

Resistências ao debate

Carolina Rocha diz que hoje "existe um debate enorme dentro das religiõesqg pixbetmatriz africana" sobre a representação da divindade, mas reconhece que "muitas casas (de candomblé e umbanda) não refletem sobre isso".

Em Cidreira, no litoral do Rio Grande do Sul, uma grande procissãoqg pixbethomenagem a Iemanjá e a à Nossa Senhoraqg pixbetCandeias ocorre anualmente na noiteqg pixbet1ºqg pixbetfevereiro até uma estátuaqg pixbetmaisqg pixbetoito metrosqg pixbetuma mulher branca,qg pixbetvestido azul e adorno com estrela sobre os cabelos negros escorridos.

"Nossa procissão é a maior do país, reúneqg pixbettornoqg pixbet40 mil, 50 mil pessoas", afirma o presidente da Federação Afro Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul (Fauers), Everton Alfonsin.

Questionado pela reportagem sobre como refletia sobre representação brancaqg pixbetuma divindade com origem africana, Alfonsin também lembrou que os escravizados recorriam às imagens e datas festivas católicas para cultuar seus orixás e reconheceu que houve racismo nesse processo. Ele disse, porém, não ver necessidadeqg pixbetuma revisão disso dentro da umbanda.

"A estátuaqg pixbetCidreira representa Iemanjá sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, não tem nada a ver com a Iemanjáqg pixbetmatriz africana", argumentou, destacando ainda que a divindade não é chamadaqg pixbetorixá na umbanda, masqg pixbetcaboclo.

Um dos organizadores da procissão à Iemanjá que tradicionalmente parte do Mercadãoqg pixbetMadureira, na Zona Norte do Rioqg pixbetJaneiro, até Cobacabana, dias antes do reveillon, congregando pessoasqg pixbetdiferentes credos, Hélio Sillman não vê racismo na representação branca da entidade. Ele, que gerencia a loja Mundo dos Orixás, diz que é "católico, com um pezinho na umbanda".

"Essa discussão não leva a lugar nenhum, se é branco, se é negro, se é isso, se é aquilo. É criar um problema sem ter", diz.

O evento realizado há 17 anos ocorreu apenas dentro do mercadão pela primeira vezqg pixbet2019. Segundo Sillman, a prefeitura do Rio não liberou um alvará para a carreata. A cidade é governada pelo evangélico Marcelo Crivella.

Estátuaqg pixbetIemanjá

Crédito, Alexandre Macieira/Riotur

Legenda da foto, Representaçãoqg pixbetIemanjá foi processo similar ao embranquecimento da imagemqg pixbetJesus Cristo, dizem especialistas

"Convencimento deve vir pela educação"

Pesquisador da afrobaianidade e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Gildeci Leite diz que o debate sobre a corqg pixbetIemanjá está vivo nos terreiros baianos, mas ressalta que ainda hoje predomina a representação branca da entidade na tradicional festaqg pixbetdoisqg pixbetfevereiro na praia do Rio Vermelho,qg pixbetSalvador, proporcionalmente a capital mais negra do Brasil.

Numa das pontas dessa praia, há uma estátua da yabá com caldaqg pixbetsereia esculpidaqg pixbetuma pedraqg pixbetcor clara. Ela estáqg pixbetfrente a uma casa dedicada à divindade que abriga uma espécieqg pixbetaltarqg pixbetque uma grande Iemanjá branca fica rodeada por flores e representações menoresqg pixbetvariados tipos, inclusive algumas esculturas negras.

Leite considera fundamental problematizar a atual representação do orixá, mas defende que isso seja feito com respeito às outras representações,qg pixbetforma devagar. "Eu penso que Iemanjá tem que ter representação negra, mas pra isso eu não preciso depreciar outras representações. Até porque isso tem que ser um processoqg pixbeteducação,qg pixbetconvencimento com encantamento, não com opressão. Já fomos oprimidos demais", afirma.

"Minha mãe biológica ainda associa Iemanjá com Nossa Senhora da Conceição. E eu vou dizer que está errado? Não, porque isso é um processoqg pixbetconstrução. Já os meus filhos biológicos sabem que Iemanjá é Iemanjá e Nossa Senhora da Conceição é Nossa Senhora da Conceição e que ambas merecem respeito", diz ainda.

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