Professora usa rap e funk para ensinar História: 'Não estudei para domesticar aluno':apostas online no jockey club brasileiro

Crédito, BBC Brasil

Crédito, BBC Brasil
Tudo começou com um estudante muito problemático, mas que era muito bomapostas online no jockey club brasileiroalgo: cantar funk.
"Outros professores tratavam isso como indisciplina. Só que eu sou da periferia, escuto funk desde que me conheço por gente", lembra. "Sugeri que ele escrevesse um funk sobre a matéria - foi a forma que encontrei para ele fazer parte da aula."
Quando o garoto apresentou o trabalho, ela percebeu que a tarefa havia "conquistado" não só a atenção dele, masapostas online no jockey club brasileirotoda a sala.
"Um dos meninos se ofereceu para fazer o beatbox (reproduçãoapostas online no jockey club brasileirosons com a boca e o nariz), outro pegou a lataapostas online no jockey club brasileirolixo, outros batucavam na mesa, batiam palmas", recorda.
"Nisso, a diretora entrou para perguntar o que estava acontecendo. Para ela, parecia uma zona. Mas não era: a gente estava tendo aula."
Resistência
Ane expandiu a experiência para além da música.
Uma vez, por exemplo, dividiu os alunosapostas online no jockey club brasileirodois grupos e criou um tribunal: o primeiro representaria a polícia e o outro, o tráfico.
"Na periferia, a polícia é muito mal vista porque chega sempre com violência. Mas a ideia era mostrar para eles que o tráfico, que é quem acaba fazendo as melhorias que eles precisam na regiãoapostas online no jockey club brasileiroque o Estado é ausente, não tem só coisas positivas."
Mas fugir do "padrão" também trouxe problemas: diretores e outros professores reclamavamapostas online no jockey club brasileiroque Ane era "liberal demais", e que seus alunos saíam achando que "podiam fazer tudo" nas outras aulas.

Crédito, BBC Brasil
"Eles diziam: 'alguns pais estão reclamando, se eles forem na Diretoriaapostas online no jockey club brasileiroEnsino você vai ter que se retirar da escola'. E eu respondia: 'não vou mudar, não estou fazendo nadaapostas online no jockey club brasileiroerrado'."
Alémapostas online no jockey club brasileironão ter desistido, ela hoje aplica seu método também na Fundação Casa (instituição que abriga menoresapostas online no jockey club brasileiroidade infratoresapostas online no jockey club brasileiroSão Paulo). Onde, aliás, enfrenta os mesmos problemas causados pelo modelo convencional.
"Quando entro na Fundação Casa, lembro das grades da minha escola. É igual. Não vejo diferença. A escola é uma prisão, a única diferença é que ela não tem seguranças. O resto é tudo igual. A mesma rotina, as mesmas grades, aquela lousa lá na frente, professor estressado."
'Caraapostas online no jockey club brasileiroprisão'
Nascida e criada na periferiaapostas online no jockey club brasileiroSão Paulo, Ane sentiu na pele os desafios que seus alunos têm no dia a dia.
Ela morava com a famíliaapostas online no jockey club brasileiroJandira, na região metropolitana, mas aos quatro anos teveapostas online no jockey club brasileiroir morarapostas online no jockey club brasileiroum orfanato na vizinha Carapicuíba. Viciado, seu tio passara a enfrentar problemas com traficantes, que ameaçaram a família toda.
No orfanato, conheceu o racismo, apanhou sem saber o porquê e enfrentou as amarras da escola, que para ela sempre teve "cara"apostas online no jockey club brasileiroprisão.
"A escola era uma prisão, é uma grande jaula. Você joga as pessoas lá, transforma todas elasapostas online no jockey club brasileiromáquinasapostas online no jockey club brasileiroobedecer sem questionar, mostra um mundo fora da realidade delas. Era como eu me sentia dentro da escola: presa."

Crédito, Roberto Parizotti/ Secom CUT
Ane foi morarapostas online no jockey club brasileiroOsasco - onde vive até hoje - e logo decidiu que queria ensinar. Mas com um objetivo: que seus alunos não sentissem o que ela sentia na escola.
"Pensava: como eu gostaria que tivessem me dado essa aula? Foi por isso que comecei a tentar essas coisas diferentes."
E decidiu permanecer na periferia para "devolver algo" algo ao lugar que a criou.
"As pessoas costumam estudar e trabalhar para poder sair daqui. Mas eu não penso assim. Não tenho que sair desse lugar, eu quero transformar esse lugar."
Cansaço

Crédito, BBC Brasil
Mesmo com o discurso repletoapostas online no jockey club brasileiroesperanças, Ane admite o cansaço - ela acredita que "não vai durar muito tempo" na profissão.
"Não tem nadaapostas online no jockey club brasileirolegal nessa profissão. Parece exagero, mas é isso. Você é humilhado todos os dias, não tem nenhum reconhecimento. O que motiva o professor nesse país é o ideal dele."
Ela conta que, no decorrer dos anos, conseguiu bancarapostas online no jockey club brasileiroescolhaapostas online no jockey club brasileiro"mandar o currículo para o saco e fazer o que eu acho que tem que ser feito". Mas reclama do peso da missão.
"Jogam toda a cargaapostas online no jockey club brasileirocima do professor. Tenho que educar, dentro e fora da escola, socorrer aluno, salvar aluno, salvar a sociedade… eu tenho que ser perfeita. Mas enquanto isso, o sistema está me arrochando dos dois lados, e você fica sem saber para onde correr. Geralmente a gente corre para o banheiro para chorar."
Ela diz cogitar abandonar a salaapostas online no jockey club brasileiroaula por medoapostas online no jockey club brasileirosairapostas online no jockey club brasileirolá "de camisaapostas online no jockey club brasileiroforça". E, após citar númerosapostas online no jockey club brasileiroprofessores que cometem suicídio, conclui:
"Muitos colegas meus já tomam tarja preta pra conseguir dar aula. Não quero ficar desse jeito. Aí é que está a questão: eu não consigo me adaptar ao sistema. Mas aí todo mundo me diz: vai chegar uma hora que você vai ter que escolher entre ficar e se adequar ou sair. E está chegando essa hora já."




