"Clube dos Pênis Tristes": o que aconteceu quando reuni outros homens para falar sobre frustrações sexuais:mrjack apostas

Jorge Caraballo, jornalista colombiano

Crédito, Jorge Caraballo

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Jorge Caraballo, jornalista colombiano

Por isso fiquei surpreso com o que aconteceu há poucos dias: acabeimrjack apostasum encontro virtual conversando sobre meus medos e frustrações sexuais mais íntimos com outros seis homens estranhos.

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Aconteceu numa quinta-feira à noite. Conectamos monogâmicos, poliamorosos, héteros, homossexuais, com filhos, sem filhos,mrjack apostasrelacionamentosmrjack apostasmaismrjack apostasuma década, solteiros...

Uma videochamada dessas pode dar errado, muito errado, mas ainda me custa acreditar o quanto foi libertador e terapêutico.

Ser homem

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A conversa virtual foi uma iniciativa que surgiu após publicar na minha newslettermrjack apostasoutubromrjack apostas2023 o ensaio Memórias do meu pênis triste, no qual descrevo como tenho sofrido sexualmente ao tentar me enquadrar nos estereótipos do quemrjack apostasmuitas partes da América Latina é entendido como “ser homem”: dominante, com uma libido gigante, agressivo na competição, desconfiado, homofóbico, seguromrjack apostassua identidade e desinteressadomrjack apostasquestioná-la.

Amo e sinto desejo pela minha parceira, tenho dois filhos, estou bem financeiramente e profissionalmente... Do ladomrjack apostasfora pareço cumprir o que esse mundo esperamrjack apostasum homem heterossexual como eu.

Mas não.

De vezmrjack apostasquando volto ao sexo ruim, sexomrjack apostasque minhas inseguranças me impedemmrjack apostasestar presente,mrjack apostasque me preocupo maismrjack apostasmostrar do quemrjack apostassentir, emrjack apostasque não há comunicação real, mas uma necessidade fisiológica a ser resolvidamrjack apostasque a outra pessoa é apenas um acessório.

Esse ensaio foi sem dúvida o texto mais desafiador que escrevimrjack apostasmaismrjack apostas15 anos como jornalista.

Levei 10 meses para terminá-lo e durante esse tempo pensei muitas vezesmrjack apostasabandoná-lo, não só porque implicava revelar detalhes que me envergonhavam, mas porque duvidava damrjack apostasutilidade para os outros.

Casal na cama

Crédito, Getty Images

No entanto, enquanto o escrevia, comecei a fazer algo que nunca tinha feito antes: perguntar aos meus amigos sobre detalhes desconfortáveis ​​sobre amrjack apostasvida sexual.

Até então só falávamos das nossas façanhas, ou do que nos fazia parecer bons amantes.

Fiquei surpreso que, apenas por perguntar explicitamente, muitos me contaram pela primeira vez sobre seus conflitos e como sofreram, assim como eu, o customrjack apostasquererem se enquadrar nos moldes sexistas.

Decidi então aproveitar a história das minhas disfunções sexuais para iniciar uma conversa mais honesta e matizada entre nós.

Foi assim que tive a ideia com a qual terminei aquele ensaio:

“Tive vergonhamrjack apostasfalar sobre isso porque pensei que fosse um sofrimento individual, mas agora acho que expressar isso abertamente pode servir para iniciar uma conversa onde nos sintamos vistos, acompanhados, presentes. Eu adoraria que algum deles se atrevesse a falar comigo. Faça isso".

Lembro que quando enviei o texto para minha listamrjack apostase-mail senti o mesmomrjack apostasquando sonho que saio na rua sem roupa. Eu estava exposto e não havia como voltar atrás.

Maismrjack apostas7.000 pessoas leram o texto e começaram a surgir comentários, inicialmente principalmentemrjack apostasmulheres que convidavam homens para ler e discutir.

Mas, a longo prazo, muitos homens, quase todosmrjack apostasprivado, responderam, gratos pela história e dizendo que estavam dispostos a falar.

Brilhante! Era isso que eu procurava inicialmente.

Mas quando tentei concretizar a iniciativa, fiquei impressionado: quem era eu para conter as históriasmrjack apostasoutras pessoas se mal conseguia lidar com as minhas?

Fiquei impressionado com a responsabilidademrjack apostascriar um espaço para falar coletivamente sobre nossas insatisfações sexuais, algo que continua sendo um tabu entre os homens latinos. Confesso que penseimrjack apostasignorar aqueles que me disseram que queriam conversar (a maioria deles estranhos).

Até que três meses após a publicação do ensaio, organizei a conversa no Zoom. Doze homens estavam inscritos.

Então nasceu o que chamomrjack apostas"O Clube dos Pênis Tristes".

"O que você teria medomrjack apostassabermos?"

Vários dos inscritos cancelaram na última hora. Eu os entendo.

No final, sete homens se conectaram, todos colombianos entre 20 e 40 anos.

O medo que eu tinhamrjack apostasser forçado a carregar a conversa sozinho evaporou rapidamente. Apenas sugeri alguns acordosmrjack apostasconfidencialidade para nos sentirmos seguros e depois fiz uma pergunta inicial para nos conhecermos e quebrar o gelo:

"O que você teria medo que soubéssemos sobremrjack apostasvida sexual?".

Comecei respondendo:

"Faço terapia há 13 anos e ainda há períodosmrjack apostasque as disfunções voltam a afetar minha vida sexual. Tenho medo que isso fique comigo para sempre."

Depois os outros seguiram:

"Podem passar meses sem querer ou fazer sexo com minha namorada, e não sei por que se o resto do relacionamento funciona bem."

"Quando estou fazendo sexo, minha mente geralmente vai para outro lugar: lembrançasmrjack apostasex-parceiras ou imagens pornográficas."

"Sou gay e não tenho nenhum prazermrjack apostasrelações sexuais sem vínculo afetivo, mas a maioria das pessoas esperamrjack apostasmim o contrário: sexo direto ao ponto e tchau."

A reunião por Zoom

Crédito, Jorge Caraballo

Legenda da foto,

Os participantes tiveram uma conversa online.

Ninguém respondeu diplomaticamente. Todos nós, sem exceção, nos jogamos na lama e revelamos o que costumamos esconder debaixo do tapete. Que alivio!

Como éramos poucos, pudemos entrarmrjack apostasdetalhes sem sentir que estávamos ocupando o espaçomrjack apostasoutra pessoa, e todos participamos ativamente.

Desde o início percebemos que a grande maioriamrjack apostasnós passa por encontros sexuais numa espéciemrjack apostasdissociação: o corpo está numa frequência e a mente está noutra.

É difícil abrir mão das máscaras e das expectativas, e há um juiz interno encarregadomrjack apostasavaliar o encontro à medida que acontece, comparando o que está acontecendo com o que “deveria acontecer”.

Váriosmrjack apostasnós apontamos essa conversa interna como mecanismomrjack apostasdefesa contra a intimidade. Estamos tão preocupadosmrjack apostasatender aos padrões implacáveis ​​do macho na cama que temos dificuldademrjack apostasnos conectar com a outra pessoa.

E é muito triste que a sexualidade seja apenas mais um cenáriomrjack apostasque nos sentimos sozinhos.

Nós nos perguntamosmrjack apostasonde vem a ideiamrjack apostasque um encontro sexual deve seguir sempre o mesmo roteiro, por que se um relacionamento não segue o arcomrjack apostasereção-penetração-ejaculação nos sentimos frustrados e desorientados.

Vários mencionaram como a obediência cega a esse roteiro significa que, a longo prazo, o sexo deixamrjack apostassurpreender e serve apenas como um mecanismo para aliviar a tensão.

Um deles contou que, para evitar aquela monotoniamrjack apostasum relacionamento longo, combinou commrjack apostasparceiramrjack apostasfazer encontros que vão além da estrutura rígida e que mais parecem um jogo.

Às vezes, eles só ficam nus para se massagear e conversar, ou têm sessõesmrjack apostasque levam um ao outro à beira do orgasmo, mas param ali mesmo, sem se sentirem insatisfeitos.

Outro participante admitiu que desconhecia as possibilidadesmrjack apostasseu próprio prazer além dos genitais. Sua intervenção ressooumrjack apostastodos.

Isso fica evidente na maneira como nos masturbamos, por exemplo. Quando queremos nos dar prazer, não pensamos muito: vamos direto à fórmula da ereção, da fricção, do orgasmo.

Rimos quando alguém propôs a ideiamrjack apostasexplorar o prazer físico sozinho, sem estimulação genital: massageando os cabelos, acariciando as extremidades, vibrando com o corpo inteiro.

A imagem por si só nos pareceu um desenho animado e mostra o quão reduzido é o nosso lequemrjack apostassensações: se não há atrito no pênis, sentimos que falta o prato principal.

Alguém concluiu que talvez um dos desafios para sair do roteiro sexista seja explorar outras formasmrjack apostaserotizar-se, conhecendo-se tão bem e depois convidando o parceiro a potencializar esse prazer.

Casal na cama

Crédito, Getty Images

Quem é mais homem?

Para mim, o momento mais interessante da noite foi quando um homem poliamoroso compartilhou uma situação difícil pela qual está passando.

Ele estámrjack apostasum relacionamento aberto e nunca escondeu da parceira principal que tinha outros vínculos afetivo-sexuais.

Mas quando ela lhe contou que tinha começado a dormir com outro homem, ele desmaiou.

Pensandomrjack apostasvoz alta, ele disse que o que o machucou não foi o fatomrjack apostasela ter recebido prazermrjack apostasoutro, mas sim o fatomrjack apostasele agora se sentirmrjack apostascompetição com o amante. É inevitável que ele se compare e isso abala seu ego.

Foi revelador perceber como usamos as mulheres – ou outros homens – para competir uns com os outros.

Talvez,mrjack apostasparte, seja por isso que somos tão obcecados com o desempenho sexual: quantos orgasmos eu dou, quanto tempo eu duro, quão duro eu fico, com que frequência eu faço?

Ao avaliarmos o nosso desempenho desta forma sentimos que estamos avançando na corrida para superar os demais.

Fiquei emocionado quando o homem poliamoroso disse que o que o ajudou a curar seu ego ferido foi tentar imaginar o amante da namorada como um amigo, um amigo que pode dar prazer e que também merece recebê-lo.

Fotografíasmrjack apostasPablo Escobar en un bancomrjack apostasMedellín
Legenda da foto,

A cultura latina frequentemente exalta a virilidade dos “homens maus”

Para mim, a competição com outros homens está associada a necessidades básicas como sobrevivência e pertencimento.

Nasci e crescimrjack apostasMedellín durante os piores anos da guerra entre o narcotráfico e o Estado.

Cresci vendo traficantesmrjack apostasdrogas nas ruas, saindomrjack apostasseus enormes caminhões oumrjack apostassuas barulhentas motocicletas, sempre seguidos por mulheres hipersexualizadas operadasmrjack apostasacordo com suas fantasias, ou seja, mais peitos, mais bundas, mais lábios, cada vez mais.

Os 'traquetos', como os chamamos aqui, eram vistos como machos alfa, referênciamrjack apostassucesso masculino: tinham o que queriam, puro poder sem remorso.

Sem perceber, meus amigos e eu internalizamos esse modelo. Ser menos que eles era um indicadormrjack apostasfraqueza. Além disso,mrjack apostasestética irrigou a cidade e a nossa formamrjack apostasnos relacionarmos com outros homens e mulheres.

O sexo era a arenamrjack apostasque competíamos.

Lembro que no final dos anos 90, quando ainda era criança, via outdoorsmrjack apostasmulheresmrjack apostastopless nas principais avenidas; e na minha adolescência nossos cadernos escolares traziam modelos seminuas na capa.

O corpo da mulher era a moeda para ganhar status.

A amizade como remédio

Nessa quinta-feira encerramos o encontro virtual falando sobre amizade íntima entre homens. É escasso. Bastante. E a orientação sexual não importa.

Achamos difícil contar aos outros homens as nuances do que acontece na nossa esfera privada. Preferimos fingir que está tudo bem – ou pelo menos sob controle – e não termrjack apostasquestionar as ideiasmrjack apostasmasculinidade que constituem a espinha dorsal da nossa identidade.

Mas a conversa que tivemos durante esses 90 minutos foi a provamrjack apostasque buscar alternativas para nos sentirmos mais livres não precisa ser um exercício solitário e tempestuoso.

Reconhecemos os danos que causamos a outros e a nós mesmos, mas também rimos, hesitamosmrjack apostasvoz alta, compartilhamos ferramentas e referências que nos serviram ao longo do caminho.

No geral, foi um encontro otimista: estamos quebrados, sim, mas podemos optar por reorganizar as peças.

Dois homens conversando

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

É comum que muitos homens não costumem conversar sobremrjack apostasvida sexual entre si

Decidimos que continuaremos nos reunindo virtualmente mensalmente, pois estamosmrjack apostasquatro cidades diferentes.

Para a próxima sessão leremos três pequenos capítulosmrjack apostasThe Desire to Change (A Vontademrjack apostasMudar,mrjack apostasportuguês), livro da autora americana Bell Hooks que tem sido importante para váriosmrjack apostasnós.

Posso dizer que aquela noite foi uma das mais emocionantes e intensas no meu processomrjack apostasaprendizagem sobre outras possibilidades do masculino.

O desafio que sinto depoismrjack apostaster feito isso é levar para outras áreas da minha vida, para que essa conexão significativa e transformadora entre os homens não ocorra apenasmrjack apostasespaços dedicados a isso.

Como posso ter uma ligação mais íntima com meu pai, com meu irmão, com meus amigos, com colegas e estranhos? Como podemos nos distanciar dos gestosmrjack apostaspoder e brincar mais, nos encontrando como aliados na nossa própria cura?

Se isso acontecer, sinto que estamos fazendo o melhor que podemos para começar a reparar o que foi quebrado ao longomrjack apostastantos séculosmrjack apostasmasculinidade ferida.

Por enquanto, convido você a continuar conversando.

*Jorge Caraballo é jornalista e escritor colombiano. O ensaio “Memórias do meu pênis triste” foi publicado originalmentemrjack apostashttps://afueradentro.substack.com.