Como assumi meu cabelo crespo e vejo caminho 'com menos dor' para minha filha:kody na freebet

Paloma com cabelo solto e crespokody na freebetselfie

Crédito, Arquivo pessoal

'Detestava meu cabelo'

"Na minha infância, eu odiava meu cabelo. Primeiro porque sou a irmã mais nova e meu cabelo é crespo, já sai cacheado da raiz. E a minha irmã, que é mais velha, tem o cabelo cacheado. Ele tem a raiz mais lisa e os cachos bem largos. O cabelo dela sempre foi o mais bonito da minha família porque o restante da minha família é inteiro crespo. Então era um cabelo muito cobiçado. E as pessoas que não tinham muita noção falavam, ‘nossa, por que seu cabelo não é igual ao dakody na freebetirmã?’"

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Paloma conta que, infeliz com seu cabelo, começou a pedir que a mãe tingisse os fioskody na freebetloiro (ela explica que era fãkody na freebetCarla Perez) ou pedia um cabelo igual ao da irmã. A mãe tentava agradar a filha.

“Então, comecei a usar química com quatro anoskody na freebetidade porque eu detestava o meu cabelo.“

'Meu conceitokody na freebetbeleza era branco'

Aos 15 anos, Paloma começou a fazer a chamada escova progressiva, tratamento químico que deixa o cabelo liso. A única coisa com que ela tinhakody na freebetse preocupar, conta, era a raiz, que precisava ser retocada a cada dois ou três meses.

Ela diz que, naquela época, não tinha letramento racial. “Eu não tinha ideia sobre racismo. Sabia que existia preconceito, mas isso nunca foi uma pauta dentro da minha casa. ‘Ah, você odeia seu cabelo por causa do racismo’".

“Meu conceitokody na freebetbeleza era totalmente branco. Vou te mostrar umas fotoskody na freebetquando eu tinha o cabelo liso e dá para você perceber que estou mais embranquecida”, ela conta. “Isso era inconsciente.”

Palomakody na freebetselfie tirada no espelho com o cabelo alisado e o celular na mão. Ela estákody na freebetfrente ao espelhokody na freebetum salãokody na freebetbeleza

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Paloma começou a fazer a chamada escova progressiva aos 15 anos

Transição capilar, 'big chop' e racismo

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Com 21 anos, saindo da faculdade ainda sem emprego e constrangida pelo alto custo dos tratamentos e cremeskody na freebetcabelo que a mãe pagava para ela, Paloma diz que decidiu iniciarkody na freebettransição.

Uma decisão que transformariakody na freebetvida.

“Comecei a procurar vídeos no YouTube para texturizar meu cabelo. Por meio desses vídeos, fui aprendendo que estavakody na freebettransição capilar, fui vendo várias meninas falarem sobre o big chop (em tradução do inglês, o grande corte) que é quando você corta o cabelo bem curtinho.”

Ela prossegue: “E fui vendo vídeoskody na freebetque as pessoas começavam a falar sobre racismo, preconceito racial e a relação com o nosso cabelo.”

Sem o alisamento, conta Paloma, seu cabelo começou a crescer naturalmente crespo. As pontas continuavam lisas. Depoiskody na freebetuns seis meses deixando ele crescer, não tinha mais como pentear. Estava horrível. Falei, vou ao salão. Vou fazer esse talkody na freebet‘big chop’".

Paloma explica que a essa altura, por voltakody na freebet2015, já havia vários salões especializadoskody na freebetcabelo afro — algo que, anos antes, era difícilkody na freebetencontrar.

“Eu estava morrendokody na freebetmedo, não sabia o que esperar. Já fui sozinha porque eu não ia sustentar uma outra pessoa rindokody na freebetmim. Fui sozinha por ter medo do resultado.”

“Fui. Cortei bem curtinho. Eu saí me sentindo linda. Linda!”

Paloma com cabelo crespo curtokody na freebetfrente a muro com grafites

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Sem o alisamento, conta Paloma, seu cabelo começou a crescer naturalmente crespo

'Será que vão aceitar o meu cabelo?'

Paloma lembra que nessa época trabalhavakody na freebetuma empresakody na freebettelemarketing — nas palavras dela, um ambiente muito diverso.

“É um ambiente que vai acolher o gay, a trans, o negro, o branco, o dourado”, explica.

Foi então que ela decidiu se candidatar a um outro emprego. Seria a primeira vez que atenderia uma entrevista com o cabelo crespo. “E eu lembro que falei, ‘mãe, e se eu não passar por causa do meu cabelo?’”

Nesse momento, entendi que estava falando sobre racismo, comenta. “Será que vão aceitar o meu cabelo desse jeito? E isso, quando eu tinha cabelo alisado, nunca tinha passado pela minha cabeça.”

Paloma conta que fez a entrevista, conseguiu o emprego e nunca teve problemas. Muito pelo contrário.

“A empresa abriu um núcleo que falava sobre diversidade e racismo corporativo. Foi um lugar onde aprendi muito.”

No mesmo período, conta, foi fazer faculdadekody na freebetGeografia.

Letramento racial, cabelo e autoestima

“Fui aprendendo o que era racismo, o que era o sistema, o que era culturakody na freebetmassa. Fui entendendo o processo histórico do Brasil, fui ao fundo do letramento racial. Fui entendendo minhas dores e as partes onde o meu cabelo e a minha autoestima entravam.”

Enquanto isso, seu cabelo crescia.

“Ficou gigante”, lembra. “Comecei a raspar, raspei tudo. Tudo o que eu podia fazer com o meu cabelo, eu fiz. Me desvinculei daquela ideia 'ah, se eu fizer assim, fico feia'. Minha beleza, enquanto mulher, não era só o meu cabelo.”

Bonecas pretas e brancas

Em 2022, ela conta, engravidou e tevekody na freebetfilha. “Ela foi crescendo e o cabelo dela já está mais crespinho”, conta. “Mas eu já sei pentear porque o meu cabelo é parecido”, explica.

“E hoje a gente tem recurso para pentear esse tipokody na freebetcabelo, tem creme para bebê, tem salão específico. Então sei que a minha filha vai ter uma outra relação com o cabelo dela.”

“Eu busco mais referências pretas para ela. Ela tem um montekody na freebetbonequinha preta, ela tem boneca branca. Quero que ela entenda que ter cabelo crespo é tão bonito quanto ter cabelo liso. E que se ela um dia quiser alisar, alise sabendo que é lindakody na freebetcabelo crespo também.”

Para Paloma, alisar o cabelo não é o problema.

“O problema é alisar o cabelo porque você odeia o seu cabelo, porque você odeia se olhar no espelho. Esse é o problema. É um ódio que a gente vai criando contra a gente mesma.”

Paloma diz que, para ela, a transição capilar trouxe um empoderamento. Ela própria finaliza seu cabelo e, quando vai a casamentos, por exemplo, não precisa ir ao cabeleireiro.

“Tem isso,kody na freebetvocê se sentir autossuficiente. A única coisa que eu terceirizo ainda é trançar e cortar o meu cabelo.”

Hoje, ela diz, escolhe o penteadokody na freebetacordo com a mensagem que quer passar. “Se não quero causar impacto, amarro o cabelo para cima.”

Paloma com cabelos presos

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Paloma destaca que não acha um problema alisar o cabelo: 'O problema é alisar o cabelo porque você odeia o seu cabelo, porque você odeia se olhar no espelho'

Afrosurto

“Quando quero causar impacto, vou com o cabelo black, lákody na freebetcima.”

A transição capilar e o letramento racial que veio junto, no entanto, também tiveram um custo emocional para Paloma.

A raiva que ela sentia agora se volta para fora.

Aqui, ela introduz um conceito cunhado pela escritora e professorakody na freebetliteratura africana na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Riokody na freebetJaneiro Aza Njeri: afrosurto.

Nas palavras da acadêmica, afrosurto é um “mal psíquico consequente da lucidez adquirido pelo negro no processokody na freebettomadakody na freebetconsciência racial”.

Paloma diz: “Você vai se informando e entendendo. E acho que por um momento eu passei por um processokody na freebetangústia. Cai uma ficha nakody na freebetcabeça. Você vai tendo flasheskody na freebetcenas e pensa: poxa, isso era racismo”.

“Dá aquela ira, mesmo. E você vai militar, vai dizer, ‘isso é racismo’. Fui entender esse termo bem depoiskody na freebetpassar por isso. É um pico que você tem.”

'Um caminho longe da dor'

Para a filha, Paloma antevê uma experiência mais leve. “Porque ela já vai crescer sabendo que é negra, com referências negras. Hojekody na freebetdia a gente tem desenho que tem criança negra com cabelo crespo”, diz.

Paloma não acha que vai conseguir blindar a filha contra o racismo, “mas ela vai crescer com autoestima, vai crescer com informação, sabendo qual foi o processo do Brasil e por que as pessoas são racistas.”

“Sinto que para ela vai ser completamente diferente do que foi comigo. A gente tem criado um caminho longe da dor.”

E Paloma considera que o caminho dela foi um caminhokody na freebetdor?

“Eu sinto”, ela responde. E confia à BBC News Brasil um episódio gravado emkody na freebetmemória que talvez nos dê uma medida do tamanho dessa dor.

“O mais escancarado foi um diakody na freebetque eu estava indo para um show com umas amigas”, lembra. “Era tarde da noite, nós três negras. Passou um carro cheiokody na freebetplayboys e alguém gritou, ‘macacas!’ Acho que foi o menos velado. Porque é isso, a gente vive várias situações veladas.”

Paloma diz que se isso acontecer com a filha, não quer que ela sinta vergonhakody na freebetser negra.

“Eu quero que ela entenda que quem temkody na freebetter vergonha é quem está sendo racista”, diz.

“Na minha cabeça, e eu espero que dê certo, vai ser com menos dor.”