'A gente se sente jogado às traças': os relatos da fila do desemprego no Riobet365 lcrise:bet365 l

Crédito, BBC Brasil
No Rio,bet365 lmeia à grave fiscal do governo estadual, a taxabet365 ldesemprego atingiu seu nível recorde e está acima do índice nacional, tendo chegado a 13,4% no fim do trimestre que se encerroubet365 ldezembro.
Das obras olímpicas para o isopor

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Até pouco tempo atrás, arrumar emprego estava fácil para o bombeiro hidráulico Flávio da Silvabet365 lAndrade. Com a forte demanda que a Copa do Mundo e a Olimpíada impuseram ao ramo da construção civil, ele trabalhou na reconstrução do Maracanã, nas obras do Parque Olímpico e na Linha 4, que levou o metrô da zona sul carioca à Barra da Tijuca.
Os consórcios responsáveis pelas três obras foram liderados pela Odebrecht.
O bombeiro está desempregado desde outubro, quando passou dos túneis no subterrâneo para um isopor na calçada da rua Buenos Aires, no Centro do Rio, onde vende água e refrigerante para tentar fechar as contas do mês. "Todo mundo já sabe o que aconteceu, né? Uma roubalheira danada. O setorbet365 lconstrução civil está todo parado."
Antes, levava coisabet365 l20 dias para começar um novo emprego. "Era o tempobet365 lfazer a documentação e os exames". Agora, ele está no seguro-desemprego desde dezembro - diz nunca ter ficado tanto tempo sem conseguir trabalho. Saber dos desvios das obras por onde passou aumentam a amargura.
"Eles (os envolvidos com a corrupção) estão cheiosbet365 ldinheiro, iate, joias, comendo camarão como se fosse biscoito Piraquê. E a gente caçando emprego", revolta-se. "A gente se sente jogado às traças. Vaibet365 lum lado para o outro para ver se tem vaga e não tem nada. Aí acaba se submetendo a um salário abaixo da profissão."
Flávio diz ter 39 anos "bem vividos": "Tenho três filhos e já sou até avô." Cada filho ébet365 luma mulher diferente, e o dinheiro tem que render para redistribuir um pouco para as três. "Porque se não pagar pensão alimentícia... isso sim dá prisão no Brasil."
Sonho do emprego público malfadado

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O futuro parecia seguro quando Deusimar Resende,bet365 l49 anos, conseguiu um emprego público, há três anos.
Ela foi contratada como professora pelo Degase (Departamento Geralbet365 lAções Socioeducativas), onde dá aulas para jovens infratores do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.
"Trabalhar para o Estado era uma coisa certa, né? Parecia um emprego garantido", lembra. Porém, com a crise financeira no governo estadual do Rio, "a situação está uma bagunça". Ela diz que os atrasos salariais começarambet365 loutubro, e o último pagamento que recebeu foi obet365 ldezembro - que só entroubet365 ljaneiro.
"O Estado está uma porcaria. Promete, mas não cumpre. O dinheiro está preso por causa da dívida pública, e fica todo mundo sem receber."
Seu marido vem sustentando a casa, mas para ele a situação também está "uma bomba": é taxista, trabalho que hojebet365 ldia "não está dando mais nada" por causa da concorrência dos aplicativosbet365 ltransporte.
"A situação está muito difícil. Minhas contas estão atrasadas, estou com dívidas. Tenho que arrumar outra fontebet365 lrenda." Por isso, Deusimar agora busca um emprego na área privada. "Pelo menos aí sei que vou receberbet365 ldia."
Ela gostariabet365 lconseguir trabalhobet365 luma escola particular e continuar no Degase, onde o dia a dia dando aulas para menores infratores é difícil. Enquanto ensina, dois guardas ficam postados na porta da salabet365 laula para garantir a segurança.
"Os meninos estão acostumados com rua e não com regra, né? Então você tem que ser um poucobet365 ltudo - psicóloga, mãe e professora."
Peregrinação diária com currículos

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Há um ano e três meses a rotinabet365 lClaudiana Almeida dos Santos,bet365 l34 anos, é procurar emprego. Toda semana ela volta ao Sine para ver se surgiram novas vagas, e deixa cópiasbet365 lseu currículobet365 lagênciasbet365 lempregos, lojas e empresas. "Já virei o Riobet365 lJaneiro todo", diz.
Se juntou a outras amigas desempregadas para peregrinações coletivas. Semana passada, por exemplo, foram ao bairrobet365 lSão Cristóvão bater na portabet365 lfábricas para deixar seus currículos. Ela busca emprego como copeira,bet365 lfábricas, laboratórios, "o que pintar".
"O importante é estarbet365 lcarteira assinada e ter um salário garantido", diz. Enquanto isso, faz bicos, cobre férias e frequenta cursosbet365 linformática ebet365 lauxiliarbet365 ladministração oferecidos gratuitamente pelo Sesi e pelo Senac.
Nascida e criadabet365 lSão Luís, no Maranhão, Claudiana veio para o Rio aos 20 anos atrásbet365 lemprego. O primeiro foi como camareirabet365 luma grande rede hoteleira. Trabalhandobet365 ldia e estudandobet365 lnoite, concluiu o 8º ano e o ensino médio.
Seu último emprego foibet365 luma fábricabet365 lampolasbet365 lvidro para laboratórios, na zona norte do Rio. "Por causa da crise econômica, a fábrica fechou e mandou todo mundo embora. Éramos maisbet365 lcem pessoas, alguns com 40 anosbet365 lcasa. Eu trabalhava na linhabet365 lprodução. Era muito bom. Pagava direitinho e eu tinha todos os benefícios (trabalhistas)."
O que Claudiana gostaria mesmo ébet365 ltrabalhar na área industrial. "Mas está muito difícil. Estão mandando embora mais do que contratando." O jeito, diz, é continuar tentando. "A gente não pode desistir. Porque se mesmo procurando está difícil, imagina se nem procurar."
'O pobre faz o rico mais rico. O rico faz o pobre mais pobre'

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Ronaldo do Nascimento está há dois anos desempregado, depoisbet365 lter trabalhado durante um ano e meio como guardabet365 ltrânsito.
Ele era um dos agentes municipais apelidadosbet365 l"verdinhos" no Rio, mas foi mandado embora junto com outros 240 colegas. Já distribuiu maisbet365 l350 currículos Rio afora - mas nada.
Acha que a idade atrapalha - mas dá "graças a Deus" por ter chegado aos 57 anos. "Porque quase ninguém chega na minha idade. Antes vira vagabundo e morre."
Ele tira uma página impressa da bolsa desbotada: o currículo incluibet365 lfoto 3x4, o registrobet365 lensino fundamental completo e uma breve descriçãobet365 lseus objetivos profissionais, na qual afirma estar "sempre disponível a aprender e desempenhar o trabalho da melhor forma possível".
A única experiência profissional listada é abet365 lguardabet365 ltrânsito, mas Ronaldo diz trabalhar desde os 9 anos, quando começou a carregar cimento e tijolobet365 lobras. "Eu tinha que ajudar a minha mãe. Não tinha mais quem ajudasse."
Ele tem dois filhos e mora com a irmã, que vem segurando as pontas, pagando o aluguel do apartamento que dividem no bairro do Catumbi, do lado do Centro.
Ronaldo busca trabalhar com "o que aparecer". "Pode serbet365 lacompanhante, caseiro. Também sei trabalhar na cozinha, fazer comida. Aprendi com mamãe."
Ele se revolta ao falar da corrupção e da estrutura social no Brasil. "Aqui é a assim. O pobre faz o rico mais rico. E o rico faz o pobre mais pobre."








