Há antiamericanismo na relação do governo Lula com os EUA?:ag aposta ganha

Lula e Biden

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Lula e Bidenag aposta ganhaencontro na Casa Brancaag aposta ganhafevereiroag aposta ganha2023

"É claro que existem ressentimentos históricos e questões ideológicas, mas o que alguns chamariam hojeag aposta ganha'antiamericanismo' parece mais uma questãoag aposta ganhasensoag aposta ganhaoportunidade no contextoag aposta ganhaum mundo com novos líderes (leia-se, China), do que qualquer outra coisa", diz Fernanda Magnotta, professoraag aposta ganhaRelações Internacionais na FAAP. "Eu resumiria o nosso antiamericanismo como um mixag aposta ganhaagir com o cérebro e agir com o fígado. Bastante cérebro e pitadasag aposta ganhafígado", afirma.

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Já Ryan Berg, diretor do programa Américas do Center for Strategic & International Studies, vê o governo Biden numa armadilha. “Eles (governo Biden) pintaram Lula como um democrata salvador e agora estão presos a isso. Lula está obviamente contrariando interesses americanos, mas não podemos criticá-lo como normalmente faríamos, por todo o endosso que foi dado", disse Berg à BBC News Brasil.

"E era bastante óbvioag aposta ganhasaída que Celso Amorim não era o maior fã dos EUA”, segue ele, citando o ex-chanceler e assessor especialag aposta ganhaLula.

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Por dizer que os EUA deveriam “pararag aposta ganhaincentivar a guerra” na Ucrânia, Lula foi acusado por John Kirby, porta-voz do Conselhoag aposta ganhaSegurança Nacional da Casa Branca,ag aposta ganha“papagaiar” o discurso sino-russo.

Ao receber o líder venezuelano Nicolás Maduroag aposta ganhaBrasília, o brasileiro argumentou que havia “uma narrativa” sobre as condições não democráticas da Venezuela, declaração recebida pelos americanos como crítica à atuação deles na região.

E ao expressar a intençãoag aposta ganhadesalojar o dólar da posiçãoag aposta ganhamoedaag aposta ganhatransações internacionais ("Quem é que decidiu que era o dólar a moeda?"), Lula foi visto como entusiasta da redução do protagonismo global americano.

Embora tenha se alinhado repetidas vezes aos EUAag aposta ganhacondenar a invasão russa no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil contrariou os americanos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao se recusar a transferir armamentos à Ucrânia, um pedido primeiro feito a Lula pelo chanceler alemão Olaf Scholzag aposta ganhajaneiro.

O governo brasileiro também permitiu, no começo do ano, a atracagemag aposta ganhanavios militares iranianos sob sanção americanaag aposta ganhaum porto do Rioag aposta ganhaJaneiro, o que levou congressistas mais exaltados a sugerir que a gestão Biden deveria estender ao Brasil as sanções (o que não aconteceu).

A gestão Lula também não endossou o texto final da Cúpula da Democraciaag aposta ganhaBiden,ag aposta ganhamarço, que trazia uma condenação à invasão da Rússia pela Ucrânia. E aos olhos dos americanos, Lula precisou ser cobrado a enviar um emissário brasileiro à Kiev, após remeter Celso Amorim para um encontro com Vladimir Putinag aposta ganhaMoscou — o próprio Amorim acabou indo à Ucrânia depois.

John Kirby, porta-voz do Conselhoag aposta ganhaSegurança Nacional dos EUA

Crédito, Reuters

Legenda da foto, John Kirby, porta-voz do Conselhoag aposta ganhaSegurança Nacional dos EUA, disse que 'Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa'

Em abril, o jornal americano Washington Post listou as rusgasag aposta ganhaum texto intitulado: “O Ocidente acreditou que Lula seria um parceiro. Mas ele tinha seus próprios planos”.

"A política externa brasileira não é anti-ninguém, é pró Brasil", responde a nova embaixadora brasileiraag aposta ganhaWashington, Maria Luiza Viotti, ao ser questionada pela BBC News Brasil sobre os que apontam possível antiamericanismo na política externa brasileira. “E o Brasil valoriza as relações com os EUA (...). O presidente Lula deu demonstração clara nesse sentido ao visitar os EUA apenas quarenta dias após ter tomado posse”, completa.

Viotti relembra que, na tradição diplomática brasileira, a regra foi uma postura independenteag aposta ganharelação a superpotências. Getúlio Vargas, por exemplo, mantinha relações aquecidas com a Alemanha,ag aposta ganhaAdolf Hitler, e a Itália,ag aposta ganhaBenito Mussolini, logo antesag aposta ganhaaderir à Segunda Guerra ao lado dos aliados. Jânio Quadros e João Goulart fizeram fortes aproximações com a China, mesmo contra os interesses americanos.

Nem mesmo o regime militar brasileiro se alinhou por completo aos EUA, salvo no início, sob a batutaag aposta ganhaCastelo Branco: manteve relações diplomáticas com a União Soviética — apesarag aposta ganhao golpeag aposta ganha1964 ter sido patrocinado pelos americanos.

Exceções à trajetória foram o governo Dutra (1946-1951), no pós-guerra imediato, e, mais recentemente, o período Jair Bolsonaro - Donald Trump,ag aposta ganhaque o Brasil experimentou um alinhamento automáticoag aposta ganharelação aos americanos. Em 2019, pela primeira vez na história, o Brasil votou contra a condenação ao embargo americanoag aposta ganhaCuba, ao lado apenasag aposta ganhaEUA e Israel (em um totalag aposta ganha193 países).

"Hoje Brasil e EUA se reconhecem como duas grandes democracias, que compartilham valores e um considerável patrimônioag aposta ganhainteresses comuns,ag aposta ganhapresença recíproca eag aposta ganhacooperação", diz Viotti.

Lula e Bidenag aposta ganhaencontro na Casa Branca

Crédito, Ricardo Stuckert/ PR

Legenda da foto, Ao expressar a intençãoag aposta ganhadesalojar o dólar da posiçãoag aposta ganhamoedaag aposta ganhatransações internacionais, Lula foi visto como entusiasta da redução do protagonismo global americano

O que querem e o que oferecem os americanos?

Publicamente, a diplomacia americana nega ver sinaisag aposta ganhaantiamericanismoag aposta ganhaLula e calibra suas declarações entre críticas duras e palavrasag aposta ganhaapreço ao aliado.

Questionado diretamente sobre o assunto pela BBC News Brasil, o secretário adjunto para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou que “Lula é um grande aliadoag aposta ganhatantas áreas”.

“Nem sempre vamos concordarag aposta ganhatudo, mas o mundo é melhor com o Brasil nele”, disse Nichols à BBC News Brasilag aposta ganhajunho.

Posicionamento que alguns analistas, especialmente os americanos, veem com ceticismo.

"Acho que o governo Biden lida bem com a situação, mas há pessoas no governo americano muito desapontadas, sugerindo que Lula seja um falso amigo. Não concordo completamente com isso, mas há elementosag aposta ganhaverdade", afirma Brian Winter, editor da revista americana America’s Quarterly.

“Lula e Celso Amorim acreditamag aposta ganhauma ordem multipolar, com vários países poderosos, e que isso seria melhor para o Brasil. E eu entendo e respeito isso. Não acho que Lula odeie os EUA, mas, na prática, ele claramente quer ver os americanos não tão poderosos quanto são hoje”, resume Winter, que conclui: “Todo mundoag aposta ganhaWashington percebe que ele torce contra os EUA. Então, é constrangedor”.

Para analisar a equação da relação bilateral, é preciso colocar outro elemento no xadrez: a China. Os EUA assistem ao avanço contínuo da influênciaag aposta ganhaPequim,ag aposta ganhamaior antagonista global, na América Latina na última década, seja por meio do comércio ou por investimento direto, e o Brasil é o principal parceiro chinêsag aposta ganhaambos os quesitos.

Já são 21 os países latinos ou caribenhos a assinarem o acordoag aposta ganhadesenvolvimento econômico chinês conhecido como Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na siglaag aposta ganhainglês). E embora o Brasil não tenha assinado o BRI, tampouco é signatário do Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica, a tentativaag aposta ganharesposta dos EUA ao BRI que patinaag aposta ganhainjetar recursos na região.

O Brasil também tem enviado recadosag aposta ganhaque não pretende terag aposta ganhaescolher entre China e EUA,ag aposta ganharotaag aposta ganhatensão crescente, em temas como a tecnologiaag aposta ganhasemicondutores.

"Não temos nenhuma preferência por uma fábricaag aposta ganhasemicondutores chinesa. Mas se eles (chineses) oferecerem boas condições, não vejo porque a gente recusar. Não temos medo do lobo mau", disse Celso Amorim à Reuters.

Neste contexto, o Brasil é um país com o qual os EUA precisariam aprofundar relações. A visitaag aposta ganhaLula à capital americana,ag aposta ganhafevereiro, poderia ter servido para avançar, mas organizadaag aposta ganhaclimaag aposta ganhacorreria, frustrou o presidente brasileiro, que esperava ser recebido para uma visitaag aposta ganhaEstado, não apenasag aposta ganhatrabalho, e ter a oportunidadeag aposta ganhafalar ao Congresso dos EUA, o que não aconteceu. Em comparação, o líder indiano Narendra Modi, cujo país se abstémag aposta ganhaendossar as críticas americanas à invasão da Rússia à Ucrânia na ONU, foi recebido recentemente com a solenidade que Lula não recebeu.

Ainda durante a visita do brasileiro,ag aposta ganhafevereiro, os americanos ofereceram seu ingresso ao Fundo Amazônia, algo desejado e celebrado pelo Brasil. Mas o baixo valor do aporte inicialmente disponibilizado, US$50 milhões, causou mal-estar no lado brasileiro a pontoag aposta ganhaser excluído da declaração conjunta dos países. Meses depois, Biden anunciou a intençãoag aposta ganhaenviar US$ 500 milhões à Amazônia — remessa que o Congresso dos EUA ainda não aprovou.

Antes mesmo do pleitoag aposta ganha2022, no entanto, ao menos um diplomata americano ouvido reservadamente pela BBC News Brasil expressou preocupação com as simpatiasag aposta ganhaLula a regimes como o cubano, o venezuelano e o nicaraguense. Embora a relação entre Bolsonaro e Biden fosse, na prática, inexistente, este diplomata dizia que os americanos apreciavam o modo como Bolsonaro alinhou o Brasilag aposta ganhatemas ideológicos caros aos americanos e expressava desconfiança ao que seria a relação com Lula.

"Depoisag aposta ganha30 anos do fim da Guerra Fria, pessoasag aposta ganhaWashington, republicanos e democratas, ainda acham difícil trabalhar com um país latino-americano que fica a meio caminho entre amigo e inimigo. Querem perguntar: 'Ei, Brasil, você é amigo ou não?' Ninguém pergunta isso à França, por exemplo", afirma Brian Winter.

Recentemente, Washington demonstrou insatisfação dianteag aposta ganhainiciativas brasileiras para suavizar um texto crítico a violaçõesag aposta ganhadireitos humanos do governoag aposta ganhaDaniel Ortega, na Nicarágua, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA).

“Lula tem amizade pessoal com todos os esquerdistas da América Latina. A razão pela qual o Brasil quis diluir a resolução da OEA sobre a Nicarágua é justamente a relaçãoag aposta ganhaLula com Ortega. Eles se conheceram nos anos 80, relacionamentos são importantes e impactam a política, mesmo décadas depois. A outra parte disso é o Brasil tentando se posicionar para uma maior autonomia estratégica e, para isso, precisa manter os EUA a certa distância”, diz Berg, do programa Américas do Center for Strategic & International Studies.

Regionalmente, este não é um ponto isoladoag aposta ganhadiscordância. Embora os americanos tenham dito publicamente que gostariamag aposta ganhater com o Brasil um diálogo para promover eleições livres na Venezuela no ano que vem, as autoridades dos dois países não têm discutido o assunto. Em vez disso, há poucos dias, Lula se uniu ao presidente francês Emmanuel Macron para tratar o temaag aposta ganhauma reunião com representantes do governo e da oposição venezuelana.

Apesar da grande pressãoag aposta ganhaamericanos para que o Brasil compusesse uma força militar para ser enviada ao Haiti, onde o país liderou por maisag aposta ganhauma década uma missãoag aposta ganhapaz da ONU, o governo Lula já os fez saber que não embarcará na proposta.

O líder venezuelano Nicolás maduro e o presidente brasileiro Lula

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O líder venezuelano Nicolás Maduro e o presidente brasileiro Lula se encontraramag aposta ganhamaio,ag aposta ganhaBrasília

Interesses brasileiros e multipolaridade

Em um artigo para ediçãoag aposta ganhamaio/junho da publicação Foreign Affairs, o professorag aposta ganhaRelações Internacionais da FGV Matias Spektor afirma que, ao evitar se alinhar com posicionamentos americanos na guerra da Ucrânia, por exemplo, países como o Brasil não estão sendo amorais ou acríticos, estão apenas mantendo necessária flexibilidadeag aposta ganhacompromissos para se adaptar a possíveis novos cenários geopolíticos.

“Os países do Sul global estão preparados para abrir caminhoag aposta ganhameados do século 21. Eles se protegem não apenas para obter concessões materiais, mas também para elevar seu status, e abraçam a multipolaridade como uma oportunidadeag aposta ganhasubir na ordem internacional. Se quiser permanecerag aposta ganhaprimeiro lugar entre as grandes potênciasag aposta ganhaum mundo multipolar, os Estados Unidos devem enfrentar o Sul globalag aposta ganhaseus próprios termos”, conclui Spektor.

É exatamente isso o que dizem três diplomatas brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil sobre o assunto.

Segundo eles, ao retomar a proximidade com a Venezuelaag aposta ganhatermos que desagradam os americanos, Lula está cuidando do que interessa ao país: manter boas relações com vizinhoag aposta ganhafronteira e reaver dinheiroag aposta ganhaempréstimo do Banco Nacionalag aposta ganhaDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o país.

Os próprios americanos, recordam eles, flexibilizaram sanções ao petróleo venezuelano quando isso atendia ao interesseag aposta ganhabaixar o preço da commodity, diante da guerra na Ucrânia.

Do mesmo modo, ao advogar por transaçõesag aposta ganhaoutras moedas que não o dólar, Lula estaria buscando facilitar trocas comerciais com qualquer parceiro, já que o Brasil não estáag aposta ganhacondiçãoag aposta ganhaescolherag aposta ganhaquem comprar ou para quem vender.

Com os EUA, interessa aos brasileiros tocar as agendasag aposta ganhacomum: democracia, meio ambiente, comércio bilateral.

"Toda política externa tem componente ideológico, tem motivações normativas, morais. Sempre tem uma visãoag aposta ganhamundo ali. Mas é preciso olhar para a política externa a partirag aposta ganhaindicadores objetivos: atraçãoag aposta ganhainvestimentos, facilitaçãoag aposta ganhafluxoag aposta ganhapessoas, atraçãoag aposta ganhaeventosag aposta ganhaporte ao país. Isso é o que interessa", argumenta Dawisson Belém Lopes, professorag aposta ganhaPolítica Internacional da Universidade Federalag aposta ganhaMinas Gerais.

Segundo Belém Lopes, se quer liderar a região e exercer protagonismo global, Lula tem que se comportarag aposta ganhamaneira distinta da defendida pelo presidente do Chile, Gabriel Boric, que não refreia críticas às esquerdas na América Latina e expressou forte apoio à Ucrânia. Esta semana, Lula disse que Boric é jovem e apressadoag aposta ganhaseus posicionamentos.

"O Brasil tem que lidar com Maduro e Ortega. O Brasil é metade da América do Sul, tem que lidar com muito mais gente do que o Chile, precisa se relacionar com muitos se quiser liderar a região, o que é a nossa proposta. Para a gente conseguir ter aspirações globais, a gente tem que se cacifar como líder regional", afirma Belém Lopes, que completa: "Tem custos? Tem. A forma como Lula faz é a melhor? Não sei. Mas certamente é melhor do que havia antes".

Há quem, no entanto, veja riscos na estratégiaag aposta ganhaLula até agora.

"O grande projeto diplomáticoag aposta ganhauma nova 'ordem mundial'ag aposta ganhaLula vai causar problemas para o Brasil nas suas relações com os países ocidentais, com repercussões sobre interesses militaresag aposta ganhaequipamento e cooperação", afirma o embaixador aposentado Paulo Robertoag aposta ganhaAlmeida.

Recentemente a Alemanha bloqueou a exportação para as Filipinas dos tanques Guarani, fabricados pelo Brasil, com componentes alemães. A negativa veio depois que o Brasil se recusou a repassar munições para a Alemanha que chegariam à Ucrânia. A justificativa oficial alemã foi aag aposta ganhaque o governo filipino comete violações aos Direitos Humanos. Produtos da Embraer também podem ser afetados nesta dinâmica.

Os americanos têm expressado que, embora defendam uma reforma do Conselhoag aposta ganhaSegurança da ONU, pleito histórico do Brasil, não endossarão uma eventual candidatura brasileira. Para o embaixador Rubens Ricupero, as açõesag aposta ganhaLula podem reduzir a disposição dos americanosag aposta ganhacooperarag aposta ganhatemas centrais para o Brasil, como o meio ambiente e a democracia. Ele não vê vantagens estratégicas no comportamento do presidente.

"Só posso atribuir isso ao ressentimento (alguns dizem que Lula culpaag aposta ganhaparte os americanos pela Lava Jato eag aposta ganhacondenação) e,ag aposta ganhaparte, ao cálculo, com vistas talvez a agradar setores mais radicais do PT eag aposta ganhaapoiadores acaso insatisfeitos com a política econômica e outras orientações do governo", diz Ricupero, recordando a aprovação recente do arcabouço fiscal na Câmara, que não contou com o apoioag aposta ganhasetores da esquerda que compõem a base do governo Lula.

"Não acho que essa linha vá gerar apoio interno, pois a opinião pública brasileiraag aposta ganhageral é simpática aos EUA fora os setoresag aposta ganhaesquerda e nacionalistas mais radicais", afirma o embaixador.

O assessor presidencial Celso Amorim e o vice-chanceler da Ucrânia, Andrii Melnyk

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, O assessor presidencial Celso Amorim e o vice-chanceler da Ucrânia, Andrii Melnyk,ag aposta ganhaencontroag aposta ganhaKiev

Desconfianças recentes e históricas

Ricupero não é o único a citar o histórico da Operação Lava Jato para explicar possíveis desconfiançasag aposta ganhaLula com os EUA. Houve colaboração formal e informal do Departamentoag aposta ganhaJustiça dos EUA com investigadores e autoridades brasileiras no caso que levou Lula à prisão e à inelegibilidadeag aposta ganha2018. Os processos contra Lula acabaram anulados pelo Supremo Tribunal Federal.

“Não vejo Lula como antiamericano. Eu acho que o que se percebe por parte dele é uma desconfiança, mas não hostilidade. Isso tem a ver primeiramente com a sensação pessoal do presidenteag aposta ganhaque Washington — especialmente o Departamentoag aposta ganhaJustiça — teria contribuídoag aposta ganhaalguma forma paraag aposta ganhaprisão”, diz André Pagliarini, professorag aposta ganhaHistória do Hampden-Sydney College, na Virgínia, e colaborador do Washington Brazil Office, organização que faz a interface entre parte da sociedade civil brasileira e o Congresso americano.

Para ilustrar o que considera um “trauma”ag aposta ganhaLula com os americanos, Pagliarini conta uma anedota.

“Há dois anos, conversei com uma pessoa do círculoag aposta ganhaLula que me contou da tentativaag aposta ganhaplanejar uma viagem aos EUA (ainda antes das eleições brasileiras). Mas parte deles temia que Lula seria preso ao descer do avião. Eu e outros falamos que isso era um absurdo, não aconteceriaag aposta ganhajeito nenhum. Eles não confiavam e a visita não rolou. Sempre achei isso emblemático e acho que ajuda a explicar uma certa visão equivocada sobre os EUA hoje”, diz Pagliarini.

Em junhoag aposta ganha2021, a BBC News Brasil revelou que 23 deputados democratas pediram ao governo Biden que tornasse públicas as informações sobre cooperações na investigação. Dois anos mais tarde, o Departamentoag aposta ganhaJustiça jamais respondeu aos deputados. A demanda tinha sido feitaag aposta ganhauma articulação com a sociedade civil brasileira, representada pelo Washington Brasil Office na capital americana.

Se o governo Biden não tem colaborado pra esclarecer o passado recente das relações entre o Departamentoag aposta ganhaJustiça e as autoridades brasileiras, coube ao próprio Joe Biden, então viceag aposta ganhaObama, realizar uma das maiores aberturasag aposta ganhaarquivos americanos sobre o Brasil,ag aposta ganha2014.

Em visita a Brasília, Biden entregou pessoalmente à então presidente Dilma Rousseff 43 documentos produzidos por autoridades americanas entre os anosag aposta ganha1967 e 1977 sobre censura, tortura e assassinatos cometidos pelo regime militar do Brasil. O material abasteceu a Comissão Nacional da Verdade, estabelecida no governo Dilma.

O gesto dos americanos, no entanto, não era desinteressado. Era, na verdade, uma tentativaag aposta ganhareaquecer relações abaladas depois que se tornou pública a espionagem do país contra Dilma. Vazamentosag aposta ganhadocumentos diplomáticos americanos pelo site Wikileaks,ag aposta ganha2013, apontavam que a Agência Nacionalag aposta ganhaSegurança (NSA, na siglaag aposta ganhainglês) tinha grampeado até mesmo a linha telefônica usada pela presidente no avião presidencial. Como retaliação, Dilma cancelou uma visitaag aposta ganhaEstado que faria a Barack Obamaag aposta ganhaWashington D.C.

Em julho, o jornal El País revelou uma nova suposta espionagem levada a cabo por uma agência espanhola a pedido dos EUA,ag aposta ganha2018, e que tinha como alvo reuniões do ex-presidente do Equador Rafael Correa (2007-2017) com os ex-presidentes da Argentina, Brasil e Uruguai, Cristina Fernándezag aposta ganhaKirchner , Lula, Dilma e José Mujica,ag aposta ganha2018.

Nos últimos dias, deputados democratas da ala à esquerda do partido tentaram passar uma emenda legislativa para forçar os EUA a abrir supostos arquivos adicionais sobre a ditadura brasileira. A emenda não foi aprovada. Uma fonte do Departamentoag aposta ganhaEstado dos EUA especializadaag aposta ganhaAmérica Latina disse à BBC News Brasil que já não há material relevante disponível ainda sob sigilo no arquivo americano.

Dilma Rousseff e Joe Bidenag aposta ganhaBrasília

Crédito, Ricardo Stuckert/ PR

Legenda da foto, Dilma Rousseff recebeu documentos americanos sobre a ditadura do então vice-presidente dos EUA Joe Biden

“O ápice do antiamericanismo no Brasil veio com o golpe militar, que completará 60 anos no ano que vem. Temos que lembrar que os EUA participaram ativamente da derrubada do governo João Goulart, o que gerou uma profunda desconfiança, justificada, nos americanos a partir daí. Os americanos foram nefastosag aposta ganha1964”, afirma o historiador James Green, da Brown University, um dos maiores especialistas americanosag aposta ganhaditadura militar no Brasil.

O golpe no Brasil foi apenas uma das ações dos americanos na região durante a Guerra Fria que mobilizaram sentimentos contra os EUA não só nas esquerdas, mas nas lideranças políticas latinasag aposta ganhageral.

No período, os americanos tentaram, com maior ou menor sucesso, suprimir revoluções ou governos democráticos socialistas na região, emag aposta ganhadisputa por hegemonia econômica e geopolítica com a socialista União Soviética.

Da Cubaag aposta ganhaFidel Castro ao Chileag aposta ganhaSalvador Allende, a interferência política americanaag aposta ganhaassuntos domésticos na região era palpável no século 20 e os governos americanos também sabiam e acobertaram violaçõesag aposta ganhadireitos humanos cometidas sistematicamente pelo regime brasileiro (e também pelos demais) contra seus opositores políticos e chegaram a oferecer treinamento para militares brasileiros com aulas teóricas e práticasag aposta ganhatécnicasag aposta ganhatortura eag aposta ganhaestratégiasag aposta ganhacombate a guerrilhas.

Essas informações foram descritas pelos próprios americanosag aposta ganhadocumentos oficiais tornados públicos nos últimos anos.

“Historicamente, o antiamericanismo passou a ser uma força enorme e capazag aposta ganhaaglutinar a esquerda da América Latina, animar a militância, gerar identidade ideológica. O problema é que ele faz cada vez menos sentido concreta e estrategicamente”, afirma Felipe Krause, professor do Centroag aposta ganhaEstudos Latino Americanos da Universidade Cambridge.

Segundo Krause, a partir da décadaag aposta ganha1990, progressivamente, os americanos entenderam que a estabilidade da região era mais facilmente atingida se os ritos democráticos fossem respeitadosag aposta ganhacada país — o que reduziu o intervencionismo.

Além disso, setores da esquerda latina aumentaramag aposta ganhainterlocução com a sociedade civil americana, que adotou um eficiente sistemaag aposta ganhapressão sobre os congressistas e a própria Casa Branca. Em certa medida, foi exatamente isso o que se viu nas repetidas manifestações críticas da gestão Biden e do parlamento americano à política ambiental e indigenista do governoag aposta ganhaJair Bolsonaro, ou na estratégia americanaag aposta ganhaapoio à democracia do Brasil.

Mas enquanto parte da esquerda latina passou a atuar por dentro da política dos EUA, outra segue recusando iniciativas americanas, mesmo quando os interesses são coincidentes.

“Uma parte da esquerda brasileira não consegue atualizar o quadro geopolítico. Desconfia até mesmo dos supostos reais interessesag aposta ganhaBiden ao defender a democracia no Brasil, como se fosse uma fachada para controlar o país, tomar a Amazônia. Quando a explicação é muito simples, os americanos passaram por algo semelhante com Trump e conseguem entender a gravidade da situação e ter empatia”, diz James Green.