Por que 7x1 para Alemanha na Copaaa jogos cassino2014 virou piada e não tragédia?:aa jogos cassino

“Aliás, uma frase muito citada na época foi aaa jogos cassinoKarl Marx: ‘A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa’”.

Felipe Tavares Paes Lopes concorda com Takara quando ele diz: “As derrotas se deramaa jogos cassinomomentos históricos diferentes”.

O coordenador do Grupoaa jogos cassinoEstudos e Pesquisas sobre Futebol (GEF) da Faculdadeaa jogos cassinoEducação Física da Universidade Estadualaa jogos cassinoCampinas (FEF-Unicamp) explica que,aa jogos cassino1950, havia uma associação muito mais forte entre o que ocorria dentro e foraaa jogos cassinocampo.

“Quem perdeu, na Copaaa jogos cassino1950, não foi apenas um timeaa jogos cassino11 jogadores. Mas, sim, uma esperançaaa jogos cassinopaís. Na Copaaa jogos cassino2014, isso não ocorreu. No imaginário social, a derrota limitou-se aos jogadores”, compara Lopes.

Golaa jogos cassinoplaca

A derrota do Brasil para a Alemanha não virou exposição no Museu do Futebol. Mas, ganhou destaque no Museuaa jogos cassinoMemes, do Departamentoaa jogos cassinoEstudos Culturais e Mídia, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O conceitoaa jogos cassino“meme”, aliás, foi criado pelo cientista britânico Richard Dawkins, muito antes da internet, no livro O Gene Egoísta (1976) e é uma variação da palavra “mimeme” que,aa jogos cassinogrego, significa “imitação”.

“No meio virtual, qualquer imagem, vídeo, bordão, hashtag ou áudio está sujeito a virar meme”, explica o site do museu virtual, “basta que os usuários se apropriem e façam alterações na mídia original”.

No Museuaa jogos cassinoMemes, sob curadoria da estudante Sabrina Dray, há vários exemplosaa jogos cassino“memes” do 7 a 1.

Um deles brincaaa jogos cassinocima da capa do primeiro álbumaa jogos cassinoChico Buarqueaa jogos cassinoHollanda, lançadoaa jogos cassino1966 pela RGE Discos: “Achei que era replay / Era outro gol da Alemanha”.

Outro tira sarroaa jogos cassinoum famoso diálogo do filme O Sexto Sentido (1999), do cineasta M. Night Shyamalan: “Vejo gols da Alemanha / Com que frequência? / O tempo inteiro”.

“O 7 a 1 virou sinônimoaa jogos cassinovergonha ou fracasso. A expressão ‘Mais um gol da Alemanha’ ganhou sentido irônico e extrapolou os limites do campo. Pode ser usada do fora da namorada à demissão do emprego”, analisa o antropólogo José Guilherme Magnani, doutoraa jogos cassinoCiências Sociais pela Universidadeaa jogos cassinoSão Paulo (USP).

'Não vai ter Copa!'

Muitos “memes” ganharam vida ainda durante a transmissão do jogo. O locutor Galvão Bueno é “pai”aa jogos cassinodois deles: “Virou passeio!”, na hora do quarto gol,aa jogos cassinoToni Kroos, aos 24 minutos do primeiro tempo, e “Lá vêm elesaa jogos cassinonovo!”, antes do quinto gol,aa jogos cassinoSami Khedira, cinco minutos depois.

Um trecho da entrevista do zagueiro David Luiz, o capitão do Brasil naquele fatídico 7 a 1, também viralizou: “Eu só queria dar alegria pro meu povo”, desculpou-se, aos prantos.

“O time brasileiro estava com os nervos à flor da pele”, destaca Antônio Ernesto Lassanceaa jogos cassinoAlbuquerque Júnior, doutoraa jogos cassinoCiências Políticas pela Universidadeaa jogos cassinoBrasília (UnB) e um dos autores do livro Brasilaa jogos cassinoJogo – O que fica da Copa e das Olimpíadas? (Boitempo, 2014).

“Mesmo tendo vencido a Copa das Confederações,aa jogos cassino2013, o Brasil já entrouaa jogos cassinocampo derrotado. A grande batalha da Copa não se deu nos gramados, mas nas ruas. E começou antesaa jogos cassino2014”.

A partiraa jogos cassinojunhoaa jogos cassino2013, manifestantes foram às ruas protestar contra a realização da 20ª edição da Copa do Mundo no Brasil. Aos gritosaa jogos cassino“Não vai ter Copa” e “Fifa go home”, reivindicavam, entre outras coisas, mais investimentoaa jogos cassinosaúde e educação.

O “7 a 1” inspirou crônicas esportivas, mas, deu origem, também, a comercialaa jogos cassinoTV (Gol do Brasil, da Volkswagen), enigmaaa jogos cassinopalavra-cruzada (Maior derrota do Brasilaa jogos cassinoCopas, da revista Coquetel) e até palestra motivacional sobre superação (Qual foi o seu 7 a 1?, do técnico pentacampeão do mundo, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, o mesmo do 7 a 1).

Campos opostos

Houve quem tentasse apelidar o infortúnioaa jogos cassino“Mineiraço”, numa clara referência ao “Maracanaço”, da Copaaa jogos cassino1950. Mas, o apelido não pegou. O jornalista esportivo Juca Kfouri, aliás, rechaça qualquer comparação.

“Trauma incomparavelmente maior foi a Tragédia do Sarriá,aa jogos cassino1982”, lembra o cronista, citando a derrota do Brasil para a Itália na Copa da Espanha.

A exemplo do que aconteceuaa jogos cassino1950, um empate classificaria a seleçãoaa jogos cassinoTelê Santana para as semifinais. Mas, a Itália venceu por 3 a 2 – três gols do jogador Paolo Rossi (1956-2020). “O jogo do Mineirão virou piada. E só. Nada mudou, além do treinador”.

Para Tereza Borba, mudou muita coisa. Filha do ex-goleiro da seleção brasileira Moacyr Barbosa (1921-2000), ela declarou, à época, que seu pai pôde, finalmente, descansaraa jogos cassinopaz.

Durante muito tempo, Barbosa foi acusadoaa jogos cassinoter falhado no golaa jogos cassinoAlcides Ghiggia (1926-2015), o segundo do Uruguai, aos 34 do segundo tempo. “A pena máxima para um crime no Brasil éaa jogos cassino30 anos. Eu pago por aquele gol há 50”, costumava repetir o ex-goleiro.

Roberto DaMatta pensa diferenteaa jogos cassinoKfouri. A goleada para a Alemanha, garante o antropólogo, é mais traumática do que a derrota para o Uruguai. E explica o porquê. “Perdemos uma Copa, mas ganhamos cinco. Viramos pentacampeões do mundo”, orgulha-se. “E depoisaa jogos cassino2014, o que nós ganhamos?”.

Bola murcha

De fato, o retrospecto do Brasilaa jogos cassinocampeonatos mundiais não é dos melhores. A última vez que o Brasil foi campeão do mundo foiaa jogos cassino2002, contra a Alemanha. Dois a zero, golsaa jogos cassinoRonaldo.

De lá para cá, o Brasil não chegou sequer a uma final. Em quatro das últimas cinco ediçõesaa jogos cassinoCopa do Mundo, não passou das quartasaa jogos cassinofinal. No sábado (6), o Brasil foi desclassificado da Copa América ao perder nos pênaltis para o Uruguai.

No Mundialaa jogos cassinoClubes, a situação é igualmente desanimadora. O último clube brasileiro a levantar a taça foi o Corinthians,aa jogos cassino2012. Venceu o Chelsea, da Inglaterra, por 1 a 0. Gol do peruano Paolo Guerrero.

No ranking dos países com o maior númeroaa jogos cassinotítulos, o Brasil ocupa a segunda colocação, com 10. São Paulo tem três; Santos e Corinthians, dois; e Internacional, Grêmio e Flamengo, um. A Espanha ocupa o primeiro lugar, com 12. Real Madrid tem oito; Barcelona, três; e Atléticoaa jogos cassinoMadrid, um.

O último grande título mundial conquistado pelo Brasil foi a medalhaaa jogos cassinoouro na Olimpíadaaa jogos cassinoTóquio,aa jogos cassino2020. A seleção brasileira perdeu a Copa Américaaa jogos cassino2021, no Brasil, e a Copa do Mundoaa jogos cassino2022, no Catar. Para coroar a má fase, a seleção masculina não se classificou para Paris 2024.

“O Brasil vive uma crise no futebol”, avalia Silvio Ricardo da Silva, coordenador do Grupoaa jogos cassinoEstudos Sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), da Universidade Federalaa jogos cassinoMinas Gerais (UFMG). “A torcida perdeu o encanto. Não se sente mais representada. São pouquíssimos os atletas que jogam no Brasil. Não bastasse, muitos torcedores não frequentam mais os estádios porque o preço do ingresso aumentou muito”.

Craqueaa jogos cassinobola

Às vésperas da Copaaa jogos cassino1958, na Suécia, o jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980) criou uma expressão que ele próprio tratouaa jogos cassinoexplicar.

“Por complexoaa jogos cassinovira-latas, entendo eu a inferioridadeaa jogos cassinoque o brasileiro se coloca, voluntariamente,aa jogos cassinoface do resto do mundo. Istoaa jogos cassinotodos os setores e, sobretudo, no futebol”, escreveu na edição do dia 31aa jogos cassinomaioaa jogos cassino1958 da revista Manchete Esportiva.

“O brasileiro precisa se convenceraa jogos cassinoque não é vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia”, continuava, profético, o texto.

Trinta dias depois, o Brasil conquistou o primeiroaa jogos cassinoseus cinco títulos mundiais, contra Suécia, por 5 a 2, com dois golsaa jogos cassinoVavá, doisaa jogos cassinoPelé e umaa jogos cassinoZagallo. Voltou a ser campeão do mundoaa jogos cassino1962, no Chile;aa jogos cassino1970, no México;aa jogos cassino1994, nos EUA, eaa jogos cassino2002, na Coreia do Sul e no Japão.

Para Juca Kfouri, o complexoaa jogos cassinoinferioridade do brasileiro foi definitivamente superado. “Quem ganhou cinco Copas pode tudo”, tranquiliza o jornalista esportivo, “menos achar que é ruimaa jogos cassinobola”.

Gol contra

Antônio Ernesto Lassanceaa jogos cassinoAlbuquerque Júnior acredita que o complexoaa jogos cassinovira-latas cedeu lugar a outro, oaa jogos cassinopitbull. Um complexo que, segundo ele, assumiu o governoaa jogos cassino2019.

“Foi o espíritoaa jogos cassinoagressividade,aa jogos cassinorosnar contra tudo e contra todos,aa jogos cassinotratar como inimigo toda e qualquer pessoa que tem pensamento, religião, cor ou família diferente da sua”, observa Lassance.

Muitos brasileiros deixaramaa jogos cassinotorcer pela seleção por causa da “cooptação” da camisa verde e amarela pela direita. Quem afirma é Marco Antônio Bettineaa jogos cassinoAlmeida, doutoraa jogos cassinoEducação Física pela Unicamp e vice-coordenador do Núcleo Interdisciplinaraa jogos cassinoPesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (LUDENS), da USP. “Vários jogadores vieram a público defender o bolsonarismo e fazer gestosaa jogos cassinoarma”, ilustra.

Não bastasse, representantes das gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) preferem torcer por clubes da Europa ou praticar jogos eletrônicos, os populares e-games.

A estratégiaaa jogos cassinose apropriar da camisa da seleção, admite José Paulo Florenzano, doutoraa jogos cassinoCiências Sociais pela Pontifícia Universidade Católicaaa jogos cassinoSão Paulo (PUC-SP), até deu certoaa jogos cassino1970. Mas, naquele ano, pondera, o Brasil conquistou o tricampeonato no México e o país vivia o “milagre econômico”.

“O futebol tornara-se, não o ópio do povo, mas o ópio do poder”, afirma. “O delírio consistiaaa jogos cassinoacreditar no poder mágico do futebol para manipular a sociedade civil”.

Em 2014, a tática não obteve o mesmo resultado. “A extrema direita procurou reviver essa crença mágica ao se apropriaraa jogos cassinoum símbolo nacional. No entanto, a camisa da seleção se encontra despojada do poder simbólico que possuía tanto dentro quanto foraaa jogos cassinocampo”.

Para Florenzano, o “7 a 1” representou a morte simbólica do Brasil como “país do futebol”.

“Há muito, a seleção não se destaca mais como uma potência capazaa jogos cassinoatemorizar os adversários, nem ocupa lugar central no imaginário coletivo”, aponta o especialista, entre outros motivos.

'Caixinhaaa jogos cassinosurpresas'

Será que, algum dia, o Brasil voltará a ser, como diria Nelson Rodrigues, a “pátriaaa jogos cassinochuteiras”?

Difícil dizer, arrisca Roberto DaMatta. Ainda maisaa jogos cassinouma Copa que, ao contrário das anteriores, terá 48 participantes – e não mais 32.

“Futebol não é ciência exata. Dentro das quatro linhas, tudo é possível”, discursa o antropólogo. “Até um time ser campeãoaa jogos cassinoum ano e lanterninha no outro. Ou vice-versa”.