Carênciaganhe betmatemática impede exercício da cidadania no Brasil, diz pesquisador premiado:ganhe bet
- Daniela Fernandes
- De Paris para a BBC Brasil

Crédito, Laurenceganhe betTerline
ganhe bet A carênciaganhe betconhecimentosganhe betmatemática no Brasil chega a um nível que "interfere no exercício da cidadania", afirma o diretor-geral do Institutoganhe betMatemática Pura e Aplicada (Impa) do Rio, Marcelo Viana, que recebeuganhe betParis na quarta-feira o maior prêmio científico concedido na França.
"O Brasil precisaganhe betmatemática", diz o carioca, que citou à imprensa o caso realganhe betuma vendedoraganhe betcastanhasganhe betcaju que oferecia um pacote por R$ 3 e dois por R$ 5, mas se recusava a vender três por R$ 10 por considerar um mau negócio.
"Não estamos falandoganhe betprofissão tecnológica, e simganhe betvender castanhaganhe betcaju. A matemática também entra nesse nível. O país tem que encarar isso como uma prioridade", afirmou após a entrega do prêmio.
Viana recebeu o Grande Prêmio Científico Louis D. porganhe betobra sobre sistemas dinâmicos - ramo da matemática que estuda fenômenos que se desenvolvem ao longo do tempo -, utilizadosganhe betecossistemas, previsão do tempo, trânsito e movimentos planetários, por exemplo.
A honraria, dada pela primeira vez na área da matemática, é concedida pelo prestigioso Institutganhe betFrance, que reúne as cinco academias do país, entre elas aganhe betLetras (fundadaganhe bet1635), aganhe betCiências e aganhe betBelas-Artes.
O brasileiro dividirá o prêmioganhe bet450 mil euros (cercaganhe betR$ 1,8 milhão) com o matemático francês François Labourie, da Universidadeganhe betNice, por outro trabalho também na áreaganhe betsistemas dinâmicos.
Segundo as regras da premiação, 90% do montante distribuído deve ser destinado a pesquisas.

Crédito, Thinkstock
Ensino catastrófico
Para Viana, a matemática no Brasil é "subvalorizada", e o ensino da disciplina é "catastrófico" por causa da má formação dos professores e da faltaganhe betincentivos na carreira.
"Primeiro o professor precisa saber matemática. Pode parecer óbvio, mas não é", diz ele, acrescentando que apenas 5% dos formandos nessa área estudaramganhe betuniversidades públicas e que muitos deles preferem não integrar o sistemaganhe betensino.
A grande maioria, afirma, cursa faculdades privadas, "cujo controleganhe betqualidade é no mínimo duvidoso".
"E mesmo quem, apesarganhe bettudo, decidiu ser professor não terá um salário compensador nem uma carreira motivadora."
Além disso, esses profissionais acabam trabalhando até 70 horas por semana para complementar a renda, diz Viana.
Para ele, o Brasil deveria dar prioridade à situação "muito grave" do ensino da disciplina.
"Temos dados (mostrando) que, ao final do ensino médio, nem sequer 10% dos alunos que são aprovados aprenderam o mínimo desejável."
No último estudo internacional PISA, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado com alunosganhe bet15 e 16 anos, os alunos brasileiros ficaram no 58° lugarganhe betmatemáticaganhe betum ranking composto por 65 países, atrásganhe betlugares como Albânia e Costa Rica.
De acordo com o mesmo estudo, 67,1% dos estudantes brasileiros na faixa etária analisada têm baixa performance na disciplina e poderão, mais tarde, ter dificuldades no mercadoganhe bettrabalho, o que limita a possibilidadeganhe betascensão social.

Crédito, Thinkstock
'Bicho-papão'
Para o diretor-geral do Impa, a matemática precisa ser valorizada e se tornar "mais atraente, criativa e próxima das pessoas". Para isso, o papel das famílias é fundamental, diz ele.
"A matemática é um barato. É preciso mostrar isso para a criança desde cedo. Nosso diagnóstico é que o bicho-papão da matemática não existe nos primeiros anos", afirma.
"As crianças gostamganhe betmatemática, mas como ela é ensinada nas escolas e a faltaganhe betrelevância dada pelas famílias faz com que a criança vá se afastando da disciplina."
A área, explica, começa a se tornar um "bicho-papão" para as crianças a partir dos nove anosganhe betidade.
"Pai que diz à criança que ele nunca gostouganhe betmatemática está passando o sinalganhe betque não é importante conhecer o assunto", completa.
Olimpíadasganhe betMatemática
O Brasil vai sediar nos próximos dois anos os dois maiores eventos mundiaisganhe betmatemática, ambos no Rioganhe betJaneiro, que poderão contribuir, na avaliaçãoganhe betViana, para "mudar a cultura"ganhe betrelação ao tema e popularizá-lo no país.
A Olimpíada Internacionalganhe betMatemática seráganhe betjulhoganhe bet2017. Em agostoganhe bet2018, ocorrerá o Congresso Mundialganhe betMatemáticos, realizado pela primeira vezganhe betum país do hemisfério sul, apesarganhe betexistir desde o século 19.
Nesse evento, realizado a cada quatro anos, é entregue a medalha Fields, conhecida como o "Prêmio Nobel da matemática", que o brasileiro Artur Avila, também do Impa, recebeuganhe bet2014.
O Impa irá lançar diversas atividades durante esse período, como o "Festival da Matemática",ganhe betabril do ano que vem, "que visa um público amplo", diz Viana.
"Os eventos no Rio vão permitir que alcancemos um público queganhe betoutra forma não alcançaríamos."
O pesquisador afirma ainda que acha má-ideia a fusão, pelo governo interinoganhe betMichel Temer, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o das Comunicações.
"Não se mexeganhe bettime que está ganhando", diz, se referindo ao fato que desde a criação do ministério, há maisganhe bet30 anos, houve uma evolução dos indicadores científicos e tecnológicos no país, que, a seu ver, pode ser atribuídaganhe bet"boa parte" à ação da pasta.
"Um país que já é uma potência mundial na pesquisaganhe betmatemática, como comprovam as muitas conquistas, como a medalha Fieldsganhe betArtur Avila, precisa tornar-se uma potência mundial também nas salasganhe betaulas eganhe betseus lares", afirma Viana.






