As mulheres que esperam que o mar devolva suas famílias após furacão Otis:365bet mobile

Juntas elas se apoiam e,365bet mobilealguma forma, se sentem mais próximas365bet mobilesuas famílias por estarem na área onde trabalhavam e onde, como toda vez que vinha uma tempestade, tiveram que passar a noite dentro do barco dos patrões para cuidar365bet mobileisto.

Mas desta vez, nenhum deles esperava que a força365bet mobileOtis fosse tanta que acabaria quebrando muitos deles365bet mobiledois.

Alguns trabalhadores receberam um pagamento extra365bet mobile200 pesos mexicanos por trabalharem naquela trágica manhã365bet mobile25365bet mobileoutubro. Eles tiveram que arriscar suas vidas por menos365bet mobileUS$ 12 (ou R$ 60).

'Sem ajuda'

É o caso365bet mobileEpifanio García,365bet mobile43 anos – que todos aqui conhecem como Felipe. Com mais365bet mobileduas décadas365bet mobileexperiência como marinheiro, alimentava peixes debaixo d'água e encantava quem o via pelo fundo365bet mobilevidro do barco365bet mobileque trabalhava.

Como não ganha mais365bet mobileUS$ 40 (R$ 200) por semana, ele também é mergulhador e saltava365bet mobilegrandes alturas na água365bet mobiletroca365bet mobilegorjetas365bet mobileturistas.

"É injusto. Eu disse a ele para não ir quando havia furacões, mas ele é tão responsável que me disse que é dali que nos alimentamos. E naquela noite ele não voltou”, conta365bet mobileesposa Rosario Campos à BBC Mundo (serviço365bet mobileespanhol da BBC), muito perto365bet mobileonde ficava a bilheteria da empresa onde seu marido trabalha e que também praticamente voou pelos ares.

Ela continua esperançosa365bet mobileque ele esteja vivo – que ele está365bet mobileum hospital, talvez inconsciente e não consegue se comunicar. Ela diz que há feridos na base naval, mas garante que não a deixarão passar para verificar se o marido está entre eles.

“Mais uma noite vamos ficar sem ele, com aquela incerteza, aquele desgosto… é desesperador”, lamenta.

Azucena Ochoa também tenta ser otimista365bet mobilerelação ao sobrinho, Mauricio Bibiano, que tem apenas 22 anos e é capitão365bet mobileum barco. Mas, ao mesmo tempo, pede ajuda para procurar no mar o seu familiar,365bet mobilequem fala misturando presente e passado sem se dar conta.

“O governo não fez nada, não enviou barcos para procurá-lo. As autoridades precisam fazer alguma coisa, porque aqui estamos desolados. Não temos ajuda, não tem como ir procurá-los, nada”, afirma.

“Imagino que a onda o derrubou. Tenho esperança365bet mobileque Deus o devolva para mim, e se não, que ele o dará para mim mesmo que esteja morto, mas que o entregue a mim.”

Em busca do pai

A mãe365bet mobileBrian Jiménez, um marinheiro365bet mobile22 anos, acredita que o filho ainda está vivo porque, horas depois365bet mobileOtis o surpreender enquanto ele vigiava o barco365bet mobileque trabalha, seu nome apareceu na lista365bet mobilepessoas atendidas365bet mobileum hospital.

“Supostamente ele chegou na tarde365bet mobilequarta-feira, o reanimaram e lhe deram alta à noite, quando tudo ainda estava uma bagunça com água e lama. Talvez quando ele partiu, com o choque do mar e do redemoinho, ele tenha se sentido mal no caminho... mas tenho esperança365bet mobileque alguém o tenha ido buscar ou levado para outro lugar”, diz Elizabeth Rodríguez.

Neste exato momento chega Felipe, filho365bet mobile14 anos365bet mobileRosário Campos. Ele conta que ouviu falar que dois corpos apareceram na base naval, que já desincharam e que poderiam ir ver se é seu pai.

Há dias ele próprio se encarrega365bet mobilemergulhar na área onde o navio naufragou. “Está aí,365bet mobilepedaços. Procuro os pertences do meu pai, mas não há nada. Há outros corpos presos nos barcos. Espero que ele não esteja lá, sinto como se ele estivesse no hospital. A verdade é que não gostaria365bet mobileencontrá-lo debaixo d’água”, afirma.

Numa cidade costeira como Acapulco, o mar marca a vida365bet mobilequase todos os seus habitantes. Felipe diz que quer trabalhar nos barcos como o pai, mas deixa claro que não ficará para vigiar os barcos365bet mobilecaso365bet mobilefuracão.

“Depois disso, quando vejo que não procuram o meu pai… por que é que vou passar pela mesma coisa, e que nem as autoridades nem os patrões se preocupam comigo?”, questiona.

Cena365bet mobileterror

Além do calçadão, Acapulco ainda parece completamente devastada mais365bet mobileuma semana depois que Otis a atingiu.

Já se pode circular pela estrada, mas as árvores caídas,365bet mobilecujos edifícios restaram apenas os esqueletos, a lama, os vidros e os telhados que voaram por toda parte oferecem uma imagem dantesca.

O lixo se acumula nas ruas e o cheiro permeia o nariz e a garganta. Alguns vizinhos queimam o lixo, tornando o calor mais insuportável, do qual não há como se aliviar com ventilador ou ar condicionado: o serviço elétrico, assim como a água encanada ou a internet, ainda não funcionam corretamente365bet mobileparte da cidade.

Alguns moradores dizem que é como um filme365bet mobileterror, como uma cidade fantasma365bet mobileque todas as lojas e grandes armazéns permanecem fechadas e destruídas após o furacão e os subsequentes saques massivos.

O exército foi mobilizado para tentar manter a ordem e proteger os poucos postos365bet mobilegasolina ou bancos que voltaram a funcionar. Mas alguns grupos365bet mobilevizinhos decidiram organizar-se por conta própria e vigiar os seus bairros à noite, protegendo-os com barricadas.

“As pessoas que agora estão tentando roubar são aquelas que saquearam e levaram geladeiras, motos ou fogões, mas não levaram nada para comer. E aqui a polícia passa, mas não entra para ajudar. Claro que eles também não mexem conosco”, dizem Nectalí e Julio César, dois moradores do bairro Nuevo Progreso armados com facões.

Nesse cenário, a única opção para os acapulquenhos que desejam comprar água ou comida é viajar até Chilpancingo, capital do estado365bet mobileGuerrero, a uma hora365bet mobiledistância.

Aqueles que não têm como viajar para lá sobrevivem graças à distribuição365bet mobilemantimentos e doações do governo, dos soldados e principalmente365bet mobilegrupos365bet mobilecidadãos365bet mobiletodo o país que mais uma vez mostram a tradicional solidariedade mexicana que é vista quando enfrentam catástrofes.

“Até este momento, não tinha recebido qualquer apoio”, afirma Jenny Tamabustos, uma vizinha que acaba365bet mobilereceber água, latas365bet mobileconservas e produtos365bet mobilehigiene no Palácio Municipal. “Quando teve o Paulina [o furacão que atingiu Acapulco365bet mobile1997], houve ajuda mais cedo, mas neste momento está muito lento”, critica.

Recomeçar depois365bet mobileperder tudo

O governo mexicano anunciou um plano365bet mobilereconstrução365bet mobileAcapulco que inclui isenção365bet mobilepagamento365bet mobileimpostos, apoio financeiro e entrega365bet mobileeletrodomésticos e mantimentos, entre outros.

Há muita incerteza sobre como uma população tão dependente do turismo irá avançar. Mas fora da área mais conhecida pelos visitantes, existem milhares365bet mobileacapulcanos que perderam praticamente tudo e aguardam ansiosamente qualquer tipo365bet mobileajuda.

Localizado no topo365bet mobileuma colina, o bairro Cumbres365bet mobileLlano Largo foi um dos mais afetados por Otis. Caminhar por suas ruas é ver um cemitério365bet mobilecasas agora protegidas por lençóis, depois que seus telhados365bet mobilezinco voaram pelos ares.

Para Evangelina Rodríguez, uma mulher365bet mobile69 anos, o vento e a água lhe tiraram tudo. Eletrodomésticos, roupas, colchões... nada se salvou do que ela construiu com as próprias mãos em365bet mobilecasa há 30 anos.

“Tudo caiu, ficamos no zero. Trabalhar a vida inteira para ter isso, e365bet mobileduas horas ficar sem nada... isso é horrível. Quando vi minha casa, perdi a vontade365bet mobileviver ao vê-la daquele jeito”, diz ela, sem conseguir parar365bet mobilechorar enquanto mostra o que restou da casa.

Os familiares dos marinheiros desaparecidos também sofreram perdas materiais, mas não tiveram tempo para pensar no assunto. “Perdi tudo, perdi minha casa. Mas o resto vai e vem, a única coisa que quero recuperar é meu filho. “Ele é nosso único filho”, diz a mãe365bet mobileBrian Jiménez entre lágrimas.

O grupo365bet mobilefamiliares continuará aguardando no calçadão365bet mobilefrente para o mar notícias que dava trabalho aos seus entes queridos e lhes permitiam viver – mas agora não sabem se isso lhes tirou a vida e pedem que sejam devolvidos.

"Ele vai voltar. Ele tem que voltar porque nos deu esperança ao aparecer depois do furacão no hospital e dar o seu nome. Ele vai voltar, não pode me decepcionar”, diz a mulher, chorando.