A professora transexual que trocou indenizaçãojogo de fazenda onlineR$ 20 mil pela chancejogo de fazenda onlinedar aula a seus agressores:jogo de fazenda online

Natalha Claudinei Silva Nascimento

Crédito, Leopoldo Silva

Legenda da foto, Natalha sofreu xingamentos e agressões por funcionáriosjogo de fazenda onlineuma pastelariajogo de fazenda onlineBrasília;jogo de fazenda onlinevezjogo de fazenda onlineindenização, ela preferiu dar uma aula a seus agressores

"Eu não tinha outra alternativa. Para pegar o ônibus para casa, eu só podia passarjogo de fazenda onlinefrente à pastelaria e tinha que aturar esses xingamentos", lembra.

A gota d'água ocorreujogo de fazenda online26jogo de fazenda onlineabril, quando ela decidiu conversar com os funcionários, pedindo para que parassem. Um deles se aproximou, a derrubou no chão e a agrediu violentamente.

Vida com medo

"Fiquei sem reação. Humilhada, só me perguntava por que aquilo acontecera comigo. Estudei, trabalhei, tentei ser o melhor que pude, mas o fatojogo de fazenda onlineser uma mulher transexual me fez construir toda a minha vidajogo de fazenda onlinecima do medo, desde criança", desabafa.

Ao acionar a Justiça, Natalha pediu R$ 20 mil reaisjogo de fazenda onlineindenização por danos morais. Durante a conciliação judicial, porém, a professora decidiu abrir mão da quantia, pedindojogo de fazenda onlinetroca a chancejogo de fazenda onlinedar uma aulajogo de fazenda onlinequestõesjogo de fazenda onlinegênero à equipe da pastelaria Viçosa.

"Não tem dinheiro no mundo que valha a minha dignidade e respeito. Moro na favela mais perigosa do Distrito Federal e quero transitar livremente sem ter medojogo de fazenda onlinemorrer ou ser assassinada por ser quem sou", diz. "Para mim, o único jeitojogo de fazenda onlineviver isso é pela educação, que pode transformar uma sociedade violenta, preconceituosa e corrupta."

Natalha Claudinei Silva Nascimento

Crédito, Leopoldo Silva

Legenda da foto, 'Tive que esconder a minha transgeneridade até onde pude. Caso contrário, poderia morrer', relembra Natalha, sobrejogo de fazenda onlineinfância no interior maranhense

A pastelaria demitiu o funcionário responsável pela agressão física. Patrícia Rosa Calmon, a proprietária, reconhece que falhou por não ter orientado seus funcionários quanto ao respeito às pessoas transgêneras, "até porque sempre entendi que todos são iguais. Mas fico contente que Natalha pôde nos ensinar algo", diz.

'Melhor indenização possível'

Natalha reconhece que, enquanto esperava pelos seus novos alunos na aula especial, teve medojogo de fazenda onlinecara fechada e mais rejeição.

"Só que eles chegaram abrindo sorriso e me dando boa tarde. Achei estranho, esperava bate-boca mas encontrei atenção. Até brinquei com eles que, quem aprendesse a liçãojogo de fazenda onlineque 'respeito não tem preço' já estaria aprovado. Eles riram bastante", conta Natalha.

Mas dessa vez, não era um risojogo de fazenda onlinezombaria, e simjogo de fazenda onlinegenerosidade e empatia sobre o que uma professora trans tinha a dizer. "Foi a melhor indenização que eu poderia ganhar na minha vida", avalia.

Maríliajogo de fazenda onlineAvila e Silva Sampaio, a juíza do 6º Juizado Especial Cíveljogo de fazenda onlineBrasília que conduziu o acordo, ficou surpresa com a atitudejogo de fazenda onlineNatalha. "Em 22 anosjogo de fazenda onlinemagistratura, nunca vi um caso desses. Nemjogo de fazenda onlineuma pessoa transexual procurar a justiça por danos morais por agressão e nemjogo de fazenda onlineuma propostajogo de fazenda onlineaula no lugarjogo de fazenda onlineuma reparação financeira", diz.

"Natalha foi muito firme e corajosa, foi positivo ver pessoas aprendendo sobre discriminaçãojogo de fazenda onlinegênero exatamentejogo de fazenda onlinequem sofre a violência. Precisamos mudar, e são pequenos passos como osjogo de fazenda onlineNatalha que farão a mudança gigantejogo de fazenda onlineque este país precisa."

Infância discriminada

Natalha nasceu Claudinei do Nascimento,jogo de fazenda onlineAçailândia, cidade com cercajogo de fazenda online100 mil habitantes no interior do Maranhão. Somente aos 22 anos e já morandojogo de fazenda onlineBrasília, revelou-se transexual. "Tive que esconder a minha transgeneridade até onde pude. Caso contrário, poderia morrer", relembra.

Rodoviáriajogo de fazenda onlineBrasília

Crédito, Antonio Cruz/ Agência Brasil

Legenda da foto, 'Eu não tinha outra alternativa. Para pegar o ônibus para casa, eu só podia passarjogo de fazenda onlinefrente à pastelaria', lembra Natalha

Da infância passada na roça com os pais trabalhadores rurais e mais quatro irmãos, ela traz duas memórias marcantes: ser xingada e agredida física e verbalmente por ser negra e homossexual, e ouvir históriasjogo de fazenda onlineassassinatos brutais.

"Eu tinha uns 10 anos, estava na escola, quando ouvi que haviam matado um gay. Curiosos, fomos todos ver quem era. Não era apenas um gay. Era um travesti, vestido com roupas femininas e com o órgão genital mutilado enterrado na própria boca. Ali, ainda criança, senti o peso do tamanho da punição a quem ousasse sair da regra e aprendi a conviver com o medojogo de fazenda onlinemim mesma e do que poderia me acontecer por ser quem eu era", relata.

"Eu nunca soube o que é ser homem. Desde criança, me sentia estranhajogo de fazenda onlineum corpo que não acompanhava os meus desejos femininos. Queria ser mãe, gostavajogo de fazenda onlinebrincarjogo de fazenda onlinebonecas e adorava estar junto da minha mãe fazendo tudo o que ela fazia. A minha identidade sempre foi feminina", afirma.

Ao se assumir, ela enfrentou a ira do pai, a crítica dos irmãos e a insistência dos próprios colegasjogo de fazenda onlinetrabalho para que mudassejogo de fazenda onlineideia e se voltasse para a religião evangélica. "Nunca entendi o que estavam me pedindo. Não me sentia estranha e nem me via pecadora."

Para ela, o episódiojogo de fazenda onlinetransfobia que sofreu por parte dos funcionários da pastelaria e a busca por reparação na Justiça a fez entender pela primeira vez o que são direitos humanos. "Não sabia o que era um fórum, uma audiência ou reuniãojogo de fazenda onlineconciliação, não fazia ideiajogo de fazenda onlineque poderia lutar pela minha dignidade humana sem estar sozinha", conta.

Hoje, reconciliada com seu pai, Natalha se dedica a projetosjogo de fazenda onlineeducação contra o preconceitojogo de fazenda onlineuma ONG fundada por ela mesma.

"Existem pessoasjogo de fazenda onlinetodos os gêneros, menosprezadas, mal amadas e se sentindo sem direito a viver neste mundo. Quero ajudar todas elas com a minha história. Prefiro olhar para a generosidadejogo de fazenda onlinetodos que um dia, por ignorância, me machucaram, e que hoje, graças à educação, me respeitam. Não compensa ficar remoendo o que passou."