No crime desde os 12, evangélico e mais 'família': o que mudou no perfil do jovem do tráfico no Riosites de apostas futebol onlineuma década:sites de apostas futebol online
- Luiza Franco
- Da BBC News Brasilsites de apostas futebol onlineSão Paulo

Crédito, AFP
Pesquisa visava entender como a experiência das UPPs havia impactado o perfil e as práticas das redes criminosas, segundo coordenadora
sites de apostas futebol online Negro, jovem, homem, nascidosites de apostas futebol onlinefamília numerosa e chefiada por mulher com baixa renda; largou a escola e, antessites de apostas futebol onlineentrar para o crime, acumulou algumas experiênciassites de apostas futebol onlinetrabalho precárias.
Esse é o perfil histórico dos adolescentes e jovens inseridos na rede do tráficosites de apostas futebol onlinedrogas no varejo no Riosites de apostas futebol onlineJaneiro. Algumas características, no entanto, parecem ter mudado recentemente,sites de apostas futebol onlineacordo com um estudo divulgado nesta terça-feira.
Aumentou, por exemplo, o número dos que entraram para o tráfico antes dos 12 anossites de apostas futebol onlineidade e também dos que se dizem evangélicos. Além disso, os traficantes parecem ter um comportamento mais "família" do que há dez anos.
Essas são algumas das conclusõessites de apostas futebol onlineuma pesquisa realizada pela ONG Observatóriosites de apostas futebol onlineFavelas, sediada no Complexo da Maré, conjuntosites de apostas futebol onlinefavelas no Rio. O estudo traça o perfil e as práticassites de apostas futebol onlinejovens inseridos na rede do tráficosites de apostas futebol onlinedrogas no varejo e sugere caminhos para a construçãosites de apostas futebol onlinepolíticas e ações públicas.
A ONG havia feito um levantamento similar entre 2004 e 2006, o que permitiu uma comparaçãosites de apostas futebol onlineresultadossites de apostas futebol onlinealguns pontos.
"Nos últimos dez anos, vivemos intervenções significativas na segurança pública no Rio, como a experiência da políticasites de apostas futebol onlineUPP (Unidadesites de apostas futebol onlinePolícia Pacificadora). Queríamos saber como elas tinham impactado no perfil e nas práticas das redes criminosas", diz Raquel Willadino, uma das coordenadoras do estudo.
Desigualdadesites de apostas futebol onlinesempre
Foram entrevistados 150 jovens inseridos na rede do tráficosites de apostas futebol onlinedrogas no varejosites de apostas futebol onlinefavelas do Rio e 111 adolescentes no Departamento Geralsites de apostas futebol onlineAções Socioeducativas (Degase).
A UPP não impactou no perfil dos "funcionários" do tráfico. "O que observamos foi uma reiteraçãosites de apostas futebol onlinedesigualdades que tínhamos identificado antes", diz Willadino.
A maior parte dos ouvidos (62,8%) tinha entre 16 e 24 anos, se identificava como preta e parda (72%). As mães foram majoritariamente citadas como responsáveis pela criação dos entrevistados (50,2%).
Também segue sendo verdade que os jovens deixam a escola na mesma faixasites de apostas futebol onlineidadesites de apostas futebol onlineque entram para o tráfico. "Isso mostra que temos uma escola que não atrai o jovem, o que é fundamental para pensar estratégias preventivas", diz a pesquisadora.
Além disso, diz o estudo, a maior parte teve outros trabalhos antessites de apostas futebol onlineentrar para o tráfico. "O que importa é muito mais a precariedade do tiposites de apostas futebol onlinetrabalho ao qual tiveram acesso", observa Willadino.
Criança e traficante
Um número maiorsites de apostas futebol onlineentrevistados disse ter entrado para o tráfico antessites de apostas futebol onlinefazer 12 anos: passousites de apostas futebol online6,5%sites de apostas futebol online2006 para 13%sites de apostas futebol online2017. Não estava no escopo da pesquisa tentar explicar o porquê, mas isso chamou a atenção dos entrevistados.
A maior parte, no entanto, ainda entra para o tráfico entre os 13 e os 15 anos.

Crédito, Bento Fabio
'Resultados reforçam a relevância do desenvolvimentosites de apostas futebol onlinepolíticas preventivas voltadas para a infância e a adolescência esites de apostas futebol onlineiniciativas que levemsites de apostas futebol onlineconta vulnerabilidades do contexto familiar', diz Willadino.
Além disso, aumentou o númerosites de apostas futebol onlineirmãos envolvidos no tráfico:sites de apostas futebol online11,7% para 21,1% dos entrevistados.
"Esses resultados reforçam a relevância do desenvolvimentosites de apostas futebol onlinepolíticas preventivas voltadas para a infância e a adolescência esites de apostas futebol onlineiniciativas que levemsites de apostas futebol onlineconta vulnerabilidades do contexto familiar", diz Willadino.
"Isso não quer dizer que a raiz do problema esteja na família. Observe que 55% das famílias não têm nenhum membrosites de apostas futebol onlineatividades ilícitas, mas tampouco se pode ignorar", diz a pesquisadora.
Traficantes evangélicos e vínculos estáveis
A proporçãosites de apostas futebol onlinecatólicos e evangélicos se inverteusites de apostas futebol onlinedez anos: 31,1% dos entrevistados afirmaram ser evangélicos; 11,1 % católicos e 1,5%sites de apostas futebol onlinereligiõessites de apostas futebol onlinematriz africana.
Na pesquisa anterior, 39,13% eram católicos e 17% evangélicos – além disso, 40% dos ouvidossites de apostas futebol online2017 disseram não ter religião, mas acreditamsites de apostas futebol onlineDeus, predominância que já fora identificada antes.
Um aspecto que chama a atenção é a presençasites de apostas futebol onlineum vínculo significativo com a família. Muitos citam, como motivação para o ingresso no tráfico, a possibilidadesites de apostas futebol onlineajudar a família.
Além disso, a grande maioria dos entrevistados vive relacionamentos afetivos estáveis (70,2%), seja com esposas ou esposos (37%) ou namoradas e namorados (33%).
"Na pesquisa anterior, aparecia muito (no discurso dos entrevistados) a possibilidadesites de apostas futebol onlineacesso a muitas mulheres. Esse discurso não aparece mais com tanta força. Ao contrário, quando falam da configuração familiar, muitos falam que vivem com o cônjuge e têm relações estáveis", diz.
"A família aparece também como fator essencial para a construçãosites de apostas futebol onlinesaída do tráfico", diz ela.
Quando falam das perspectivassites de apostas futebol onlinesaída do tráfico, citam as relações afetivas – companheiras, nascimentosites de apostas futebol onlinefilhos, por exemplo.
Nos dois estudos a proporçãosites de apostas futebol onlinejovens quesites de apostas futebol onlinealgum momento chegaram a deixar o tráficosites de apostas futebol onlinemaneira voluntária foi a mesma: 40%.
"Isso mostra que o difícil não é a decisãosites de apostas futebol onlinesaída. O desafio é desenvolver políticassites de apostas futebol onlineformação profissional,sites de apostas futebol onlinegeraçãosites de apostas futebol onlinetrabalho e renda. Justamente porque têm baixa escolaridade e são estigmatizados por terem passado pelo tráfico, têm dificuldadesites de apostas futebol onlineacesso a oportunidades."
Por que jovens entram para o tráfico?
"O que aparece com mais força é uma articulação entre motivações econômicas e a perspectivasites de apostas futebol onlinecontribuir para o sustento da família", diz Willadino.
62,1% dizem que entram para ajudar a família e 47,5%, "para ganhar muito dinheiro".
"De modo geral, podemos perceber que a principal motivação para o ingresso nessa atividade diz respeito à possibilidadesites de apostas futebol onlinereceber um volumesites de apostas futebol onlinerecursos financeiros que dificilmente seria possível para esses jovens, seja no mercado formal ou mesmo informal", diz o texto.
Há também uma dimensãosites de apostas futebol onlinepertencimentosites de apostas futebol onlinegrupo. A relação com amigos (15,3,%) foi o terceiro fator mais citado, seguido pela adrenalina decorrente da atividade (14,6%).
Afinal, o que mudou com as UPPs?
A pesquisa também busca retratar as configurações das redes criminosas após a instalação das UPPs. Com base nas entrevistas com os jovens, com profissionais da áreasites de apostas futebol onlinesaúde e com três policiais, aponta mudanças que aconteceram por causa das UPPs e outras cuja explicação não passa necessariamente por ela.
O estudo ressalta que as opiniões dos policiais não podem ser lidas como um reflexo do que pensa a corporação, dado que apenas três foram ouvidos.
Os policiais, profissionaissites de apostas futebol onlinesaúde e jovens traficantes entrevistados acreditam que alguns dos principais objetivos das UPPs, como a reduçãosites de apostas futebol onlineconfrontos e a construçãosites de apostas futebol onlineuma relaçãosites de apostas futebol onlineconfiança com os moradores, não foram alcançados. A iniciativa também não resultou na redução da presençasites de apostas futebol onlinearmas nas favelas, disseram os ouvidos.
No entanto, os entrevistados dizem ter observado redução, num primeiro momento, na quantidadesites de apostas futebol onlinemortessites de apostas futebol onlinelugares com UPP.
Eles acham, ainda, que houve mudança na dinâmica do tráficosites de apostas futebol onlinedrogas: migrações para outras favelas, deslocamento para outros crimes, como, por exemplo, o roubosites de apostas futebol onlinecargas, o desenvolvimentosites de apostas futebol onlineestratégias para que a vendasites de apostas futebol onlinedrogas continuasse a existir, massites de apostas futebol onlineforma menos visível nas áreassites de apostas futebol onlineUPPs e mudanças nas cenassites de apostas futebol onlineconsumo.

Crédito, Marcelo Horn/Gerj
Entrevistados dizem ter observado redução, num primeiro momento, na quantidadesites de apostas futebol onlinemortessites de apostas futebol onlinelugares com UPP
A pesquisa identifica algumas críticas comuns ao projeto. Uma delas, feita por acadêmicos, é asites de apostas futebol onlineque as UPPs foram se expandindo antessites de apostas futebol onlineestarem claras na lei.
"A estrutura normativa se limitou por muito tempo a decretos governamentais pontuais que não permitiam a caracterização e sistematizaçãosites de apostas futebol onlineum modelo claro com o estabelecimentosites de apostas futebol onlinemecanismossites de apostas futebol onlinemonitoramento e avaliação. O programa só foi publicadosites de apostas futebol onlineforma um pouco mais detalhada no anosites de apostas futebol online2015, quando já havia 38 UPPs. Isso revela que houve inversãosites de apostas futebol onlineetapas e uma boa dosesites de apostas futebol onlineimproviso no processosites de apostas futebol onlineimplantação das UPPs no Rio", escrevem os pesquisadores.
Outra crítica comum que é reiterada no estudo é asites de apostas futebol onlineque a escolhasites de apostas futebol onlineonde as UPPs seriam instaladas não seguiu o critério da mancha criminal, mas para garantir condiçõessites de apostas futebol onlinesegurança pública para realizar a Copa do Mundosites de apostas futebol online2014 e os Jogos Olímpicossites de apostas futebol online2016.
"Eu falo que, no fundo, o processo das UPPs é um marcosites de apostas futebol onlinepolítica governamental com viés político eleitoral", diz um policial.
Procurada pela BBC News Brasil, a Secretariasites de apostas futebol onlineSegurança Pública afirmou que não comentaria decisões das gestões anteriores.
No entanto, o atual secretário, general Richard Nunes, é crítico da política e já disse achar que as UPPs cresceram para atender a interesses eleitorais.
Ele vem fazendo um "realinhamento" das unidades, extinguindo algumas e redistribuindo o efetivo policial.
A reportagem procurou o ex-secretário responsável pela implementação do programa, José Mariano Beltrame, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
A ascensão da milícia
Mas houve outras mudanças significativas que não podem ser vinculadas às UPPssites de apostas futebol onlineforma tão clara, diz o estudo. A principal delas, citada com grande preocupação pelos policiais ouvidos, é o fortalecimento das milícias.
A ONG diz que, após um momentosites de apostas futebol onlinecombate a esses grupos, após a CPI das Milícias,sites de apostas futebol online2008, eles foram deixadossites de apostas futebol onlinelado quando o foco virou a políticasites de apostas futebol onlineUPPs. Os entrevistados acham que ela não priorizou áreas dominadas por milícias.

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil
A pesquisa ouviu três policiais que tiveram vínculos com UPPs
"Se elas cresceram é porque economicamente elas se fortaleceram, estão cheiassites de apostas futebol onlinefuzis novos; quer dizer, tem uma estrutura econômica por trás disso, senão não poderia se comprar aqueles fuzis novinhos – que são compradossites de apostas futebol onlinedólar, naturalmente. Então, há uma estruturasites de apostas futebol onlineorganização que, mesmo depoissites de apostas futebol onlineuma CPI das milícias, cresceu. A CPI não produz nenhum tiposites de apostas futebol onlineenfraquecimento, pelo contrário. Você prendeu as pessoas, mas, a estrutura criminosa parece que se fortaleceu", diz um policial.
A ONG sugere que sejam levadassites de apostas futebol onlineconta as recomendações propostas pela CPI e, especialmente, medidas que visem fragilizar os braços econômicos e políticos desses grupos.
Milícia e tráfico cada vez mais parecidos
Os entrevistados também dizem que cada vez mais os traficantes adotam modossites de apostas futebol onlineatuação que eram reconhecidos como característicos da milícia e vice-versa.
Grupos vinculados ao tráfico passaram a explorar serviços para diversificar suas atividades econômicas; por outro lado,sites de apostas futebol onlinealgumas áreas, milícias passaram a explorar o tráficosites de apostas futebol onlinedrogas.
"Há relatossites de apostas futebol onlineáreassites de apostas futebol onlineque estes grupos estãosites de apostas futebol onlineconfronto aberto e outrassites de apostas futebol onlineque estão se associando. No entanto, destaca-se que estas relações são fluidas, frágeis e muito dinâmicas,sites de apostas futebol onlinemodo que não é possível identificar padrões definidos", diz o estudo.






