O relatoaposta esportiva é legalmédico que perdeu paciente para dengue pela 1ª vezaposta esportiva é legal20 anos: 'O Brasil perdeu Maria':aposta esportiva é legal

Nos primeiros mesesaposta esportiva é legal2024, o Brasil registrou maisaposta esportiva é legal3,5 milhõesaposta esportiva é legalcasos prováveisaposta esportiva é legaldengue e um patamar inéditoaposta esportiva é legalquase 1.600 mortes por causa da doença, segundo dados do Ministério da Saúde.

Uma delas foi Maria, a paciente que Salvador não conseguiu salvar.

Poucas horas depoisaposta esportiva é legalchegar ao hospital, o organismoaposta esportiva é legalMaria,aposta esportiva é legalespecial o sistema cardiovascular, já não respondia mais às medidas tomadas pelos médicos para mantê-la hidratada ouaposta esportiva é legalpressão arterial e oxigenação do sangue sob controle.

A dengue normalmente não causa casos graves assim, explica o infectologista.

Normalmente, a doença é branda, com cercaaposta esportiva é legalmil pessoasaposta esportiva é legalmédia com sintomas leves para cada uma que enfrenta complicações.

Mas Maria havia procurado ajuda médica quando seu estado já estava grave demais.

"É frustrante, não só como médico, mas como pessoa, ver alguém morreraposta esportiva é legaluma doença que poderia ter sido evitada", conta Salvadoraposta esportiva é legalentrevista à BBC News Brasil.

Um aspecto cruel

Salvador conta que um episódioaposta esportiva é legalanos atrás o fez compreender um aspecto particularmente cruel da dengue.

O ano era 2013, e Salvador já trabalhava no hospital da USP.

Havia um surto da doença nos bairros vizinhos do Rio Pequeno e do Jaguaré, na Zona Oesteaposta esportiva é legalSão Paulo, com milharesaposta esportiva é legalcasos atendidos e notificados.

O médico visitou uma comunidade da região onde foram encontrados muitos tonéisaposta esportiva é legalágua. O objetivo era alertar sobre o riscoaposta esportiva é legalter água parada acumulada, que serveaposta esportiva é legalcriadouro dos mosquitos Aedes Aegypti, que transmitem a dengue.

Foi quando o médico ouviu dos moradores: "Doutor, na favela cai água uma vez por semana, se não guardar, morremosaposta esportiva é legalsede".

Salvador diz que naquele momento entendeu que a dengue "não é apenas uma doença das pessoas, mas também das cidades, especialmenteaposta esportiva é legalcontextosaposta esportiva é legaldesigualdade".

"A dengue é, sim, uma doençaaposta esportiva é legalpopulações negligenciadas", afirma o médico.

"Parte da população viveaposta esportiva é legalfavelas e muitos não têm acesso ao saneamento básico. Essa condição propícia ao mosquito cria um ambiente favorável à propagação da doença e contribui para a catástrofe que é o avanço da doença."

Doença tem se expandido para novos territórios

A crise atual não é devida a uma forma mais forte ou grave da dengue do que no passado, explica Salvador.

O problema, diz ele, está nos surtos que a dengue tem causadoaposta esportiva é legalcentenasaposta esportiva é legalcidades brasileirasaposta esportiva é legaluma forma como não se via antes.

Conforme o vírus infecta mais pessoas, o númeroaposta esportiva é legalcasos que oferecem risco à vida também aumentam.

Nas últimas décadas, o Aedes aegypti tem espalhado o vírus da dengue por regiões onde antes não era comum encontrá-lo.

"Houve uma transformação significativa na distribuição da doença", diz o médico.

"Antes, não tínhamos casosaposta esportiva é legaldengue abaixo do Paraná. Agora, a dengue avançou para outros estados do Sul do Brasil e até para outros países da América Latina, como Argentina e Paraguai."

Houve registroaposta esportiva é legalaumentoaposta esportiva é legalcasos também nos Estados Unidos, no México e até mesmo do outro lado do oceano Atlântico, na Europa.

"Estamos passando por um período inegávelaposta esportiva é legalaumento das temperaturas globais, com recordesaposta esportiva é legalcalor, o que tem impacto na distribuição do Aedes aegypti", diz Salvador.

"A cada ano, mais territórios são expostos ao mosquito e à dengue", explica.

No Brasil, diz o médico, a urbanização desordenada, com condiçõesaposta esportiva é legalsaneamento ruins, contribui para o cenário.

De acordo com o Censoaposta esportiva é legal2022, o Brasil tem maisaposta esportiva é legal10 mil favelas e comunidades urbanas,aposta esportiva é legalque vivem 16,6 milhõesaposta esportiva é legalpessoas (8% da população brasileira).

Ao mesmo tempo, 24,3% da população brasileira, ou aproximadamente 49 milhõesaposta esportiva é legalpessoas, não têm acesso a uma estrutura adequadaaposta esportiva é legalsaneamento básico.

"Precisamos controlar a dengue com políticas públicas, distribuição corretaaposta esportiva é legalágua [potável], gestão urbana adequadaaposta esportiva é legaldeterminadas áreas."

Os sinaisaposta esportiva é legalalerta da doença

Depoisaposta esportiva é legalser picada por um mosquito infectado, a pessoa passa por um períodoaposta esportiva é legalque o vírus se reproduz pelo corpo.

Isso leva a sintomas como febre alta e dores musculares intensas, que são características típicas da doença.

Mas algumas pessoas podem desenvolver complicações graves durante uma infecção devido à resposta do seu próprio sistema imunológico, explica Salvador.

"Isso ocorre quando o sistema imunológico reageaposta esportiva é legalforma excessiva, causando danos aos órgãos e tecidos do corpo."

"Por exemplo, podem ocorrer hemorragias, perdaaposta esportiva é legallíquidos e danos ao fígado, coração e sistema nervoso central."

De acordo com o Ministério da Saúde, alguns sintomas são sinaisaposta esportiva é legalalerta:

"Normalmente, esses sinais aparecem quando a febre começa a melhorar, a partir do terceiro dia da doença", diz Salvador.

"Mas pode aconteceraposta esportiva é legalo quadro pioraraposta esportiva é legalmaneira abruptamente grave, sem sinaisaposta esportiva é legalalerta."

Para evitar que os casos graves passem despercebidos, o infectologista diz ser necessária uma organizaçãoaposta esportiva é legalredes assistenciais para cuidar dos quadros mais leves e identificar quem apresenta potencial gravidade.

A necessidadeaposta esportiva é legalnovas terapias e drogas

Embora uma vacina da dengue esteja disponível no Sistema Únicoaposta esportiva é legalSaúde (SUS) pela primeira vez,aposta esportiva é legalaplicação foiaposta esportiva é legalinício restrita, apenas para crianças e adolescentesaposta esportiva é legal10 a 14 anosaposta esportiva é legal521 municípios selecionados pelo Ministério da Saúde.

Idosos com 60 anos ou mais não puderam ser vacinados, pois esse grupo não foi incluído nos testesaposta esportiva é legaleficácia e segurança do imunizante.

No entanto, a pasta ampliou a faixa etária atendida temporariamenteaposta esportiva é legalcidades onde há doses que estão prestes a vencer para pessoas idades entre 4 e 59 anos.

Nas clínicas particulares, as vacinas já se esgotaram devido à capacidade limitadaaposta esportiva é legalprodução da farmacêutica responsável, que dá prioridade ao SUS.

Uma dificuldade no tratamento contra a doença é que ainda não há um medicamento efetivo especificamente para a dengue.

"Os protocolosaposta esportiva é legaltratamento ainda se baseiam nas tecnologias dos anos 1980, quando a doença começou a se espalhar pela América Latina e causou epidemiasaposta esportiva é legalPorto Rico eaposta esportiva é legalCuba", lembra Salvador.

O médico espera que a "corrida" do desenvolvimentoaposta esportiva é legalremédios para a doença se intensifiqueaposta esportiva é legalbreve, tal qual ocorreu contra a covid-19.

"A grande diferença da dengue para a covid é que a covid parou a economia do mundo, parou os países centrais e fez com que houvesse recursos para uma corrida por medicamentos, por vacinas e para distribuição, porque é necessário conter a pandemiaaposta esportiva é legalescala mundial", diz Salvador.

"Enquanto a dengue era algo mais restrito a paísesaposta esportiva é legaldesenvolvimento, não era tão interessante. Mas, com a ameaça da dengue atingindo até mesmo nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, há um crescente interesse global na busca por soluções."

Mas o médico avalia que o sucesso na luta contra a doença requer uma abordagem abrangente, que leveaposta esportiva é legalconsideração não apenas a pesquisa científica, mas também questões socioeconômicas e ambientais.

Ele descreve o cenário ideal para um "país sem dengue": com vacina, acesso à água potável, saneamento básico e habitação digna para todos.

"Se não conseguirmos cumprir essas tarefas, infelizmente, veremos a dengue avançar e produzir epidemias cada vez piores", conclui.