Sífilis: as possíveis razões para 'explosão'bet jetixcasos no Brasil e no mundo:bet jetix
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"A pessoa ficou muito chateada e me culpou, o que não fazia sentido por conta das datas [em que houve relações sexuais e que a infecção foi detectada]. Foi estranho ser acusado e demorou algum tempo para as coisas acalmarem."
Tushar foi testado e tratado naquela semana.
"As pessoas pensam erroneamente que a sífilis não pode ser curada. As pessoas não entendem o que significa ainda ter anticorpos contra a sífilis e não ter a infecção".
Em abril, os Estados Unidos divulgaram os seus dados mais recentes sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Os casosbet jetixsífilis subiram 32% entre 2020 e 2021 no país. Foi o maior númerobet jetixnotificaçõesbet jetix70 anos. Também foi a ISTbet jetixmaior prevalência no período.
A epidemia não mostra sinaisbet jetixdesaceleração, alertaram os Centrosbet jetixControle e Prevençãobet jetixDoenças (CDC).
A sífilis congênita — quando uma mãe transmite a infecção ao filho durante a gravidez, muitas vezes após a contrair do parceiro — avançoubet jetixforma particularmente acentuada, com os casos aumentando também 32% (assim como as infecçõesbet jetixgeral) entre 2020 e 2021.
A doença pode causar mortesbet jetixbebês e problemasbet jetixsaúde para o resto da vida.
No Brasil, dados divulgados pelo Ministério da Saúdebet jetixoutubrobet jetix2023 mostraram que,bet jetix2021 para 2022, a taxabet jetixdetecçãobet jetixcasosbet jetixsífilis adquirida por 100 mil habitantes cresceu 23% (de 80,7 casos por 100 mil habitantesbet jetix2021 para 99,2 casos por 100 mil habitantesbet jetix2022).
A sífilis adquirida é aquela contraída durante a vida, após o nascimento, distinguindo-se da sífilis congênita.
De 2012 a 2022, houve aumento na taxabet jetixdetecçãobet jetixsífilis adquirida no Brasil ano após ano, com exceçãobet jetix2020, provavelmente por conta da diminuiçãobet jetixdiagnósticos durante a pandemiabet jetixcovid-19.
A detecçãobet jetixsífilisbet jetixgestantes também aumentou no país no ano passado, saindobet jetixuma taxabet jetix28,1 casos a cada mil nascidos vivosbet jetix2021 para 32,4 casos a cada mil nascidos vivosbet jetix2022, um aumentobet jetix15%bet jetixrelação ao ano anterior.
Já a incidênciabet jetixsífilis congênita ficou estável.
O ministério anunciou a comprabet jetixum novo teste rápido para detectar ao mesmo tempo infecções por sífilis e HIV que será distribuído pelo Sistema Únicobet jetixSaúde (SUS), inicialmente para gruposbet jetixmaior risco.
Além disso, para conter a doença, o órgão afirmou que vai intensificar o preparobet jetixprofissionaisbet jetixsaúde para a prevenção.
O governo federal definiu como meta controlar ou eliminar, até 2030, 14 doenças com elevada incidênciabet jetixregiõesbet jetixmaior vulnerabilidade social, entre elas a sífilis. Outro objetivo é eliminar particularmente a sífilis congênita.
O quadro mundial está deixando muitos profissionais e pesquisadoresbet jetixsaúde alarmados.
"Há quinze ou 20 anos, pensávamos estarmos prestes a eliminar a sífilis", diz Leandro Mena, diretorbet jetixprevençãobet jetixISTs no CDC.
"Não há dúvidabet jetixque estamos vendo taxas crescentesbet jetixsífilis, taxas que não víamos nos últimos 20 anos ou mais."
E não é algo que assusta apenas no Brasil e nos EUA.
Houve 7,1 milhõesbet jetixnovos casosbet jetixsífilisbet jetixtodo o mundobet jetix2020, segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2022, o Reino Unido viu os casosbet jetixsífilis atingirem o nível mais elevado desde 1948.
O aumentobet jetixcasos é algo que os profissionaisbet jetixsaúde percebem no dia a dia.
"Quando comecei a atuar como enfermeira na áreabet jetixsaúde sexual,bet jetix2005, era muito raro ver sífilis primária, mesmo numa clínicabet jetixuma grande cidade", diz Jodie Crossman, codiretora da STI Foundation, fundação especializadabet jetixISTs no Reino Unido.
"Agora, a maioria das clínicas atende pelo menos dois ou três pacientes por dia para tratamento."
A infecção é causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum e os sintomas são divididosbet jetixquatro estágios.
A primeira é caracterizada por uma ferida indolor no local do contato ou uma erupção cutânea.
Uma dose intramuscularbet jetixpenicilina é considerada a forma mais eficazbet jetixtratar a infecção.
Se não houver tratamento, no entanto, a sífilis pode levar a doenças neurológicas e cardiovasculares a longo prazo.
Isaac Bogoch, médico infectologista e pesquisador da Universidadebet jetixToronto, no Canadá, afirma que a situação que tem observadobet jetixseu país — onde entre 2011 e 2019 a ocorrênciabet jetixinfecções por sífilis aumentou 389%, uma curva significativamente superior àbet jetixoutras ISTs — se repetebet jetixvárias partes do mundo.
"Essa tendência que está sendo observadabet jetixvários países ao redor do mundo", diz ele.
"É muito preocupante porque, geralmente, a sífilis é muito fácilbet jetixtratar e o tratamento está amplamente disponível. Portanto, muito disso reflete uma falha nos cuidadosbet jetixsaúde pública."
Nas últimas décadas, a tendência tem sido a maior ocorrênciabet jetixcasosbet jetixsífilis entre homens que fazem sexo com homens.
No Brasil,bet jetix2022, 61,3% dos casosbet jetixsífilis adquirida foram notificadosbet jetixpessoas do sexo masculino, com destaque para as grandes incidências nas faixas etáriasbet jetix20 a 29 anos e 30 a 39 anos.
A chamada razãobet jetixsexos — homens com sífilis para cada dez mulheres com sífilis — passoubet jetix0,6 (seis homens com sífilis para cada dez mulheres)bet jetix2012 para 0,8 (oito homens para cada dez mulheres com sífilis)bet jetix2022.
Nesse caso, são contabilizados também os casosbet jetixsífilisbet jetixgestantes, o que aumenta a participação das mulheres no totalbet jetixcasosbet jetixsífilis.
Algumas partes do mundo, no entanto, estão registrando diminuição nos casosbet jetixsífilis entre os homens, como no Canadá.
Ao mesmo tempo, tem havido um aumento nas taxas entre as mulheres não apenas no Canadá, masbet jetixoutros países, o que levou a taxas mais elevadasbet jetixsífilis congênitabet jetixvários lugares.
Em todas as Américas, foram registrados 30 mil casosbet jetixtransmissãobet jetixsífilisbet jetixmãe para filhobet jetix2021, um número que as autoridadesbet jetixsaúde descrevem como "inaceitavelmente elevado".
A transmissão da sífilis a um feto durante a gravidez pode ter consequências devastadoras, incluindo aborto espontâneo, partos prematuros, mortesbet jetixbebês ao nascer e baixo peso no nascimento.
Nos EUA, as maiores taxasbet jetixsífilis congênita são observados entre mulheres negras e hispânicas.
"Isso reflete a desigualdade e o racismo subjacentes que ainda temos na nossa saúde pública e na infraestrutura médica", diz Maria Sundaram, pesquisadora associada do Marshfield Clinic Research Institute, no Estadobet jetixWisconsin.
Gruposbet jetixmulheres vulneráveis, como as que estão desalojadas ou que lutam contra o abusobet jetixsubstâncias, são também fortemente atingidos pela doença. E muitas destas desigualdades foram exacerbadas pela pandemiabet jetixcovid-19.
"O consenso na comunidadebet jetixsaúde pública é que o aumento das IST, incluindo a sífilis, está provavelmente relacionado à interrupção dos recursosbet jetixprevenção durante a pandemia", aponta Sundaram.
As desigualdades afetam o acesso a locais que fazem testesbet jetixISTs, o domínio da língua para se comunicar, entre outros fatores.
Um estudo no Brasil mostrou uma conexão entre mulheres negras que tinham baixos níveisbet jetixescolaridade e maiores taxasbet jetixsífilis congênita.
Em muitos casos, as mulheres têm dificuldade no acesso a cuidados pré-natais adequados que proporcionem a detecção da sífilis.
Outro estudo realizado no condadobet jetixKern, Califórnia — quebet jetix2018 representou 17% dos casosbet jetixsífilis congênita do Estado americano, apesarbet jetixrepresentar apenas 2,3% da população dele — identificou o papel da situação migratória,bet jetixseguro médico ebet jetixviolência sexual ou domésticabet jetixmulheres grávidas que procuram cuidados pré-natais.
Metade das mulheres grávidas ou puérperas entrevistadas foi identificada como sendobet jetixorigem hispânica, latina ou espanhola.
Um estudobet jetix2020 sobre a sífilis na Austrália registrou aumentobet jetixquase 90%bet jetixrelação às taxas registradasbet jetix2015.
Cercabet jetix4 mil casosbet jetixsífilis foram identificados entre as comunidades aborígines e das ilhas do Estreitobet jetixTorres, que representam apenas 3,8% da população australiana.
Foram relatos problemas no acesso das grávidas ao rastreamento pré-natal da sífilisbet jetixalgumas partes do país.
Embora questões econômicas e a pandemia impactem o acesso à saúde, também ocorreram mudanças no comportamento das pessoasbet jetixrelação às ISTs.
"Em meados da décadabet jetix1990, com o advento da terapia antirretroviral para o HIV, houve uma grande mudança", diz Mena.
"Agora, graças aos avanços na prevenção e tratamento da infecção pelo HIV, a AIDS é vista como uma doença crônica. O riscobet jetixinfecção pelo HIV já não é um incentivo para as pessoas usarem preservativos ou adotarem outras estratégiasbet jetixprevenção contra as ISTs".
Mudanças nas práticas sexuais têm sido estudadas por pesquisadores no Japão, que observam a ligação entre aplicativosbet jetixnamoro e casosbet jetixsífilis.
Eles concluíram que o usobet jetixaplicativosbet jetixnamoro estava "significativamente associado à incidênciabet jetixsífilis", ligando então o usobet jetixaplicativos a uma maior incidênciabet jetixsexo casual desprotegido.
Isso é algo que Sasaki Chiwawa, que escreve sobre a cultura jovem japonesa e o trabalho sexual, também encontrou nas suas conversas com profissionais do sexo.
Chiwawa diz que cada vez mais profissionais do sexo não usam preservativos e que não há obrigação por parte dos clientesbet jetixserem testados para ISTs. Quando as trabalhadoras do sexo contraem uma infecção, tendem a atribuir isso ao "azar", diz Chiwawa.
"A maioria deles prioriza ganhar dinheirobet jetixvez do risco."
Para a maioria das autoridadesbet jetixsaúde, o caminho para combater a sífilis é claro: já temos os medicamentos para combatê-la, uma vez que a penicilina continua a ser o melhor tratamento, apesar da crescente incidênciabet jetixresistência aos antibióticos.
Mais testes, melhor divulgação para combater o estigma associado à doença, juntamente com uma maior sensibilização do público para encorajar práticas sexuais mais seguras também têm um grande papel.
"Somos criaturas sociais, por isso não deveríamos ficar mais constrangidos por um diagnósticobet jetixIST do que umbet jetixgripe", diz Crossman.
"Estamos tentando mudar o foco dos testesbet jetixISTs como algo assustador para algo que faz parte do bem-estar sexual, uma parte importantebet jetixter uma vida sexual segura e agradável".
Mas os cientistas até agora não conseguiram chegar a uma única explicação para o fatobet jetixa incidênciabet jetixsífilis estar aumentando mais rapidamente do quebet jetixoutras ISTs.
Não há evidências fortes que sugiram que as cepasbet jetixcirculação tenham se tornado mais virulentas, diz Mena.
A resistência aos antibióticos também não é suficientemente grande para explicar os picos da doença, afirma Bogoch.
Porbet jetixvez, Tushar, que abre esta reportagem, continua a fazer testes a cada três meses.
"Devíamos nos sentir confortáveisbet jetixfalar sobre a sífilis", diz ele.
"As ditas pessoas bem informadas recorrem a acusaçõesbet jetixvezbet jetixpensarem nisso cientificamente. Estamos fazendo sexo: coisas acontecem."