O paraíso do turismo que se tornou país com maior taxabet365 spin a winhomicídios da América Latina :bet365 spin a win

Ana María Roura, jornalista da BBC Mundo

No exterior, quando eu dizia que era equatoriana, me falavam das Ilhas Galápagos oubet365 spin a winQuito. Já não é assim: agora me perguntam como está minha família, se estão todos bem.

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Com o aumento da produçãobet365 spin a wincocaína na região andina e a alta dos preços dessa droga nos mercados internacionais, o Equador começou a mudar nos últimos anos.

Uma das primeiras notícias que nos assustou foi o sequestro e posterior assassinatobet365 spin a wintrês jornalistas equatorianos do jornal El Comerciobet365 spin a winmarçobet365 spin a win2018.

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Uma toneladabet365 spin a wincocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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O crime aconteceu pelas mãosbet365 spin a winuma frentebet365 spin a windissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), guerrilha cuja desmobilização contribuiu para um redesenho do mapa do narcotráfico na região.

Aos poucos, outros acontecimentos foram se sucedendo, como o primeiro motim carcerário coordenadobet365 spin a winvários presídios equatorianos,bet365 spin a winfevereirobet365 spin a win2021.

A ondabet365 spin a winrebeliões deixou maisbet365 spin a win75 mortos, e foi atribuída a um confronto entre gangues locais, após o assassinatobet365 spin a windezembrobet365 spin a win2020bet365 spin a winJorge Luis Zambrano, líder do grupo Los Choneros.

A violência foi crescendo, até chegarmos a 2023, anobet365 spin a winque foram registradas cercabet365 spin a win8 mil mortes violentasbet365 spin a wintodo o país, a maior taxabet365 spin a winhomicídios da América Latina, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na siglabet365 spin a wininglês).

Agora volto para ver pessoalmente como meu país mudou e como operam as gangues quebet365 spin a winjaneiro passado foram classificadas como terroristas pelo presidente Daniel Noboa e que marcam a vidabet365 spin a winmilhõesbet365 spin a winequatorianos.

Em um raro acontecimento, consegui me encontrar no centrobet365 spin a winGuayaquil com um membro desses grupos criminosos.

'Todos querem território'

Paúl* faz partebet365 spin a winuma das dez gangues mais perigosas e concordabet365 spin a winfalar conosco anonimamente ebet365 spin a winum carrobet365 spin a winmovimento.

Alémbet365 spin a winser procurado pelo exército, que declarou os integrantes dessas gangues como objetivos militares, ele garante que outro grupo o colocoubet365 spin a winuma lista vermelha com ordensbet365 spin a winmatá-lo.

"Neste momento o perigo é muito grande, a morte pode virbet365 spin a winqualquer lado", ele me diz enquanto o carro está sendo ligado.

Paúl no carro com a jornalista da BBC Mundo
Legenda da foto, Por questõesbet365 spin a winsegurança, a entrevista foi feitabet365 spin a winum carrobet365 spin a winmovimento

Ele me conta que começou a fazer partebet365 spin a winuma facção aos 15 anos por influênciabet365 spin a winamigos e vizinhos. Ele achava que iria “curtir bailes, festas, mulheres", mas a história acabou se revelando muito mais complexa.

No início ele se dedicava ao microtráficobet365 spin a windrogasbet365 spin a winseu bairro e o comércio ilegal lhe rendia cercabet365 spin a winUS$ 200 por semana.

Depois veio o boom na produção e consumobet365 spin a windrogas que, segundo a ONU, atingiu recordes históricos nos últimos dez anos.

Grandes cartéis mexicanos como o Cartelbet365 spin a winSinaloa e Jalisco Nueva Generación, células dissidentes da guerrilha colombiana Farc e da máfia albanesa, começaram a operar no Equador.

Todos esses grupos aproveitaram a pouca experiência das forçasbet365 spin a winsegurança equatorianasbet365 spin a winlidar com o tráficobet365 spin a windrogas e começaram a explorar tanto as extensas costas do país como abet365 spin a winextensa redebet365 spin a winportos.

"Antes, por exemplo, tinha um cara que era traficante e ele era o encarregadobet365 spin a winconversar com os cartéisbet365 spin a winoutros países. Agora são os cartéisbet365 spin a winoutros países que conversam com as gangues daqui para poder distribuir", explica Paúl.

Para ele, esse novo contexto significou passar do microtráfico no bairro controlado porbet365 spin a wingangue ao tráficobet365 spin a winquilosbet365 spin a wincocaína, que segundo a polícia equatoriana representa 70% das drogas traficadas no país.

Ele diz que os US$ 200 (cercabet365 spin a winR$ 1.020,00) que ganhava semanalmente foram para cercabet365 spin a winUS$ 5.000 (cercabet365 spin a winR$ 25,4 mil) por remessa. Isso foi acompanhado por melhores armamentos àbet365 spin a windisposição.

Este momento que Paúl descreve teve consequências sangrentas para o meu país.

Ana María Roura
Legenda da foto, Ana María Rourabet365 spin a winpatrulha do exército pelas ruas do Equador

Nas prisões, desde aquele motimbet365 spin a winfevereirobet365 spin a win2021, maisbet365 spin a win400 presos morreram e os assassinosbet365 spin a winaluguel se tornaram cada vez mais comuns nas ruas.

O assassinato por encomenda que teve maior impacto na mídia foi o do então candidato a presidente Fernando Villavicencio,bet365 spin a winagostobet365 spin a win2023, quando ele estava no meio da campanha eleitoral. Mas também foram mortos prefeitos, promotores, funcionários e famílias inteiras.

Por que a violência?, pergunto a Paúl.

"Porque todo mundo quer território. Para vender suas drogas, para traficar, até para começar a extorquir, a sequestrar."

Patrulhar o porto

Quando trabalhava no porto, Paúl diz quebet365 spin a winfunção era "coronar", ou seja, colocar a cocaína nos contêineres que saíam com as mercadorias do Portobet365 spin a winGuayaquil, o maior do país. Tudo isso sob a supervisão da máfia albanesa.

"Tive muito contato com eles. Eles se cuidavam bastante. Diziam que se os vissembet365 spin a winum shopping oubet365 spin a winqualquer outro lugar, não era nem para olhar para eles."

Guayaquil sempre foi a capital econômica do país.

Maisbet365 spin a win75% do comércio exterior do Equador é movimentado a partir daqui. E 90% das drogas traficadas do território equatoriano também saem daqui.

Patrulha da Marinhabet365 spin a winGuayaquil
Legenda da foto, As patrulhas da Marinha têm sido reforçadas, mas nem sempre atingem o seu objetivo

A BBC News Mundo, serviçobet365 spin a winespanhol da BBC, teve acesso a uma patrulha da guarda costeira. Nosso guia – um oficial da Marinha do Equador – está com o rosto coberto. Ele não nos dá seu nome por razõesbet365 spin a winsegurança.

Antesbet365 spin a winpartir, pede que coloquemos nosso colete à provabet365 spin a winbalas, já que o Estero Salado, que é o braçobet365 spin a winmar onde fica o porto, se tornou um lugar muito perigoso nos últimos anos.

"Antes, o criminoso era um criminoso comum. Agora qualquer um pode ter armasbet365 spin a wingrosso calibre", conta.

O policial olha para todos os ladosbet365 spin a winbuscabet365 spin a winlanchas rápidas que podem ser usadas para carregar a droga nos contêineres e nos explica que os métodos das quadrilhas estão cada vez mais avançados.

"Eles embarcam nos navios pela popa usando ganchos e cordas... Eles sobem e já abrem o contêiner e inserem as substâncias que embet365 spin a winmaioria vão para a Europa."

'Metástase'bet365 spin a wincorrupção

As tropas da Marinha realizam até quatro patrulhas por dia.

No entanto, a droga continua saindo do Equadorbet365 spin a winquantidades recordes.

Pergunto ao policial por que é tão difícil evitar o contrabandobet365 spin a windrogas.

"Existem diferentes pontosbet365 spin a wincontrole e muitas pessoas que estão dentro do sistema já estão corrompidas. Então há etapasbet365 spin a winque os contêineres são contaminadosbet365 spin a windiferentes pontosbet365 spin a wincontrole", admite.

"Corrupção" é uma palavra que ouvi diversas vezes nesta viagem ao Equador, e não apenas no porto.

Javier* é um agente penitenciário que sob condiçãobet365 spin a winanonimato me contou como alguns oficiais da polícia, agentes penitenciários e militares do exército permitem o ingressobet365 spin a winarmas nas prisões, muitas vezes por ameaças dos próprios presos, outras vezes pela corrupção do sistema.

Em dezembrobet365 spin a win2023, após uma operação nacionalbet365 spin a winsete das 24 províncias equatorianas, a procuradora-geral Diana Salazar anunciou a prisãobet365 spin a win29 pessoas, entre juízes, procuradores, policiais, advogados e outras pessoas relacionadas com o crime organizado.

"Hoje o termo narcopolítica no Equador ganhou destaque", disse Salazar à época.

O nome da operação revela muito sobre como o Equador vê a gravidade da corrupção e a forma dela se espalharbet365 spin a wintodos os níveis: "Metástase."

Militaresbet365 spin a winfrente a um logotipo da TC Televisión

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O ataque à TC Televisión ocorreu dias após a fugabet365 spin a winimportantes líderesbet365 spin a wingangues

Este ano, no dia 9bet365 spin a winjaneiro, o país voltou às primeiras páginas da mídia internacional quando,bet365 spin a winum diabet365 spin a winextrema violência, criminosos tomaram o canal TC Televisiónbet365 spin a winGuayaquil, ocorreram motins nas prisões e dezenasbet365 spin a winagentes penitenciários foram feitos reféns pelos presos, incluindo Javier, meu entrevistado.

"Esses grupos narcoterroristas pretendem nos intimidar e acreditam que cederemos às suas exigências. Dei ordens claras e precisas aos comandantes militares e policiais para intervirem no controle das prisões", disse o Presidente Noboa, que decretou estadobet365 spin a winemergência – que durou 3 meses – e declarou o paísbet365 spin a winconflito armado interno, um medidabet365 spin a winque ainda é válida.

"A média semanalbet365 spin a winmortes violentas foi drasticamente reduzida e o controle das prisões foi gradualmente recuperado", disse a Presidência do Equador à BBC News Mundo.

Mas apenas 11 dias depois do caótico dia 9bet365 spin a winjaneiro, César Suárez, o procurador que investigava – entre outras causas – a invasão ao canalbet365 spin a wintelevisão, foi morto a tiros.

Justiçabet365 spin a winperigo

Num prédio com uma das melhores vistasbet365 spin a winGuayaquil, somos recebidos pela promotora Michell Luna.

Ele tem um dos empregosbet365 spin a winmaior risco atualmente no Equador: trabalha no sistemabet365 spin a winJustiça.

Ela é enérgica, elegante e seu tom é firme desde o início da entrevista. Mas quando pergunto por que ela quis ser promotora,bet365 spin a winvoz falha.

"Sonho com isso desde os seis anos, sabe? Meu pai foi enganado por um advogado e eu entendi a injustiça desde muito jovem."

"E prometi a mim mesma que lutaria contra isso quando crescesse."

Michell Luna
Legenda da foto, 'Entendi a injustiça desde muito jovem', diz a promotora Michell Luna

Luna trabalhou no mesmo escritório e a poucos metrosbet365 spin a winSuárez durante o último ano e meio.

"Ele era uma pessoa muito jovial, muito feliz, sempre impecável. Sempre tratando todo mundo com muita delicadeza, como dizem, um cavalheiro, uma pessoa que amava o seu trabalho", lembra.

"Doeu muito tê-lo perdido e mais ainda a forma como o perdemos, principalmente quando sabemos que isso poderia ter sido evitado. É responsabilidade das autoridades", afirma com veemência.

Suárez foi o sexto promotor assassinado nos últimos dois anos.

Luna afirma que,bet365 spin a winconsequência dessas mortes, vários procuradores reivindicam iniciativas para proteger o próprio trabalho, como a "justiça sem rosto" para que a identidade do procurador responsável pelos casos não seja conhecida. Também audiências virtuais, para reduzir a exposição e deslocamentobet365 spin a winfuncionários.

Mas nada prosperou.

"Este governo demonstrou que trabalha para acabar com a violência, a impunidade e os privilégios e cada denúncia ou cada casobet365 spin a wincorrupção descoberto é processado e espera-se uma resposta coerente dos operadores da Justiça", disse a Presidência do Equador à BBC News Mundo.

Ainda assim, os trabalhadores da Justiça dizem enfrentar dificuldades.

"Não temos recursos. Não é possível que haja um juiz, um promotor encarregadobet365 spin a windois ou três gabinetes, que haja milhares e milhares, 5 mil processos, 3 mil processos para uma ou duas pessoas apenas", afirma Luna.

A promotora garante que não foi ameaçada, mas sente que – por causa do seu trabalho – abet365 spin a winvida estábet365 spin a winperigo.

"Pretendo renunciar se as garantias não forem dadas. Não estudamos nem nos preparamos para sermos suicidas."

Consulta

Em 23bet365 spin a winnovembrobet365 spin a win2023, Noboa assumiu a presidência do Equador por apenas um ano e meio, tempo que faltava para seu antecessor – Guillermo Lasso – completar seu mandato. O presidente mais jovem eleito nas urnas poderá ser reeleitobet365 spin a win2025.

Mas primeiro haverá outra votação, num clima tenso não só pela violência, mas também pelo assalto à embaixada mexicanabet365 spin a winQuito para capturar o ex-vice-presidente Jorge Glas, que lhe rendeu fortes críticas dentro e fora do Equador.

Em 21bet365 spin a winabril, os equatorianos responderão a 11 perguntas, muitas das quais abordam questõesbet365 spin a winsegurança.

"Estamos vencendo, mas ainda há muito terreno para recuperar e por isso estamos promovendo a Consulta Popular, que é uma proposta para que os militares continuem nas prisões e nas ruas", disse o gabinete da Presidência à BBC News Mundo.

Mas além do "apoio complementar" das forças armadas à polícia no combate ao crime organizado, os eleitores decidirão se aceitam que alguns dos seus compatriotas possam ser extraditados por crimes tipificados na legislação equatoriana.

A extradição já foi rejeitada na consulta popular anterior, promovida pelo ex-presidente Lassobet365 spin a winfevereirobet365 spin a win2023, mas a situação no Equador piorou ainda mais no último ano.

Embora alguns equatorianos possam ser enviados para fora do país para cumprir penas pelos seus crimes, outros que não cometeram nenhum crime sentem que a sentença é que não têm futuro no seu país.

Na minha cidade natal, Quito, entrevisto Gabriela Almeida, mãebet365 spin a winum meninobet365 spin a wincinco anos, que mudoubet365 spin a winrotina por conta da insegurança.

"Quando eu era adolescente, via o que estava acontecendo na Colômbia, como carros-bomba, e nunca pensei que algo assim pudesse acontecer no Equador", diz.

"Com isso acontecendo, vemos mais pessoas com crisesbet365 spin a winansiedade, com ataquesbet365 spin a winpânico. Ter medobet365 spin a winque me matem para me roubar é um pesadelo."

Portobet365 spin a winGuaiaquil
Legenda da foto, O porto do Equador deixoubet365 spin a winser uma fontebet365 spin a winrenda para o país e passou a ser um grande problemabet365 spin a winsegurança

Ela agora pensabet365 spin a windeixar o Equador com o filho.

"Amo meu país e gostaria que o meu filho crescesse aqui, com a nossa gente, com os nossos costumes. Mas quando penso na insegurança que temos, gostariabet365 spin a windar a ele um futurobet365 spin a winque possa sair para a rua sem medo."

Como imigrante, é muito difícil ouvir este testemunho. Quando saí, foi por minha própria escolha.

Mas é evidente que este Equador não é o mesmo que deixei naqueles temposbet365 spin a winque não precisavabet365 spin a wincapacete e colete à provabet365 spin a winbalas para reportar no meu próprio país.

*Nomes alterados a pedido dos entrevistados