Ruth Rocha,slot of bingo'Marcelo, Marmelo, Martelo', fecha contrato até 108 anos: 'Não aguento fazer muita coisa, mas gosto muitoslot of bingoescrever':slot of bingo
Autoraslot of bingoclássicos como Marcelo, Marmelo, Martelo, O Reizinho Mandão e A Primavera da Lagarta, a escritora conversou com a BBC News Brasil na salaslot of bingosua casa, na cidadeslot of bingoSão Paulo.
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Vestida com um conjuntoslot of bingocor clara, maquiada, com o cabelo grisalho muito bem penteado e óculos pretos modernos, Ruth driblou com humor e lucidez a dificuldadeslot of bingoaudição e o cansaço físico e mental inerente à idade.
“Escrevo o que eu penso, o que eu sinto, mas eu não ensino muito, não. Eu conto as coisas que eu acho interessantes. Livro tem que ser interessante, divertido”, afirma Ruth.
Ela começou a conversa sentadaslot of bingouma cadeiraslot of bingobalanço, tomou café quenteslot of bingoum só gole e, no final, se levantou para tirar fotosslot of bingofrente a uma estante cheiaslot of bingolivros, prêmios e imagens da família.
Depois, sentou-seslot of bingouma mesa para mostrar um caderno cheioslot of bingofrasesslot of bingoautores dos quais gosta e leu um poemaslot of bingoLorenzo Stechetti, pseudônimo do italiano Olindo Guerrini.
Apesarslot of bingoter diminuído o ritmo, Ruth segue na ativa, com a ajuda da família.
Continua escrevendo livros, reeditando obras e firmando parcerias com artistas renomados, alémslot of bingoter renovado o contratoslot of bingoexclusividade com a editora Salamandra, do grupo espanhol Santillana, por mais 15 anos.
Um dos lançamentos previstos ainda para este ano é Encontroslot of bingoHistórias (ed. Panini), um livroslot of bingoquadrinhos da Turma da Mônica junto com a Turma do Marcelo, personagem que o próprio Maurícioslot of bingoSousa quis desenhar.
A parceria inédita, que era um desejo antigo do quadrinista, foi anunciada na Bienal do Livroslot of bingoSão Pauloslot of bingosetembro.
Já a parceria com outro cartunista célebre, Caco Galhardo, renderá o título A Lebre e a Tartaruga, que fará parte dos Recontos bonitinhos (ed. Global), coleção com versõesslot of bingocontos clássicosslot of bingorimas e versos.
Para o ano que vem, a famíliaslot of bingoRuth prepara o relançamentoslot of bingodez livros já existentes da escritora, remodeladosslot of bingoformato premium e com ilustrações inéditas.
“Um dos trabalhos que eu faço é buscar ilustradores novos, com mais diversidade também, para incluir na obra dela”, afirma Mariana Rocha,slot of bingofilha.
É Mariana quem comanda um esforço pela internacionalização da obra da mãe, que já recebeu um dos maiores reconhecimentos mundiais da literatura infantil, ao ser incluída na Listaslot of bingoHonra do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel do gênero.
Neste ano, Marcelo, Marmelo, Martelo, o maior best-sellerslot of bingoRuth, foi publicado nos Estados Unidos — com o nome Marcelo Martello Marshmallow — eslot of bingoPortugal.
Para o portfólio internacional, Mariana Rocha fez uma seleçãoslot of bingodez livros que considerou mais universais.
Ela vê os países da América Latina e os Estados Unidos como especialmente promissores, mas também pensaslot of bingomercados mais longínquos.
No dia da entrevista, no inícioslot of bingonovembro, por exemplo, a agente que representa Ruth estava na feiraslot of bingoSharjah, nos Emirados Árabes Unidos.
'Envelhecer é muito chato'
Hoje, um problemaslot of bingovisão dificulta a capacidadeslot of bingoleituraslot of bingoRuth, mas a literatura continua sendoslot of bingocompanheira graças à irmã Rilda e ao neto Pedro, que leem para ela — Rilda, todos os dias, durante uma hora, por telefone; Pedro, pessoalmente, duas vezes por semana.
"Não fico sem livros na vida", diz a escritora.
Com Rilda, já foram maisslot of bingo70 obras lidas. Com Pedro, 13, sendo que cinco são do mesmo autor, Ítalo Calvino.
O neto costuma postar vídeos no TikTok falando das obras que lê com a avó e recebe enxurradasslot of bingocomentáriosslot of bingofãsslot of bingoRuth.
"Ele lê muito bem, é muito expressivo. Agora, estamos lendo contos do [Ernest] Hemingway. Cem anosslot of bingosolidão [de Gabriel García Márquez] eu já tinha lido e ele releu para mim, adorei", diz Ruth.
Para Ruth, "envelhecer é muito chato".
"Não tenho a mesma alegriaslot of bingofazer coisas, estou mais fraca, não saio muito. Mas sou feliz. Tenho uma família ótima, tenho saúde, me sinto bem."
Para Ruth, crianças continuam gostandoslot of bingolivros, mesmo com o apeloslot of bingocelulares e outras telas. Sua sugestão para incentivar o amor pela literatura é começar despertando o gosto pela língua.
"É importante conversar com as crianças desde que elas são pequenininhas, cantar, falar poesia, trocar ideias", diz.
Era assim que ela fazia com Mariana, filha únicaslot of bingoRuth com o empresário e ilustrador Eduardo Rocha, com quem a escritora foi casada até ele morrer,slot of bingo2012.
"Minha filha queria saber coisas diferentes. Ela dizia: ‘Eu quero a história dessa coisaslot of bingovidro aqui. A história daquele vaso,slot of bingoum cinzeiro, das estrelas’. Eu não sabia, mas ficava inventando."
Outra recomendaçãoslot of bingoRuth é que os pais cultivem o próprio hábitoslot of bingoleitura.
"Leitura também é exemplo. As crianças gostamslot of bingobrincarslot of bingoadulto. Elas brincamslot of bingomédico,slot of bingopirata,slot of bingoaviador. Se ela vê os adultos lendo livros, vai querer imitá-los."
Obra atravessada pela ditadura e pela covid-19
Uma toneladaslot of bingococaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Em dezembroslot of bingo2023, Ruth lançou O Grande Livro dos Macacos, com curiosidades sobre esses animais e sobre a Teoria da Evoluçãoslot of bingoCharles Darwin.
Foi, diz a filha Mariana, uma formaslot of bingose contrapor ao negacionismo da ciência que angustiava a escritora durante a pandemiaslot of bingocovid-19 — ela dedicou o livro aos cientistas.
Duas das páginas trazem desenhosslot of bingoMiguel, netoslot of bingoRuth, que é designer. "Ele não faz esse tiposlot of bingodesenho, fez porque eu pedi", diz a avó, orgulhosa.
A indignação com questões políticas e sociais foi pontoslot of bingopartida para as históriasslot of bingoRuthslot of bingooutros momentosslot of bingosua carreira.
Livros como O Reizinho Mandão, por exemplo, criticavam o autoritarismoslot of bingoplena ditadura militar, mas não chamavam a atenção dos órgãosslot of bingocensura.
“Ninguém levava muito a sério literatura infantil, achavam que era bobagem”, diz Ruth.
Ela lembraslot of bingoquando, ainda na ditadura, recebeu um prêmio diretamente das mãosslot of bingoum ministro da Educação por outra obra que tocavaslot of bingoassuntos como poder e democracia: O rei que não sabiaslot of bingonada.
Se os livros sobre governantes autoritários enganaram os censores, não passaram batido pelas crianças.
Ruth conta queslot of bingouma ocasião, após contar a históriaslot of bingoO Reizinho Mandão, um pequeno leitor disse a ela: “Mas esse é o presidente da República!”.
Ela tentou disfarçar. "Eu falei: ‘Não, imagina, é um irmão mandão, um pai mandão’. Aí ele perguntou: ‘Você não tem medo da polícia?’ Respondi que sim, tinha muito medo."
Formadaslot of bingoCiências Políticas e Sociais pela Escolaslot of bingoSociologia e Políticaslot of bingoSão Paulo, Ruth começou a escrever histórias infantis a pedidoslot of bingouma amiga, Sonia Robatto, diretora da Recreio — revista da editora Abril que a própria Ruth dirigiu posteriormente.
A sugestãoslot of bingoSonia foi bastante veemente.
“Ela queria que eu fizesse uma história. Eu falava: eu conto histórias para a Mariana, mas eu não sei contar outras histórias. Ela ficava: conta, conta, conta, conta. Até que um dia, ela me trancou na casa dela. E eu sentei e escrevi”, lembra Ruth.
Essa primeira história que Ruth publicou, até hoje muito conhecida dos leitores, éslot of bingoversão do clássico Romeu e Julieta com duas borboletas como personagens: uma azul e uma amarela, que não podiam brincar juntas por terem cores diferentes.
Era, segundo ela, uma formaslot of bingoabordar o preconceito sem perder a fantasia e a ludicidadeslot of bingouma boa história infantil, característica que acompanhou a escrita da autora ao longoslot of bingosua carreira.
“Os livros dela agradam demais aos professores, são adotadosslot of bingomassa pelas escolas e às vezes as pessoas querem colocar como educativo”, diz Mariana.
"É um trabalho que inspira conhecimento e transformação, mas ela sempre fala: minha obra não é didática."
Ruth afirma queslot of bingointenção é despertar nas crianças o mesmo prazer pela literatura que ela tem desdeslot of bingoinfância, quando ouvia histórias contadas por seus pais e avós e pegava livros emprestados toda semanaslot of bingouma biblioteca.
"A vida inteira eu tinha muitas ideias. Eu estava escrevendo uma história e já saía com três ideias para escrever, ficava com aquilo na cabeça", conta.
De suas 218 obras, ela diz que não tem uma favorita, mas admite que algumas são especiais, citando Marcelo, Marmelo, Martelo, Quando eu comecei a crescer e Um cantinho só pra mim.
Esses dois últimos têm um forte teor autobiográfico, segundo Mariana.
"Minha mãe é muito faladeira e sociável, mas ela curte muito também ficar sozinha, ter momentosslot of bingoquietude, no mundo dela, pensando na vida", aponta a filhaslot of bingoRuth.
"Acho que isso também propiciou a criação, a imersão no mundo da Imaginação."
Mariana conta que recebe muitas manifestaçõesslot of bingocarinhoslot of bingoleitoresslot of bingodiferentes gerações.
"Minha mãe fez parte da infância e do crescimentoslot of bingomuita gente. Pessoas falam que a literatura dela transformou suas vidas, porque mostrou uma amplitudeslot of bingopossibilidades para o ser humano se desenvolver", diz Mariana.
"Tem gente que chora e eu choro junto. É muito bonito."
Apesar das mudanças trazidas pela velhice, Ruth continua escrevendo — à mão,slot of bingopranchetas.
Ela acabouslot of bingoterminar uma obra que chamouslot of bingoHistórias pequeninasslot of bingogente pequenina e está trabalhandoslot of bingoum texto com uma nova versão do contoslot of bingoCinderela.
“Não aguento fazer muita coisa, mas eu gosto muito [de escrever]. É a minha vida."