'Não é confortável ser criança negraibet cassinoescola branca': a advogada que criou comissão antirracistaibet cassinocolégioibet cassinoeliteibet cassinoSP:ibet cassino
Aquela entrevista acendeu um alerta na advogada, que havia colocado o filho no Equipe por conta do perfil progressista da escola, criada no fim dos anos 1960 por ex-professores da áreaibet cassinoFilosofia da Universidadeibet cassinoSão Paulo (USP).
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Fim do Matérias recomendadas
Aquilo fez ela se lembraribet cassinosua própria infância e querer fazer algo a respeito.
A advogada conta que havia poucos estudantes negros na escolaibet cassinoeliteibet cassinoque ela estudavaibet cassinoSalvador, na Bahia.
Em meio a colegasibet cassinopele clara, ela costumava notar olharesibet cassinoespanto ou sentia que recebia um tratamento diferente.
"Não é confortável ser uma criança negraibet cassinouma escola branca", diz Evie à BBC News Brasil.
"As minhas experiências não eram nomeadas, nem existia o conceitoibet cassinobullying.”
Ela diz que hoje reconhece essas situações do passado como recorrentes episódiosibet cassinoracismo.
Evie relembra que alguns paisibet cassinocolegasibet cassinoturma a tratavam com descaso e, entre os colegas, havia frequentes comentários sobre seu cabelo crespo.
"Quando a gente ia para casaibet cassinoamigas, havia um desconforto entre os empregados, que às vezes não queriam me servir", diz.
"Às vezes, percebia que determinada mãeibet cassinoaluno me tratava mal. Ninguém falava: estamos te tratando assim por você ser negra, mas havia uma distinção."
Hoje, com 51 anos e mãeibet cassinoum adolescenteibet cassino15, Evie defende que as escolas adotem medidas mais firmes no combate ao racismo.
No Equipe, a advogada mobilizou outros pais e criou uma comissão antirracista.
Apesaribet cassinoconsiderar grupos assim fundamentais para as escolas, a advogada frisa que as medidasibet cassinocombate ao racismo precisam evoluir e que os debates devem ser constantes.
Evie aponta que faltam protocolos para definiribet cassinomodo claro como conduzir casosibet cassinoracismo, até mesmo nas escolas que já têm algum tipoibet cassinopolítica sobre o tema.
Caso da filhaibet cassinoSamara Felippo
Para a advogada, um exemplo evidenteibet cassinoque as escolas deveriam ter um protocolo para lidar com casosibet cassinoracismo foi o que ocorreu na semana passada no colégio Vera Cruz, uma das escolas mais tradicionais e caras da capital paulista.
O Vera Cruz foi um dos primeiros a criar uma comissão antirracista entre as escolasibet cassinoeliteibet cassinoSão Paulo.
Mãeibet cassinouma aluna, a atriz Samara Felippo denunciou um ataque racista sofrido pela filhaibet cassino14 anos no Vera Cruz.
Segundo a atriz, a adolescente teve o caderno roubado por alunas, que arrancaram as páginasibet cassinouma pesquisa e escreveram agressões racistas.
Samara disse que a filha já era excluída da turma, que atos hostis contra a garota tinham aumentado e que não era um caso isolado.
A atriz contouibet cassinosuas redes sociais que registrou boletimibet cassinoocorrência e não decidiu se a filha continuará na escola. "Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga”, declarou.
Em nota, o colégio Vera Cruz informou que logo "reconheceu a gravidade deste ato violentoibet cassinoracismo, nomeando-o como tal, e imediatamente foram realizadas açõesibet cassinoacolhimento ao aluno agredido eibet cassinofamília."
A escola disse que duas alunas se apresentaram como as responsáveis pela agressão contra a filha da atriz.
O Vera Cruz disse ter feito um encontro entre as três alunas envolvidas no caso e, posteriormente, as responsáveis pelas agressões foram suspensas por tempo indeterminado. "Novas sanções poderão ser adotadas, conforme apuração e reflexão sobre os fatos", informou.
Para Evie, o episódio mostra que faltam regras claras sobre o combate ao racismo, que possam definir, por exemplo, se são casosibet cassinoexpulsão ou suspensão.
A advogada considera que definir as medidas aplicáveis nesses casos é uma tentativaibet cassinoimpedir que atos racistas continuem ocorrendo deliberadamente no ambiente escolar.
"As vítimas precisam ser acolhidas e é preciso haver uma orientação sobre suspensão ou expulsão dos agressores. É preciso um protocolo prévio para orientar e dar segurança, para ninguém achar que é imune ou está sendo prejudicado."
'Não adianta ser progressista e não ser antirracista'
O caso George Floyd, um americano negro que morreu após um policial ajoelharibet cassinoseu pescoço, e discussõesibet cassinocombate ao racismo no Brasil levaram escolas particulares a criarem medidas exclusivas para enfrentamento ao racismo por voltaibet cassino2020.
Em meio ao debate mundial sobre o tema, diversos segmentos passaram a ser cobrados sobre as medidas adotadas para combater o racismo.
"O que me motivou a convocar outros pais para criar a comissão foi a indignaçãoibet cassinover que o Equipe, embora progressista, estava muito pouco avançado na educação antirracista. Achei contraditório", comenta a advogada.
Com o apoioibet cassinoum grupoibet cassinocercaibet cassinocem pais, a imensa maioria branca, ela criou a comissãoibet cassino2020.
"Pouquíssimos pais são negros, porque é um colégio majoritariamente branco."
O grupo fez um manifestoibet cassinoque pediu um aumento do númeroibet cassinoprofessores e alunos negros, além da revisão do currículo escolar para incluir uma educação com história afro-brasileira e a criaçãoibet cassinouma agenda antirracista por meioibet cassinopalestras e debates.
Ela diz que a princípio houve resistência da escola. "O colégio teve dificuldades para entender o racismo estrutural na escola, porque entendia que era um lugar progressista e pronto. Mas não adianta ser progressista e não ser antirracista", diz Evie.
O racismo estrutural é um termo usado para se referir ao alcance da discriminação racialibet cassinovárias esferas, por meioibet cassinopráticas conscientes ou inconscientes, que acaba estruturando a sociedade — como no acesso à educação, à saúde, a cargosibet cassinopoder, entre outros. No Brasil, eibet cassinoinúmeros países, essa estrutura desigual costuma favorecer os brancos.
Um dos pontos que preocupava a advogada no Equipe era a "pouca atenção a um currículo afrocentrado."
A ausênciaibet cassinohistória afro-brasileira era uma das principais preocupações da advogada.
“Isso me preocupou porque esperava que a escola do meu filho fosse estruturada para cumprir a Lei 10.639, que obriga as escolas a redirecionarem o currículo para uma educação antirracista”, afirma.
Essa Lei, criadaibet cassino2003, determina a inclusão da história e da cultura afro-brasileira nos currículosibet cassinotodas as escolas públicas e privadas do Brasil.
No entanto, são comuns relatosibet cassinounidades que não seguem à risca esse tipoibet cassinoensino.
"Na minha época, não estudei nenhum herói negro, e isso é algo muito importante para o letramento racial [aprendizado sobre a raça]. Hojeibet cassinodia isso é uma obrigação", comenta a advogada.
"Como vou me sentir inseridaibet cassinouma escola que não fala sobre meus antepassados."
Mesmo na Bahia, Estado com o maior númeroibet cassinopessoas negras no Brasil, ela se sentia diferenteibet cassinolocais da elite, predominados por pessoas brancas ou pardasibet cassinopele clara.
"A elite baiana é branca ou parda,ibet cassinoum tomibet cassinopele que, a depender do ambiente, é embranquecido", diz.
"Nesses ambientes, vivi violências raciais que não eram nomeadas na época, como os olharesibet cassinominha direção e a forma como era tratadaibet cassinoalgumas situações."
A advogada afirma que essa sensaçãoibet cassinodesconforto a acompanhou ao longo da vida.
"Logo no começo da minha carreira, lá por 2006, quando entrei no mundo corporativo, era muito desconfortável", afirma.
"Havia muitas piadas com meu cabelo, às vezes havia falas racistas que passavam despercebidas, eram coisas muito chocantes."
Entre os episódiosibet cassinoracismo que mais a marcaram ao longo da vida está uma vezibet cassinoque estavaibet cassinoum táxi com a irmã e o veículo foi parado pela polícia.
"Estávamos com malas quando a polícia fez uma abordagem violenta e apontou uma metralhadora para a gente", diz, sobre a situação que ocorreu no início dos anos 2000.
"Nenhuma amiga minha branca teria passado por algo semelhante. Aquilo foi racismo."
Outro episódio marcante para ela foi quando questionaram se ela era babá do próprio filho.
"Meu filho tem a pele mais clara, e eu fui confundida como babá dele por duas vezes, uma vez por algumas crianças e outra por uma pessoa adulta."
Atualmente, ela diz que fica atenta às falas e faz apontamentos quando há algum comentárioibet cassinocunho racista.
Como funciona uma comissão antirracista
Evie acredita que as marcas da infância e do começo da vida adulta foram sendo elaboradas e nomeadas como racismo com o passar dos anos, principalmente após se tornar mãe.
Ela diz que o filho, que é pardoibet cassinopele clara, nunca sofreu racismo na escola e teve poucos episódios assim fora do ambiente escolar.
Mas tudo o que Evie enfrentou e viu amigos passarem fez com que ela entendesse a importância da adoçãoibet cassinomedidas focadas no combate ao racismo.
Aos poucos, a escola atendeu aos pedidos da comissão, que hoje tem quase 130 pais e faz reuniões presenciais todos os meses – alémibet cassinoter um grupoibet cassinoWhatsApp para conversar sobre o combate ao racismo.
"A gente pressiona a escola (por questões antirracistas), faz eventos e reuniões sobre o tema. Avançou bastante, mas sabemos que ainda tem muito chão", comenta.
Entre as mudanças na escola, diz a advogada, estão o aumentoibet cassinonegrosibet cassinocargos como professores ou coordenadores, além da concessãoibet cassinobolsa a alguns alunos negrosibet cassinobaixa renda do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
"Com essas medidas, os alunos negros passaram se sentir mais empoderados e até criaram um coletivo entre eles,ibet cassinoque discutem ações antirracistas", comenta a advogada.
O colégio não tem, por enquanto, um censo sobre quantos alunos ou professores são negros.
Evie diz que considera esse dado como fundamental para debater políticas sociais e espera que esse seja levantado pela escolaibet cassinobreve.
Em nota, o colégio Equipe diz que desde aibet cassinofundação se compromete a atuar "na construçãoibet cassinouma sociedade democrática".
Afirma que tem, entre suas medidas o enfrentamento ao "racismo estrutural da nossa sociedade" e que por isso está "comprometido com a educação antirracista tanto no seu currículo, comoibet cassinosuas ações institucionais”.
O colégio diz ainda que tem se dedicado a ampliar os estudos da história e da cultura africana e afro-brasileira.
"Para além dos estudosibet cassinosalasibet cassinoaula, temos desenvolvido ações práticas por meio dos trabalhosibet cassinocampo, gruposibet cassinoestudos e projetos sociais,ibet cassinoque nossos estudantes entramibet cassinocontato com lideranças negras e indígenas e vivenciam aspectos fundamentaisibet cassinosuas culturas", afirma a instituiçãoibet cassinonota.
A escola diz também que tem buscado ampliar a presençaibet cassinoprofessores negros, "dando prioridade a estes profissionaisibet cassinocontratações."