Campanhabet vitoriaBolsonaro lembra Chávez, mas democracia brasileira é mais forte que a venezuelana, vê analista americano:bet vitoria

Taylor pondera que o comentário do deputado pode ter sido "irrefletido" e vê como positivo o fatobet vitoriaJair Bolsonaro ter reagido dizendo que "qualquer um que queira fechar o Supremo precisa ir a um psiquiatra". Mas o pesquisador americano enxerga semelhanças entre a postura do candidato do PSL à Presidência ao longo da campanha com a adotada por Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela, embora ideologicamente Bolsonaro e os chavistas estejambet vitorialados opostos. E diz que o Brasil precisa ficar atento a eventuais propostasbet vitoriamudanças na composição e indicaçãobet vitoriamembrosbet vitoriatribunais e do Ministério Público.

O cientista político lembra que Bolsonaro disse que, se eleito presidente, não vai escolher o futuro procurador-geral da Repúblicabet vitoriauma lista tríplice elaborada pelo Ministério Público, como tem sido a praxe desde 2003.

O candidato do PSL também chegou a propor - e depois voltou atrás - aumentar o númerobet vitoriaministros do STFbet vitoria11 para 21, prática semelhante à adotada por Chávez para formar uma maioria que apoiasse o governo no tribunal.

"O receio que eu tenho ébet vitoriaque Bolsonaro atuebet vitoriaforma a lentamente erodir as instituições democráticas como Chávez fezbet vitoriaforma muito eficiente na Venezuela. Eu comparo frequentemente a Venezuela e a administraçãobet vitoriaChávez à metáforabet vitoriaferver um sapo. O sapo não foge da panela e não percebe que vai morrer quando você vai ajustando a temperatura lentamente", disse à BBC News Brasil.

O professor da American University é autor dos livros Judging Policy: Courts and Policy Reform in Democratic Brazil (Julgando política: Tribunais e reforma política no Brasil democrático) e Corruption and Democracy in Brazil: The Struggle for Accountability (Corrupção e democracia no Brasil: a luta por fiscalização), este últimobet vitoriacoautoria com o Timothy J. Power, diretor do Programabet vitoriaEstudos Brasileiros da Universidadebet vitoriaOxford.

Taylor também foi professor e pesquisador do Woodrow Wilson Centre, um dos proncipais centrosbet vitoriapesquisabet vitoriapolítica e relações exteriores dos Estados Unidos, com sede na capital americana.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

bet vitoria BBC News Brasil - bet vitoria O comentáriobet vitoriaEduardo Bolsonarobet vitoriaque bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo devem ser visto como alerta às instituições democráticas ou pensar isso seria exagero?

bet vitoria Matthew Taylor - Esse é um momentobet vitoriagrande alerta para o Brasil e a democracia brasileira. É um momentobet vitoriapreocupação para muitos brasileiros. Mas o comentário foibet vitoriaresposta a uma pergunta e não me pareceu ter sido refletida. Eu me pergunto até que ponto Eduardo Bolsonaro estava falando seriamente ou se reagiubet vitoriaforma mais enfática do que gostaria.

Também acho que a resposta do pai dele foi correta quando disse que qualquer pessoa que falebet vitoriafechar o Supremo precisa consultar um psiquiatra. Então, esse é um sinal positivo. Mas eu acho que temos, sim, razão para estar profundamente preocupados com o fatobet vitoriatermos um candidato que é um expoentebet vitoriaum braço mais radical do Exército, que já defendeu o regime militar e que se guia por uma retóricabet vitorialei e ordem num país que historicamente teve abusos a direitos civis e continua a ter hoje.

O receio que tenho ébet vitoriaque Bolsonaro atuebet vitoriaforma a lentamente erodir as instituições democráticas como Chávez fezbet vitoriaforma muito eficiente na Venezuela. Eu comparo frequentemente a Venezuela e a administraçãobet vitoriaChávez à metáforabet vitoriaferver um sapo. O sapo não foge porque você vai ajustando a temperatura lentamente.

bet vitoria BBC News Brasil - bet vitoria Que comportamentos adotados por Ch bet vitoria ávez e Maduro podem servir ao Brasil como exemplosbet vitoriaalertabet vitoriauma eventual guinada antidemocrática bet vitoria ?

bet vitoria Taylor bet vitoria - A Venezuela é um exemplo poderoso, porque é um exemplobet vitoriaerosão lenta das instituições e dos atores democráticos a pontobet vitoriaessas instituições deixarembet vitoriaapresentar qualquer risco ou desafio ao Executivo. Chávez começou lentamente, nomeando juízes para a Suprema Corte que eram membros do seu partido ou que compartilhavambet vitoriaseus objetivos políticos.

Aos poucos, ele passou não apenas a nomear quem fosse do seu grupo político, mas também a se livrarbet vitoriaoponentes na Suprema Corte. Ou seja, ele começou formando novas maiorias para, então, ativamente remover quem se opusesse a ele nos tribunais. O controle das Cortes por Chávez,bet vitoria2002 e 2003, removendo os membros da oposição, permitiu que o Judiciário adotasse medidas contrárias ao Legislativobet vitoriadisputas entre Congresso e Executivo.

O Brasil deve ficarbet vitoriaalertabet vitoriarelação a esse padrão. Mas acho que a proteção institucional para indicações e aprovação dessas indicações aos tribunais é mais forte no Brasil. Se Bolsonaro manifestar e mantiver a intençãobet vitoriamudar o processobet vitoriamudança das nomeações ao Supremo ou Ministério Público, isso será um alertabet vitoriaobjetivos antidemocráticos.

bet vitoria BBC News Brasil - bet vitoria O senhor v bet vitoria ê semelhanças, portanto, entre o discursobet vitoriaBolsonaro e obet vitoriaChávez bet vitoria ?

bet vitoria Taylor - Claramente, Chávez adotava um tombet vitoriacampanha similar aobet vitoriaBolsonaro. Num sistema políticobet vitoriaque os partidos tradicionais são desacreditados por escândalos, má gestão e crises, Chávez apareceu se apresentando como um "outsider" e, assim como Bolsonaro, ele tinham um passado militar. Claro que há grande diferença ideológica entre eles, mas nós podemos ver algumas semelhanças também no discurso.

A diferença é que Chávez desde cedo se estabeleceu como populista, no sentidobet vitoriaque todo o movimento era sobre ele, como um líder do povo, 'el Pueblo'. Não vejo Bolsonaro fazendo o mesmo. Ou pelo menos não tão enfaticamente. Isso é importante porque permitiu a Chávez concentrarbet vitoriasi poder e fazer nomeações para cargos baseadas na lealdade das pessoas a ele. As instituições passaram a ser ocupadas por quem claramente se identificasse como chavista. Não vejo o mesmo movimento no Brasil.

A campanhabet vitoriaBolsonaro apresentou propostas preocupantesbet vitoriarelação à preservação das instituições, mas o populismo não está presente da mesma forma. O fatobet vitoriater Paulo Guedes como conselheiro econômico e uma figura central na campanha indica que Bolsonaro percebe que um populismo daquela forma não funcionaria ou teriabet vitoriaser disfarçado. Ele não teria a mesma possibilidadebet vitoriaconcentrar poderes ao pontobet vitorianegligenciar o poder dos mercados, da sociedade ou da democracia como um todo.

bet vitoria BBC News Brasil - Mas ele também é identificado por alguns apoiadores como 'o mito' ou a única pessoa capazbet vitoriamudar o país...

bet vitoria Taylor - Sim. Mas o fato é que Bolsonaro já deu pistasbet vitoriaque estaria aberto a discutir com outras forças políticas. Eu não quero sugerir com isso que ele (Bolsonaro) não seja radical. Mas Chávez tinha algumas características particulares. Era um homem que tentou um golpe, falhou e chegou a ser preso. Ele usou essa trajetória para criar uma marca forte. Quanto a Bolsonaro, é difícil identificar quanto do apoio dele vembet vitoriapessoas nostálgicas do regime militar (que o encaram como mito) oubet vitoriapessoas que simplesmente estão cansadas da política tradicional e querem punir todos os partidos políticos. Bolsonaro pode ser chamadobet vitoriamito por quem o apoia pela figura "militarista", mas muitos o enxergam não como mito, mas sim como alguém que não repetiria a mesma formabet vitoriafazer políticabet vitoriasemprebet vitoriaBrasília.

bet vitoria BBC News Brasil - Há quem diga que o PT também seria uma ameaça à democracia por já ter defendido reduzir a autonomia do Judiciário e do Ministério Público. Como o senhor vê esse receio?

bet vitoria Taylor - Sim, nós não podemos esquecer que o PT já ameaçou adotar medidas antidemocráticas no passado e recebeu a mesma respostabet vitoriarepúdio que Bolsonaro tem recebido. Ainda assim, o partido continua a defender, por exemplo, a regulação da mídia. É o tipobet vitoriamedida que sofre oposição diante do temorbet vitoriaque poderia levar a uma erosão progressiva do regime democrático. Mas eu tenho um temor menorbet vitoriaque Haddad pudesse se tornar um Maduro, porque já tivemos experiênciabet vitoria13 anos do PT no poder.

Embora o PT tenha expressado admiração pelo regimebet vitoriaChávez e Maduro, ele nunca tentou replicar as medidas mais autoritárias desses dois presidentes da Venezuela. Não temos um históricobet vitoriagestãobet vitoriaBolsonaro para avaliar isso, mas acho que as instituições da democracia brasileira têm anticorpos mais poderosos que os da democracia da Venezuela.

bet vitoria BBC News Brasil - Num vídeo divulgado ontem, Bolsonaro disse que quando for eleito vai 'acabar com os marginais vermelhos' e disse que Haddad e Lula apodreceriam na cadeia. Pode haver uma perseguição a opositores após as eleições bet vitoria ?

bet vitoria Taylor - Os instrumentos que um presidente da República no Brasil tem para perseguir oponentes são, felizmente, razoavelmente fracos. E suspeito que parte desse discurso seja eleitoreiro. Ele se beneficia com a estratégiabet vitoriaatacar o PT e classificar seus integrantes como criminosos, porque isso alimenta a imagem que ele vende como "outsider". Mas uma das coisas que me preocupam é que, se a oposição a Bolsonaro for muito fortemente associada ao PT e a Haddad, isso prejudique a habilidadebet vitoriademocratas brasileirosbet vitoriaagirembet vitoriaforma contundentebet vitoriadefesa das instituições.

E Bolsonaro e seus apoiadores sabem disso. Por isso, eles tentam associar manifestaçõesbet vitoriapreocupação com a democracia ao PT, a pontobet vitoriaincluir ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no mesmo grupobet vitoria"esquerdistas".

bet vitoria BBC News Brasil - bet vitoria Quais os riscos dessa t bet vitoria áticabet vitoriadesqualificar a oposição bet vitoria ?

bet vitoria Taylor - Nós vemos issobet vitoriaregimes autoritáriosbet vitoriaesquerda, como o da Venezuela. Lá, Maduro e Chávez foram eficientesbet vitoriavender a imagembet vitoriaque a oposição é um grupo único, homogêneo, embora a oposição seja bem dividida na Venezuela. Mas acho relevante que a gente observe sinais que mostram que Bolsonaro é um pouco diferente do que suas declarações radicais sugerem.

Ele voltou atrásbet vitoriauma sériebet vitoriaafirmações e parece estar disposto a alcançar algum tipobet vitoriaacordo, reconhecendo que seria custoso fazer inimigos no Ministério Público, por exemplo. É importante prestar atenção à retórica, mas temosbet vitoriadissociar isso da prática. Acredito que algumasbet vitoriasuas declarações mais radicais tendem a ser esvaziadas quando chegar o momentobet vitoriaas colocarbet vitoriaprática.

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